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domingo, 14 de julho de 2019

Jorge da Conceição: Bonecos de Estremoz


Jorge da Conceição (1963- ). Fotografia de 2014.

CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS
Jorge da Conceição 

Nasceu a 24 de Outubro de 1963 na Rua Brito Capelo, nº 33, freguesia de Santo André, em Estremoz. Filho legítimo de Octávio Varela Dias Palmela, comerciante, e de Maria Luísa Banha da Conceição Palmela, doméstica, que se viria a tornar barrista. É, pois, filho da barrista Maria Luísa da Conceição (1934-2015), neto dos barristas Mariano da Conceição (1903-1959) e Liberdade da Conceição (1913-1990) e sobrinho de Sabina da Conceição Santos (1921-2005), irmã de Mariano (3). Filho e neto de peixes sabe nadar, pelo que Jorge da Conceição estava condenado a ser barrista, tomando contacto com o barro desde criança e criando apetência pela manufactura de Bonecos como via fazer à avó e à mãe. Foi assim que aprendeu as técnicas e a arte de modelar o barro, manufacturando Bonecos enquanto estudava, até à idade de 21 anos. Na juventude, participou em várias exposições colectivas em Portugal e vendeu peças a coleccionadores particulares e ao Museu Municipal de Estremoz.
Frequentou a Escola Secundária de Estremoz desde 1975, tendo concluído em 1981 o 12º ano de Escolaridade do 1º Curso – Via ensino, com a média de 19,3 valores (4). Ingressou então no Instituto Superior Técnico onde se viria a licenciar em Engenharia Electrónica e de Computadores – Variante de Electrónica e Telecomunicações. Terminada esta, iniciou uma carreira profissional na área de consultoria que durou 25 anos e o manteve afastado da modelação do barro. Porém, a chamada do barro, que transporta na massa do sangue, levou-o em 2013 a dedicar-se exclusivamente à barrística. Tem ateliê em Estremoz na Rua Brito Capelo nº35, bem como no Largo do Andaluz nº 2, em Lisboa.
Tive o privilégio de ser Professor de Física de 12º ano de Jorge da Conceição e desde essa época que o vejo como um perfeccionista que procura dar o melhor de si próprio em tudo aquilo que faz, o que se reflecte não só na concepção como nos acabamentos das figuras que modela. Bem ilustrativo do seu pensamento e da sua prática barrística é o depoimento concedido ao jornal E de Estremoz, nº117, de 4 de Dezembro de 2014 (1). Referindo-se aos Bonecos de Estremoz, Jorge da Conceição considera que: “As peças são todas elas diferentes porque têm a ver com o estilo artístico de cada um. Uns têm mais habilidade que outros, uns arriscam mais e outros são mais tradicionais e mais comerciais e tentam repetir
as peças que fizeram. Existe a barrística naquilo que é a sua forma de fazer e nos materiais usados e existe o resultado final que é aquilo que cada artesão põe de si”. Lançou ainda o desafio de “entender o que é o Boneco de Estremoz”, acrescentando: “Existe muita tendência de pensar que o boneco de Estremoz é um conjunto de figuras dos anos quarenta que sistematizaram e que a partir daí foram feitas réplicas de uma forma inesgotável. Hoje em dia há muito mais figuras, mas às vezes, quando se fazem figuras um bocadinho diferentes, as pessoas dizem que já não é boneco de Estremoz porque já não é o pastor nem a ceifeira”. Concluiu, dizendo que “não se pode rejeitar estas figuras só porque não têm essas formas mais naif de fazer os Bonecos de Estremoz. Nós estamos no século XXI, o boneco está vivo, vai evoluindo e evolui com aquilo que cada artista acrescenta”. Estou inteiramente de acordo com ele. Sem se afastar da produção ao modo de Estremoz, o perfeccionismo de Jorge da Conceição e a que ele tem direito como marca das sua identidade, implica uma confecção mais complexa e morosa do que os espécimens doutros barristas. Para além disso, e já não é pouco, corresponde, em termos de imaginário do seu criador, a uma ruptura com aquilo que vinha sendo feito, elevando assim a nossa barrística a um novo patamar. É caso para dizer que com este barrista ocorrem frequentemente mudanças de paradigma,
que apraz registar e valorizar.
Não será despropositado recorrer aqui ao sociólogo Álvaro Borralho, que, no artigo “Bonecos de Estremoz: não há identidades puras”, publicado no Jornal E nº 199, de 3 de Maio de 2018 (2), conclui a determinado passo: “E os Bonecos de Estremoz não escapam a esta lógica: não há uma identidade dos bonecos, há identidades (no plural), quer dizer, tendências diversas, várias visões, concepções e estratégias para as quais concorrem diversos agentes que não só os barristas”.
Jorge da Conceição participou até ao presente nas seguintes exposições e eventos: - Julho de 1983 - 1ª Feira de Arte Popular e Artesanato Artesanato do Concelho de Estremoz; - Dezembro 2013 - VII Exposição de Presépios de Artesãos do Concelho de – Estremoz; - Janeiro 2014 - Exposição de Barrística de Jorge da Conceição (Estremoz); - Junho 2014 - FIA 2014 (Lisboa); Julho 2014 - 1º Prémio do Concurso de Artesanato
Tradicional - FIA 2014 (Lisboa) com a peça “Fado”; - Julho 2014 - Exposição temática sobre a Rainha Santa Isabel (Estremoz); - Novembro 2014 - VIII Exposição de Presépios de Artesãos do Concelho de Estremoz; - Junho 2015 – FIA 2015 (Lisboa); Julho de 2015 - Exposição “Os Artesãos de Estremoz e o Apóstolo Santiago” (Estremoz); - Dezembro 2015 - IX Exposição de Presépios de Artesãos do Concelho de Estremoz; - Abril de 2016 - Exposição “500 Anos da Beatificação da Rainha Santa Isabel” (Estremoz); - Junho 2016 - FIA 2016 (Lisboa); - Junho 2016 - Menção Honrosa - FIA 2016 (Lisboa) com a peça “Presépio - Adoração dos Reis Magos”; - Julho 2016 - RAÍZES - Jorge da Conceição (Fátima); - Novembro 2016 - X Exposição de Presépios de Artesãos do Concelho de Estremoz; - Dezembro 2016 - A Arte dos Presépios (Montijo); Março 2017 - Figurado de Estremoz por Jorge da Conceição (Museu de Arte Sacra da Covilhã); - Novembro de 2017- XI Exposição de Presépios de Artesãos de Estremoz (Estremoz); - Abril de 2018 - Exposição “Figurado de Estremoz” (Estremoz); - Maio de 2018 - Exposição “Figurado de Estremoz de Jorge da Conceição” - Museu de Ovar (Ovar); - Junho de 2018 - FIA 2018 (Lisboa).

BIBLIOGRAFIA
1 - Bonecos de Estremoz / Proposta nas mãos da “Cultura” in jornal E, nº117, 04/12/2014. Estremoz, 2014 (pág. 5).
2 - BORRALHO, Álvaro. Bonecos de Estremoz: não há identidades puras in Jornal E nº 199, 03/05/2018. Estremoz, 2018 (pág. 15).
3 - Jorge Manuel da Conceição Palmela – Assento de Nascimento Informatizado nº 5493 de 2008, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
4 - Jorge Manuel da Conceição Palmela – Processo Individual de aluno nº 4280, no Arquivo da Escola Industrial António Augusto Gonçalves e sucessoras.


 Presépio de trono ou altar. Jorge da Conceição.

  Nossa Senhora do Ó. Jorge da Conceição.

  Santo António. Jorge da Conceição.

  Rainha Santa Isabel. Jorge da Conceição.

Senhor dos Passos. Jorge da Conceição.

 Primavera de arco. Jorge da Conceição.

 Bailadeira. Jorge da Conceição.

 Amor é cego. Jorge da Conceição.

Vitória de Estremoz. Jorge da Conceição.
  
 Pastor de tarro e manta. Jorge da Conceição.

Ceifeiro. Jorge da Conceição.
  
Aguadeiro. Jorge da Conceição.
  
 Leiteiro. Jorge da Conceição.

 Mulher das castanhas. Jorge da Conceição.

Barrista a modelar Bonecos de Estremoz. Jorge da Conceição. Figura modelada
em homenagem ao avô Mariano da Conceição (1903-1959), que nos anos 30 do
séc. XX e na peugada de Ana das Peles [Ana Rita da Silva (1870-1945)], ficou
indissociavelmente ligado à  recuperação dos Bonecos de Estremoz na Escola
Industrial António Augusto Gonçalves, graças à iniciativa do seu director, José
Maria de Sá Lemos (1892-1971). Trabalho inspirado em fotografia de Rogério de
Carvalho (1915-1988), datada dos anos 40 do séc. XX.

Barrista a pintar Bonecos de Estremoz. Jorge da Conceição. Figura confeccionada em
homenagem à avó Liberdade da Conceição (1913-1990), barrista que participou na
Exposição do Mundo Português, em 1940. Trabalho inspirado em imagens do filme
“A Grande Exposição do Mundo Português (1940)”, de António Lopes Ribeiro. 

 Mulher a lavar a roupa. Jorge da Conceição.

Mulher a passar a ferro. Jorge da Conceição.

 Senhora a servir o chá. Jorge da Conceição.

 Senhora ao toucador. Jorge da Conceição.

Galo no poleiro (apito). Jorge da Conceição.
  
Cesta de ovos (apito). Jorge da Conceição.

 Galinha no choco (apito). Jorge da Conceição.

Fado. Jorge da Conceição. Figura composta a que foi atribuído o 1º Prémio do
Concurso de Artesanato Tradicional na Feira Internacional de Lisboa (FIA), em 2014.

terça-feira, 8 de outubro de 2019

Mariano da Conceição partiu há 60 anos


Mariano da Conceição (1903-1959) na sua oficina. Fotografia de Rogério de Carvalho
(1915-1988). Arquivo fotográfico do autor.



Foi há 60 anos que no fatídico dia 29 de Setembro de 1959, faleceu prematuramente o barrista Mariano Augusto da Conceição (1903-1959), o “Alfacinha”. Foi vítima de atropelamento por um cavalo no final de um Raid Hípico com meta no Rossio Marquês de Pombal, em Estremoz.
Mariano era filho primogénito do oleiro Narciso Augusto da Conceição e neto de Caetano Augusto da Conceição, fundador da Olaria Alfacinha. À data da sua morte era Mestre de Olaria na Escola Industrial António Augusto Gonçalves. Aqui o director, escultor José Maria Sá Lemos (1892-1971), natural de Vila Nova de Gaia, atribuíra a si próprio a missão de recuperação da manufactura dos Bonecos de Estremoz, extinta desde 1921. A velha bonequeira Ana das Peles (1859-1945) foi o instrumento primordial dessa recuperação conseguida em 1935 e devido à sua avançada idade, impunha-se que houvesse continuadores. Dai que Sá Lemos tenha lançado um repto a Mariano da Conceição, o qual viria a ser o instrumento de continuidade dessa recuperação. De facto, Mariano aceitou de bom grado o desafio e teve êxito, passando a ter uma tripla actividade: Oleiro na Olaria Alfacinha, Mestre de Olaria na Escola Industrial António Augusto Gonçalves e bonequeiro.
Mariano partiu mas legou-nos os seus Bonecos e graças à acção de continuadores não se extinguiu a tradição da manufactura de Bonecos de Estremoz, cuja origem remonta pelo menos ao séc. XVII.
Da plêiade de continuadores de Mariano, sobressai o chamado clã dos alfacinhas: a irmã Sabina da Conceição (1921-2005), a mulher Liberdade da Conceição (1913-1990), a filha Maria Luísa da Conceição (1934-2015) e o neto Jorge da Conceição (1963- ).
A transmissão de saberes ao longo de gerações em meio familiar e em contexto oficinal, bem como a singularidade do modo de produção, fez com que em 2017, a manufactura de Bonecos de Estremoz fosse inscrita pela UNESCO na Lista Representativa de Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Estremoz, 19 de Setembro de 2019
(Jornal E nº 231, de 17-10-2019)


Sá Lemos (1892-1971) trocando impressões com ti Ana das Peles (1859-1945) numa
sala de aulas da Escola  Industrial António Augusto Gonçalves. Fotografia de Rogério
de Carvalho (1915-1988), publicada no semanário estremocense “Brados do  Alentejo”
nº 250, de 10 de Novembro de 1935. Arquivo fotográfico do autor.

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Barristas de Estremoz do passado

 



ANA DAS PELES (1869-1945)
75 anos da morte de Ana das Peles
MARIANO DA CONCEIÇÃO (1903-1959)
FRANCISCA VIEIRA DE BARROS (1874-1957)
ACLÉNIA PEREIRA  (1927-2012)
ARMANDO ALVES (1935 -  )
SABINA SANTOS (1921-2005)
LIBERDADE DA CONCEIÇÃO (1913-1990)
JOSÉ MARCELINO MOREIRA (1926-1991)
ISABEL CARONA BENTO
ANTÓNIO LINO DE SOUSA (1918-1982)
QUIRINA ALICE MARMELO (1922-2009) 
MÁRIO LAGARTINHO (1935-2016)
IRMÃOS GINJA (1938,1949 - )
MARIA LUÍSA DA CONCEIÇÃO (1934-2015)
PAULO CARDOSO (1968 -   )
RUI BARRADAS (1953 - )
JOÃO FORTIO (1951 -  )
GUILHERMINA MALDONADO (1937-2019)
FÁTIMA LOPES (1974)

Hernâni Matos

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Mestres Bonequeiros de Estremoz

 
Mariano da Conceição (1903-1959). Fotografia de Rogério de Carvalho (1915-1988).
Arquivo fotográfico do autor.

Prólogo
A língua portuguesa é rica em múltiplos aspectos. Um deles resulta do facto de um mesmo termo ser susceptível de várias interpretações. É o que se passa com o termo “Mestre”, substantivo masculino, cuja etimologia provém do latim “magistru”, “o que comanda, que conduz, que dirige, que ensina”.
O termo “Mestre” no verdadeiro sentido do termo, é usado no contexto de múltiplas actividades profissionais, designando alguém que tem aprendizes numa oficina. Por outro lado, a nível das artes, pelo menos desde a Idade Média que a designação atribuída a Mestres que pela excelência do seu trabalho se destacam dos outros Mestres, é a de Grandes Mestres. Todavia, o termo “Mestre” tem sido banalizado e é usado paralelamente e muitas vezes com carácter subjectivo, para designar quem domina muito bem uma actividade profissional, ainda que não tenha aprendizes.
A utilização do termo “Mestre” é comum a múltiplas actividades, entre elas a de barristas ou bonequeiro(a)s. Daí que me proponha suscitar uma reflexão em torno da correcta utilização do mesmo, retrocedendo no tempo em termos de dados históricos relativos a Bonecos de Estremoz.

Mestres bonequeiros no século XIX
Entre as referências mais antigas a figuras em barro de Estremoz, destacam-se as das actas de sessões da Câmara Municipal de Estremoz, de 31 de Outubro e de 10 de Dezembro de 1770, que referem a existência de mulheres chamadas “boniqueiras”, que fazem figuras e “brincos”. Fica-se a saber que nessa época a produção de figuras em barro era efectuada exclusivamente por mulheres, situação que se altera em data que não é possível apurar. Na verdade, o Mapa das Fábricas existentes no Distrito de Évora em 1837 (Fundo do Governo Civil de Évora - Arquivo Distrital de Évora), mostra que em 1 de Janeiro de 1837, no concelho de Estremoz e na freguesia de Santo André, existem 26 oficinas de figuras, com 26 proprietários, 26 mestres e 36 operários (7 homens, 18 mulheres e 11 rapazes). Naquela data, a produção de figuras em barro encontrava-se já em decadência, deixara de ser efectuada exclusivamente por mulheres e cada oficina era dirigida por um mestre que era também o proprietário.

Mariano Augusto da Conceição (1903-1959)
O escultor José Maria Sá Lemos (1892-1971), director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves conseguiu, entre 1933 e 1935, a recuperação da tradição de manufactura dos Bonecos de Estremoz, considerada extinta com a morte de Gertrudes Rosa Marques (1840-1921). O instrumento primordial dessa recuperação foi a velha bonequeira Ana das Peles (1859-1945) e Mariano Augusto da Conceição (1903-1959), oleiro, foi o instrumento de continuidade dessa recuperação.
Mariano Augusto da Conceição era neto de Caetano Augusto da Conceição, fundador da Olaria Alfacinha e filho primogénito de Narciso Augusto da Conceição, que orientou aquela oficina até 1933. Ingressou como Mestre provisório da Oficina de Olaria na Escola Industrial António Augusto Gonçalves, em 3 de Dezembro de 1930, passando à situação de Mestre contratado em 29 de Abril de 1931 e de Mestre efectivo em 19 de Março de 1936, cargo que desempenhou ininterruptamente até à sua morte prematura em 30 de Setembro de 1959. Na escola e em contexto de ensino-aprendizagem foi para além de Mestre oleiro, Mestre bonequeiro que ensinou gerações de alunos a produzir Bonecos de Estremoz. Destaco desses alunos, o pintor Armando Alves (1935 - ) e as barristas Aclénia Pereira (1927-2012) e Maria Luísa da Conceição (1934-2015), sua filha. De salientar que os Bonecos produzidos na escola eram comercializados pela própria escola, funcionando assim como receita da mesma e os alunos recebiam por isso um salário.

Sabina da Conceição Santos (1921-2005)
Em 1960, depois da morte do seu irmão Mariano da Conceição, Sabina da Conceição Santos tomou a atitude corajosa de prosseguir com estilo muito próprio, a manufactura de Bonecos de Estremoz, impedindo assim que a arte se perdesse. Sabina nunca tinha confeccionado Bonecos, apenas vira o irmão fazê-los. Formou-se a ela própria, usando como modelos os Bonecos do seu irmão. Dentre as discípulas que até à aposentação em 1988, passaram pela sua oficina e das quais foi Mestra, ressaltam aquelas que se estabeleceram por conta própria: Fátima Estróia (1948- ), Isabel Carona Bento (1949-2006) e Irmãs Flores [Maria Inácia (1957- ) e Perpétua (1958- )]. Estas últimas completaram recentemente 50 anos de carreira, o que levou o Município a distingui-las com um louvor, para “expressar-lhes reconhecimento e gratidão pelos seus 50 anos de dedicação efetiva ao Boneco de Estremoz, pelo apuro técnico e estético do seu trabalho e pela disponibilidade que sempre demonstraram na salvaguarda e valorização desta arte multisecular.”

Sabina da Conceição Santos (1921-2005) nos anos 70 do séc. XX, tendo à sua direita
 as discípulas Maria Inácia Fonseca (1957- ) e Perpétua Sousa (1958- ). Fotografia
de Xenia V. Bahder. Arquivo fotográfico do autor.

Jorge da Conceição (1963 - )
Entre 20 de Setembro a 6 de Dezembro de 2019, teve lugar um “Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz”, que decorreu no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte, em Estremoz. O Curso foi promovido pelo CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património, em parceria com o Município de Estremoz. O Curso com a duração de 150 horas e de Nível QNQ 2, teve formação técnica a cargo do barrista Jorge da Conceição, que contou com o apoio inestimável de Isabel Água e de Luís Parente. Foi frequentado por 16 formandos e ali se formou um grupo de barristas, dos quais 6 se encontram presentemente a produzir. São eles: Ana Catarina Grilo, Inocência Lopes, José Carlos Rodrigues, Madalena Bilro, Manuel J. Broa e Vera Magalhães. Desses 6 e até à presente data, 4 foram certificados pela Adere - CERTIFICA, como artesãos produtores de Bonecos em Barro de Estremoz.
Todos eles o reconhecem como uma referência de topo da nossa barrística e praticamente todos o tratam carinhosamente por Mestre, já que foi com ele que aprenderam.
As criações de Jorge da Conceição ostentam marcas identitárias singulares e por isso notáveis. Em primeiro lugar, o rigor e a perfeição na modelação, com integral respeito pelas proporções, pela morfologia, pelas texturas, bem como a representação do movimento. Em segundo lugar, um cromatismo harmonioso que resulta de uma sábia combinação de cores. Em qualquer dos casos, no mais rigoroso respeito pelo modo de produção e pela estética do Boneco de Estremoz. Tudo isso contribui para que os trabalhos de Jorge da Conceição sejam reveladores da sua incomensurável mestria. Trata-se de facetas do seu trabalho, que ultrapassam o âmbito restrito dos seus formandos e catapultam o barrista a uma nova dimensão de Mestre. Daí dever ser considerado um Grande Mestre, dada a dualidade da sua mestria. Mestre enquanto formador de barristas e Mestre pelo esmero, rigor, beleza e excelência na plenitude do seu trabalho, que fazem guindar a sua obra do patamar da arte popular para o degrau da arte erudita.

Jorge da Conceição (1963 - ), rodeado de discípulos numa sessão do Curso de Formação
sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, ocorrido em 2019. Fotografia de
Luís Parente, recolhida no Facebook.

Epílogo
Já vimos que no verdadeiro sentido do termo, Mestre é “o que comanda, que conduz, que dirige, que ensina”. No conjunto de todos os barristas dos séculos XX-XXI houve apenas três que em contexto oficinal e não familiar, ensinaram discípulos, pelo que podem ser considerados Mestres Bonequeiros de Estremoz. Foram eles: Mariano da Conceição (em contexto oficinal escolar), Sabina da Conceição Santos (em contexto oficinal privado) e Jorge da Conceição (em contexto oficinal formativo).

Publicado no jornal E, nº 317, de 21 de Julho de 2023

sábado, 29 de junho de 2019

Bonecos de Estremoz: Maria Luísa da Conceição


Fig. 1 - Maria Luísa da Conceição (1934-2015). Fotografia do Arquivo Fotográfico
Municipal de Estremoz / BMETZ - Colecção Joaquim Vermelho.

Nasceu às 13 horas de 20 de Maio de 1934 no prédio situado no nº 13 da rua Brito Capelo, da freguesia de Santo André, em Estremoz. Filha legítima de Mariano Augusto da Conceição, de 31 anos, oleiro e de Liberdade Banha da Conceição, de 20 anos, doméstica, ambos naturais da referida freguesia. Neta paterna de Narciso Augusto da Conceição, oleiro, e de Leonor das Neves Conceição, doméstica. Neta materna de José Ricardo Banha e de Agripina da Conceição Banha (5).
A 23 de Julho de 1946 é aprovada no exame do 2º grau do Ensino Primário Elementar. Com 13 anos de idade, candidata-se em 12 de Agosto de 1947 à frequência do Curso de Tapeceira (3 anos) após o Dr. Francisco Affonso de Mattos, médico cirurgião pela Universidade de Coimbra, ter atestado que Maria Luísa foi revacinada contra a varíola há menos de um ano e não sofre de doença infecto-contagiosa, designadamente tuberculose pulmonar ou qualquer das suas formas clínicas. Conclui o curso de Tapeceira em 1950. A 19 de Agosto desse ano candidata-se à frequência do Curso de Aperfeiçoamento de Comércio (4 anos), o qual conclui em 1954, tendo nesse mesmo ano realizado o Exame de Aptidão Profissional (4).
A 21 de Abril de 1957, com 22 anos de idade e na condição de doméstica, casou catolicamente com Octávio Varela Dias Palmela, de 34 anos, comerciante, natural da freguesia de Casa Branca, concelho de Sousel. A celebração do matrimónio decorreu na Capela de Nossa Senhora da Conceição em Estremoz e foi presidida pelo Padre Serafim Tavares. Adoptou então o sobrenome Palmela do marido (2).
O primeiro contacto de Maria Luísa com os Bonecos de Estremoz remonta a 1940, à época da Exposição do Mundo Português, quando, com 6 anos, já ajudava a mãe a pintar os Bonecos confeccionados pelo pai. Com a morte prematura do pai em 1959 e o início da modelação pela mãe, em 1961, Maria Luísa continua a ajudá-la na pintura dos Bonecos. Confecção e pintura são feitas na cozinha, uma vez que aquela que viria a ser a sua oficina e se situava no rés-do-chão da moradia, era então oficina de Sabina Santos, tia de Maria Luísa.
Apesar de ajudar a mãe a pintar, Maria Luísa (Fig. 1) não modela e a sua actividade profissional é tricotar vestuário de lã, o que faz até 1981, ano em que, por motivo de alergia, é levada a abandonar aquela laboração, o que coincide também com o ingresso do filho, Jorge da Conceição, no Instituto Superior Técnico. Passa então a modelar Bonecos de Estremoz, cuja manufactura tinha aprendido por observação do pai, da mãe e da tia. O trabalho continua a ser feito na cozinha. Só com a aposentação da tia em 1988 é que mãe e filha passam a trabalhar na oficina do rés-do-chão, na Rua Brito Capelo, nº 35, em Estremoz. Aqui comercializam os seus Bonecos, passando mais tarde Maria Luísa a fazê-lo também na loja “Artesanato José Saruga”, no Rossio Marquês de Pombal, 98 A, em Estremoz.
Maria Luísa era uma frequentadora assídua de feiras de artesanato: Feira Internacional de Artesanato (Lisboa), Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde, Feira de Artesanato de Coimbra, FIAPE (Estremoz), Salão de Artesanato da Feira de Vila Franca de Xira, Feira de Artesanato da Foz do Douro e Festa Ibérica da Olaria e do Barro (São Pedro do Corval). Foi numa dessas feiras, a XIII Feira de Artesanato de Coimbra, que se sentiu indisposta e acabou por falecer num Hospital de Coimbra, vítima de paragem cárdio-respiratória, na madrugada de 7 de Junho de 2015 (3), (7). Tinha então 81 anos. A comunidade bonequeira de Estremoz ficou de luto e, com a sua partida, a barrística popular de Estremoz ficou mais pobre. Maria Luísa era uma pessoa muito estimada em Estremoz. Daí que o seu funeral para o cemitério local, tenha constituído uma sentida manifestação de pesar, na qual se integraram familiares, amigos, admiradores e oficiais do mesmo ofício, que lhe foram prestar uma última homenagem.
Como traço importante do carácter de Maria Luísa, ressalta o orgulho que sentia em ser quem era, filha de bonequeiros, que tinha prazer em trabalhar e ir junto das pessoas, nas feiras de artesanato.
Era com emoção que falava dos Bonecos de Estremoz, sempre que dava entrevistas, o que era frequente. É que Maria Luísa tinha os Bonecos na massa do sangue. Aqueles que lhe saíram das mãos, tanto os “Bonecos da Tradição”, como aqueles que criou e nisso foi pródiga, são muito apreciados e apresentam marcas de identidade muito próprias e inconfundíveis, que os distinguem dos confeccionados pelos diferentes barristas, incluindo o seu pai e a sua mãe. Deixa como continuador da sua arte, o seu filho, Jorge da Conceição, cujos Bonecos ostentam igualmente marcas de identidade muito próprias.
A qualidade do seu trabalho, levou a que lhe fossem atribuídos inúmeros prémios e distinções, sendo de salientar o 1.º Prémio para a melhor peça de artesanato (Vila do Conde - 1991) e o 1.º Prémio da Exposição de Presépios (Viana do Castelo - 2007), merecendo especial destaque a Medalha de Prata de Mérito Municipal, que lhe foi outorgada pela Câmara Municipal de Estremoz, em 2008.
Maria Luísa da Conceição concedera-me há muito, o privilégio da sua amizade e dela reúno Bonecos que comecei a coleccionar desde a I Feira de Artesanato de Estremoz, em 1983. Em sua casa me recebeu inúmeras vezes, onde, como estudioso, me deslocava sempre que precisava de uma informação ou de um esclarecimento sobre Bonecos de Estremoz.
Em 2012 concedeu-me uma entrevista [1] (6) (Fig. 2) que considero importante e que conjuntamente com descobertas que fiz no Arquivo da Escola Secundária e em correspondência particular, permitiram-me esclarecer aspectos menos claros da História dos Bonecos de Estremoz. Estes foram trazidos à luz do dia, quando naquela Escola proferi uma conferência (8) subordinada ao tema “Mestre Mariano da Conceição (O Alfacinha)”, à qual ela assistiu, bem como o seu filho, Jorge da Conceição.
Maria Luísa da Conceição partiu, mas deixou connosco os Bonecos que criou, disseminados por museus e colecções particulares. Deixou também connosco, a Memória da sua jovialidade e da sua vitalidade. De forte compleição física como seu pai, dele herdou também o gosto, a vontade e a determinação que punha em tudo o que fazia. Aos oitenta e um anos, deslocava-se sozinha no seu automóvel, a fim de participar nas feiras de artesanato, de norte a sul do país. Por isso, deu um elevado contributo para a divulgação dos Bonecos de Estremoz.
Quando faleceu, decorria a candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial de Humanidade, para a qual muito contribuiu e da qual era entusiasta. Agora que a candidatura saiu vitoriosa, sou levado a proclamar:
- MARIA LUÍSA DA CONCEIÇÃO, PRESENTE!

BIBLIOGRAFIA
1 - Catálogo da I Feira de Arte Popular e Artesanato. Câmara Municipal de Estremoz. Estremoz, 15 a 17 de Julho de 1983.
2 - Maria Luísa Banha da Conceição – Assento de Casamento nº 65 de 1957, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
3 - Maria Luísa Banha da Conceição – Assento de Óbito nº 94 de 2015, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
4 - Maria Luísa Banha da Conceição – Processo Individual de aluna nº 528, no Arquivo da Escola Industrial António Augusto Gonçalves e sucessoras.
5 - Maria Luísa Banha da Conceição – Registo de Nascimento nº 301 de 1934, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz
6 - MATOS, Hernâni. Entrevista a Maria Luísa da Conceição. Estremoz, 7 de Fevereiro de 2013. Registo sonoro do Arquivo de Hernâni Matos.
7 - MATOS, Hernâni. Maria Luísa da Conceição, presente! in Brados do Alentejo nº 861, 25/06/2015. Estremoz, 2015 (pág. 4).
8 - MATOS, Hernâni. Mestre Mariano da Conceição (O Alfacinha). Escola Secundária da Rainha Santa Isabel. Estremoz, 15 de Fevereiro de 2013. sp.




[1] Sem aviso prévio, surgi-lhe inesperadamente na oficina, acompanhado do fotógrafo Luís Mariano Guimarães. Disse-lhe que queria que me concedesse uma entrevista sobre o trabalho do pai, da mãe e dela própria. A sua resposta foi imediata:
- Sim senhor, mas tem que ser rápida. Sabe porquê? Não me deu tempo para responder.
Deu ela própria a resposta:
- É que tenho aqui uma Santa para lhe pôr dois braços.
Todavia, a entrevista não foi rápida. Falámos agradável e descontraidamente durante mais de uma hora. É que “As palavras são como as cerejas, vêm umas atrás das outras. Com aquela conversa informal começou a ser reescrita a História dos Bonecos de Estremoz. Foi um bom começo duma caminhada que nunca terá fim.


Fig. 2 - Maria Luísa da Conceição e o autor no decurso da entrevista que lhe concedeu
em Fevereiro de 2013.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Uma carta fora do baralho


FIg. 1 - Lote de bonecos de Estremoz adquiridos por Jorge da Conceição no OLX.


Prólogo
Pode parecer um pouco estranho, intitular um texto de barrística de Estremoz, com uma bem conhecida frase idiomática, que aplicada a alguma coisa lhe confere conotação pejorativa por a depreciar. Todavia, a leitura do presente texto, revela que pode não ser assim.

Bonecos comprados no OLX
O barrista Jorge da Conceição colecciona Bonecos de Estremoz, confeccionados pelo avô Mariano da Conceição, pela avó Liberdade da Conceição e pela mãe Maria Luísa da Conceição. Recentemente adquiriu um lote de 3 Bonecos no OLX (Fig. 1), minutos antes de eu dar por eles. Tratava-se das bem conhecidas figuras “Mulher a lavar a roupa” e “Mulher a dobar” da autoria de seu avô e ostentando na base, a bem conhecida marca ESTREMOZ/PORTUGAL, inclinada [i] (Fig. 2). A eles há a acrescentar um terceiro Boneco (Fig. 4), o qual me foi dispensado por aquele barrista, visto não ser do seu interesse. Dele falarei mais adiante.

Produção de Bonecos de Estremoz na Escola Industrial António Augusto Gonçalves
Os bonecos e as peças de olaria produzidos na Escola Industrial de António Augusto Gonçalves eram vendidos pela Escola, funcionando assim como receita da mesma. Os alunos da Escola recebiam por isso salário, de acordo com notícia do jornal Brados do Alentejo [ii], em 1935. Quando a Escola, designada Escola Industrial e Comercial de Estremoz desde 1948, transitou para o Castelo onde actualmente funciona a Pousada da Rainha Santa Isabel, os alunos continuaram a poder participar na manufactura de Bonecos de Estremoz para vender aos turistas. É o que nos diz o artigo “Primeiro passo: a estante” inserido no “Diário”19 da Escola Industrial e Comercial de Estremoz, Ano I, nº 57, 28 de Março de 1954 [iii] (2): “Dentro de horas, será inaugurada, ao cimo da escadaria principal da Escola, uma estante. E logo dentro dela surgirão Bonecos de Estremoz, moringues e pucarinhos para vender aos visitantes da torre, que todos os dias são numerosos.
Assim se inicia a grande campanha de angariação de fundos para a compra do que à Escola faz falta, para ser completa a acção cultural e pedagógica.
Dentro de dias, serão convidados alunos de maior mérito artístico a dar a sua colaboração, fornecendo a Escola os materiais e pagando ainda, embora com pouco dinheiro, a mão de obra.
Conseguiremos assim, antes das férias grandes, um enorme sortido de lembranças que, enquanto estivermos a descansar, irão creando dinheiro para, quando voltarmos, então poder-mos dar início às nossas compras.
Mas podem haver outras ideias. Elas que venham, pois muitas cabeças a pensar será concerteza melhor do que uma só.”

A marcação dos Bonecos da Escola
Os Bonecos comercializados pela Escola, ostentavam a marca do carimbo “ESTREMOZ / PORTUGAL” (2 cm x 0,8 cm) (Fig. 3). Trata-se do carimbo mais usado por Mariano da Conceição. O carimbo, foi de resto utilizado por sua mulher Liberdade da Conceição, sua filha Maria Luísa da Conceição e seu neto, Jorge da Conceição. Como estes quatro membros do clã alfacinha usaram todos esta marca, só a tipologia de modelação e/ou de decoração, permite identificar o autor de um determinado boneco com a referida marca.
Mariano não terá usado em exclusivo o carimbo de que venho falando, já que no Museu Municipal de Estremoz existem exemplares da aquisição feita à Escola Industrial António Augusto Gonçalves em 1941, que ostentam a marca do citado carimbo e não apresentam as características da modelação de Mariano. Trata-se de figuras afeiçoadas por alunos e que eram também comercializadas pela Escola.

Um boneco singular
O terceiro Boneco (Fig. 4) é um exemplar que não pertence aos chamados “Bonecos da Tradição”, conjunto de cerca de 100 figuras que através dos tempos, têm sido produzidas pela maioria dos barristas.
Trata-se de um pastor de chapéu aguadeiro na cabeça, com a perna esquerda ajoelhada e a perda direita dobrada e assente no solo. Usa safões que lhe protegem as pernas e samarra que lhe protege o peito, as costas e o traseiro. À sua direita tem o cajado assente no solo. À frente tem um tarro com comida. A mão direita empunha uma colher e a mão esquerda apoia-se na perna direita.
Trata-se de uma figura extraída da parte de um todo que é lhe anterior, figura essa conhecida por “Maioral e ajuda a comer” [iv] (Fig. 6). Na base figura a marca manuscrita “Estremos / Portugal”.
Uma vez que esta figura integrava o lote adquirido pelo barrista Jorge da Conceição, na qual existiam dua figuras do seu avô, Mestre Mariano da Conceição, sou levado a admitir que possam ter sido adquiridas na Escola e esta última tenha sido produzida por um aluno. Não há dúvida que se trata de uma figura singular, já que o autor produziu um Boneco que não se integra no chamado conjunto dos Bonecos da Tradição, além de que pompeia manuscrita, a marca “Estremoz / Portugal”, o que é invulgar. Daí lhe termos atribuído o epíteto “Uma carta fora do baralho”, recorrendo a uma bem conhecida frase idiomática, que integra a gíria popular portuguesa.

Epílogo
O presente texto ficaria incompleto, se não se atribuísse um nome à figura que está na sua origem. Ora, uma vez que ela é uma parte da bem conhecida figura composta “Maioral e ajuda a comer”, julgo não ser despropositado chamar-lhe “Maioral a comer”.





[i] A inclinação da marca deve-se ao facto de ela ser obtida pela percussão de um carimbo, constituído por duas filas de caracteres tipográficos verticais, ligados por um fio que ao dar de si, permitiu que as letras da marca ficassem inclinadas.
[ii] Escola Industrial António Augusto Gonçalves in Brados do Alentejo nº 239, 25/08/1935. Estremoz, 1935 (pág. 1).
[iii] O “Diário” era dactilografado a preto e com títulos a vermelho, Os cabeçalhos eram desenhados pelos alunos com mais jeito para desenho. Em todos os cabeçalhos figurava do lado esquerdo, um carimbo batido a preto, que funcionava como logótipo da Escola. Nele figuram um moringue e um púcaro, simbolizando o Curso de Olaria. Aparecem ainda um picão, uma maceta e um escopro, simbolizando o Curso de Cantaria. O conjunto é completado por um ramo de uma planta não identificada, sendo encimado pela legenda “ESCOLA IND. E COMERC. DE ESTREMOZ”, ao longo de um círculo. As datas de publicação do Diário foram as seguintes: Ano I - nº 1 - 9/2/1954, até nº 103 -23/6/1954; Ano II - nº 1 -1/10/1954, até nº 194 - 18/6/1955.
[iv] Na “Tabela de Preços dos Bonecos de Estremoz” da extinta olaria Alfacinha, existe uma figura composta, designada por “Pastores a merendar”. A meu ver, trata-se de uma designação inadequada, já que a representação de dois pastores a comer, não permite concluir se eles estão ou não a merendar. Para além disso, aquela designação não traduz a existência de uma hierarquia entre eles. Daí, que a meu ver, a designação mais adequada para a composição seja “Maioral e ajuda a comer”.

Fig. 2 - Marca de carimbo" ESTREMOZ / PORTUGAL", com as letras inclinadas.

Fig. 3 - Marca de carimbo" ESTREMOZ / PORTUGAL", com as letras na posição normal.


Fig. 4 - Maioral a comer.

Fig. 5 - Marca manuscrita "Estremos / Portugal".  


Fig. 6 - Maioral e ajuda a comer. Mariano da Conceição. Museu Rural de Estremoz.