segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Falar de poesia
quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Eu e António Aleixo
quarta-feira, 9 de outubro de 2024
NA JANELA DO TEMPO
Novo livro de Georgina Ferro apresentado
na Sociedade de Artistas Estremocense
Reportagem de Hernâni Matos. Fotografias de Manuel Xarepe
A Sessão de apresentação
Com o Salão de Festas da Sociedade de Artistas Estremocense literalmente cheio, teve lugar a partir das 16 horas e 30 minutos do passado dia 28 de Setembro, a sessão de lançamento e apresentação do livro “NA JANELA DO TEMPO / TRADIÇÃO, CONTRABANDO E EMIGRAÇÂO”, da autoria de Georgina Ferro, editado em Julho passado pelas edições Colibri, com uma tiragem de 500 exemplares.
A sessão foi coordenada por Fátima Crujo e a intervenção de abertura coube a João Ferro, Presidente da Direcção. Na Mesa encontravam-se o editor do livro, Fernando Mão de Ferro, Hernâni Matos e a autora, que falaram por esta ordem.
Coube a Hernâni Matos fazer a apresentação formal da obra, finda a qual solicitou uma calorosa salva de palmas para a autora, que agradeceu emocionada. Seguiu-se a leitura de excertos de estórias do livro pela filha Sónia Ferro e pelos netos Clara Ferro e Tiago Ferro. No final, a autora autografou o livro para o muito público presente.
A autora
A autora, professora aposentada do 1º ciclo, é natural de Manteigas, onde nasceu a 8 de Dezembro de 1948, dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição. Daí que, segundo diz, se tenha sentido “sempre abençoada e protegida por todas as mães: a Mãe Natureza, a Mãe Celestial e a Mãe da Terra”. A autora revela-nos que repartiu o tempo de infância ente Manteigas, Aldeia do Bispo (Sabugal) e Covilhã. Frequentou a Instrução Primária até à 3ª classe em Aldeia do Bispo (Sabugal) e a 4ª classe em Manteigas. Ingressou depois no Ensino Liceal no Colégio de Nossa Senhora Auxiliadora, no Monte Estoril. Em 1967 ingressou na Escola do Magistério Primário de Évora e terminado o Curso, começou a leccionar o Ensino Primário no ano de 1969 em Rosário (Alandroal), a que se seguiram Veiros, Selmes (Vidigueira), Aldeia da Serra e Glória, onde leccionou 32 anos, até se aposentar em 2003.
Fixou-se em Estremoz em 1972 e aqui casou e teve 3 filhos: Sónia, Pedro e Inês. Sem nunca ter perdido os laços afectivos à terra natal e aos territórios da sua infância, Georgina é cumulativamente uma estremocense adoptiva, que tem participado activamente na vida social da Comunidade em múltiplos aspectos: educativos, cívicos e culturais.
Conheço seguramente a Georgina desde o início do exercício do Magistério Primário na Freguesia da Glória, da sua ligação à Comunidade, do seu reconhecimento por parte da mesma e do seu amor às coisas campaniças.
Lembro-me de partilhar há muito com a Georgina uma grande admiração pelo “Ti Rolo” da Aldeia de Cima (Glória), que exercia sobre nós um fascínio incomensurável, pela sua oralidade transbordante e pelos artefactos de arte pastoril nascidos das suas mãos mágicas, nos quais projectava toda a imaginária popular, lavrada em chifres e paus sabiamente escolhidos.
Lembro-me do nascimento da sua filha Sónia e tive o privilégio de ser professor de Física de 12º ano do seu filho Pedro. Foi uma experiência encantadora, pois além do Pedro ser um aluno fortemente motivado, eu tive oportunidade de pôr em prática o método de ensino-aprendizagem personalizado, preconizado por muitos pedagogos. É que o Pedro era o único aluno da turma. Nenhum de nós deixou os seus créditos por mãos alheias e a experiência pedagógica foi um êxito.
Lembro-me do envolvimento da Georgina no Projecto Serra de Ossa, desde o início, no tempo da liderança de Gil Malta e de ela ter participado em 1998, conjuntamente com outros professores, entre os quais eu me incluo, nas “Segundas Jornadas da Serra d’Ossa”, levadas a efeito na Escola Secundária da Rainha Santa Isabel. A sua bem-sucedida intervenção oral nessas jornadas, foi o embrião dos seus primeiros livros, publicados ambos em 2005: “Plantas Medicinais da Serra d'Ossa” e “Por um Amanhã Mais Verde, Mezinhas Caseiras com Plantas da Serra d'Ossa”.
Em Setembro de 2012, a Georgina concedeu-me o privilégio de participar na apresentação pública do meu livro “Memórias do Tempo da Outra Senhora”, o que muito me congratulou.
Em Dezembro de 2013 a Georgina brindou-nos com o lançamento do seu livro de poesia “O MEU ARRAIAR POR TERRAS DO SABUGAL”, editado pela Colibri, o qual foi apresentado na Casa de Estremoz pela Maria do Céu Pires e pela Francisca de Matos.
Desta feita, coube-me a mim fazer a apresentação formal do seu mais recente livro “NA JANELA DO TEMPO / TRADIÇÃO, CONTRABANDO E EMIGRAÇÂO”, na sequência do convite que me foi endereçado pela autora e que eu gostosamente aceitei.
A obra
Fisicamente é um livro brochado, de 22,8 x 16 cm e 236 páginas, dado à estampa pelas prestigiadas Edições Colibri de Fernando Mão de Ferro. Tem capa a cores de Raquel Ferreira, gizada a partir de fotografia de Abel Cunha. Na primeira badana figura uma pequena biografia e a fotografia da autora e na segunda badana, um excerto de uma das estórias do livro. Este tem prefácio de José Carlos Lage, o qual confessa que é “Fácil e ao mesmo tempo difícil” falar das poesias e das crónicas de Georgina. Por sua vez, em posfácio impresso na contracapa, Francisca de Matos afirma e muito bem, que “Esta obra é, sobretudo, uma grande lição de vida, um legado que não deve, não pode ser esquecido”.
O livro é um livro de estórias ou não fosse Georgina, para além de notável poetisa, uma extraordinária contadora de estórias. Não estórias quaisquer, nem tão pouco inventadas ou arquitectadas, mas estórias reais ocorridas no tempo da sua infância, repartida entre Manteigas, Aldeia do Bispo (Sabugal) e Covilhã.
São estórias com personagens reais, de carne e osso, como o Ti Júlio, a Ti Mariana, a Senhora Isabel Augusta, o Ti Zé Ramos, a Menina Zéfinha, o tio António Pantalona, o tio Zé Manso e não sei quantos mais, numa infinidade numerável que não consegui quantificar. São eles que constituem aquilo que com orgulho, Georgina chama “A Minha Gente”.
São estórias contadas e redigidas numa escrita fluida e ágil, eficaz na pintura descritiva das paisagens rurais e do interior das casas aldeãs. Escrita que é também uma partilha intimista das emoções e sentimentos dos personagens, incluindo Georgina, também ela própria, personagem por direito próprio e inalienável. Tudo sempre minuciosamente filigranado ao pormenor, numa linguagem rica, valorizada pelo uso de vocábulos regionais, cujo sentido, se necessário pode ser decifrado num glossário que antecede o índice final.
São estórias do tempo em que nas aldeias se tocavam as Trindades.
As hortas eram regadas com água tirada das noras e das picotas. Comia-se daquilo que a terra dava e em situações de carência havia partilha e entreajuda ente vizinhos e familiares. Todavia, a falta de dinheiro para bens de mercearia e para comprar entre outras coisas, petróleo para alumiar, levavam alguns, mais aflitos e mais afoitos, a entrar no contrabando através da raia de Espanha ou a dar o salto para França.
Apesar de tudo ou talvez por isso, rezava-se a Deus, à Mãe de Jesus, ao Anjo da Guarda e a Santo Antão para proteger o gado.
A menina Zefinha andava de taleigo à cabeça, a ti Mariana remendava as ceroulas do Ti Júlio e a ti Neves do Ti Júlio punha-lhe ventosas e papas de linhaça, a ver se ele arribava.
A roupa era cosida, remendada e transformada, passando dos mais crescidos para os mais pequenos. O pão era amassado de tarde para ficar a dormir à noite e os mais velhos davam a bênção aos mais novos antes destes adormecerem.
Isto e muito mais, são registos de memórias de tempos idos dos personagens do livro. Tempos e vivências difíceis e duras, mas também de afectos, partilhas e tradições numa Comunidade onde Georgina nasceu e cresceu, com a qual se identifica e que pela mesma é reconhecida e idolatrada.
Georgina é, pois, uma guardadora de memórias, muitas delas guardadas no presente livro e que por serem reconhecidas pela Comunidade que a viu nascer e crescer, integram a memória colectiva local e contribuem com a sua quota parte para a memória colectiva regional e para a memória colectiva nacional.
É a memória colectiva que nos ajuda a construir e manter a nossa identidade cultural e histórica, preservando tradições, valores e experiências comuns.
É a memória colectiva que nos permite aprender com os erros e sucessos do passado, o que é essencial para o desenvolvimento e a evolução da sociedade.
A memória colectiva desempenha um papel crucial no exercício da cidadania e da democracia, pois é através da memória colectiva que as lutas e conquistas dos nossos antepassados são lembradas e honradas, incentivando a luta por um futuro melhor e mais justo.
Daí a importância de que se reveste o livro, cuja leitura vivamente recomendo.
quinta-feira, 19 de setembro de 2024
ESTREMOZ - O neo-realismo a passar por aqui
D. Maria Fernanda Andrade.
[1]
“Gandaia” é um termo pertencente à gíria popular, cujo significado é: “Acto de remexer o lixo à procura do que nele se pode aproveitar”.
[2] Sinopse recolhida em https://tradestories.pt/carlos-lopes/livro/gandaia .
segunda-feira, 12 de agosto de 2024
Mineiro - Eduardo Valente da Fonseca
Mineiro
Eduardo Valente da Fonseca (1928-2003)
Mineiro da pele de fogo.
português do meu país,
onde nós vemos flores,
tu vês raiz.
Mineiro desse outro lado
onde a flor não desabrocha,
és bicho, gente ou gerânio
florescendo nas rochas?
Mineiro da pele de fogo,
português do meu país,
vejo-te aqui na cidade
no ferro, no ouro e cobre,
nas estações e cozinhas
e no colo das mulheres.
Andas presente nas pontes,
em dedos, salões de luxo,
nas orelhas das crianças,
em casas comerciais,
e na frescura das tranças
enfeitadas a metais.
Descubro-te assim presente
na força continental
dos guindastes e navios
e no rumor industrial
dos próprios rios.
Mineiro do meu país,
português da pele de fogo,
alarga os braços e diz,
mostrando os dedos à luz
deste sul de Portugal,
que mais que o peixe e o sal
é o minério a raíz
e a razão fundamental
deste fumo industrial
do teu país.
quarta-feira, 31 de julho de 2024
Canto ó povo - Eduardo Valente da Fonseca
Canto ó povo
Eduardo Valente da Fonseca (1928-2003)
Canto ó povo a tua força,
o teu gesto varonil,
canto a força e a juventude
das flores no mês de Abril.
Canto os teus sonhos e a neve,
mais os mortos nos caminhos,
canto a fome superada,
a broa e a fruta roubada,
os pardais, a palha e o linho.
Canto os teus amores ó povo,
a madrugada e o vento
canto o teu sexo e a lã
as maçãs e o vinho novo,
canto os muros floridos,
os silvedos e as amoras,
canto as casas e as estradas,
as coisas movimentadas
aonde tu povo afloras.
Canto os rios, as serranias,
as minas, a erva doce,
canto o feno, canto o gado,
os melros, as cotovias,
canto o ventre fecundado
sob o céu ou o telhado
na pausa breve dos dias.
Canto e sonho ó povo onde
eu estou por ser também
do povo que não esconde
o donde veio e de quem.
Canto a tua forca agreste,
profunda e continuada,
canto o vento que te veste
de flores na madrugada.
Canto os caminhos de ferro,
os automóveis, o pão,
canto a tua heroicidade
de te ergueres para aquém do chão.
Canto o pano, o trigo e a erva,
o sal, a tristeza e o mar,
canto o ferro, o amor e as mãos
das mães sem nada que dar.
Canto os tens olhos ó povo,
ressentidos e humilhados
das ofensas inocentes
dos que ignoram que tu
és a razão capital
da fazenda que vestimos,
das belas coisas que ouvimos,
e desta luta em que estamos
para o nosso bem e mal.
Canto e quero que tu cantes
comigo e na tua voz,
e que a cantar tu espantes
o medo que habita em nós.
quarta-feira, 19 de junho de 2024
Os dias de verão - Sophia de Mello Breyner Andresen
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
Os dias de verão vastos como um reino
Cintilantes de areia e maré lisa
Os quartos apuram seu fresco de penumbra
Irmão do lírio e da concha é nosso corpo
Tempo é de repouso e festa
O instante é completo como um fruto
Irmão do universo é nosso corpo
O destino torna-se próximo e legível
Enquanto no terraço fitamos o alto enigma familiar dos astros
Que em sua imóvel mobilidade nos conduzem
Como se em tudo aflorasse eternidade
Justa é a forma do nosso corpo
Nostálgica - Álvaro Feijó
Álvaro Feijó (1916-1941)
Debruço-me no cais por sobre o rio,
vendo os navios partir,
vendo os navios voltar.
Vejo algum no horizonte e sigo a esteira
até ele ancorar,
e vou seguindo a esteira
dos que partem, até deixar
de os ver.
No cais há sempre gente!
Muita gente como eu que das viagens
domingo, 16 de junho de 2024
Convite - Antunes da Silva
Convite
Antunes da Silva (1921-1997)
Vós Que Sois Da Minha Terra.
Na Raiz De Cada Chão
Nasce Um Canto Contra A Guerra.
Vinde Ver O Sol Fecundo
E Abraçar A Ventania.
Nas Vozes De Cada Fome
Há Gritos De Rebeldia
Vinde, Vinde!
Antunes da Silva (1921-1997)
sábado, 15 de junho de 2024
Diário de bordo - Álvaro Feijó
Álvaro Feijó (1916-1941)
Letra a letra,
hora a hora,
linha a linha,
marquei no Diário de Bordo
as fases da viagem.
Dias e dias no embalar das vagas,
sem que um bafo de brisa poluísse
o abandono tentador das velas;
expedições forçadas, abordagens;
fome e sede de carne, nos jejuns
de cem dias de Mar;
velhos contos de bordo, em noites podres,
sem lua e sem estrelas;
o escorbuto na alma, apodrecida
à espera dos combates;
os rateios da presa recolhida
e, ao fim,
a Ilha dos Amores de qualquer porto
onde as mulheres se vendem.
E tudo foi, profundamente, inútil.
Livro de Bordo de Corsário, deixa
que o tempo apague a tua prosa inútil
e escreve a história imensa
daquela frota em que tu vais partir
– como pobre navio auxiliar –
à demanda e à conquista
do Novo Continente!
domingo, 2 de junho de 2024
Livre - Carlos Oliveira
Carlos de Oliveira (1921-1981)
Não há machado que corte
A raiz ao pensamento:
Não há morte para o vento,
Não há morte.
Se ao morrer o coração
Morresse a luz que lhe é querida,
Sem razão seria a vida,
Sem razão.
Nada apaga a luz que vive
Num amor, num pensamento,
Porque é livre como o vento
Porque é livre.
sábado, 1 de junho de 2024
Também eu trago a saudade - António Reis
António Reis (1927-1991)
nos sentidos
se dissesse que não
era mentira
Também eu perdi um cão
casas
rios
Mas hoje
tenho mulher
amigos
e uma saudade mais real
é que me inspira
As Papoilas - José Gomes Ferreira
As Papoilas
José Gomes Ferreira (1900-1985)
Em ondas de cor…
Em ondas de cor…
Sangrentas como os punhais
Do nosso suor…
Do nosso suor…
Dá vontade de arrancá-las,
Pô-las nas lapelas…
Pô-las nas lapelas…
E, depois,
E, depois, dependurá-las
Na luz das estrelas
Na luz das estrelas.
Ó papoilas como chagas
Em ondas de flor…
Em ondas de flor…
No sangue das vossas vagas
Anda a nossa dor
Anda a nossa dor.
Outras papoilas um dia,
Pela terra fora
Pela terra fora
Darão ao mundo a alegria
Duma nova aurora
Duma nova aurora.
Palhaço - Álvaro Feijó
Álvaro Feijó (1916-1941)
Como os garotos
entrei no circo
por sob a tela! Ninguém… Ninguém!
Saltei na arena, berrei na arena…
ninguém!
Vesti o fato
vermelho e oiro
dalgum palhaço,
lancei nas ondas do ar o tesoiro
Do que eu quero fazer e que não faço.
Na escuridão
senti um riso
quando atirei minha alma nua,
tal e qual é na escuridão
Riso de quem?
Ninguém me via?
E a gargalhada ria,
como se fora eu próprio a rir.
Abri a alma,
mostrei-a inteira!
O que podia… E o resto, a esmo!
E o riso, ria.
Riso de quem?
E fui palhaço
de mim mesmo!
Álvaro Feijó (1916-1941)
sexta-feira, 31 de maio de 2024
Ronda - João José Cochofel
João José Cochofel (1919-1982)
Enche os pulmões e canta
a glória de existir,
canta o passado e o presente
e a tua fé no porvir.
Atira ao ar como um foguete
o canto da tua voz.
Música, festa, cacete:
a Terra é de todos nós!
Solta o teu canto, ergue-o
e lança o desafio:
Mundo que liberto queres
de fome, solidão e frio.
Atira ao ar como um foguete
o canto da tua voz.
Música, festa, cacete:
a Terra é de todos nós!
João José Cochofel (1919-1982)
Eu tive um pássaro de prata - Álvaro Feijó
Álvaro Feijó (1916-1941)
Eu tive um pássaro de prata…
Seguia rotas sem fim
– sem dar conta das horas, das distâncias –
para longe de mim.
Um dia veio a tempestade…
O pássaro quebrou as suas asas de prata
e capotou!
Sofri!
Eu sei lá se sofri,
vendo no chão toda a engrenagem
que a moldara
e a fuselagem
deselegante, como uma lesma, indiferente, ao sol.
E nem assim
deixou de erguer-se ao céu o pássaro de prata
tentando novas rotas,
voando sempre, e só, para dentro de mim…
Álvaro Feijó (1916-1941)
quarta-feira, 29 de maio de 2024
Canção de Maio - Joaquim Namorado
Canção de Maio
Joaquim Namorado (1914-1986)
Em chegando o mês de Maio
vão nascer rosas vermelhas
em todos os roseirais.
Quem me dera já em Maio
que não chega nunca mais.
Tenho uma rosa vermelha,
Trago-a no meu coração,
lá é sempre Primavera,
não há Inverno nem Verão.
Quem me dera já no fim
deste inverno tão comprido
que corre tão devagar.
Rosas vermelhas, carmim,
serão para me enfeitar.
Tenho uma rosa vermelha,
Trago-a no meu coração,
lá é sempre Primavera,
não há Inverno nem Verão.
Se quiseres saber de mim
vai apanhar uma rosa
e põe-na no teu chapéu.
Ficarei sabendo assim
que o teu pensar é o meu.
Tenho uma rosa vermelha,
Trago-a no meu coração,
lá é sempre Primavera,
não há Inverno nem Verão.
Rosas de Maio, quem mas dera
ver todo o ano a florir
em todos os roseirais,
Fossem sempre primavera,
não findassem nunca mais.
Tenho uma rosa vermelha,
Trago-a no meu coração,
lá é sempre Primavera,
não há Inverno nem Verão.
terça-feira, 28 de maio de 2024
Canto de Paz - Carlos de Oliveira
Carlos de Oliveira (1921-1981)
Homens deixai abrir a alma ao que vier,
Deixai entrar a paz do tempo que ela quer.
De par em par aberta com sol até ao fundo,
Gastai a alma toda na harmonia do mundo.
Homens deixai abrir a alma ao que vier,
Deixai entrar a paz do tempo que ela quer.
Homens que vagueais pela berma da vida,
Tereis enfim sinais da glória prometida.
Homens deixai abrir a alma ao que vier,
Deixai entrar a paz do tempo que ela quer.
Na voz do Dia Novo a dar bom dia aos astros,
Quando a tristeza for só pó dos vossos rastros,
Homens deixai abrir a alma ao que vier,
Deixai entrar a paz do tempo que ela quer.
Carlos de Oliveira (1921-1981)
Romaria - João José Cochofel
João José Cochofel (1919-1982)
Enche os pulmões e canta
a glória de existir,
canta o passado e o presente
e a tua fé no porvir.
Atira ao ar como um foguete
o canto da tua voz.
Música, festa, cacete:
a Terra é de todos nós!
Solta o teu canto, ergue-o
e lança o desafio:
Mundo que liberto queres
de fome, solidão e frio.
Atira ao ar como um foguete
o canto da tua voz.
Música, festa, cacete:
a Terra é de todos nós!
João José Cochofel (1919-1982)
segunda-feira, 27 de maio de 2024
Combate - Joaquim Namorado
Joaquim Namorado (1914-1986)
Nada poderá deter-nos
Nada poderá vencer-nos.
Vimos do cabo do mundo
Com este passo seguro
De quem sabe aonde vai.
Nada poderá deter-nos,
Nada poderá vencer-nos!
Guerras perdidas e ganhas
Marcaram o nosso corpo,
Mas nunca em nós foi vencida
Esta certeza sabida
De saber aonde vamos.
Nada poderá deter-nos,
Nada poderá vencer-nos!
Os mortos não os deixamos
Para trás, abandonados,
Fizemos deles bandeiras,
Guias e mestres, soldados
Do combate que travamos.
Nada poderá deter-nos,
Nada poderá vencer-nos!
Nada poderá deter-nos,
Pró assalto das muralhas
Nossos corpos são escadas,
Para as batalhas da rua
Nossos peitos barricadas.
Nada poderá deter-nos,
Nada poderá vencer-nos!
Nada poderá vencer-nos,
Vimos do cabo do mundo
Vimos do fundo da vida:
Que somos o próprio mundo
E somos a própria vida.
Nada poderá deter-nos,
Nada poderá vencer-nos!