Publicado inicialmente em 20 de Abril de 2023
Publicado inicialmente em 20 de Abril de 2023
Cristo na coluna. José Moreira (1926-1991). Colecção particular.
[i]
A flagelação era uma forma de suplício infringido pelos romanos, visando
castigar crimes, obter confissões ou preparar execuções capitais. Para esse
efeito, recorriam ao “flagelo”, chicote constituído por tiras de cabedal ou
corda com pedaços de ferro nas pontas, com o qual açoitavam as vítimas.
[ii] No contexto do simbolismo e arte cristãos, a coluna é um dos “instrumentos maiores” da Paixão de Cristo. Outros são: a cruz, a coroa de espinhos, o chicote, a esponja, a lança, os pregos e o véu de Verónica. Para além destes, existem ainda outros que são considerados “instrumentos menores”. Uns e outro são vistos como armas que Jesus utilizou para derrotar Satã e são tratados como símbolos heráldicos.
Fig. 2
O presente berço do Menino Jesus, conhecido por “berço das pombinhas” (Fig. 1), cuja simbologia já foi por mim analisada [i], é duma tipologia que já era executado por oficina de barristas de Estremoz desconhecidos, de finais do séc. XIX – princípios do séc XX, os quais assinalavam a sua produção com a marca incisa “EXIREMOZ”, aposta por percussão de carimbo. Este tipo de berço continuou a ser produzido por Gertrudes Rosa Marques (1840-1921), Ana das Peles (1869-1945), Mariano da Conceição (1903-1959), Sabina Santos (1921-2005), Liberdade da Conceição (1913-1990), José Moreira (1926-1991), Maria Luísa da Conceição (1934-2015), Fátima Estróia (1948 - ) e Irmãs Flores [(Maria Inácia (1957 - ) e Perpétua (1958 - )] [ii].
No berço de Ricardo Fonseca (1986- ) é
dominante uma dicromia quente-frio, materializada cromaticamente pelo binário
ocre amarelo – azul do Ultramar, tradicionalmente usado na arquitectura popular
desta terra transtagana, iluminada pelas claridades do Sul. A cor de fundo do
berço é o ocre amarelo, à excepção do folho que encima o espaldar do berço e cuja
coloração é a do azul do Ultramar.
A dicromia dominante dá uma forte
contribuição para contextualizar o berço em termos identitários alentejanos.
Esta contextualização é reforçada pela decoração do berço com elementos
fitomórficos associados à região: espiga de trigo, papoila e ramo de oliveira
(no espaldar) e ramo de sobreiro (na cercadura lateral do berço).
A manta listada que cobre o
Menino Jesus é amovível (Fig. 2), o mesmo se passando com o Menino Jesus (Fig.
3), que estava assente num pano branco, por sua vez assente em palhinhas.
Este exemplar de berço do Menino Jesus
constitui um bom exemplo da possibilidade que existe de introduzir inovação
morfológica e contextualização regional em exemplares do Figurado de Estremoz,
sem que estes deixem de pertencer ao chamado núcleo central daquele Figurado.
[i]
MATOS, Hernâni. “Contributo
para uma Simbólica das Figuras de Presépio” in jornal E, n.º 324,
Estremoz, 21 de Dezembro de 2023. [Em linha]. Disponível em: https://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com/2023/12/contributo-para-uma-simbolica-das.html
[Consultado em 31 de Dezembro de 2023].
[ii]
Sabina Santos produziu também outro tipo de berço, habitualmente designado por
“berço dos anjinhos”, que foi igualmente confeccionado pelos barristas que se
lhe seguiram.
Fig. 2
Modelar é uma arte, solta do coração e que dali a reparte, guiada a cada mão. É com mãos e com barro, água, teques e jeito, um encontro bizarro: modelar a preceito. Tem bola, rolo, placa. Com eles vai fazer, tudo o que se destaca. É lindo de se ver. O rolo dá um braço e dá a perna então, com um gesto do traço que nasce com a mão. A bola dá cabeça e dá olhar, razão para que lá mereça ter lugar a visão. Placa dá avental, vestidos e safões. É roupa sem igual em várias ocasiões. Após modelação, é cozer e pintar. Envernizar então, e sua obra acabar. Secar para cozer, com o tempo a passar, para não acontecer, a figura estalar. Cozer tem a sua arte, nunca é de repente, que a figura se parte. Disso estou bem ciente. Pigmentos são zarcão e azul dito Ultramar. Como ocre e vermelhão, dão tintas p'ra pintar. As cores são reais, são representação desses dados visuais, fruto da observação. O verniz dá beleza, concede protecção, previne da rudeza de feia alteração. Há Presépios e Santos, desfilam procissões e há muitos recantos das humanas paixões. Tem a mulher no lar, com o chá a servir, com a roupa a lavar e o que mais há de vir. Da cidade o aguadeiro, a mulher dos chouriços, o peralta e leiteiro, como outros aqui omissos. Do campo uma ceifeira, um pastor e um ganhão, mais uma azeitoneira, todos os que ali estão. Galeria dos Santos: onde vai São João, a Virgem aos prantos e António folião. Também a procissão, mostra solenidade, com padre, sacristão, povo mais irmandade. O Natal é chegado e logo nos seduz o presépio montado. Ali nasceu Jesus. Lá vem o Carnaval com o seu “Amor é Cego” e Primavera tal, que nenhuma renego. E por fim os apitos. Que bela brincadeira, gozo de pequenitos, bem à sua maneira. O púcaro enfeitado, cantarinha também. Recipiente ornado que beleza que tem. Bonecos que cantamos e só nos dão alegria. Amigos quase humanos no nosso dia a dia. Assim, da Humanidade tornaram-se Património, orgulho da cidade e do povo campónio. Cá, os nossos barristas brilharam bem então, já que foram artistas da classificação. Barristas do presente, barristas do passado que a memória consente, todo aqui é louvado. Hernâni Matos (1946 - ) |
O Dia da Mãe é uma data comemorativa que visa homenagear anualmente a maternidade e as mães pelo amor, carinho e dedicação que têm com os seus filhos, servindo igualmente para reforçar e demonstrar o amor dos filhos pelas suas mães. Em Portugal, é comemorado no primeiro domingo de Maio, mês conhecido entre os católicos como o mês de Maria, Mãe de Jesus (em particular Nossa Senhora de Fátima), o que acontece desde a década de 70 do século passado. Até então e desde 1950 que a comemoração do Dia da Mãe, instituído pela Mocidade Portuguesa Feminina, organização juvenil do Estado Novo, ocorria a 8 de Dezembro, dia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
Deste modo, no conjunto dos Bonecos de Estremoz, os exemplares que numa perspectiva católica e sob um ponto de vista temático, estão associadas ao Dia da Mãe são:
1 - NOSSA SENHORA DA IMACULADA CONCEIÇÃO – Representação da Virgem Maria concebida sem pecado original, através de dogma pelo Papa Pio IX (1792-1878) na sua bula “Ineffabilis Deus” em 8 de Dezembro de 1854. Tem sete atributos: a meia-lua e a serpente sob os pés, os anjos e a nuvem nos pés, as mãos postas ao nível do coração, o manto azul e a coroa com cruz.
2 - NOSSA SENHORA DE FÁTIMA – Representação de uma das invocações atribuídas à Virgem Maria e que teve a sua origem nas aparições recebidas por três pastorinhos no lugar da Cova da Iria (Fátima), a primeira das quais ocorreu no dia 13 de Maio de 1917 ao meio-dia. Tem como principais atributos: o manto e a túnica claros, as mãos postas ao nível do coração, coroa com cruz e a seus pés, três crianças de joelhos, de mãos postas e de cabeça levantada para a Virgem.
3 - SAGRADA FAMÍLIA – Representação da família de Jesus de Nazaré, composta de acordo com a Bíblia por José, Maria e Jesus.
4 - NOSSA SENHORA A CAVALO (FUGA PARA O EGIPTO) - Representação dum evento relatado no Evangelho de São Mateus (Mateus 2:13-25), no qual após a Adoração dos Magos, José foge para o Egipto com Maria sua esposa e seu filho recém-nascido Jesus, após ter sido avisado por um Anjo do Senhor, do massacre de crianças com menos de dois anos, que ia ser perpetrado por ordem de Herodes I, o Grande, receoso que a criança que os Magos proclamavam como novo rei, lhe tomasse o trono e o poder.
5 - PIEDADE – Representação de Jesus morto nos braços de sua mãe.