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sábado, 29 de março de 2025

Costurar é preciso!

 

Mulher a cozer à máquina. José Carlos Rodrigues (1970- ). 
Bonequeiro de Estremoz certificado pela Adere-Certifica.

A máquina de costura é um objecto primordial que povoa o universo de memórias da minha infância.
Nasci no número 14 do Largo do Espírito Santo em Estremoz, no dia 19 de Agosto de 1946. Ali se situava a primeira oficina de alfaiate do meu pai. Daí que algumas das memórias de infância sejam de natureza acústica e tenham a ver com o regime de funcionamento da máquina, entre um arranca e um pára, ao sabor do tamanho da costura. Familiarizei-me, de resto, com diferenças de sonoridade associadas a costuras lineares, em ziguezague e pespontadas. Todavia, também há outras que fui registando desde muito cedo, até porque menos agradáveis. Entre elas, o partir da linha, o enfiar da agulha, a mudança de bobine e até mesmo o partir da agulha. Tudo contratempos que perturbavam o ritmo do ganha pão diário lá de casa.
Lá fui crescendo no meio de costureiras que tratavam o meu pai respeitosamente por Mestre e aí pelos 15 anos fui recrutado como aprendiz no decurso das férias escolares. Com uma cajadada, o meu pai matou dois coelhos: para o que desse e viesse, pôs-me a aprender os rudimentos do ofício, ao mesmo que me subtraía à rua, onde entre a rapaziada já havia quem gostasse de “Rock'n and Roll” e sem ele o saber, eu era um deles.
Parece que tinha o destino marcado e lá comecei a desempenhar as tarefas mais simples destinadas a um aprendiz, o que incluía não só cozer à mão, como também à máquina. E era aqui que eu renascia sempre que ao cozer entretelas, descarregava as tensões acumuladas ao ritmo do pedal da máquina. Era um indício bastante forte de que a minha vida não iria ser aquela.
Por isso, quando o meu pai equacionou o meu ingresso no Ensino Secundário, eu acarinhei a ideia com o compromisso solene de me empenhar mais que até aí, acordo que sempre cumpri.
A partir daí passei a encarar a máquina de costura com outros olhos.
Como estudante de Física vim a perceber que o movimento de vaivém do pedal da máquina, é transformado pelo sistema biela-manivela, em movimento de rotação da roda grande inferior, o qual através duma correia se transmite à roda pequena superior, que assim atinge uma velocidade muito superior, indispensável ao funcionamento eficaz da máquina de costura. Percebi também que é graças à inércia de rotação, que a máquina continua a trabalhar, mesmo após termos deixado de dar ao pedal.
Como membro responsável desta aldeia global que é o mundo, reconheço o contributo da máquina de costura caseira para a sustentabilidade do planeta. Com ela se podem reparar rasgões ou tapar buracos, reconverter modelos ou ajustá-los ao tamanho dum novo utilizador. Tudo isto numa prática de economia circular, a qual combate o desperdício da Sociedade do Descartável, que inescapavelmente conduz ao ecocídio.
Não é de estranhar que a máquina de costura ocupe um lugar privilegiado cá em casa, não como mero adorno decorativo, mas como instrumento de economia circular ao serviço da sustentabilidade do planeta. Trata-se de uma máquina SINGER centenária, que me foi oferecida pela minha mãe há cerca de 50 anos, após a sua aquisição aos herdeiros de uma velha senhora, acompanhada do catálogo do modelo e do respectivo recibo de compra.
Como coleccionador, investigador e publicista de Bonecos de Estremoz, não podia deixar de me encantar com uma criação do barrista José Carlos Rodrigues, representando a “Mulher a cozer à máquina”, em contexto de inícios do séc. XX com matriz alentejana (chão de tijoleira e cadeira pintada com flores).
Felicito vivamente o bonequeiro por este seu trabalho, não só pelo trabalho em si, mas porque nele estão interligados dois conceitos que me são gratos: a economia circular ao serviço da sustentabilidade do planeta e o Património Cultural Imaterial da Humanidade cuja salvaguarda é imperativa.
Publicado inicialmente em 23 de Julho de 2023

sexta-feira, 28 de março de 2025

CURIOSIDADES - Figurado de Estremoz de Inocência Lopes

 

Inocência Lopes na Casa do Alentejo, em Lisboa. Fotografia de Luís Mendeiros . CME.

APRECIE AQUI EM PORMENOR

Esta a designação da exposição inaugurada no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, na passada 5ª feira, dia 18 de Maio, pelas 11 horas e que ali ficará patente ao público até ao próximo dia 3 de Setembro.
Ao acto inaugural compareceram cerca de 2 dezenas de pessoas, entre familiares, amigos e admiradores da barrista Inocência Lopes, que ali foram testemunhar a estima que nutrem por ela e pelo seu trabalho.
O evento foi iniciado por Isabel Borda d’Água, directora do Museu Municipal de Estremoz, que historiou o percurso formativo da barrista e elogiou o seu trabalho. Seguidamente usou da palavra a artesã, que justificou o título da Exposição e que emocionada agradeceu o apreço manifestado pelos presentes, assim como o trabalho de mestria dos seus formadores, bem como o enquadramento proporcionado pelo Município, pelo CEARTE e pela ADERE-CERTIFICA.

Infância e juventude
A barrista, de seu nome completo, Inocência Isabel Gonçalves Saias Lopes, nasceu em 1973 no Monte do Redondinho, na Freguesia de Évora Monte e foi a terceira de quatro irmãos (2 rapazes e 2 raparigas). Foi baptizada na Igreja de S. Pedro em Évora Monte, vila e freguesia onde completou o 1º e o 2º ciclo do Ensino Básico. Desse tempo, lembra-se das brincadeiras de infância com outras crianças suas vizinhas, de ser muito reservada na escola e tem boas recordações das férias de Verão.
Começou a trabalhar muito jovem, revelando interesse e até mesmo paixão pelo artesanato, de tal modo que aos 15 anos já dizia que um dia havia de ter uma loja de artesanato no Castelo de Évora Monte. Com 15/16 anos frequentou um curso de tecelagem e de tinturaria vegetal, a que se seguiu uma formação em tapetes de Arraiolos. Dos 18 aos 20 anos foi baby-sitter e mais tarde foi viver para Quarteira durante um ano, entre 1994 e 1995, aí trabalhando em Hotelaria.
Aos 16 anos começou a namorar com um jovem de 19, José Manuel da Silva Lopes, que conhecia desde a escola primária e com quem casou em 1993, em cerimónia realizada na Igreja de São Pedro, em Évora Monte. Do casamento nasceria um filho, José Manuel Gonçalves Lopes, actualmente com 25 anos de idade e designer gráfico, interessado por tudo que é arte e que já revelou potencialidades de poder dar continuidade ao trabalho da mãe, como barrista de bonecos de Estremoz.
Em 2003/2004, Inocência Lopes frequentou um Curso de Formação Profissional do IEFP, com equivalência ao 9º ano de escolaridade. Em 2005 concretizou o antigo sonho de abrir uma loja de artesanato dentro do Castelo de Évora Monte, o que veio a acontecer no nº 11 da Rua da Convenção, local onde até 1915 tinha funcionado o Celeiro Comum, fundado por alvará de D. João IV, em 1642. Devido à sua localização, a loja passaria a ser designada por Loja de Artesanato Celeiro Comum e entre outras coisas eram ali comercializadas cadeiras alentejanas, louça regional, artefactos em cortiça e pantufas de pele. Em 2010, frequentou algumas aulas de Técnicas de Modelação de Bonecos de Estremoz, ministradas por Isabel Borda d´Água no Museu Municipal de Estremoz, as quais não puderam ter continuidade, por motivos de natureza pessoal. Entretanto, frequentou várias formações em pintura e técnicas de artes decorativas, visando comercializar os seus trabalhos. Todavia, a atracção exercida pelos Bonecos de Estremoz, revelar-se-ia crucial.

O nascimento da barrista
Em 2019 frequentou o Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que teve lugar no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte. O Curso foi promovido pelo CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património, em parceria com o Município de Estremoz. O Curso com a duração de 150 horas e de Nível QNQ 2, teve formação técnica a cargo do barrista Mestre Jorge da Conceição. Em 2022 recebeu Carta de Artesão e de Unidade Produtiva Artesanal na área da Cerâmica Figurativa, emitida pelo CEARTE.
Também em 2022 foi reconhecida como artesã produtora de Bonecos de Estremoz. O reconhecimento consta de um certificado atribuído pela Adere-Certifica, organismo nacional de acreditação a quem compete a certificação de produções artesanais tradicionais, com garantia da qualidade e autenticidade da produção.
O ano de 2022 é um ano relevante na vida de Inocência Lopes, que passa a produzir e a comercializar Bonecos de Estremoz, como artesã certificada. Trata-se de uma condição que para além de constituir uma mais valia na salvaguarda do Boneco de Estremoz, a enche de orgulho por constituir o reconhecimento da qualidade e do mérito do seu trabalho como barrista.

A exposição em si
A exposição intenta dar-nos uma ideia do que é o trabalho da barrista na actualidade, para o que recorre a cerca de 40 trabalhos, distribuídos por diferentes tipologias; - IMAGENS DEVOCIONAIS: Menino Jesus do Missal, Nossa Senhora da Conceição, Pão de Santo António, Rainha Santa Isabel (Milagre das Rosas), Santo António com o Menino ao colo; - PRESÉPIOS: Presépio de 3 figuras, Presépio da manta alentejana; - FIGURAS DA FAINA AGRO-PASTORIL NAS HERDADES ALENTEJANAS: Dia da espiga, Mulher dos carneiros, Mulher dos enchidos, Mulher dos perus, Par do Rancho Convenção de Évora Monte; - FIGURAS QUE TÊM A VER COM A REALIDADE LOCAL: Dama, Mulher a vender chouriços, Peralta; - FIGURAS INTIMISTAS QUE TÊM A VER COM O QUOTIDIANO DOMÉSTICO: Mulher a lavar a roupa, Senhora a servir o chá, Senhora ao espelho; - FIGURAS DE NEGROS: Preta florista, Rei negro (par); - FIGURAS ALEGÓRICAS: Amor é cego (par), Vitória de Estremoz, Primavera (duas), Primaveras de arco (três); - ASSOBIOS: Arco enfeitado, Candelabro enfeitado, Pucarinho enfeitado, Terrina enfeitada;
O conjunto dos trabalhos agora expostos integra na sua maioria, o núcleo central dos Bonecos de Estremoz, habitualmente designado por “Bonecos da Tradição”. Em particular, algumas das figuras expostas inspiram-se em exemplares da colecção Júlio dos Reis Pereira, pertencente ao acervo do Museu Municipal de Estremoz. Todavia e para além disso, no conjunto agora exposto figuram exemplares englobáveis naquilo que se convencionou designar por “Bonecos da Inovação”. Trata-se de modelos que ainda não tinham sido criados por outros barristas. Tal é o caso de composições como “Dia da espiga”, “Par do Rancho Convenção de Évora Monte” e “Presépio da manta alentejana”, que ostentam em comum, marcas identitárias da cultura alentejana, nomeadamente a nível do traje. Tal é ainda o caso dos assobios designados por “Arco enfeitado”, “Candelabro enfeitado”, “Pucarinho enfeitado”, “Terrina enfeitada”. Neste caso, a inovação foi acompanhada de uma verdadeira mudança de paradigma. Com efeito e até ao presente, os assobios de barro vermelho de Estremoz, apresentavam como padrão comum, o facto de a sua decoração integrar uma ave, uma figura antropomórfica (Senhora de pezinhos, Peralta, Sargento) ou uma figura mista (Amazona, Peralta a cavalo, Sargento a cavalo). A partir de agora e com Inocência Lopes, os assobios passam também a integrar espécimes de olaria enfeitada como elementos decorativos. Trata-se de uma inovação visualmente harmoniosa, que eu aplaudo e subscrevo.
“CURIOSIDADES” (2023) é a primeira exposição individual de Inocência Lopes, que a encara como um misto de realização pessoal e de reconhecimento e valorização do seu trabalho. Anteriormente e em termos colectivos, a barrista já participara em certames como a Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde (2022) e a FIA - Feira Internacional de Artesanato, em Lisboa (2022).

Características do trabalho da barrista
Na execução dos seus trabalhos, Inocência Lopes respeita os cânones da técnica de produção e da estética dos Bonecos de Estremoz, o que vem fazendo desde o início da sua formação como barrista. É um trabalho que vem aprofundando, na procura incessante da perfeição e do seu próprio caminho, através da afirmação de um estilo caracterizado por marcas identitárias diferenciadoras que a vão distinguindo dos outros barristas.
A representação do olhar e das maçãs do rosto é inconfundível e o cromatismo das suas figuras, vivo ou suave, é sempre harmonioso.
Congratulo-me com a qualidade dos trabalhos agora expostos por Inocência Lopes, que nos revelam a existência de uma nova estrela no firmamento da barrística popular de Estremoz. Mais uma vez se constata a importância e a relevância que teve o Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, promovido em 2019 pelo CEARTE, em parceria com o Município de Estremoz.

Contactos
Visando facilitar o contacto com a barrista, disponibilizo aqui os vários modos de o fazer: INOCÊNCIA LOPES / Artesanato - Celeiro Comum de Évora Monte / Rua da Convenção 11, 7100-314 Évora Monte / TELEFONE: 966 759 534 / EMAIL: celeirodocomum@hotmail.com

Publicado no jornal E, nº 215, de 25 de Maio de  2023

Isabel Borda d'Água apresentando Inocência Lopes e a sua exposição. 
Fotografia de Miguel Belfo -  CME.

Uma visão geral da exposição de Inocência Lopes. 
Fotografia de Miguel Belfo -  CME.

 Inocência Lopes com o marido, filho e nora. 
Fotografia de Miguel Belfo -  CME.


quarta-feira, 26 de março de 2025

Os Bonecos de Estremoz na vida de Madalena Bilro


A barrista Madalena Bilro ladeada por Isabel Borda d’Água e José Sadio,
respectivamente directora do Museu Municipal e presidente do Município.

Fotografias de Luís Mendeiros - CME 

Este o título da exposição inaugurada no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, no passado sábado, dia 16 de Julho, pelas 11 horas e que ali ficará patente ao público até ao próximo dia 4 de Setembro.
Ao acto inaugural compareceram cerca de 3 dezenas de pessoas, entre familiares, amigos, admiradores, clientes e oficiais do mesmo ofício, que ali foram testemunhar o apreço que têm pela barrista e pelo trabalho que vem realizando.
O evento foi liderado pelo Presidente do Município, José Sadio, que elogiou o trabalho da barrista, a quem felicitou, bem como salientou a importância desempenhada pela Academia Sénior e pelo Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, na formação da barrista. Anteriormente, usara da palavra, Isabel Borda d’Água, directora do Museu Municipal de Estremoz, que historiou o processo formativo da barrista, cujo êxito em grande parte lhe é devido como formadora. Finalmente, usou da palavra a barrista, que emocionada agradeceu os testemunhos de carinho ali manifestados, bem como o trabalho de excelência dos seus formadores e todo o enquadramento viabilizado pelo Município, pelo CEARTE e pela ADERE.
Para compreender o significado e o alcance da presente exposição, torna-se necessário passar em revista uma súmula da vida de Madalena Bilro.

Infância e juventude
A 9 de Abril de 1959 numa casa da rua Bento Pereira, na freguesia da Matriz, Borba, nasceu uma criança do sexo feminino a quem foi posto o nome de Madalena dos Prazeres Grego Bilro. Filha de Joaquim Álvaro Bilro (agricultor e trabalhador das pedreiras) e de Aldonsa dos Prazeres Grego (doméstica). O casal já tinha dois filhos, João e José, actualmente com 73 e 69 anos, ambos aposentados.
Madalena foi baptizada na Igreja Matriz de Borba, localidade onde fez a Instrução Primária e concluiu o Ciclo Preparatório.
Durante a infância e a juventude, para além de brincar com as crianças da sua idade, ajudava a família nas vindimas, na apanha da azeitona e na recolha de erva em propriedades da sua família. Mas o que mais a fascinava eram os lavores femininos, como o tricot e o croché que aprendeu com as tias e a com a mãe. Com esta última aprendeu mesmo a fazer flores em folha de milho, tecido e papel, parafinado ou não, as quais eram utilizadas para decorar maquinetas de Presépio, enfeitar bolos de casamento ou fazer pequenos raminhos com que as senhoras ornamentavam o vestuário. Tudo isto tinha sido aprendido pelas mulheres da sua família com as freiras que estavam na Misericórdia e que pertenciam à Ordem das Servas do Senhor. Foi assim que Madalena Bilro ingressou no mundo das Artes Tradicionais, por via da Arte Conventual.

Início da actividade profissional
Em 1976 começou a trabalhar na Adega Cooperativa de Borba.
Em 30 de Outubro de 1983, com a idade de 24 anos, casou na Igreja Matriz de Borba com Sebastião Joaquim Faia Martins, de 23 anos de idade, adegueiro na Adega Cooperativa de Borba, adoptando do marido o sobrenome Martins.
Do casamento nasceram dois filhos que são a luz dos seus olhos: João, de 38 anos de idade, Engenheiro Civil e, Ângela, de 29 anos de idade, Terapeuta da Fala. Tem igualmente dois netos que são o seu enlevo: Tomás com 5 anos de idade e Pedro com 2.
Madalena trabalhou durante 36 anos nos mais diversos sectores da Adega Cooperativa de Borba: no armazém, na linha de enchimento, no laboratório, na loja de vinhos, na portaria e nas visitas guiadas. Era uma funcionária muito activa e empenhada em tudo aquilo que fazia, gostando muito em especial de comunicar com o público. Graves problemas com a coluna, levaram-na a aposentar-se por invalidez. Vê então a sua vida desmoronar-se e entra em depressão, devido a inactividade forçada.
Entretanto, Madalena já residia desde 1987 na Vila de Arcos e sendo borbense de nascimento, considerava-se também há muito uma arcoense do coração e como tal era reconhecida pela comunidade local. Aí ouviu falar na Academia Sénior de Estremoz, enquanto espaço de acolhimento e de integração, onde são ministradas inúmeras disciplinas, que os interessados podem escolher, de acordo com os seus interesses. Madalena resolveu então inscrever-se em várias disciplinas da Academia Sénior, sendo uma delas a Barrística, para a qual se sentiu desde logo atraída, dado exigir habilidade manual, sensibilidade e dedicação, qualidades que há muito reunia, desde que começou a trabalhar em Artes Tradicionais com as tias e a mãe. A opção de Madalena foi determinante, uma vez que na sequência da mesma, conseguiu ultrapassar os graves problemas pessoais que a atormentavam.

A génese da barrista
Entre 2014 e 2019 frequentou a Academia Sénior de Estremoz, onde teve aulas de Barrística com Isabel Borda d’Água, dos Serviços Educativos do Museu Municipal de Estremoz.
Nessas aulas tomou conhecimento da História dos Bonecos de Estremoz e aprendeu as técnicas das várias fases de produção dos mesmos, desde a modelação até à decoração e acabamento. Isabel Borda d’Água soube motivá-la com a sua acção pedagógica, pelo que como aluna, Madalena Bilro se vai interessando cada vez mais pela Barrística, de tal modo que a sua actividade acaba por transvasar a sala de aula e lhe passa a ocupar também os tempos livres em sua casa. Madalena compra barro e modela Bonecos que depois com o apoio da professora, coze na mufla do Museu Municipal. São Bonecos que generosamente oferece aqueles que lhe são gratos: familiares, amigos e médicos.
Em 2019 frequentou o Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que teve lugar no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte. O Curso foi promovido pelo CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património, em parceria com o Município de Estremoz. No Curso aprofundou os conhecimentos de Barrística de Estremoz, com Mestre Jorge da Conceição.
Ainda em 2019 recebeu Carta de Artesão e de Unidade Produtiva Artesanal na área da Cerâmica Figurativa, emitida pelo CEARTE.
Também em 2019 foi reconhecida como artesã produtora de Bonecos de Estremoz. O reconhecimento consta de um certificado atribuído pela Adere-Certifica, organismo nacional de acreditação a quem compete a certificação de produções artesanais tradicionais, com garantia da qualidade e autenticidade da produção.
O ano de 2019 é um ano marcante na vida de Madalena Bilro, que inflecte as características da sua actividade, passando a produzir e a comercializar como artesã certificada. Para tal, adapta uma dependência da sua casa a oficina, onde passa a modelar e a pintar os seus Bonecos, que numa primeira fase são cozidos na mufla do Museu Municipal, até que numa segunda fase passam a ser cozidos em mufla própria, adquirida no início de 2020.

A exposição em si
A exposição visa mostrar o percurso da barrista desde o seu primeiro contacto com o barro, até à actualidade. Para tal, integra 26 figuras ou conjuntos de figuras distribuídos por 3 núcleos de diferentes temporalidades e cuja composição é a seguinte:
1 - FIGURAS PRODUZIDAS NAS AULAS DE BARRÍSTICA DA ACADEMIA SÉNIOR DE ESTREMOZ: Dama-1, Dama-2, Maquineta com Presépio, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, O Amor é Cego.
2 - FIGURAS PRODUZIDAS NO I CURSO DE TÉCNICAS DE PRODUÇÃO DE BONECOS DE ESTREMOZ: Peralta, Senhora de pezinhos, Mulher das galinhas, Nossa Senhora da Conceição.
3 - FIGURAS PRODUZIDAS NA ACTUALIDADE: - Imagens devocionais (Menino Jesus de Oratório, Santo António, Rainha Santa Isabel e São João Baptista); - Presépios (Presépio de 3 figuras – 1, Presépio de 3 figuras – 2); - Figuras da faina agro-pastoril nas herdades alentejanas (Cozinha dos ganhões, Mulher com patos, Pastor do harmónio); - Figuras intimistas que têm a ver com o quotidiano doméstico (Mulher a lavar o menino); - Figuras de Carnaval (Bailadeira Grande, Bailadeira Pequena, O Amor é Cego, Primavera, Rei Negro); - Assobios (Cesto com jarros).

Características do trabalho de Madalena Bilro
A modelação é sóbria, mas cuidada. Nela, a barrista dá sempre o melhor de si própria, na busca permanente da perfeição.
O cromatismo das suas figuras é inconfundível. A decoração recorre à utilização de cores e tonalidades suaves e calmas, que nos parecem querer transmitir uma mensagem de Paz, que brota do mais fundo da alma da barrista e que decerto tem a ver com o modo como idealiza o Mundo e a Vida.
Sem sombra de dúvida que as marcas identitárias, indeléveis, da barrista, são o cromatismo inconfundível das suas figuras, aliado a uma representação “sui generis” do olhar das mesmas.
Do binómio modelação-decoração, transparece a entrega total da barrista na criação de cada figura com a magia das suas mãos prendadas, habituadas de longa data a lavores femininos de matriz conventual, cultivados em contexto familiar com sua mãe e suas tias.

Hernâni Matos
Publicado no jornal E nº 294 - 21 de Julho de 2022




A barrista na sua oficina.

sábado, 15 de março de 2025

Tocador de ronca

 

Tocador de ronca. Modelação de Carlos Alves. 
Pintura de Cristina Malaquias.

No Alentejo de outrora, grupos de homens agasalhados do frio, percorriam as ruas dos povoados em compasso lento e solene, entoando cantares de Natal ou das Janeiras. Paravam aqui e ali, para dedicar os seus cantos aos moradores de determinadas casas. Os cantares eram acompanhados pelo som, grave e fundo, das roncas percutidas por tocadores. A ronca é um instrumento musical tradicional do Alentejo, pertencente à classe dos membranofones de fricção. Ainda pode ser encontrado na zona raiana (região de Portalegre, Elvas, Terrugem e Campo Maior).

Hernâni Matos

quinta-feira, 13 de março de 2025

Tocadora de adufe

 

Tocadora de adufe do rancho do acabamento da azeitona.
Modelação de Carlos Alves. Pintura de Cristina Malaquias.

No Alentejo de antanho, no termo de Estremoz, terminada a safra da azeitona, o rancho da apanha dirigia-se ao monte do lavrador a agradecer a concessão do trabalho sazonal então terminado.
Com um avental confeccionava-se um pendão que era transportado até ao monte e traduzia simbolicamente a intenção festiva do grupo. Uma vez chegado ao monte, o rancho era mimoseado pelo lavrador com comes e bebes. Retribuíam cantando modas acompanhadas da percussão de adufes, membrafones característicos não só da Beira Baixa, como do Alentejo e de Trás-os-Montes, os quais eram percutidos por mulheres.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Novamente o "Barbeiro sangrador"


Barbeiro sangrador. Liberdade da Conceição (1913-1990).


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DATAÇÃO E ORIGEM

Em Junho - Julho de 1962, esteve patente ao público no palácio de D. Manuel I, em Évora, a importante exposição “BARRISTAS DO ALENTEJO”, organizada pelo Grupo Pró-Évora e que contou com o alto patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian. Para o prestigiado evento foi editado um catálogo de 72 páginas e 40 ilustrações a preto e branco.
Nessa interessante publicação [5] com prefácio de José Régio e Júlio dos Reis Pereira, é feito o inventário de 362 lotes de peças do figurado alentejano, pertencentes a colecções particulares de Estremoz, Azaruja, Évora e Portalegre, bem como a colecções institucionais de Estremoz, Elvas, Vila Viçosa e Redondo.
No conjunto das peças expostas havia uma vasta representação de figurado de Estremoz, pertencente a diferentes épocas. Uma delas com a tipologia da descrita por nós em post anterior, como “barbeiro sangrador”, era pertença do médico João do Couto Jardim, de Vila Viçosa. Tinha 22 cm de altura e 13 cm de largura. Foi identificada como “operação cirúrgica” e reconhecida como peça do séc. XVIII. Independentemente da designação que lhe foi atribuída e da qual discordamos, ficámos a saber que o modelo que ainda hoje é fabricado pelos nossos barristas, remonta ao séc. XVIII.
Por sua vez, Solange Parvaux [2], investigadora francesa que realizou trabalho de campo sobre cerâmica alentejana em Agosto de 1959, 1960 e 1961, chama “cirurgião" àquela peça. 
Joaquim Vermelho [6], Director do Museu Municipal de Estremoz já falecido, chama-lhe também “cirurgião”, referindo tratar-se de uma “paródia ao barbeiro numa operação de sangria”. Posteriormente, Joaquim Vermelho [7], evoluiu para a designação “barbeiro cirurgião”, que creio ser mais aceitável. Todavia, prefiro a designação de “barbeiro sangrador”, pois como referi em post anterior, segundo Manoel Leitam (1), cirurgião do Hospital Real de Todos os Santos, em Lisboa, a médicos e cirurgiões competia a prescrição das sangrias e a barbeiros sangradores e Barbeiros cirurgiões, a sua execução. Deste modo a execução duma sangria apenas legitima a meu ver, a atribuição da designação de “barbeiro sangrador”, uma vez que não está a executar qualquer cirurgia.

AINDA E SEMPRE A LITERATURA ORAL
O cancioneiro popular refere-se à sangria, executada pelos barbeiros sangradores. Assim uma filha, que provavelmente não devia ter feito aquilo que fez, implora à mãe:

“Ó minha mãe não me bata
com varas de marmeleiro
que eu estou muito doente
mande chamar o barbeiro.” [3]

A quadra seguinte está naturalmente impregnada de segundo sentido. Trata-se, provavelmente, de um pai ou de uma mãe, que vociferam para um barbeiro sangrador, que sangrou uma menina onde não o devia ter feito:

“Mal hajas tu barbeiro
e mais a tua navalha!
foste sangrar a menina
na veia mais delicada!” [3]

Luís Pina [4] estudou um “Calendário Higiénico” da autoria de Vale Carneiro (1712), repleto de singulares prudências médicas. Relativamente ao mês de Janeiro, recomenda que:

“Sem causa urgente foge da sangria,
Bebe do vinho branco e delicado,
Deixa o falso, não laves todavia
A cabeça; usa sempre o mel rosado.” [4]

Também no mês de Julho, aconselha que: “Não tomes nem sangria, que é engano”. [4]
E, por enquanto, ficamos por aqui.

BIBLIOGRAFIA
(1) – LEITAM, Manuel. Pratica de Barbeiros em Quatro Tratados em que se trata de com se ha de sangrar, & as cousas necessarias para a sangria; & juntamente se trata em que parte do corpo humano se haõ de lançar as ventosas, assi secas, como sarjadas; & em que parte compitaõ sanguixugas, & o modo de as applicarem; com outras muitas curiosidades pertencentes para o tal officio, em Lisboa, à custa de Francisco Villela, 1667.
[2] - PARVAUX, Solange – La Céramique Populaire du Haut-Alentejo. Paris: Presses Universitaires de France, 1968.
[3] - PINA, Luís. Medicina e Superstição in A ARTE POPULAR EM PORTUGAL, vol. I. Editorial Verbo, 1979.
[4] - PINA, Luís. Um poético calendário português de Higiene seiscentista. Boletim da Câmara Municipal do Porto, XIII. Porto 1950.
[5] – PRÓ-ÉVORA, Grupo. Barristas do Alentejo. Évora, 1962.
[6] - VERMELHO, Joaquim – Barros de Estremoz. Limiar. Porto, 1990.
[7] – VERMELHO, Joaquim. Sobre a Cerâmica de Estremoz. Arquivos da Memória. Edição Colibri. Câmara Municipal de Estremoz. Lisboa, 1995.

Publicado inicialmente em 28 de Julho de 2011

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

O reencontro de dois caminhantes

 

Mestre Xico Tarefa e Hernâni Matos, dois caminhantes que se reencontram na sede
da ADOE.  De que estarão a falar? De olaria, pois claro!


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É sabido que não há caminho, como nos ensina o poeta sevilhano António Machado: “Caminhante, são teus rastos / o caminho, e nada mais; /caminhante, não há caminho, / faz-se caminho ao andar.” (…).

Cada um de nós segue o seu próprio caminho, o que não impede que alguns caminhos se cruzem. Foi assim que o meu caminho e o de Mestre Xico Tarefa se cruzaram em 1980 no Terreiro do Paço Ducal de Vila Viçosa. Tal ocorreu no decurso do I Encontro de Olaria Regional do Alto Alentejo, que ali teve lugar entre 4 e 15 de Junho desse ano.

Andámos ambos por ali e integrávamos a Comissão Organizadora do Encontro. Eu em representação da Casa da Cultura de Estremoz e ele em representação do Centro Cultural Popular Bento de Jesus Caraça. As nossas preocupações de então centravam-se na necessidade de salvaguarda da matriz identitária das olarias de cada Centro Oleiro do Alto Alentejo e na tomada de medidas que impedissem a descontinuidade de produção das olarias.

O Mestre Xico Tarefa era um operacional no terreno, que não parava quieto, andava sempre para aqui e para ali, a tratar de uma coisa ou outra. Entre as múltiplas tarefas de que foi encarregue esteve a produção de um prato comemorativo do Encontro, a ser oferecido aos participantes. Daí eu estar na posse de um exemplar que tive a honra de receber na época, o qual está na génese da minha condição de coleccionador de louça de barro vidrado de Redondo. O trabalho de roda é de Mestre Xico Tarefa e a pintura e o esgrafitado são da autoria de Mestre Álvaro Chalana (1916-1983).

Ao receber de bom grado o prato comemorativo do Encontro, herdei uma pesada responsabilidade e brotou em mim o fascínio pela cerâmica redondense, que nunca mais parou e cuja chama se mantem bem viva. Aquele prato tem para mim especial significado. Foi o primeiro exemplar da minha colecção de cerâmica redondense. Por mais raro e mais valioso que seja outro espécime adquirido ou que venha a adquirir, aquele ocupará sempre um lugar muito privilegiado no meu coração. É que foi o primeiro da minha colecção, saído das mãos de Mestre Xico Tarefa e de Mestre Álvaro Chalana e que ficou a selar o cruzamento do meu caminho com o primeiro destes mestres.

Decorridos 45 anos sobre o primeiro cruzamento dos nossos caminhos, voltámos a cruzar-nos. Desta feita, o terreiro é outro. Trata-se da ADOE - Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz. Ele como formador, na qualidade de Mestre Oleiro. Eu, como consultor had hoc, na qualidade de coleccionador e investigador da barrística popular de Estremoz.

De então para cá, o Mestre Xico Tarefa tem desenvolvido uma carreira notável como Mestre Oleiro e como formador das novas gerações, o que muito me regozija e enche de orgulho como seu amigo e admirador em que entretanto me tornei.

A sua obra fala por si e é um exemplo paradigmático para os mais novos. Encerra em si própria, o respeito pela ancestralidade da olaria popular alentejana, temperado pela criatividade inovadora que lhe brota da alma e que com fidelidade se transmite às mãos mágicas que são as suas.

Obrigado Mestre pela beleza criada para usufruto e deleite de espírito de todos aqueles que apreciam o seu trabalho.

Bem-haja, Mestre Xico!


Publicado no jornal E nº 350, de 14 de Fevereiro de 2025

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

A recuperação da olaria tradicional de Estremoz está na ordem do dia

 

A recuperação da olaria tradicional de Estremoz está na ordem do dia 

 “OLARIA NO CORAÇÃO…E MÃOS À OBRA” é o lema da ADOE-Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz, que no passado sábado, dia 8 de Fevereiro, pelas 16 horas, inaugurou as instalações da sua sede, acomodada na chamada Casa da Câmara na vila de Évora Monte.

 

Fachada do edifício dos Paços do concelho de Évora Monte,
em cujo 1º andar ficou instalada a sede da ADOE. 

Acto inaugural
Ao acto inaugural compareceram cerca de 5 dezenas de pessoas entre associados, familiares e convidados que ali foram testemunhar o apreço que nutrem pela ADOE, face à nobre missão que esta se propõe, a qual está implícita na sua própria designação e que no essencial consiste em recuperar a olaria tradicional de Estremoz. De salientar, a presença do Presidente da Junta de Freguesia de Évora Monte, António Serrano, dos vereadores da Câmara Municipal de Estremoz, Nuno Rato e Joaquim Crujo (MIETZ) e do Presidente da LACE - Liga dos Amigos do Castelo de Évora Monte, Eduardo Basso.
O evento foi iniciado por Inês Crujo, Presidente da Direcção da ADOE, a qual agradeceu a presença de todos e justificou algumas ausências. Congratulou-se seguidamente pelo facto de a instalação da ADOE em sede própria ter chegado a bom termo, o que facilitará de futuro àquela associação a prossecução dos seus objectivos estatutários. Agradeceu a todos os que tornaram possível aquele momento e citou nomes, com especial relevo e palavras muito carinhosas para o Mestre Oleiro Xico Tarefa, considerado por todos a alma da ADOE e a quem esta muito deve a sua existência, não só pela formação já realizada e que terá continuidade, como pelo impulso e estímulo conferido à própria constituição da ADOE. A terminar, agradeceu à Junta de Freguesia de Évora Monte a disponibilização das instalações, fruto do protocolo com ela celebrado.
Seguiu-se no uso da palavra, o presidente da Junta de Freguesia de Évora Monte, António Serrano, o qual igualmente se congratulou com a instalação da ADOE no edifício administrado pela Junta, uma vez que as actividades aí desenvolvidas irão contribuir para a animação cultural da Freguesia, conforme está previsto no protocolo celebrado entre ambas as partes.
O acto inaugural terminou com um beberete e convívio entre os presentes.
No evento foi divulgado um folheto desdobrável, através do qual a ADOE dá conta das razões da sua constituição, da missão a que se propõe, do que pretende realizar daqui para a frente e do que poderá ser encontrado na sede.

O Presidente da Junta de Freguesia de Évora Monte, António Serrano, no uso da palavra.

Um aspecto parcial da assistência.

Outro aspecto parcial da assistência. 

Sorrisos que espelham satisfação pela inauguração da sede social da ADOE.

A recuperação da tradição oleira de Estremoz
Visando recuperar a antiga tradição oleira, o Município de Estremoz em parceria com o CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património, promoveu a partir de 2021 um Curso de Olaria por módulos, o qual decorreu no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz e teve continuidade em 2022.
Em 2021 foi ministrado um módulo (de 50 horas) e em 2022 três módulos (de 75 horas). A formação, num total de 275 horas, esteve a cargo do Mestre Oleiro Francisco Rosado (Xico Tarefa).

A criação da ADOE
Em 21 de Janeiro de 2023 foi criada por escritura notarial, uma associação cultural sem fins lucrativos e por tempo indeterminado, a qual recebeu a designação de ADOE - Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz, a qual é inteiramente estranha a toda a espécie de actividades de índole político-partidária.
”A ADOE tem como objecto recuperar, preservar, valorizar e divulgar a Olaria de Estremoz, bem como promover o desenvolvimento artístico, aprimoramento técnico e expansão criativa dos associados. São objectivos da ADOE: a) Estreitar e incentivar o relacionamento e a solidariedade pessoal e profissional entre os associados; b) Promover a formação dos associados; c) Fomentar o desenvolvimento de encontros, conferências, seminários que contribuam para a actualização dos associados; d) Recolher, tratar e divulgar informação relacionada com os objectivos da Associação; e) Cooperar com outras entidades que promovam objectivos idênticos aos da Associação.”

Corpos Sociais da ADOE
A composição dos Corpos Sociais da ADOE para o biénio 2023-2025 é a seguinte: - MESA DA ASSEMBLEIA GERAL: Vera Magalhães (Presidente), Luís Rosa (Secretário), Fátima Lopes (Vogal), Jorge Carrapiço (Vogal); - DIRECÇÃO: Inês Crujo (Presidente), Ana Calado (Secretária), Maria Leonor Carapinha (Tesoureira); - CONSELHO FISCAL: Luísa Tejo (Presidente), Pedro Cardoso (Secretário), Sara Sapateiro (Redactora), Madalena Meireles (Vogal), Francisco Rosado (Vogal).

Actividades da ADOE (2023 e 2024)
Realizaram-se Oficinas de Olaria no decurso dos seguintes eventos: 2023 - FIAPE 2023; 2023 - COZINHA DOS GANHÕES 2023; 2023 - BOM DIA CERÂMICA - Integradas nas Jornadas Europeias das Cidades Cerâmicas; 2023 – FEIRA INTERNACIONAL DE ARTESANATO DE LISBOA 2023; 2024 - FIAPE 2024; 2024 - FEIRA NACIONAL DE ARTESANATO DE VILA DO CONDE 2024.

Actividades da ADOE em 2025
No Plano de Actividades da ADOE para 2025, assumem especial importância as seguintes actividades: - Aprofundamento da formação em olaria com o Mestre Francisco Rosado e decoradoras que trabalharam nas extintas olarias de Estremoz; - Produção de peças oláricas; - Realização de oficinas de olaria em Feiras, Exposições e no Mercado Municipal de Estremoz; - Cooperação com Instituições do concelho, da região e de outras regiões.

A Sede da ADOE
A sede da ADOE encontra-se instalada no 1º andar do vetusto edifício dos Paços do concelho de Évora Monte, situado na Rua da Convenção daquela vila. O edifício é administrado pela Junta de Freguesia de Évora Monte e foi objecto de um protocolo celebrado entre aquela Junta e a direcção da ADOE.
As instalações constam de 3 salas amplas e arejadas, providas de janelas rasgadas que fornecem a sempre preciosa luz natural. Existem também instalações sanitárias situadas no topo da escada de acesso ao 1º andar.
Do lado esquerdo de quem sobe, situa-se uma sala provida de chaminé e poial para arrumos, na qual funcionará a oficina de olaria. Ali estão para já instaladas 2 rodas de oleiro eléctricas, cedidas pelo CEARTE, às quais em devido tempo se seguirão outras. Na mesma sala está ainda instalado um cilindro eléctrico para aquecimento de água utilizada na lavagem das rodas e dos utensílios de modelação.
Do lado direito de quem sobe, existem duas salas na continuação uma da outra. A primeira é uma sala de exposições, na qual será feita a recepção aos visitantes e na qual será feita também a comercialização das peças oláricas produzidas pelos associados da ADOE e expostas em estantes aí localizadas. Ao longo das paredes desta sala estão expostos 8 painéis de grandes dimensões, profusamente ilustrados, que sob a epígrafe OLARIA TRADICIONAL DE ESTREMOZ, procuram caracterizar o estado da arte. Nesse sentido, começam por inventariar as principais referências histórico-literárias aos barros de Estremoz. De seguida caracterizam a tradição oleira local e referem a tragédia cultural que culminou com a extinção da olaria de Estremoz em 2016, por morte de Mário Lagartinho sem deixar continuadores. Em continuação é salientada a importância de que se revestiu a realização de um Curso de Formação de Olaria por iniciativa do Município de Estremoz em parceria com o CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património. A finalizar é historiada a criação da ADOE, referidos os seus objectivos e relatada a actividade desenvolvida no biénio 2023-2024.
A segunda sala é destinada à decoração de peças oláricas e para tal dispõe de bancadas e assentos para esse efeito. Existem aí também estantes para armazenagem de stocks e é nesta sala que está instalada a mufla eléctrica onde será cozida a produção.

Uma mensagem de esperança
No painel com que finaliza a abordagem do tema OLARIA TRADICIONAL DE ESTREMOZ, a ADOE considera que: “O legado que nos foi deixado pela antiga tradição oleira de Estremoz é em grande parte observável no Museu Municipal de Estremoz. A excelência das peças oláricas aí patentes ao público, é reveladora da dureza da tarefa hercúlea que constitui a recuperação e preservação da extinta tradição oleira de Estremoz. Propomo-nos com humildade e muito trabalho e dedicação atingir esses objectivos, através da formação continuada a ministrar pelo Mestre Oleiro Francisco Rosado (Xico Tarefa), visando o aperfeiçoamento técnico e artístico dos nossos associados. Para tal contamos com o apoio indispensável e insubstituível do Município de Estremoz e do CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património.
É uma tarefa árdua a que nos propomos, mas é simultaneamente um desafio estimulante, já que a tradição oleira de Estremoz constitui indiscutivelmente Património Cultural Imaterial de Interesse Municipal cuja necessidade de recuperação e preservação é indissociável da salvaguarda da identidade cultural estremocense.
Com todo este trabalho iremos crescendo enquanto artesãos, ao mesmo tempo que procuramos divulgar e valorizar a tradição oleira de Estremoz através do nosso trabalho.
Tudo isto constitui uma missão gratificante que já faz parte integrante do nosso percurso de vida.”

Contactos da ADOE
ENDEREÇO: Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz / Casa da Câmara / Rua da Convenção / 7100-308 ÉVORA MONTE; TELEFONE: 962 919 427; EMAIL: adoestremoz@gmail.com .

Publicado no jornal E nº 350, de 14 de fevereiro de 2025 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Barbeiro sangrador


Barbeiro sangrador. José Moreira (1926-1991).
Colecção Hernãni Matos.


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UMA SINGULAR PEÇA DA BARRÍSTICA POPULAR ESTREMOCENSE
Qualquer das figuras usa casaca de mangas estreitas, justa ao tronco, que desce atrás, protegendo o rabo, mas à frente, abaixo da cintura, deixa o resto do corpo livre, talhe que visava facilitar os movimentos, eventualmente, o porte de espada. A casaca do barbeiro sangrador acha-se completamente abotoada e a sua gola cinge o pescoço. Já no caso do paciente, a casaca está aberta, revelando a utilização de um colete abotoado, usado por cima de uma camisa, enfeitada com uma gravata.
Na cabeça, o barbeiro sangrador usa um tricórnio, ao passo que o paciente usa uma atadura de pano, à laia de turbante. Qualquer deles é portador de farta cabeleira. No caso do barbeiro sangrador, esta pende livre sobre a cabeça, enquanto que no paciente, assume a forma de rolos de cabelo que lhe tapam as orelhas.
O barbeiro sangrador usa calções até ao joelho, assim como meias claras. Já o paciente usa calças, justas ao corpo. Qualquer deles calça sapatos pretos, lisos e tem as vestes enfeitadas por bordados, como era corrente nas classes superiores. Este facto, que poderia ser natural no paciente, correspondia decerto a uma utilização falaciosa por parte do barbeiro sangrador, que por vezes utilizava o traje característico da classe social mais elevada, como forma de assumir ardilosamente, o estatuto de cirurgião, que de facto não era.
Os tecidos bordados usados na época pelas classes mais elevadas eram sedas, brocados e veludos, enquanto que as classes mais baixas, usavam lã e algodão, que eram mais baratos.
O barbeiro sangrador com ar determinado, empunha um instrumento de corte, que mais parece um instrumento de tortura, com o qual parece perfurar as goelas do paciente. Este, com ar aterrorizado, já verteu sangue que macula a toalha que o barbeiro sangrador detém por sobre os braços.
O conjunto tem 21 cm de altura e a base mede 16,5 x 9 cm.

O OFÍCIO DE BARBEIRO SANGRADOR 
Até finais do século XVIII, os médicos portugueses, guiados pelos desígnios da medicina antiga, emitiam diagnósticos e receitavam mezinhas, convictos que cada pessoa era fruto da combinação de porções variáveis de fogo, terra, água e ar (6). Defendiam também que a combinação destes quatro elementos no organismo, dava origem a quatro humores diferentes: o sangue (produzido pelo fígado), a bílis amarela (produzida pelo fígado), a fleuma (produzida pelo cérebro) e a atrabílis ou bílis negra (produzida pelo baço). Tal como as suas qualidades originais (o quente, o frio, o seco e o húmido), esses fluidos estavam submetidos a forças internas ou externas capazes de alterá-los (os pneumas). A origem das doenças era consequência do acumular desses líquidos orgânicos numa dada região do corpo. Todavia, defendiam, que o organismo era portador de uma força restabelecedora que lhe era intrínseca, pelo que o próprio corpo procurava descartar-se naturalmente dos efeitos nocivos de qualquer desordem humoral, recorrendo às secreções. Deste modo, a fleuma (fria, húmida e transparente), era expulsa pelo nariz, nos resfriados; a bílis (amarela, quente e seca), era excretada pelo vómito, nas perturbações digestivas; a atrabílis (escura, fria e seca) era expulsa com as fezes, nas afecções intestinais, enquanto que o sangue (vermelho, quente e húmido), se libertava das feridas e acompanhava a expectoração das doenças pulmonares. Por outras palavras, a saúde era o resultado de uma combinação humoral harmoniosa e a doença era consequência de uma ruptura nesta estabilidade natural. Daí que o tratamento de qualquer doença, visasse neutralizar a acção dos humores putrefactos. Para tal, eram prescritos regimes alimentares e medicamentos com qualidades antagónicas às substâncias nocivas que dominavam o organismo, assim como a sangria, que permitia escoar os humores perniciosos que circulavam na área afectada. Práticas como a sangria e a aplicação de sanguessugas, era correntes nessa época. Eram tarefa executadas por barbeiros, cumulativamente com o corte de cabelo, a feitura de barbas e a extracção de dentes, dada a sua grande habilidade manual.
Em Lisboa, a partir de 1572, por regulamento outorgado pelo Senado Municipal (3), o desempenho das funções de “barbeiro sangrador” oficial, actuando por conta própria, exigia experiência comprovada de dois anos de actividade, o que permitia vir a receber a carta de examinação do cirurgião-mor. Alguns barbeiros podiam até realizar cirurgias, eram os “cirurgiões barbeiros”. A aprendizagem do ofício processava-se por conhecimento oral e empírico, adquirido nas tendas de mestres barbeiros. O ofício estava subordinado às regras da Confraria de São Jorge e aos regulamentos da Câmara Municipal de Lisboa.
Manoel Leitam (2), cirurgião do Hospital Real de Todos os Santos, em Lisboa, era um defensor da hierarquia entre os saberes de médicos, cirurgiões e barbeiros. Aos primeiros competia a prescrição e aos últimos, a execução. Os barbeiros sangradores nunca deveriam sangrar sem ordem dos médicos, pois corriam o risco de provocar danos irreparáveis.
Manoel Leitam advogava a sangria derivativa, realizada através de corte no local mais próximo da inflamação, para evitar que o humor doentio se espalhasse pelo corpo, caso a incisão fosse efectuada longe da região afectada, como faziam os partidários da sangria volumosa.
As funções de uma sangria eram múltiplas:
- Evacuação: expulsão dos humores nocivos que agiam sobre determinado ponto do corpo;
- Diversão: enganar o fluxo sanguíneo e desviá-lo para o lado oposto, banindo derrames na parte lesada;
- Atracção: levar o humor a uma parte específica, provocando a menstruação, por exemplo;
- Alteração: modificação da qualidade do humor maligno preponderante;
- Preservação: conservação dos humores sãos, acautelando uma moléstia;
- Aliviação: minorar dores ou abaixar a temperatura do corpo, no caso de febres;
O desempenho do mester de barbeiro sangrador exigia determinado perfil: ser jovem para não lhe tremerem as mãos e ter boa vista. Ter experiência para saber distinguir uma veia de uma artéria, conhecendo quantas veias existiam no corpo humano, o seu nome, distribuição e quais eram sangráveis. Devia, de resto, estar bem provido de lancetas.
Para Manoel Leitam, a sangria exigia o conhecimento do confuso mapa do sistema venoso. Segundo ele, era possível sangrar 42 veias. Dezoito na cabeça, doze nos braços e doze nos pés. Para combater catarros e doenças da cabeça, sangrava-se atrás das orelhas. Na testa para curar oftalmias. No canto dos olhos para curar enfermidades na face, vermelhidão na vista ou cataratas. Debaixo da língua para livrar o paciente de dores de garganta. Sangrava-se também, dentro e fora do nariz e nos lábios, bem como nos braços, mãos, pernas e pés. Apenas as axilas eram poupadas. A sangria era usada como anestésico, anti-inflamatório, anti-febril e abortivo. Através dela se combatia também, cefaleias, tumores e hemorragias.
Manuel Leitam advogava a sangria derivativa, realizada através de corte no local mais próximo da inflamação, para evitar que o humor doentio se espalhasse pelo corpo, caso a incisão fosse efectuada longe da região afectada, como faziam os partidários da sangria volumosa.
A sangria era executada com o paciente deitado. Os instrumentos utilizados no corte variavam de acordo com o local a sangrar. Para uma remoção profunda eram usadas a lanceta e as sanguessugas. Já para humores superficiais, utilizava-se um recipiente de vidro, conhecido por ventosa e de tamanho variável. Recorria-se ainda a uma bacia para recolher o sangue e a pós restritivos para estancar este após o corte.
Para ser sangrado, o paciente era despojado de qualquer tipo de jóias, por se considerar que elas imobilizavam o sangue.
Antes da sangria, os pacientes eram marcados com pontos vermelhos nos locais a ser sangrados. Seguidamente, acima do local da sangria, era atada uma ligadura para que a veia inchasse e o sangrador tivesse melhor tacto e visão da mesma. A veia era depois massajada com os dedos e só então o barbeiro fazia um golpe rápido, não muito profundo, para ser indolor e não atingir nenhum nervo ou tendão, o que afectaria os movimentos do paciente. Também não poderia ser atingida nenhuma artéria, já que o fluxo sanguíneo poderia ser impossível de controlar, o que originaria a morte do paciente.
Uma vez retirada a quantidade de sangue aconselhada, o golpe era estancado com uma compressa de pano e esta envolvida com uma ligadura para a suster.
Quando o paciente não suportava mais cortes, eram-lhe aplicadas sanguessugas, que previamente tinham permanecido em água limpa durante um dia, para que expulsassem todas as excreções e melhor sugassem o sangue. As sanguessugas eram, de resto, indicadas para sangrar o nariz, os lábios, as gengivas e as veias do ânus. Para estimular o apetite natural das sanguessugas, massajava-se a pele do paciente até esta ficar vermelha ou aplicava-se no local a ser sugado, um pouco de sangue de galinha ou de outro animal.
As ventosas eram utilizadas na sangria por vácuo, para o que se aquecia a parte bojuda da ventosa com estopa a arder, assentando-se depois sobre a pele, o orifício da parte oposta. O uso de ventosas tinha uma vasta gama de indicações. Aplicadas sobre o ventre curavam colites, sobre as costas tratavam dores ciáticas e incorrecções da coluna vertebral. Dispostas nas coxas, debaixo ou sobre os seios da mulher, provocavam a menstruação. Permitiam ainda curar doenças pulmonares em estado avançado, mau hálito, feridas abertas, mordeduras de animais venenosos, etc.
Depois de sangrado, o paciente ficava em repouso e não podia dormir durante a primeira hora, nem deitar-se sobre a zona do corte, devendo abster-se do consumo de alimentos indigestos, devendo seguir a dieta prescrita pelo médico.
Em 1628, o inglês William Harvey (1587-1657), comprovou a circulação sanguínea, lançando as bases para contestar o fundamento da sangria. Todavia, afamados médicos e cirurgiões portugueses, persistiam em encarar a sangria como uma rotina de tratamento, não só eficaz, como imprescindível, que era executada por barbeiros sangradores, nas suas tendas, nos domicílios dos pacientes, assim como nas prisões e hospitais.
A resistência em adoptar teorias resultantes de estudos experimentais persistiu para além da Reforma Pombalina da Universidade, em 1772. A prática da sangria levaria ainda cerca de cem anos até deixar de ser prescrita por médicos e cirurgiões. É de salientar que o ofício de sangrador só foi extinto por lei de 13 de Julho de 1870. Até lá, cumpria-se o adágio: “Sangrai-o, purgai-o, e se morrer, enterrai-o.” (5) Também o cancioneiro popular, ainda no início do séc. XX, proclamava que:

“Venho da Serra da Estrella
De apprender a surgião.
Para sangrar as meninas
Na veia do coração.” [4]

BIBLIOGRAFIA
(1) - GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Vols. 4, 6, 17, 26. Editorial Enciclopédia, Limitada. Lisboa, s/d.
(2) – LEITAM, Manuel. Pratica de Barbeiros em Quatro Tratados em que se trata de com se ha de sangrar, & as cousas necessarias para a sangria; & juntamente se trata em que parte do corpo humano se haõ de lançar as ventosas, assi secas, como sarjadas; & em que parte compitaõ sanguixugas, & o modo de as applicarem; com outras muitas curiosidades pertencentes para o tal officio, em Lisboa, à custa de Francisco Villela, 1667.
(3) - NUNES LIAM, Duarte. Livro dos Regimentos dos Officiaes Mecanicos da Mui Nobre e Sempre Leal Cidade de Lisboa (1572), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1926.
[4] - PIRES, A. Tomaz. Cantos Populares Portuguezes. Vol. IV. Typographia e Stereotipía Progresso. Elvas, 1912.
(5) – ROLAND, Francisco. ADAGIOS, PROVERBIOS, RIFÃOS E ANEXINS DA LINGUA PORTUGUEZA. Tirados dos melhores Autores Nacionais, e recopilados por ordem Alfabética por F.R.I.L.E.L. Typographia Rollandiana. Lisboa, 1780.
(6) – SANTOS, Georgina Silva. A Arte de Sangrar na Lisboa do Antigo Regime, in Tempo, nº 19. Rio de Janeiro, Julho de 2005.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 22 de Julho de 2011


"Botique de Barbier", gravura de Jean Baptiste Debret (1768-1848), francês que viveu no
Brasil de 1816 a 1831 e que representa a fachada de uma barbearia, encimada por placa
com os dizeres: “Barbeiro, Cabeleireiro, Sangrador, Dentista e Deitão Bixas”.

Bacia de barbeiro sangrador, em latão (38 cm de diâmetro x 8 cm de profundidade).
Adquirida  em Estremoz, onde ainda em meados do século passado, eram usadas para
sinalizar as barbearias. Marca de suspensão na extremidade oposta à zona de encaixe
no pescoço. Colecção do autor.

Ventosa em vidro, fabricada por sopragem. Altura: 7 cm; Embocadura: 4cm. 
Colecção do autor.