1.
A Cristina Carvalho que me cedeu
o exemplar de arte pastoril
que foi objecto do presente estudo
Prólogo
O artefacto em madeira que é objecto do presente estudo (fig. 1), configura ser uma colher articulada constituída por duas partes: uma concha ovóide lisa (fig.2) e uma tampa plana de perfil ovóide (fig. 3), com decoração incisa no interior (fig. 4) e no exterior (fig. 5).
Decoração incisa no interior da tampa
O simbolismo da decoração incisa global passa pelo simbolismo do coração transpassado por uma seta e pelo simbolismo da Cruz de Cristo (fig. 4)
O elemento central da decoração incisa é a Cruz de Cristo ou Cruz de Portugal, com os braços verticais e horizontais proporcionais, formando um quadrado. Simboliza a religiosidade cristã e foi usada pelos Templários durante as cruzadas (sécs. XI-XIII) e pelos navios portugueses no decurso das expedições na época das descobertas marítimas (sécs. XV-XVI).
O coração transpassado por uma seta simboliza o amor romântico, a paixão, o ser "atingido" pelo amor. A presença de dois corações em posições anti-simétricas um em relação ao outro, significa que a força do amor em cada um deles actua em direcção oposta à do outro, mas com igual intensidade. Estamos, pois em presença da representação de um afecto profundo e da ligação entre dois corações e duas almas, um homem e uma mulher, a quem a colher é oferecida.
Os dois corações trespassados pelas setas têm a Cruz de Cristo a liga-los entre si, o que traduz a condição cristã do homem e da mulher apaixonados, bem como o compromisso de um casamento cristão a selar a união entre ambos.
Decoração incisa no exterior da tampa
À primeira vista parece que o exterior da tampa plana da colher (fig. 5) tem uma decoração incisa cuja componente dominante é um garfo. Todavia uma observação mais atenta revela que aquilo que na tampa configura ser a representação incisa de um garfo, é mesmo um garfo articulado (fig. 6), cuja articulação é coaxial com a colher e com a respectiva tampa. Esta foi escavada em baixo relevo no seu exterior, visando permitir o encaixe do garfo quando este não está a ser utilizado.
Epílogo
Uma análise mais atenta do artefacto que era objecto de estudo revelou que aquilo que inicialmente configurava ser um artefacto monofuncional (colher), revelou ser afinal um artefacto bifuncional (colher-garfo). Lá diz o rifão "As aparências iludem”, o que é equivalente a dizer que “Nem tudo o que parece é", bem como ainda “As coisas não são como são, mas como a gente as vê".
Hernâni Matos







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