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terça-feira, 18 de novembro de 2025

Estória da amizade entre um oleiro e o seu barbeiro, na Vila de Redondo, no ano de 1941


Borracha. F.R.C., oleiro. Redondo, 1941.

Ao meu amigo Dr. António Carmelo Aires,
seguramente o maior coleccionador
e investigador da cerâmica de Redondo

Antelóquio
Recentemente, ao fim da tarde, localizei à venda na Internet, uma peça olárica de Redondo, a qual já lá estava há quatro horas. O meu interesse por ela foi “tiro e queda”, que é como quem diz “amor à primeira vista”. Instantes depois estava comprada e paga, “não fosse o diabo tecê-las”, o que a acontecer não seria a primeira vez e decerto também não seria a última. É que o tempo é uma variável muito importante a ter em conta, já que outros se podem antecipar. Vários foram os factores que contribuíram para a minha forte motivação em a comprar. O leitor irá perceber porquê.

Leitura da peça
O exemplar olárico de Redondo que é objecto do presente estudo, configura uma “borracha”, recipiente em couro para transporte de líquidos, em particular de vinho. O mesmo dispõe de uma abertura para entrada e saída de líquido, a qual pode ser vedada com uma rolha. Dispõe ainda de duas alças, uma, próximo da embocadura e outra, do lado oposto, junto ao fundo. Estas alças visam permitir prender a elas um cordão ou tira de couro, permitindo transportar a borracha a tiracolo. A borracha funciona assim como cantil.
O engobe exterior e interior da peça é numa tonalidade creme, a qual pretende imitar a cor do couro. A superfície da “borracha” foi esgrafitada e pintada em tricromia com as cores tradicionais da cerâmica de Redondo: verde, amarelo e ocre castanho.
A peça, de morfologia periforme, encontra-se decorada em cada uma das duas faces, por um grupo de ilustrações legendadas, que nos relatam uma estória.
Numa das faces, encontram-se ilustrados e identificados por um número, dez utensílios de barbeiro, de meados do séc. XX: 1 – taça da espuma, 2 – pincel da barba, 3 – cabaça do pó de talco, 4 – navalha da barba, 5 – assentador de navalhas, 6 – pente, 7 – tesoura, 8 – máquina de cortar cabelo, 9 – frasco de perfume, 10 – escova de tirar os cabelos. Por debaixo deste conjunto de ilustrações, uma inscrição em maiúsculas, distribuída por quatro linhas: “OFERECE F. R. Cte / A J. FALÉ / BARBEIRO / SM”. Desconheço o significado da sigla SM na última linha. Todavia, é possível concluir que estamos em presença de uma “borracha” em barro vidrado, oferecida e dedicada por um oleiro de Redondo (F. R. Cte) a um barbeiro (J. Falé), decerto o seu barbeiro, residente naquela Vila.
Na outra face da “borracha” encontram-se três ilustrações. Na parte de cima, um cacho de uvas com duas parras. Na parte debaixo e à direita, um homem (supostamente o barbeiro) de boné na cabeça e sentado numa cadeira, não se sabe se por já não ser capaz de se ter em pé. Com a mão direita leva um copo de vinho à boca, enquanto que com a mão esquerda segura uma garrafa de vinho parcialmente cheia, assente na sua perna esquerda. Esta ilustração tem à sua esquerda, logo abaixo do cacho de uvas com parras, uma outra ilustração. Trata-se de uma tripeça na qual assenta um barril, de cuja torneira escorre vinho que está a encher uma garrafa. A mensagem parece óbvia: O barbeiro é um grande bebedor, de tal modo que ainda não tendo despejado uma garrafa, já se encontra outra a encher, para não haver perda de tempo. Na parte debaixo e à esquerda, uma inscrição em maiúsculas, distribuída por quatro linhas: “VIVA / A PARÓDIA / VIVA / 9-5-1941”. As quatro linhas desta inscrição estão cobertas de ocre castanho, como que simulando que o oleiro tivesse entornado vinho quando confeccionava a peça. Nesse sentido, a peça materializa a auto-crítica do oleiro, que se assume igualmente como grande bebedor e amante da “paródia”, tal como o seu amigo barbeiro.

Epítome
Do exposto se conclui que a peça em estudo constitui aquilo que se pode considerar uma ”Jóia da Coroa”. Com efeito, é de uma tipologia pouco vulgar, está datada, tem oitenta anos, é uma peça com dedicatória, falante e ilustrada, que conta com humor a estória de amizade entre um oleiro e o seu barbeiro na Vila de Redondo. Em suma: é uma peça única, pela qual fiquei desde logo apaixonado e mais confortado desde que a paguei. É com peças destas que vão crescendo e se vão edificando a pulso, passo a passo, colecções modestas como a minha e que assim se vão consolidando.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 24 de Fevereiro de 2022


segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Carlos Alves e a cozinha dos ganhões

 

Cozinha dos ganhões (2021). Carlos Alves (1958-  ). Vista de frente. 

Cozinha dos ganhões (2021). Carlos Alves (1958-  ). Vista de trás. 

Cozinha dos ganhões (2021). Carlos Alves (1958-  ). Vista de cima

Ao barrista Carlos Alves:
Eu hoje acordei com o sete metido na cabeça.
O sete é como que um número mágico. De acordo
com o Génesis, Deus criou o mundo em seis dias e
descansou no sétimo, tornando-o um dia santo.
E o número sete passou a simbolizar perfeição e
conclusão. Perfeição que eu encontro na tua recriação
da Cozinha dos Ganhões, depois de estar concluída.
Utilizei então o número sete para lavrar uma estrofe
de quatros versos heptassilábicos, onde falo da tua
obra, aproveitando para realçar que eram pobres
os comeres dos ganhões:

A Cozinha dos Ganhões
tem ganharia à mesa.
Eram parcas refeições
e não havia sobremesa.

LER AINDA:


Prólogo
A terminologia “cozinha dos ganhões” usada na designação da figura sobre a qual incide o presente estudo, impõe que seja feita a sua explicitação, para o que me irei socorrer de textos meus, já anteriormente publicados.
Ganhões
“Os "ganhões" eram assalariados agrícolas indiferenciados, que se ocupavam de tarefas como lavras, cavas, desmoitas, eiras, etc., com excepção de mondas, ceifas e gadanhas, que eram efectuadas por pessoal contratado sazonalmente pelos lavradores.
O conjunto dos ganhões era designado por "ganharia" ou "malta" e tinha por dormitório a chamada "casa da ganharia" ou "casa da malta", casa ampla que podia acomodar vinte a trinta homens, em tarimbas improvisadas ao longo das paredes.
No monte, as refeições da ganharia tinham lugar na chamada “cozinha dos ganhões”. Aí se sentavam em burros[i] dispostos ao longo de uma mesa comprida e estreita. A cozinha dispunha igualmente de uma lareira espaçosa onde se podia cozinhar em panelas de ferro. A comida era bastante frugal: açorda acompanhada com azeitonas, olha[ii] com batatas e hortaliças, sopas de cebola acompanhadas com azeitonas, olha de legumes com toucinho e morcela ou badana, gaspacho acompanhado com azeitonas ou batatas cozidas temperadas com azeite e vinagre.” (1)
“A mesa da cozinha dos ganhões era posta pelo abegão[iii] e pelo sota, que se sentavam cada um à sua cabeceira da mesa. A entrada dos ganhões na cozinha só se verificava depois do abegão ter bradado para o exterior: “Ao almoço!”, ”À ceia!” ou “Ao jantar!”, conforme a refeição de que se tratava. A malta acudia logo à chamada, tirava o chapéu e sentava-se à mesa sempre no mesmo lugar. O que era para comer já tinha sido previamente vazado pelo abegão e pelo sota, em grandes alguidares, conhecidos por “barranhões”. Só faltava migar as sopas de pão, o que cada um fazia puxando da navalha que trazia consigo. Lá diz o adagiário: "Sopa de ganhão, cada três um pão."
Amolecidas as sopas, o abegão dava ordem de comer, soltando um “Com Jesus!”. De cada barranhão comiam quatro a seis ganhões, cada um dos quais metia sempre a colher no mesmo local do barranhão, já que "Não há guerra de mais aparato que muitas mãos no mesmo prato."
O abegão e o sota comiam cada um deles em sua tigela, mais pequena que o barranhão e que era unicamente para cada um deles.” (2)
“No início do século passado, ainda persistia o costume de no final da refeição, o abegão juntar as mãos e dizer “Demos graças a Deus.” A malta punha então as mãos e pelo menos aparentemente, todos rezavam e só deixavam de o fazer, quando o abegão se benzia, dizendo: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!”. Nessa altura benziam-se e só depois se retiravam.” (2)
A figura
Estamos em presença de uma figura composta que representa a refeição de três assalariados rurais (ganhões) sentados em torno de uma mesa assente numa base rectangular simulando o chão, cujo topo é cinzento cor de laje e a orla cor de zarcão.
Os ganhões têm como traços comuns estarem sentados em “burros”, usarem na cabeça um chapéu aguadeiro[iv] negro e calçarem botas com diferentes tons de castanho.
O da esquerda com cabelo e suíças grisalhas configura ser idoso, o do centro com cabelo e bigode negros aparenta meia idade, enquanto o da direita com cabelo castanho parece ser um jovem imberbe.
Trajam de maneiras distintas: O da direita veste calças azuis, enverga uma camisa azul claro com botões da mesma cor e por cima dela um pelico castanho em pele de ovelha, debruado com couro castanho claro e com uma abotoadura provida de alamares em couro, algo mais escuro que o debrum. O do centro veste calças cinzentas cingidas à cintura com um cinto negro, camisa branca com botões da mesma cor e colete negro com abotoadura frontal de igual cor, apresentando costas em cinzento, de largura regulável por meio de um cinto e de uma fivela dessa mesma cor. O da direita traja calça castanha com cinto de tonalidade mais escura e camisa verde claro com botões de igual cor.
Todos têm à sua frente uma malga em barro vermelho vidrado, com açorda e ovo escalfado. O da frente parece levar uma colher de madeira à boca e tem do seu lado direito um copo de barro vidrado, supostamente contendo vinho. O da direita pega com a mão esquerda num copo como o anterior e tem uma colher de madeira assente na mesa junto à mão direita. O da direita pega numa colher de madeira com a mão esquerda e tem a mão direita próxima de um copo igual aos demais.
Sobre a mesa e à frente, da esquerda para a direita veem-se sucessivamente um chouriço cortado, uma navalha aberta e um pão igualmente cortado.
Análise contextual da figura
A criação da figura “cozinha dos ganhões” remonta segundo creio a José Moreira (1926-1991) e posteriormente a figura tem conhecido várias recriações por parte doutros barristas, todas elas ingénuas. Analisemos sob o ponto de vista da ingenuidade, a recriação de Carlos Alves:
- O chapéu aguadeiro de uso corrente pelos assalariados rurais alentejanos nos finais do séc. XIX e primórdios do século XX, é encarado em termos de traje como uma marca identitária alentejana. Todavia, os ganhões tal como vimos atrás, por uma questão de respeito e por prática religiosa, tiravam o chapéu da cabeça antes de se sentarem à mesa para comerem;
- A figura representa três ganhões e na prática estes eram em número superior, sentados de um lado e outro duma mesa comprida e estreita;
- Os ganhões não comiam de uma malga de uso individual, mas comiam vários de um barranhão de uso colectivo;
- Não era fornecido vinho às refeições, as quais eram modestas não incluindo chouriço ou queijo e mesmo ovo escalfado na açorda. De tal maneira que em certa ocasião, o ganhão e poeta popular Jaime da Manta Branca (1894-1955) foi levado a desabafar perante um lauto almoço do patrão com amigos: “Não vejo senão canalha / De banquete p'ra banquete / Quem produz e quem trabalha / Come açordas sem azête.”. Consta-se que a proeza lhe saiu cara e foi preso pela GNR. Estava-se em pleno Estado Novo.
O trabalho do barrista
A modelação e a decoração das figuras por parte deste barrista têm evoluído no sentido de uma maior minúcia, o que inclui também a representação de texturas. Deste modo, na decoração do presente conjunto e para além do sóbrio e harmonioso cromatismo naturalista dominante, foram representadas texturas[v] de alguns componentes: lã do pelico, cabelo e apêndices capilares, miolo do pão, veios da madeira e cortiça dos bancos. O artífice está a percorrer o seu próprio caminho e consolida o seu próprio estilo, o qual já é revelador de forte carácter artístico como barrista.
Na sequência da divulgação da presente figura por Carlos Alves no Facebook, comentou o consagrado barrista Jorge da Conceição: ”Continua a desenvolver o teu estilo e a dar consistência aos teus traços identitários que estás no bom caminho.”. É um comentário que provindo de quem vem, me apraz aqui registar.

BIBLIOGRAFIA
1 - MATOS, Hernâni. A novela Belmonte e a Poesia Popular de Estremoz. [Em linha]. [Editado em 27 de Novembro de 2013]. Disponível em: https://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com/2013/11/a-novela-belmonte-e-poesia-popular-de.html [Consultado em 16 de Maio de 2021].
2 - MATOS, Hernâni. Cozinha dos ganhões. [Em linha]. [Editado em 26 de Abril de 2011]. Disponível em: https://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com/2011/04/cozinha-dos-ganhoes.html [Consultado em 16 de Maio de 2021]. 

Publicado inicialmente a 19 de Maio de 2021
                                                                                                                                                                    


[i] Bancos rústicos confeccionados com pernadas de sobreiro.
[ii] Comida em cuja confecção podem entrar legumes frescos, legumes secos, batata, enchidos, carne.
[iii] A ganharia tinha como mandante o “abegão“, que só recebia ordens do grande lavrador, que o tinha como seu representante em todas as tarefas agrícolas. Era ele que dava as ordens para começar a trabalhar, comer ou parar e que tratava da acomodação e pagamentos da ganharia. O abegão trabalhava e comia juntamente com os ganhões, mas dormia em casa própria com o “sota“, que era coadjutor e substituto do abegão em tudo que podia e sabia.
[iv] O chapéu aguadeiro, típico no Alentejo de antanho, é um chapéu com copa semi-esférica e aba circular, larga e revirada integralmente para cima. A designação resulta de no caso de chover muito, reter a água da chuva, pelo que exigia ser revirado para baixo.
[v] Na barrística de Estremoz, a textura representada há mais tempo é a da pele de ovelha. No decurso do tempo outras se lhe foram adicionando numa perspectiva de fidelidade da representação naturalista. A título meramente exemplificativo, o barrista Jorge da Conceição já representou nas suas criações, texturas de materiais como: lã, cabelo, fio, pão, vime e cortiça.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

A cadeirinha de "Prometida"


A cadeirinha de prometida. Símbolo do contrato pré-matrimonial
no Alentejo da primeira metade do séc. XX. Talhada em madeira
numa única peça (2,7x1,8x9,3 cm). Colecção Hernâni Matos.

 
A Cristina Carvalho que me cedeu
o exemplar de arte pastoril
que ilustra o presente estudo


Campos do Alentejo na primeira metade do século vinte. Um moço que num rasgo de olhar, vislumbra uma moça, na qual existe qualquer coisa que irreversivelmente o atrai e o fulmina. É tiro e queda. Passa a segui-la como um perdigueiro que segue a caça. Pisteiro, procura dirigir-lhe palavra. Mas manda a tradição que a moça, apesar de se sentir atraída por ele, lhe dê um ou mais cabaços (negas). Todavia, “Quem porfia sempre alcança” e um dia, os sentimentos do moço são retribuídos pela moça e o amor irrompe como um vulcão. Ela dá-lhe trela e ele recebe luz branca para lhe fazer a corte. Derretem-se um pelo outro, mas procuram encontrar-se em segredo, longe das bocas do mundo, para que a família dela não saiba antes do tempo próprio. E as coisas assim continuam até que um dia, deixam de ter medo que os outros saibam e passam à condição de “conversados”, encontrando-se às claras, na pausa dos trabalhos do campo, no regresso dele, junto à fonte ou na igreja, nos domingos e dias santos. É a época em que o moço oferece à moça, objectos utilitários de arte pastoril, finamente lavrados: dedeiras para a ceifa, rocas e fusos, ganchos de fazer meia ou caixas de costura, que ele próprio confecciona se da arte pastoril tem o jeito ou que encomenda a alguém, no caso de não o ter. Ela retribui com prendas finamente bordadas, tais como uma bolsa para o relógio, para a tabaqueira ou para as moedas. E na comunhão do amor perene, qualquer deles usa e ostenta com orgulho, as prendas que recebeu do outro e que “selam” a sua condição de “conversados”.
A instâncias da moça, com o apoio da mãe primeiro e do pai depois, os pais dão autorização para que os “conversados” falem à janela ou à porta de casa, seja ela na vila ou no monte. E as coisas assim vão prosseguindo até que o estado psicológico do par atinja o ponto de rebuçado. Nessa altura, o moço pede aos pais da moça que lha dêem em casamento. Estes, naturalmente, protagonistas activos ainda que ocultos, desta saga amorosa, concedem-lhe a graça solicitada. A moça passa então da condição de “conversada”, à condição de “prometida”. Só então o par recebe autorização para conversar dentro da casa dos pais da moça. E para “selar” o contrato pré-matrimonial, o moço oferece à sua “prometida” uma cadeirinha em madeira que ela passará a usar, presa na fita do chapéu de trabalho, até à altura do matrimónio. Esta a fórmula encontrada pela sábia identidade cultural alentejana, de dar a conhecer à comunidade que a moça já estava “prometida” e que em breve iria casar.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 7 de Janeiro de 2011

Troca de prendas entre "conversados". Imagem recolhida on line.

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A tradição oleira de Estremoz

 

Púcaro com decoração polida. Produção da Escola Industrial António Augusto Gonçalves.
Finais dos anos 30 do sé. XX.

Excerto da comunicação por mim proferida
no decurso do colóquio "RECENTRAR / Memória, Barro e Saber-fazer", 
que entre 20 e 21 de Setembro teve lugar no Castelo de Évora Monte,
 integrado no Encontro Nacional de Olaria.

A olaria tradicional de Estremoz é extremamente rica em múltiplos aspectos. Na verdade, observando-a como um todo, revelam-se de imediato uma grande variedade de funcionalidades, tipologias, morfologias, tipos de decoração e tamanhos. Como tal, é uma das expressões mais elevadas da nossa identidade cultural local.

Funcionalidade
A funcionalidade das peças oláricas de Estremoz é servirem predominantemente de vasilhame para conter e transportar água, conter flores, dinheiro, velas, ou então servirem de elementos decorativos. Algumas funcionalidades deixaram de ser utilizadas, devido ao desenvolvimento tecnológico. É o caso dos tijolos, telhas, canos, sifões e manilhas.

Tipologia
É diversificada a tipologia das peças oláricas de Estremoz. As principais são: Assadores, Barris, Bilhas, Cafeteiras, Cântaros, Cantis, Cinzeiros, Copos, Fogareiros, Garrafas, Jarras, Mealheiros, Medalhas, Moringues, Palmatórias, Pratos, Púcaros, Reservatórios, Troncos, Vasos de flores, etc.

Morfologia
A uma dada tipologia de objecto olárico podem corresponder várias morfologias. Assim um moringue pode ter um corpo ovóide, esferóide, cilindróide segundo a vertical ou a horizontal, bem como qualquer outra forma distinta das anteriores.

Dimensões
Em geral, uma peça olárica de determinada tipologia e com uma dada morfologia, existe em vários tamanhos, os quais eram numerados de tal modo que ao tamanho maior correspondia o número maior. Este número pode aparecer gravado na base da peça ou aí marcado a giz, depois da cozedura ou então nem sequer ter sido marcado.

Proporções
É óbvio que as proporções entre as 3 dimensões de qualquer peça olárica no seu todo ou entre os seus componentes, não é arbitrária. São proporções que os oleiros de várias gerações foram perpetuando no barro, após a magia das suas mãos as ter tornado harmoniosas.

Tipos de decoração
Os tipos de decoração utilizados nas peças oláricas de Estremoz são de cinco tipos principais:
- 1 - O polido, que utiliza o contraste entre a superfície baça e os motivos que foram polidos com recurso a um seixo ou a um teque;
- 2 - O empedrado, no qual meniscos convexos de argila, decorados com minúsculos fragmentos de quartzo, são colados à peça com barbutina;
- 3 - O riscado, que recorre a sulcos gravados na superfície, com recurso a um teque, um arame, um prego ou uma sovela;
- 4 - O picado, que utiliza formas geométricas que são gravadas na superfície por percussão de objectos ou perfis cuja secção tem uma determinada geometria, como é o caso dos invólucros de bala e dos cartuxos de caça;
- 5 - A relevada, na qual brasões de Estremoz ou outros, assim como inscrições como “RECORDAÇÃO DE” ou “LEMBRANÇA DE”, bem como elementos fitomórficos (folhas, bolotas, ramos de sobreiro) ou zoomórficos (coelhos, lagartos) são moldados em barro e colados com barbutina à superfície;
Para além disso são conhecidos exemplares que ostentam uma decoração obtida pela utilização conjunta de alguns dos tipos referidos anteriormente.

Marcas
O levantamento das marcas de olaria de Estremoz é um trabalho que ainda está em curso, que precisa de ser continuado e que nunca se pode dar por concluído. Para além das marcas de fabrico, apostas por carimbo ou gravadas manualmente, podem existir também marcas de tamanho, gravadas manualmente ou manuscritas a giz. Podem, finalmente, aparecer ainda marcas simbólicas com significado apotropaico, apostas por carimbo ou gravadas manualmente. Caso das estrelas de 5 e de 6 pontas (Signo de Salomão), do trevo de 4 folhas ou da cruz trevolada).

Estética
A estética das peças oláricas de Estremoz é determinada por quatro factores distintos, mas de igual importância: o cromatismo vermelho do barro, aliado à morfologia, às proporções e à decoração. É da conjugação desses factores, sabiamente combinados, que resulta a excelência das peças oláricas tradicionais de Estremoz, por transmitirem sempre harmonia, perfeição, beleza e elegância.

Hernâni Matos

Moringue antropomórfico com decoração polida.
Fabrico da Olaria Alfacinha.

Depósito com tampa, onde estão patentes 3 tipos de decoração: 
empedrado, o riscado e o polido. Mestre Mário Lagartinho (1935-2016).

Pote com tampa e duas asas, no qual foram usados 2 tipos de decoração:
 o riscado e o picado. Mestre Mário Lagartinho (1935-2016).

Jarro de forma cilíndrica com decoração relevada fitomórfica,
picada e polida.

Bilha em forma de tronco, com decoração relevada, brasonada, fitomórfica, 
zoomórfica, picada e polida.

Moringue com decoração relevada fitomórfica, picada e polida.

Jarro de forma ovóide com decoração relevada fitomórfica, picada e polida.

Garrafão com decoração polida, picada, relevada fitomórfica e brasonada.
Fabrico desconhecido. 1ª metade do séc. X

Prato com decoração relevada. Início do séc. XX. Fabrico da Olaria Alfacinha.

terça-feira, 30 de setembro de 2025

O curso natural das coisas

 

Fig. 1 - Com cerca de 1 ano de idade, no Largo do Espírito Santo, em Estremoz.

Excerto da comunicação por mim proferida
no decurso do colóquio "RECENTRAR / Memória, Barro e Saber-fazer", 
que entre 20 e 21 de Setembro teve lugar no Castelo de Évora Monte,
 integrado no Encontro Nacional de Olaria.

Nasci em 1946 no número 14 do Largo do Espírito Santo em Estremoz, mesmo ali ao cantinho (Fig. 1 e Fig. 2). Ao meio da Rua dos Banhos, do lado direito, morava o mestre oleiro e barrista Mariano da Conceição. Bem perto da casa dos meus pais era também a rua do Lavadouro, onde ao meio funcionara a Cerâmica Estremocense de Mestre Emídio Viana. Não seria isto um augúrio de que iria estar ligado à olaria? É caso para dizer que “Eu não acredito em coincidências, mas que as há, há”.

Fig. 2 - Largo do Espírito Santo - Estremoz. Foto Tony, cerca de 1950.

Na minha juventude, os passeios pelo Rossio levavam-me invariavelmente a deter nos stands da Olaria Alfacinha (Fig. 3) e da Olaria Regional, onde mirava e remirava as peças oláricas, mas onde não comprava nada, não só porque não chegara ainda a altura de o fazer, mas porque como jovem de então, só tinha cotão nos bolsos das calças.

Fig. 3 - Stand da Olaria Alfacinha no Rossio Marquês de Pombal em Estremoz, no ano de 1974.

Em 1963, a participação da olaria e da barrística no Cortejo Etnográfico integrado nas Festas da Exaltação da Santa Cruz (Fig. 4 a Fig. 11) foram determinantes na tomada de consciência de um jovem de 17 anos como eu, de que tanto a olaria como a barrística eram manifestações vigorosas não só da identidade cultural estremocense, como da identidade cultural alentejana.


Fig. 4 - Acarreto de barro previamente extraído do barreiro.

Fig. 5 - Oleiro  modelando uma peça na roda.

Fig. 6 - Brunideiras decorando o vasilhame de barro antes de ser cozido.

Fig. 7 - Bonequeiras modelando e pintando Bonecos de Estremoz. 

Fig. 8 - Fabrico de tijolo burro por moldagem.

Fig. 9 - Retirados dos moldes os tijolos burros são postos a secar ao sol durante vários
dias, antes de ser cozidos no forno

Fig. 10 - Uma carrada de lenha para alimentar o forno onde são cozidas as peças de barro.

Fig. 11 - Alimentação com lenha do forno onde será  efectuada a cozedura
 das peças de barro.  

Entretanto, ingressei na Universidade e só em 1972 comecei a comprar objectos oláricos e Bonecos de Estremoz, após ter ingressado como professor na então Escola Industrial e Comercial de Estremoz. Eram compras às pinguinhas, já que em início de carreira ganhava pouco mais do que coisa nenhuma,

Naturalmente, que as aquisições causadas pelo fascínio do barro precisavam de ser consolidadas com conhecimentos. Foram determinantes na minha formação como coleccionador, livros como “Barros de Estremoz” de Azinhal Abelho (Fig. 12), “Algumas palavras acerca de Púcaros de Portugal” de Carolina Michaëlis de Vasconcelos,(Fig. 12), “La céramique populaire du Haut-Alentejo” de Solange Parvaux (Fig. 13),e mais tarde “Barros de Estremoz”, de Joaquim Vermelho (Fig. 13),, a que se seguiram outros livros e brochuras, adquiridos muitas vezes no mercado alfarrabista.

Fig. 12 - Barros de Estremoz” de Azinhal Abelho e  “Algumas palavras acerca de Púcaros
de Portugal” de Carolina Michaëlis de Vasconcelos.

Fig. 13 - La céramique populaire du Haut-Alentejo” de Solange Parvaux e “Barros de
Estremoz”, de Joaquim Vermelho.

As leituras levaram-me a formular questões relativamente àquilo que leio e aos objectos oláricos que vou adquirindo, pelo que a minha formação científica me induz a investigar, visando "Pôr o preto no branco".

Em 2009, criei o blogue “Do tempo da Outra Senhora” (Fig. 14), onde vou publicando escritos de olaria e de barrística de Estremoz, com a pedalada que me é possível, pois as minhas motivações culturais dispersam-se simultaneamente por outros centros de interesse. Foi assim que em 2018 publiquei o livro “BONECOS DE ESTREMOZ” (Fig. 15), dado à estampa pelas Edições Afrontamento.

Fig. 14 - Aspecto parcial da página de entrada do blogue "Do Tempo da Outra Senhora".

Fig. 15 - "BONECOS DE ESTREMOZ”, de Hernâni Matos. Edições Afrontamento, 2018.

Com a morte em 2016 de Mestre Mário Lagartinho, decano da olaria e o último oleiro de Estremoz, constituiu uma tragédia cultural. Tornou-se real a necessidade de preservação e salvaguarda da olaria tradicional de Estremoz, acção que em devido tempo veio a ser despoletada pelo Município de Estremoz, em parceria com entidades oficiais para isso vocacionadas. 

Fig. 16 - Mestre Mário Lagartinho (1935-2016), decano da olaria e o último oleiro de Estremoz.
 Fotografia do Arquivo Fotográfico Municipal de Estremoz / BMETZ –
Colecção Joaquim Vermelho.

Fig. 17 - Uma aula do 1º módulo do Curso de Olaria em 2021. Fotografia da ADOE.

Creio que a realização do presente colóquio, integrado neste 1º Encontro Nacional de Olaria, indicia que os trabalhos de preservação e salvaguarda da olaria tradicional de Estremoz, marcham no bom caminho. Creio igualmente que nessas tarefas de missão é relevante o papel dos coleccionadores, no duplo papel de colectores e de investigadores, produtores de conhecimento, que dão um inestimável contributo para a arte avançar. Daí que me atreva a efectuar aqui, ainda que duma forma sucinta, aquela que é na minha óptica a caracterização da tradição oleira de Estremoz.

Hernâni Matos

terça-feira, 23 de setembro de 2025

A ADOE no rescaldo do 1º Encontro Nacional de Olaria em Évora Monte

 



No passado dia 21 de Setembro tive o privilégio de participar no Castelo de Évora Monte no Colóquio “RECENTRAR - Memória, Barro e Saber-fazer“, integrado no Encontro Nacional de Olaria, que ali teve lugar.

A minha participação foi fruto do honroso convite que me foi formulado pela Senhora Doutora Mathilda Dias Coutinho, coordenadora do projecto de investigação 2LEGACY, no sentido de participar no Colóquio na qualidade de coleccionador e investigador da olaria de Estremoz, convite a que naturalmente acedi e que muito me congratulou.

A minha comunicação subordinada à epígrafe O guardador de memórias e acompanhada de projecção em PowerPoint, teve o seguinte epílogo:

O legado da antiga tradição oleira de Estremoz constitui indiscutivelmente Património Cultural Imaterial de Interesse Municipal. O legado é caracterizado pela excelência dos exemplares oláricos que o integram, o que é revelador da exigência que constitui a sua recuperação e preservação, visando a salvaguarda da identidade cultural estremocense.

Nessa missão está envolvida a ADOE, cujos associados têm recebido formação continuada, ministrada por Mestre Xico Tarefa, visando o seu aperfeiçoamento técnico e artístico. Tal só foi possível com o apoio indispensável e insubstituível do Município de Estremoz e do CEARTE - Centro de Formação Profissional para o Artesanato e Património.


Se me permitem endereço aqui uma saudação muito especial à Inês Crujo, Presidente da ADOE – Associação Dinamizadora da Olaria de Estremoz, que é a timoneira encarregada de “levar o barco a bom porto”. Parafraseando “O Mostrengo”, da “Mensagem” de Fernando Pessoa, é caso para dizer: “Ali ao leme é mais do que ela. É um povo que quer a olaria que é sua”.


Por fim e os últimos são os primeiros, uma saudação também muito especial para Mestre Xico Tarefa, "decano" da olaria de Redondo, reconhecido pelo seu vigoroso contributo para a preservação da arte oleira, o qual tenho o privilégio de conhecer desde o I Encontro Regional de Olaria do Alto Alentejo, realizado em Vila Viçosa, em 1980, há 45 anos atrás. Tem sido ele que com a sua mestria de saber fazer”, empenho e dedicação que são o seu timbre, tem dado formação aos Adoeiros, desculpem-me o neologismo, para que estes sejam bem-sucedidos na nobre missão a que se propuseram: "Revitalizar a produção oleira tradicional de Estremoz. Bem hajam por isso.

Hernâni Matos

sábado, 2 de agosto de 2025

Dia de Sortes

 

Dia de Sortes. Modelação de Carlos Alberto Alves. Pintura de Cristina Malaquias.
Colecção Hernâni Matos

O Serviço Militar Obrigatório
Nos anos 60 do século passado, Portugal esteve envolvido numa guerra colonial contra os movimentos de libertação das colónias portuguesas. Em Angola desde 1961, na Guiné-Bissau desde 1963 e em Moçambique desde 1964.
Estava em vigor o Serviço Militar Obrigatório, cujo principal objectivo, de acordo com a legislação em vigor, era a defesa da Pátria.

A ida às Inspecções
Aos 18/19 anos os jovens eram convocados para as “Inspecções”. Tratava-se da inspecção militar, que consistia em provas físicas e médicas, visando determinar se os mancebos estavam ou não aptos para serem incorporados no Serviço Militar Obrigatório.
Em Estremoz, as inspecções decorriam no 1º andar do Convento de São João de Deus, onde hoje funciona a Messe de Sargentos e que na época albergava o Hospital Militar.
Identificada à chegada, a rapaziada era mandada “descascar” numa sala e formar em “fila indiana” tal como tinha vindo a este mundo, até ser inspeccionada por uma Junta Médica a funcionar numa sala vizinha. Ali ficavam a saber se tinham sido apurados, ficado livres ou adiados por mais um ano na incorporação militar.

Uma Junta Médica zelosa
Em plena guerra colonial e com falta de carne para canhão, eram dominantes os apurados e raros os livres. Todavia foi este o meu caso, visto que há pouco mais dum ano, vítima dum acidente de viação, vira parte de uma perna amputada ser substituída por uma rudimentar prótese ortopédica. Apesar de tudo, não fiquei livre por simples inspecção visual, já que os senhores “inspectores” me mandaram tirar a prótese ortopédica para eu provar que tinha falta de perna e não havia “marosca” nenhuma para enganar a Junta Médica.

O ingresso na tropa
Os apurados nas inspecções eram incorporados no ano em que cumpriam o 20.º aniversário. Contudo, o período de incorporação podia alargar-se até aos 34 anos se os convocados, vivessem no estrangeiro, estivessem a estudar ou se tivessem um irmão a cumprir serviço no momento da incorporação
No tempo da guerra colonial (1961/1974) o tempo de "tropa" podia chegar a quatro anos ou mais.

Dia de Sortes
O “Dia das Inspecções” era na gíria popular conhecido por “Dia de Sortes”, designação devida ao facto de ser nesse dia que cada mancebo inspeccionado ficava a saber qual a “sorte” que lhe tinha cabido na inspecção militar: apurado, livre ou adiado. A cada sorte estava associada simbolicamente uma fita colorida, de acordo com a seguinte convenção: APURADO=VERDE, LIVRE=VERMELHO, ADIADO=BRANCO.
À saída das inspecções cada jovem identificava-se com a “sorte” que lhe tinha cabido. Para tal exibia a correspondente fita colorida, pregada no peito, no boné ou no chapéu. À sua espera um tocador de harmónio contratado que os acompanhava pelas ruas da cidade, enquanto cada um deles tocava a sua própria pandeireta. Era um modo simples e tradicional de partilhar com a comunidade, o conhecimento da “sorte” que lhe tinha cabido. Era de certo modo, um ritual de puberdade que se extinguiu tal como o Serviço Militar Obrigatório. Era um rito que incluía uma almoçarada bem comida e bem regada que prosseguia pela tarde fora, até o mais ajuizado do grupo, dar ordem de destroçar.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Assobios de se lhes tirar o chapéu


Pucarinho enfeitado (assobio)

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Desde 2019 que venho acompanhando o trabalho da barrista Inocência Lopes e a ele me tenho referido nos meus escritos. Daí que possa afirmar que o mesmo se pauta por um estrito respeito pela técnica de produção e pela estética do Boneco de Estremoz. É, de resto, um trabalho revelador duma busca incessante de perfeição e de um caminho muito próprio.

A barrista, dotada de forte personalidade artística, tem-se afirmado através de um estilo pessoal, caracterizado por marcas identitárias diferenciadoras que a distinguem dos demais barristas.

A minha colecção integrava até agora apenas três trabalhos seus, correspondentes a temas que me são gratos: “Ceifeira”, “Primavera” e “Amor é cego”.  A eles se vieram juntar recentemente quatros assobios: “Pucarinho enfeitado”, “Candelabro enfeitado”, “Terrina enfeitada” e “Arco enfeitado”, encomendados há um ano atrás, no acto inaugural da sua exposição no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz. Tal facto é revelador de que a barrista “não tem mãos a medir”, o que muito me congratula, por confirmar o reconhecimento público do trabalho da barrista.

Os assobios criados por Inocência Lopes, constituem uma verdadeira mudança de paradigma. Na verdade, os assobios de barro vermelho de Estremoz integravam até então na sua decoração uma figura zoomórfica, antropomórfica ou mista. Com Inocência Lopes, os assobios passam também a incorporar espécimes de olaria enfeitada como elementos decorativos. Trata-se de uma inovação visualmente harmoniosa, que eu aplaudi e subscrevi, assim que se tornou conhecida.

Com tais criações a barrística de Estremoz ficou mais rica e a barrista prestou uma singela homenagem às bonequeiras de setecentos que estiveram na criação das peças de olaria enfeitada.

Bem-haja, Inocência Lopes. Estamos todos de parabéns.

Hernâni Matos


Candelabro enfeitado (assobio)

Terrina enfeitada (assobio)

Arco enfeitado (assobio)