sábado, 1 de novembro de 2025

A génese da arte pastoril


COLHER EM MADEIRA - Artefacto de arte pastoril alentejana
da autoria de Joaquim Teodoro da Cruz. Orada, 1940.
Colecção Hernâni Matos.


Ao meu Amigo António Carmelo Aires,
distinto coleccionador de arte pastoril,
no dia do seu aniversário.

 

O Alentejo é terra de vagares. Na charneca, o tempo cresce e recresce para o pastor de ovelhas. Nesse contexto, os palpites de alma fazem das suas. Logo um impulso criador detona e pelas redes neuronais é transmitido às mãos calejadas. Estas manobram com destreza uma navalha afiada com a qual entalha, grava ou filigrana, o material nativo que recolheu na Terra Mãe, mesmo ali à mão de semear.

Com a magia dum alquimista, transmuta a madeira, a cortiça e o chifre, em autênticas Obras de Arte, graças a um nato saber-fazer, aliado a um refinado bom gosto, pautado por ideias ancestrais que lhe povoam a mente.

Cruzes, estrelas, flores, signo-saimões, hexafólios e corações, integram a simbologia, a maioria das vezes apotropaica ou mesmo sagrada, com que lavra a superfície dos materiais e que nos transmitem mensagens e estórias codificadas que o artífice compôs, visando homenagear o destinatário ou a destinatária da sua Obra: a conversada, a mulher amada, o patrão ou a patroa que lhe asseguram o ganha-pão.

Não se trata, pois, de artefactos confeccionados para matar o tempo, como alvitra a proclamação rifoneira: “Quem não tem que fazer, faz colheres”. Pelo contrário, são manufactos criados graças à generosidade do tempo que cresce e recresce nesta terra de vagares.


BORSAL - Estojo em cortiça para protecção do machado corticeiro. Autor desconhecido.
Colecção Hernâni Matos.

TABAQUEIRA EM CHIFRE E MADEIRA. Joaquim Carriço Rolo (1935-2023).
Colecção Hernâni Matos.

ARTEFACTO BIFUNCIONAL - Constituído por uma carretilha e 3 chavões móveis
ao longo de uma argola circular. Colecção Hernâni Matos.

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