domingo, 16 de novembro de 2025
Estórias do autor
segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Cerâmica de Redondo – Os alguidares
[1] Copo de barro para água e onde muitas vezes se punham flores.
[2] Vasilha de barro, sobre a qual o taberneiro mede o vinho e que recebe as verteduras.
[3] Vaso de barro, que levanta a água nas noras.
[4] Pequena bacia de barro, usada num lavatório.
[5] Espécie de tijela de barro, de fundo largo e bordos quási perpendiculares.
[6] Recipiente de barro com orifícios no bojo para borrifar.
[7] Forno em barro usado pelos alquimistas.
sábado, 4 de outubro de 2025
Arte pastoril perde um dos seus maiores
quinta-feira, 2 de outubro de 2025
A tradição oleira de Estremoz
terça-feira, 30 de setembro de 2025
O curso natural das coisas
Nasci
em 1946 no número 14 do Largo do Espírito Santo em Estremoz, mesmo ali ao
cantinho (Fig. 1 e Fig. 2). Ao meio da Rua dos Banhos, do lado direito, morava o mestre oleiro e
barrista Mariano da Conceição. Bem perto da casa dos meus pais era também a rua
do Lavadouro, onde ao meio funcionara a Cerâmica Estremocense de Mestre Emídio
Viana. Não seria isto um augúrio de que iria estar ligado à olaria? É caso para
dizer que “Eu não acredito em coincidências, mas que as há, há”.
Na
minha juventude, os passeios pelo Rossio levavam-me invariavelmente a deter nos
stands da Olaria Alfacinha (Fig. 3) e da Olaria Regional, onde mirava e remirava as
peças oláricas, mas onde não comprava nada, não só porque não chegara ainda a
altura de o fazer, mas porque como jovem de então, só tinha cotão nos bolsos
das calças.
Em 1963, a participação da olaria e da barrística no Cortejo Etnográfico integrado nas Festas da Exaltação da Santa Cruz (Fig. 4 a Fig. 11) foram determinantes na tomada de consciência de um jovem de 17 anos como eu, de que tanto a olaria como a barrística eram manifestações vigorosas não só da identidade cultural estremocense, como da identidade cultural alentejana.
Entretanto,
ingressei na Universidade e só em 1972 comecei a comprar objectos oláricos e
Bonecos de Estremoz, após ter ingressado como professor na então Escola
Industrial e Comercial de Estremoz. Eram compras às pinguinhas, já que em
início de carreira ganhava pouco mais do que coisa nenhuma,
Naturalmente, que as aquisições causadas pelo fascínio do barro precisavam de ser consolidadas com conhecimentos. Foram determinantes na minha formação como coleccionador, livros como “Barros de Estremoz” de Azinhal Abelho (Fig. 12), “Algumas palavras acerca de Púcaros de Portugal” de Carolina Michaëlis de Vasconcelos,(Fig. 12), “La céramique populaire du Haut-Alentejo” de Solange Parvaux (Fig. 13),e mais tarde “Barros de Estremoz”, de Joaquim Vermelho (Fig. 13),, a que se seguiram outros livros e brochuras, adquiridos muitas vezes no mercado alfarrabista.
As
leituras levaram-me a formular questões relativamente àquilo que leio e aos
objectos oláricos que vou adquirindo, pelo que a minha formação científica me
induz a investigar, visando "Pôr o preto no branco".
Com a morte em 2016 de Mestre Mário Lagartinho, decano da olaria e o último oleiro de Estremoz, constituiu uma tragédia cultural. Tornou-se real a necessidade de preservação e salvaguarda da olaria tradicional de Estremoz, acção que em devido tempo veio a ser despoletada pelo Município de Estremoz, em parceria com entidades oficiais para isso vocacionadas.
segunda-feira, 29 de setembro de 2025
As primeiras memórias da olaria
Até
então, a água era distribuída por aguadeiros que a acarretavam em
cântaros de folha de Flandres ou de barro, transportados em cangalhas assentes
no dorso de burros ou em divisórias de carroças para o transporte de água. Recolhida nas fontes, assim ia parar à casa
dos fregueses. À chegada, à porta da rua, a água era transvasada do cântaro que
a transportara para um cântaro de barro do freguês.
Os
aguadeiros eram figuras do quotidiano diário da época que ficaram perpetuadas
na barrística de Estremoz.
Tal
como os aguadeiros também as mulheres das castanhas, como figuras
do quotidiano diário da época, ficaram perpetuadas na barrística de Estremoz.
Qualquer
das memórias desperta em mim outras memórias. Assim, a memória dos aguadeiros
carrega consigo a memória da frescura e do sabor inigualável da água contida em
recipiente de barro. Por outro lado, a memória das mulheres das castanhas
transporta consigo o odor e o sabor das castanhas assadas. É caso para dizer
que as memórias são como as cerejas, vêm umas atrás das outras.
Hernâni Matos
domingo, 28 de setembro de 2025
O guardador de memórias
Tenho
o coleccionismo na massa do sangue. Sou geneticamente um coleccionador e
cumulativamente um contador de estórias, não só de estórias
reais, mas também das estórias que as coisas me contam sobre os segredos que a
sua existência encerra.
Ao
longo da minha vida de coleccionador reuni mais de 200 objectos oláricos de
diferentes tipologias, morfologias, funcionalidades e tamanhos, os quais têm
entre si um elo comum: foram produzidos pelas extintas olarias de Estremoz. São,
pois, memórias do passado. Ao reunir um acervo pessoal dessas peças, tornei-me,
eu próprio, um guardador de memórias.
Estas
memórias guardadas, conjuntamente com muitas outras memórias, integram a
chamada memória colectiva, a qual nos ajuda a construir e manter
a nossa identidade cultural e histórica, preservando tradições, valores e
experiências comuns.
É a
memória colectiva que nos permite aprender com os erros e sucessos do passado,
o que é essencial para o desenvolvimento e a evolução da sociedade.
Como
guardador de memórias, assumo-me como fiel guardião da nossa ancestral matriz
identitária, incumbido duma nobre missão: a de transmitir às novas gerações, a
importância e a riqueza da pluralidade do passado e das tradições do nosso
povo, para que elas tenham consciência de que urge resistir a uma globalização
castrante, que assimptoticamente procurará reduzir à chapa zero, as nossas
identidades culturais, a nível local, regional e nacional.































