A ideia subjacente a esta aquisição seria a constituição de uma comissão organizada
[3] com a finalidade de construir a praça de touros, comissão essa que depois entregaria a mesma praça à Associação de Beneficência de Estremoz, para com o seu produto fazer face às despesas com o seu estabelecimento de caridade, há pouco tempo inaugurado. Em dezassete de Março de 1900, segundo o Jornal d’Estremoz, já estava constituída a comissão e realizado o projecto e respectiva planta para a nova praça, a qual seria construída de ferro e alvenaria devendo comportar aproximadamente cinco mil pessoas, estando orçada entre doze e treze contos de réis.
Após o anúncio com a devida publicidade, da arrematação por empreitada das obras de alvenaria, carpintaria e serralharia inerentes a tal construção sob as condições do caderno de encargos respectivo, e, tendo terminado o prazo no dia 29 de Fevereiro para a recepção das propostas em carta fechada, abertas que foram as mesmas nesse mesmo dia, por escritura de um de Março de 1904
[4], foi celebrado o contrato de empreitada entre Manuel Vicente da Graça Zagalo na qualidade de presidente da direcção da empresa construtora da praça de touros, representando ele toda a direcção
[5], e os empreiteiros a quem foram adjudicadas essas tais obras.
A Joaquim Miguel Anastácio e António Luís Coelho, carpinteiros de profissão, entregou a empresa a obra de carpintaria, nos termos da sua proposta, obrigando-se para além disso os empreiteiros a construírem a trincheira de madeira com um metro e sessenta centímetros de altura por cinco centímetros de extensão e com a distância de dois metros entre os pés direitos e cuja secção seria de vinte centímetros por vinte centímetros, formando painéis móveis que se fixariam aos prumos entrando em ranhuras cavadas nos mesmos para esse efeito. Cada prumo destes teria que estar enterrado no solo pelo menos noventa centímetros e seria assente em pedra para permitir maior solidez e estabilidade. Ao longo de toda a trincheira, quer na parte interior, quer na exterior da mesma, um estribo de altura conveniente seria colocado, assentando o mesmo sobre chapuzes ligados aos respectivos prumos e aparafusados aos painéis respectivos. Assumiu o encargo de fiador desta empreitada o empregado público e industrial José Nunes Adegas
[6].
A empreitada de alvenaria foi adjudicada a Jacinto José Cachudo, também nos termos da proposta apresentada, com a alteração do preço inicial apresentado de seis contos quatrocentos vinte cinco mil réis, saldando-se a adjudicação final em seis contos de réis. Adicionalmente, obrigava-se este a adquirir o material já existente na praça pelo preço que tinha sido fornecido, cuja importância lhe seria descontada na última prestação, aceitar ainda a cal que havia de fornecer Joaquim José de Rosa Bastos até à quantia de duzentos mil réis na qual seria incluída a já entretanto fornecida, pagando a que viesse de futuro ao preço corrente na altura e a fazer uma parede de tijolo ao alto na parte inferior das abobadilhas a fim de substituir o enchimento de alvenaria indicado no projecto. Finalmente, caso fosse necessário, mudar as duas pequenas portas existentes uma de cada lado da porta principal, trabalho que seria por conta do empreiteiro. As mesmas teriam que ser colocadas de forma a que o eixo correspondesse em linha recta ao eixo das escadas de acesso para as bancadas do sol e sombra respectivamente. Assumiram o encargo de fiadores desta empreitada os proprietários Francisco Fragoso e Venceslau Vieira
[7].
Já a empreitada de serralharia, que compreendia toda a obra em ferro, foi confiada a João Francisco Rodrigues nos termos da sua proposta que se socorreu do comerciante desta vila e também proprietário, Narciso da Silva Ribeiro, para fiador da mesma
[8].
Foram testemunhas deste contrato de empreitada, que se saldou no montante total de 7:930$000 réis, mais 555$526 réis que o valor inicial orçamentado em 7:374$474, dois estremocenses, António Maria de Almeida, casado e barbeiro de profissão e José Francisco da Silva Capeto solteiro e alfaiate
[9].
Os trabalhos tinham começado com extraordinária actividade logo no dia seguinte, na quarta-feira dia 2 de Março, perspectivando-se logo aí a conclusão da obra para finais de Agosto. Nessa altura já existiam trabalhos realizados que ajudavam e muito a rápida conclusão da arena, em particular toda a parede exterior assim como os curros com capacidade para doze touros.
Na rua da Rainha D. Amélia
[10], na casa de residência de Manuel Vicente Graça Zagalo e D. Maria da Graça da Natividade Hunter Reynolds, aos seis dias do mês de Maio e com os trabalhos de construção da nova praça em grande desenvolvimento, antecipando mesmo a conclusão das obras antes do prazo estipulado
[11], teve lugar a escritura de doação
[12], no valor de dez contos de réis, do Baluarte do Reguengo que fizeram este casal de beneméritos à Associação de Beneficência de Estremoz
[13]. Tratava-se de uma doação pura e condicional na medida em que esta associação donatária só entrava na posse do prédio mediante três condições que tinham que ser realizadas simultaneamente. Em primeiro lugar, tinha que ser construída uma praça de touros, a qual já estava em andamento, depois tinha que estar integralmente pago ou reembolsado o capital empregado nesta construção e, finalmente, também tinham que estar definidos os direitos dos subscritores que para tal fim concorreram com quantias. Manuel Vicente ficou encarregado de angariar estes investidores por meio de obrigações, com valor de cinco mil réis cada uma, até ter a importância suficiente (nunca superior a doze contos de réis) para a construção da praça
[14].
Definiram-se os sócios subscritores em duas categorias, a dos fundadores, que seriam todos aqueles cujos nomes constassem do registo da empresa ou comissão administrativa até à data da distribuição das respectivas obrigações e a dos secundários que eram todos aqueles que adquirissem obrigações à posteriori, não gozando estes últimos dos direitos que assistiam aos primeiros, com excepção apenas do reembolso do capital que as suas obrigações representassem.
Depois, hierarquizaram-se os fundadores em função da importância subscrita, aqueles que subscrevessem obrigações com importância total não inferior a um conto de réis teriam o direito de propriedade a um camarote e por cada parcela de cem mil réis, além daquela quantia, mais um lugar reservado nas bancadas de sombra. Para os que subscrevessem obrigações com importância total não inferior a quinhentos mil réis teriam direito a três lugares de cadeira e mais um lugar de sombra nas bancadas por cada adicional de cem mil réis. Para aqueles subscritores cujas quantias eram inferiores a quinhentos mil réis teriam à mesma um lugar reservado nas bancadas de sombra por cada cem mil réis realizados, tendo os que realizassem metade dessa quantia um lugar reservado nas bancadas de sol e os de vinte cinco mil réis realizados a meia entrada nestas bancadas. Todos estes lugares de direito ficavam pertença dos subscritores fundadores podendo os mesmos ser unicamente transmissíveis aos seus herdeiros ou sucessores.
Estava também estipulado que todos estes subscritores proprietários de lugares tinham direito em todos os espectáculos a trocar os lugares por outros de categoria superior pagando a diferença de preço, bastando avisar com antecedência de, pelo menos um dia, a comissão.
Todos os subscritores seriam reembolsados do capital representados pelas suas obrigações por amortização que todos os anos se realizava por sorteio única e exclusivamente com o rendimento líquido e disponível da praça.
Ainda estava previsto a alienação das obrigações, por parte dos subscritores fundadores e seus herdeiros ou sucessores, sem perda dos seus direitos aos lugares que lhes pertenciam, mas caso optassem pela venda da propriedade desses lugares a associação donatária teria preferência em igualdade de circunstâncias, caso já estivesse na posse da praça, pois se a transmissão ainda não estivesse efectuada seria a comissão que estivesse encarregada da sua exploração a exercer essa preferência. Ainda havia um caderno em duplicado para a inscrição e apuramento dos subscritores fundadores, essencial, para de pronto se conhecerem os direitos que tinha cada subscritor. Quando depois de reembolsado o capital dos subscritores e se ter transmitido à Associação de Beneficência de Estremoz a posse da praça de touros, dada por esta escritura, foi entregue a esta um dos livros ficando o outro depositado no Arquivo da Administração do Concelho desta então vila verificando a direcção desta associação, nesta ocasião, a exactidão dos dois livros
[15].
Para além disto tudo, se, no futuro deixassem de existir os estabelecimentos de caridade, a cargo da Associação de Beneficência, ou os que esta pudesse vir a fundar, reverteria a praça de touros a favor dos subscritores fundadores ou seus herdeiros na proporção para cada um correspondente ao capital que tivessem subscrito
[16]. Se esta associação donatária também decidisse não continuar na posse do objecto doado podia livremente devolver o mesmo aos subscritores fundadores ou aos seus sucessores que seriam obrigados a aceitar sem que tivessem direito a exigir qualquer indemnização.
Enquanto não se realizou a transmissão da praça foi encarregada da sua administração e exploração uma comissão composta pelo próprio Manuel Vicente Graça Zagalo e também por José Rodrigues Tocha, Roberto Rafael Reynolds, João Augusto Silvério Carapeta e Francisco das Dores Rosado, estes dois últimos também bastante louvados pela imprensa local devido ao empenho e persistência neste projecto, os quais iriam escolher entre si quem iria exercer os cargos que entendessem dever distribuir. Daria esta comissão anualmente, em reunião de assembleia geral, contas aos subscritores, os quais deliberavam por maioria de dois terços do capital representado pelos subscritores presentes
[17]. Testemunharam este acto notarial os proprietários estremocenses Rui de Sande Menezes e Vasconcellos e Carlos Frederico Luna.
Em meados do mês de Maio, ainda com a inscrição aberta a todos aqueles que até àquele momento não tinham subscrito qualquer obrigação, os trabalhos da praça estavam em colossal desenvolvimento, surgindo adicionalmente algumas inovações que iriam contribuir para a solidez e embelezamento da praça, cujo aumento de despesa foi justificado pela sua necessidade. Começavam a ser conhecidos dos estremocenses alguns pormenores da arena. Os camarotes em número de sessenta ficavam arrumados em meia circunferência da praça e directamente sobre a bancada dos cento e cinquenta e cinco
fauteuils com as dimensões de 1,63m de largura por 1,80m de fundo, tendo a coxia 1,20m de largura. Os
fauteuils ocupavam as doze bancadas inferiores aos camarotes. Nos lugares do sol as bancadas eram em número de dezassete, medindo 0,50m de largura por 0,40m de altura. Tanto estas bancadas como as dos
fauteuils eram cobertas de lajes pretas (xisto) cujo fornecimento já estava contratado na empreitada de alvenaria, enquanto o pavimento dos camarotes era em mosaico (mosaico hidráulico). Por esta altura, a gradaria que havia de circundar a praça já estava quase concluída, as colunas de ferro que sustentariam a cobertura em toda a sua circunferência, os tabuleiros de zinco e outros aprestos estavam em vias de chegar
[18], trabalhando nesta azáfama setenta operários
[19].
Por esta altura, com os trabalhos em velocidade de cruzeiro e vislumbrando-se no horizonte a obra concluída, reuniu a assembleia geral de accionistas no dia 4 de Junho, onde, para além de tratar dos negócios relacionados com os trabalhos em curso, também se concentrou nas duas corridas inaugurais, decidindo para o efeito que essas mesmas corridas fossem dadas por conta da comissão, apesar das propostas existentes para o arrendamento da praça. Ficou aquela autorizada a despender as quantias necessárias, depois de esgotadas as verbas pagas pelos accionistas para completa conclusão da praça, sendo a diferença saldada pelo resultado dos primeiros eventos
[20].
Já com o mês de Julho bem adiantado, pela primeira vez foram anunciados com exactidão os dias 3 e 4 de Setembro
[21] para os dois espectáculos inaugurais, por ocasião das grandiosas festas à Exaltação da Santa Cruz. Estipulou-se que as portas da praça abriam às duas da tarde e que pelas quatro horas entraria na arena a azémola das farpas conduzida pelos moços de forcado seguindo-se os artistas contratados, primeiro os cavaleiros Manuel Casimiro e Francisco Simões Serra coadjuvados pelos bandarilheiros Teodoro e Carlos Gonçalves, Francisco Saldanha, José Martins e J. Ribeiro Tomé. Participariam também, para além do grupo de forcados da praça, o grupo da praça do Campo Pequeno, liderado pelo cabo Manuel Alcorriol. Nesta altura, ainda estava em contratação um matador espanhol e sua quadrilha, o qual só a meados de Agosto se soube ser Manuel González, El Rerre com seus bandarilheiros, Vicente Vegas e José Garcia (Moreno). Para além destes artistas ainda figurariam nas cortesias todo o pessoal da arena e touril, campinos a cavalo, quatro cavalos de combate rigorosamente ajaezados e conduzidos à mão por outros tantos criados dos cavaleiros. Os dois curros de dez touros cada um seriam pertença da Companhia das Lezírias do Tejo e Sado e de D. Caetano de Bragança (Lafões). A banda de música escolhida para abrilhantar os dois eventos foi a de Infantaria 2, de Lisboa, que para esse fim, chegou a Estremoz na noite de sexta-feira 2 de Setembro, a direcção técnica desta nova arena ficava a cargo de J. Carlos Martins e estavam previstos comboios a preços reduzidos de Setúbal, Évora e outras estações. E tudo isto no meio de uma azáfama devido à progressão tremenda dos trabalhos, para além do habitual boicote dos
Velhos do Restelo, criaturas mesquinhas que através da política tudo faziam, ingloriamente, para que esta aspiração dos estremocenses não tivesse êxito
[22].
A meados de Agosto com os trabalhos exteriores em estado muito adiantado, o trabalho de alvenaria no interior do recinto já estava concluído, estando nessa altura em acção as execuções nos gradeamentos, camarotes e madeiramentos
[23]. A tal respeito o jornal lisboeta A Arena, especializado na arte da tauromaquia, falando da praça de touros de Estremoz dizia num artigo alongado “Está em via de conclusão n’esta villa uma nova praça de touros que comportará umas sete mil pessoas e ficará sendo uma das melhores de quantas existem em Portugal. A nova praça é construída com toda a solidez e elegancia, e os materiaes que entram principalmente na construção, alem da cal e areia, são a pedra e o ferro. A madeira entra apenas como adorno, à semelhança do que acontece com a praça do Campo Pequeno
[24]. O conjuncto dá uma ideia da bonita praça de Villa Franca,…”
[25].
Os vinte touros seleccionados para serem lidados na inauguração, acompanhados dos respectivos cabrestos, tinham iniciado a sua viagem rumo a Estremoz, desde os campos de Vila Franca, na manhã do dia 24, uma quarta-feira. Ficariam até ao dia dos eventos nos terrenos da herdade do Chalrito, na coutada, propriedade de Manuel Vicente Graça Zagalo, a poucos quilómetros de Estremoz. Entretanto, por esta altura, os trabalhos no interior da praça já se encontravam concluídos, estando apenas as lavagens das lajes das bancadas e dos mosaicos nos camarotes em realização
[26].
Na segunda-feira dia 29, pelas cinco horas da tarde teve lugar a inspecção à praça com presença do Administrador do Concelho Domingos Joaquim da Silva, acompanhado pelo seu secretário Carlos Frederico Luna e também pela comissão de vistoria composta pelo engenheiro civil e de minas António Maria da Silva, pelo técnico de obras públicas, João Filipe Pereira Pinho e pelo técnico de obras municipais Francisco Maria de Campos Torres, sendo esta de parecer favorável à abertura do recinto pois o mesmo gozava de condições de resistência e estabilidade sem o mais pequeno risco para o público
[27].
Finalmente chega o tão ansiado dia da inauguração com uma animação delirante por parte dos aficionados. As embolações principiaram pelas nove horas da manhã tendo entrada livre aqueles que tivessem bilhete para a corrida, pagando os que não possuíssem ingresso e quisessem assistir a este acto um bilhete especial que estava à venda por cinquenta réis. Para além das entradas poderem ser adquiridas nas bilheteiras da praça no dia da corrida, a partir das oito horas da manhã, também se poderiam comprar em mais outros três espaços comerciais consoante o tipo. Assim, para os Camarotes e
Fauteuils as mesmas eram encontradas na ourivesaria Carapeta & Irmãos enquanto as da Sombra estavam à venda na loja de Joaquim Lourenço Costa e as de Sombra-Sol e Sol na drogaria de Francisco Fragoso. No geral foram brilhantes e entusiásticas as duas corridas que marcariam para sempre esta praça e a então vila de Estremoz. A de Domingo, sem sombra para dúvidas, foi muito melhor que a inaugural de sábado pois os touros assim o ditaram. No primeiro dia o gado da Companhia foi em geral fraco não se prestando à lide, impossibilitando os artistas de brilharem
[28]. Mesmo assim, os artistas com a fraca matéria prima que lhes calhou em sorte conseguiram satisfazer suficientemente o público. Já no dia seguinte tivemos umas das melhores corridas, daquelas de primeira linha que nos enchem as medidas. O gado de D. Caetano de Bragança era bravíssimo prestando-se com destreza ao desafio dos artistas que, com denodo e arte, os lidaram, especialmente os cavaleiros que foram muito felizes com uma prestação magnífica nos ferros curtos sendo muito ovacionados pelo público. Dos bandarilheiros, que em geral trabalharam bem, destacaram-se José Martins na sorte de cadeira, Ribeiro Tomé no salto de vara, Teodoro Gonçalves e Francisco Saldanha nas farpas. Também o matador espanhol deixou boa impressão de um artista razoável
[29]. Quanto aos forcados causaram também muito boa impressão nas sortes arriscadas que fizeram com pegas de valor que lhes valeu muitos aplausos. As duas touradas com muito boa direcção, confiada a J. Carlos Martins, que vestiu a pele de inteligente, estiveram muito bem concorridas com a de sábado com poucos lugares vagos enquanto a de domingo esteve literalmente à cunha
[30].
A meados de Setembro estavam já quase terminados os trabalhos de aformoseamento no exterior do muro do lado norte e sul, os quais, infelizmente, não tinham podido ser concluídos antes da inauguração
[31].
Tal como acontece com tudo nesta vida, naturalmente, nasce-se, vive-se e morre-se, assim se passou também com esta infraestrutura, que após o seu nascimento registou aqui momentos de glória durante décadas, passando por este tauródromo as principais figuras do toureio, a elite da tauromaquia nacional assim como espectáculos musicais e outros mais bizarros para este tipo de recinto, como combates de boxe, realizados no ano de 1935. Este recinto esteve sempre umbilicalmente ligado à renomada dinastia de cavaleiros tauromáquicos estremocenses, a conhecida família Maldonado Cortes, liderando a mesma João Maria de Almeida de Matos Cortes que foi cavaleiro amador, seguido por seus filhos Mestre José Francisco Maldonado Cortes, figura de primeiro plano da tauromaquia, que tal como seu pai foi empresário desta praça, e seu irmão Afonso Manuel Maldonado Cortes exímio equitador, os dois cavaleiros de alternativa. Seu neto José Francisco Macedo Maldonado Cortes (Kiko), filho mais velho do Mestre José Maldonado Cortes, e, também ele, cavaleiro de alternativa fez aqui os seus primeiros treinos assim como seus filhos e bisnetos do patriarca, o mais velho, Francisco Maria Marouço Maldonado Cortes, cavaleiro praticante que aqui toureou pela primeira vez em público e seu irmão José Maria Marouço Maldonado Cortes (Pepe), bandarilheiro praticante aí também se vestiu de toureio. As homenagens gravadas no mármore estremocense e cravejadas na entrada principal desta praça atestam esta antiga relação de cumplicidade com esta família
[32]. Definhou este espaço ficando desactivado por muitos anos, encontrando-se em 2011 em muito mau estado de conservação. Com a finalidade de recuperar a histórica praça, o Centro de Bem-Estar Social de Estremoz, proprietário do edifício, cedeu gratuitamente por vinte e cinco anos a arena ao município estremocense para que este promovesse obras de restauro com vista à sua reabertura. O edifício foi reconvertido e adaptado a espaço multifunções, ficando as obras concluídas no ano de
2013, tendo a sua reabertura ao público ocorrido em
30 de Agosto de
2013 com uma corrida de touros nocturna onde foi lidado um curro de sete touros da ganadaria
Pinto Barreiros para os cavaleiros
António Ribeiro Telles,
João Salgueiro, Rui Fernandes, Vítor Ribeiro, João Moura Caetano, João Ribeiro Telles Jr. e João Maria Branco, acompanhados pelos
grupos de forcados Amadores de
Montemor e
Monforte.
Para a celebração dos cento e vinte anos deste recinto tauromáquico teve lugar no passado dia 30 de Agosto, pelas vinte e duas horas, a corrida de comemoração desta efeméride. Lidaram-se seis touros da ganadaria Veiga Teixeira para os cavaleiros João Moura, José Francisco Cortes (Kiko), Filipe Gonçalves, João Moura Caetano, Tiago Carreiras e David Gomes. Também foi corrido um novilho dos irmãos Moura Caetano pelo amador Tomás Moura, filho do prestigiado cavaleiro João Moura, figura principal deste cartaz. Marcaram também presença nesta festa os grupos de forcados amadores de Alcochete e Monforte, capitaneados respectivamente por António José Cardoso e João Maria Falcão. Abrilhantou esta festa a banda estremocense, Sociedade Filarmónica Luzitana.
Não podendo ter assistido ao seu nascimento por razões óbvias, marquei orgulhosamente presença na sua renascença assim como neste centésimo vigésimo aniversário.
Arquivo Distrital de Évora
Fundo: Cartório Notarial de Estremoz – Livro de Notas de João Baptista Pires de Campos, Livro 1113, 1904-02-08 a 1904-05-05 – PT/ADEVR/NOT/CNETZ/001/0649
Arquivo Municipal de Estremoz
Fundo: Câmara Municipal de Estremoz - Série: 019 - Autos de Inspecção às Escolas Primárias, 1902 – 1904 - PT/AMETZ/CMETZ/Q-C/019/0001
Monografias
ALMEIDA, Jayme Duarte de - Enciclopédia Tauromáquica ilustrada. - Lisboa: Editorial Estampa, 1962.
ALMEIDA, Jayme Duarte de - HISTÓRIA DA TAUROMAQUIA. Técnica e Evolução Artística do Toureio. - Lisboa Artis Lda, 1951-1953. - 2 vol.
Publicações em série
JORNAL D' ESTREMOZ, O - Semanário Político, Imparcial, Literário e Noticioso / Fund. José Maria da Silva. – Estremoz : Tipografia de José Maria da Silva, 1887-1922. – Publicação semanal referente aos n.ºs 642, 22 de Julho 1899; 676, 17 de Março 1900; 855, 15 de Agosto 1903; 871, 27 de Fevereiro; 872, 5 de Março; 877, 9 de Abril; 882, 14 de Maio; 883, 21 de Maio; 886, 11 de Junho; 891, 16 de Julho; 892, 23 de Julho; 893, 30 de Julho; 895, 13 de Agosto; 896, 20 de Agosto; 897, 27 de Agosto; 898, 3 de Setembro; 899, 10 de Setembro e 900, 17 de Setembro de 1904.
Agradecimentos O autor agradece ao Arquivo Distrital de Évora, pela mão da assistente técnica de arquivo, Srª Célia Malarranha, ao Arquivo Municipal de Estremoz na pessoa da directora Drª Paula Gonçalves e à Biblioteca Municipal de Estremoz cuja directora é a Drª Maria Helena Mourinha.
A João Malta pelos acutilantes detalhes, sempre bem-vindos.
Finalmente, a João Ruas, por tudo.
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