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sexta-feira, 14 de março de 2025

Exposição "Memórias do Alentejo" de José Manuel Espiga Pinto na Galeria Howard's Folly

 



Transcrito com a devida vénia de
do jornal E, nº 352,
de 14 de Março de 2025

A Galeria Howard’s Folly, em Estremoz, e o Legado de Espiga Pinto vão apresentar, no espaço daquela galeria, a exposição “Memórias do Alentejo”, por ocasião da celebração do 85º aniversário do artista plástico José Manuel Espiga Pinto (1940-2014).

A mostra, que inclui pintura, desenho e escultura, vai estar patente ao público entre 16 de março e 27 de abril e conta com o apoio institucional da BIALE, Bienal Internacional do Alentejo 2025.

As peças expostas, criadas na década de 60, aquando do regresso de Espiga ao Alentejo, refletem a excelência do seu período neorrealista e a infância do artista em Vila Viçosa.

A mostra integra peças em diversos suportes, desde a pintura, trabalhos sobre papel, desenho em tinta-da-china sobre cortiça escultura em bronze. A imagem representa a vida típica do Alentejo histórico, com composições que incluem o cavalo, o touro, a roda, a carroça, a apanha da azeitona, os agricultores, a camponesa e as festas locais.

“Roda”, de 1965, é a obra que sobressai pelo seu valor icónico, com tons laranja evocando a luz do amanhecer sobre a carroça no labor matinal nos campos e representando o símbolo de continuidade da vida. As peças escolhidas, nos vários suportes, continuam a complementar e a ecoar a roda ao longo da exposição.

A roda é um dos principais elementos recorrentes da iconografia de Espiga Pinto, presente em todas as suas fases subsequentes. A exposição centra-se nestes primeiros trabalhos da década de 1960, a “Série do Alentejo”, proporcionando uma narrativa de caráter histórico inspirada no profundo afeto do artista pela sua cultura.

Nascido em Vila Viçosa, em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, Espiga Pinto estudou escultura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, tendo sido distinguido com importantes prémios e distinções ao longo da vida pela sua contribuição multidisciplinar para as artes.

Foi membro da Academia Nacional de Belas Artes. As memórias e a ligação à vida rural no Alentejo influenciariam toda a sua obra. Espiga afirmou que foi na sua chegada a Estremoz, tinha então cerca de 20 anos, que assumiu como “sentido cósmico” para a sua vida “cantar o Alentejo”, explorando as principais formas figurativas e temas recorrentes, que mais tarde se tornariam a base para o simbolismo cósmico, patentes ao longo de uma extensa carreira de mais de 60 anos.

A arte de Espiga está amplamente estabelecida dentro e fora de Portugal, contando mais de 80 exposições individuais, com uma multiplicidade de obras em locais públicos e trabalhos presentes em prestigiadas coleções. Obras de Espiga foram recentemente incluídas em importantes exposições coletivas: Jaime Isidoro e Vila Nova de Gaia; 50 anos após os 1ºs Encontros Internacionais de Arte (2024), NEO-REALISMO – Memórias Guardadas do Acervo de Hernâni Matos (2024), Uma Terna (e Política) Contemplação do que Vive, obras da coleção Norlinda e José Lima (2023), 60º Aniversário da Cooperativa Árvore (2023) e Contra a Abstração, Obras da Coleção da Caixa Geral de Depósitos (2019).

Em 2020, Penelope Curtis, então Diretora na Fundação Calouste Gulbenkian, selecionou mais de 50 importantes obras, ampliando o já significativo conjunto de obras de Espiga na coleção do CAM – Centro De Arte Moderna Gulbenkian, incluindo peças associadas à temática da presente exposição.

O legado de Espiga Pinto preserva a obra e o acervo biográfico deste extraordinário artista, estando em curso uma extensa investigação com vista à elaboração de um catálogo raisonné. Esta exposição tem a curadoria de Amie Conway e Alex Cousens, profissionais independentes com um longo trajeto nas artes, baseados em Londres, Reino Unido, trabalhando diretamente com os dois herdeiros, Aurora e Leonardo Espiga Pinto, filha e filho, respetivamente. As obras são provenientes da coleção que o próprio artista cuidadosamente construiu, com agradecimentos pelo empréstimo de outras obras por parte de importantes coleções particulares.

Além do apoio institucional da BIALE 2025, esta exposição tem ainda o apoio da The Sovereign Art Foundation, do Grupo de Hotéis Marmóris, da Galeria Alvarez, da Galeria Aqui d’El Arte – CECHAP, da T.ARTe Collage.pt.

“A galeria do The Folly recebe normalmente artistas contemporâneos locais, mas estamos muito satisfeitos por, desta vez, recebermos um verdadeiro ícone da cena artística local que, infelizmente, já não está entre nós. Ter um artista desta estatura a expor na nossa galeria durante a BIALE do Alentejo é, na nossa opinião, muito propício” refere Howard Bilton, proprietário da Howard’s Folly e presidente da The Sovereign Art Foundation.

Aurora e  Leonardo Espiga Pinto, filhos do artista asseguram que “o regresso de Espiga Pinto ao seu Alentejo, e a Estremoz, tem um enorme significado. Esta é a primeira exposição de desenho, pintura e escultura de Espiga Pinto desde o seu falecimento. Além disso, a sua célebre “Série do Alentejo” (década de 1960) não era mostrada ao público há 15 anos. E, finalmente, a exposição tem lugar em Estremoz, lugar onde o nosso pai viveu e criou estas mesmas peças, na sua casa-atelier”.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

D. Carlos I, Fotógrafo Amador‏

Fotografia obtida pelo Monarca. Fundação da Casa de Bragança – Palácio Ducal de Vila Viçosa.

1. EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA "D. CARLOS I, FOTÓGRAFO AMADOR"

Numa iniciativa do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança esteve patente ao público na Sala de Exposições Temporárias do Castelo de Vila Viçosa, entre 20 de Junho e 20 de Setembro de 2010, uma exposição de fotografia, designada “D. Carlos I, Fotógrafo amador”. As fotos pertenciam ao Arquivo Fotográfico do Paço Ducal de Vila Viçosa, constituído por:
- um núcleo de cerca de cinquenta álbuns de família (cerca de 2000 fotos), muitos deles organizados pelo próprio Rei a bordo do Yacht Amélia;
- um conjunto de maços com cerca de 1000 fotografias idênticas de D. Carlos I, destinadas a serem oferecidas;
- álbuns e os maços de fotografias (cerca de 7000), das visitas reais, das fotografias oficiais e das cerimónias protocolares oferecidas pelos melhores fotógrafos da época.
Deste vasto conjunto apenas estiveram em exposição, reproduções de sessenta espécies, principalmente da autoria de D. Carlos I, distribuídas por quatro temas:
- As mais antigas (1887), as experiências (1888) e as ofertas;
- As fotografias para apoio à pintura e que serviriam de modelo ao quadro que surgiria mais tarde;
- As reportagens com títulos que ilustram o tema abordado;
- Uma família de fotógrafos.
A mostra visava divulgar um arquivo que é desconhecido da maioria dos investigadores e simultaneamente dar uma nova perspectiva da vida e dos interesses da Família Real, nos últimos anos da Monarquia.
O respeito que me merece a memória daquele a quem Ramalho Ortigão apelidou de “O martyrisado”, levou-me a que, pensando nos meus leitores, fizesse aqui o traçado fiel do perfil biográfico do Monarca.

2. SINOPSE DUM REINADO

D. Carlos I, mais tarde cognominado “O Diplomata”, nasceu no Palácio da Ajuda, a 28 de Setembro de 1863, sendo baptizado ria igreja de S. Domingos em 19 de Outubro do mesmo ano, recebendo o nome de Carlos Fernando Luís Maria Vítor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon Saxe-Coburgo-Gotha. É filho primogénito de El-Rei D. Luís I e da rainha senhora D. Maria Pia de Sabóia; neto paterno de D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha e da rainha D. Maria II; neto materno do rei de Itália Vítor Manuel.
Casou em Lisboa, na Igreja de S. Domingos, a 22 de Maio de 1886 com a princesa Maria Amélia Luísa Helena de Orléans (28-9-1865, 25-10-1951), neta de Luís Filipe, rei de França e filha de Luís Filipe Alberto, conde de Paris e duque de Orléans, e de sua esposa, Maria Isabel Francisca de Assis, infanta de Espanha.
Do casamento nasceram:
1. D. Luís Filipe (21-3-1887, 1-2-1908), vítima como o pai do regicídio;
2. D. Maria Ana (14-12-1887, 14-12-1887), falecida à nascença;
3. D. Manuel II (15-11-1889, 2-7-1932), que sucedeu no trono a D. Carlos I e viria a ser o último rei de Portugal, tendo recebido os cognomes de “O Patriota” e “O Bibliógrafo”.
O reinado de D. Carlos I, iniciado em 19 de Outubro de 1889, por morte de D. Luís I, decorreu num ambiente efervescente, marcado por uma série de graves acontecimentos:
 O “Ultimatum” inglês, apresentado ao governo português, em 11 de Janeiro de 1890, motivado pelo traçado do chamado “mapa cor-de-rosa”, acerca de limites territoriais em Africa;
 A tentativa gorada de Revolução Republicana de 31 de Janeiro de 1891, associada à revolta militar do Porto, na sequência da enorme agitação causada pelo “Ultimatum” inglês;
- O recrescimento das lutas políticas entre republicanos e monárquicos;
- A Ditadura de João Franco (2-5-1907 a 4-2-1908).
- A eclosão de revoltas por todo o Ultramar;
- Nova tentativa gorada de Revolução Republicana, em 21 de Janeiro de 1908;
- E, finalmente, a 1 de Fevereiro de 1908, quando a Família Real regressava de Vila Viçosa com destino a Lisboa, D. Carlos I, sofre um atentado republicano em pleno Terreiro do Paço, sendo vitimado, bem como o filho mais velho, o Príncipe herdeiro D. Luís Filipe. O segundo filho, D. Manuel II, é aclamado Rei de Portugal pelas Cortes, a 6 de Maio de 1908. Dois anos mais tarde é implantada a República (5-10-1910) e a Família Real embarca na Ericeira (6-11-1910), no iate real "Amélia IV”, para o exílio em Inglaterra.
D. Carlos I foi educado para ser rei, revelando desde muito jovem cedo uma forte aptidão para as artes, para o desporto e para a observação da natureza, dedicando-se com notável êxito a um conjunto variado de actividades de que sobressaem, a Arte, a Oceanografia, a Ornitologia e o Desporto (caça, pesca e equitação).

3. O ARTISTA

Como pintor, D. Carlos I foi discípulo do pintor aragonês Mestre Henrique Casanova (1850-1913) e apesar de ter experimentado várias técnicas, especializou-se sobretudo na aguarela e no pastel, sendo as temáticas predominantes, o mar, a paisagem alentejana e a fauna. Do seu trabalho como artista merece referência a opinião do escritor Ramalho Ortigão (1836-1915) (8): “Idealmente refugiado no culto da pintura, em que foi eximio, attingiu uma das mais altas eminências a que póde ascender o espírito. Foi consagrado “artista”". De D. Carlos I – artista, disse o naturalista e seu assistente nas Campanhas Oceanográficas Albert Girard (4): “Como Artista estou a vêr os Seus pasteis, as Suas aguarellas, os Seus desenhos à penna, as Suas gravuras, as reproducções d'essas obras que tantas revistas nacionaes e estrangeiras illustraram; a facilidade da Sua maneira, a profusão do Seu pincel, por tal forma espalhado que difficil seria, senão impossível, reunir todas as Suas obras; os Seus triumphos nas exposições do Grémio Artístico, na ultima Exposição universal de Paris, na Sociedade Nacional de Bellas Artes, na Exposição universal de S. Luiz, na de Bellas Artes de Barcelona; e ainda, ha bem pouco, Société Artistique dés Amateurs.
É que Elle tinha a expontaneidade do artista de raça, que n'um traço a lápis affirma a sua individualidade.”

“O Sobreiro”, pastel sobre cartão, executado pelo Rei
em 1905. Fundação da Casa de Bragança – Palácio
Ducal  de Vila Viçosa.

Sobre a obra artística de D. Carlos I diz também o seu biógrafo, o escritor e jornalista Rocha Martins (7): “Fialho de Almeida, republicano, no tempo em que criticou D. Carlos como governante, irreverrente ao referir-se às obras dos pintores, depois chegados à supremacia, não poude deixar d’analisar, com respeito e louvor, certo trabalho do chefe de estado monárquico que conquistara na arte uma realeza”.

4. O OCEANÓGRAFO

Aos estudos oceanográficos dedicou D. Carlos I, a sua mais profunda atenção. Assim, em 1 de Setembro de 1896, nasceu a Oceanografia portuguesa, quando D. Carlos iniciou, a bordo do seu primeiro iate “Amélia”, uma série de 12 Campanhas Oceanográficas ao longo da costa atlântica de Portugal que se prolongariam até 1906, com o objectivo principal de inventariar e estudar a fauna marinha da costa portuguesa, acção que para além do inegável interesse científico se revelava de bastante interesse prático, por permitir maximizar o rendimento da indústria e do comércio da pesca, dada a enorme importância económica da indústria piscatória em Portugal. O monarca efectuou ainda o estudo das correntes e o reconhecimento da topografia dos fundos oceânicos.
Os resultados dessas investigações receberam amplos elogios de cientistas estrangeiros e estão compilados em quatro seguintes livros publicados. Em 1897: Yacht «Amelia» – Campanha oceanographica de 1896. Em 1899: ¬Pescas maritimas – I – A pesca do atum no Algarve em 1898. Em 1902: Rapport préliminaire sur les Campagnes de 1896 à 1900 – Fascicule I – Introduction – Campagne de 1896. Em 1904: Ichthyologia – II – ¬Esqualos obtidos nas costas de Portugal durante as campanhas de 1896 a 1903.
A divulgação científica das Campanhas Oceanográficas oceanográficas de D. Carlos foi ainda efectuada através da participação em exposições públicas nacionais e internacionais, onde figuravam espécimes recolhidos, redes e instrumentos utilizados, bem como desenhos.
O mérito da sua obra científica de D. Carlos I foi internacionalmente reconhecido, como o atesta a profusão de diplomas que lhe foram outorgados pelas mais prestigiadas instituições científicas de antanho.
Para o Professor Luís Saldanha (1937-1997) (6), um dos mais conhecidos biólogos marinhos portugueses “A actividade oceanográfica do Rei D. Carlos de Bragança abriu as portas a uma disciplina completamente nova em Portugal” , pelo que muito justamente considera “D. Carlos de Bragança, pai da oceanografia portuguesa”. Para Maria Manuela da Câmara Falcão (3) “Assim, Carlos I de Portugal e Alberto I de Mónaco fundaram a Oceanografia e com ela abriram à Humanidade a última fronteira do Planeta, os Oceanos”.

        D. Carlos de Bragança, a bordo iate Amélia II. Aquário Vasco da Gama, Lisboa.

5. O NATURALISTA

De acordo com o naturalista e colaborador Alberto Girard (4), D. Carlos I ”…tinha a memoria da vista: forma, cor, tom, tudo apprehendia rapidamente e para sempre fixava com a Sua inexcedível memória…”, De acordo com o biólogo, Professor Mário Ruivo (11) “Temos aqui dois elementos de base, para suportar, potencialmente, a personalidade de um Naturalista, sobretudo no campo da Sistemática”. É assim que D. Carlos I, publica em 1903 um primeiro fascículo do “Catálogo illustrado das aves de Portugal”, a que se segue em 1907 um segundo fascículo, onde ainda segundo Mário Ruivo (11) “…são referidas algumas dezenas de espécies portuguesas, com a referida nomenclatura científica e sinonímia mais importante, e os respectivos nomes vulgares em português, francês, espanhol, inglês e, italiano, sendo acompanhadas de breves indicações sobre a suas distribuição geográfica, arribações, e nalguns casos, comportamento”, o que representa uma contribuição fundamental para o inventário da nossa fauna ornitológica. Contudo, a obra de D. Carlos I, como naturalista, ficaria sobretudo ligada ao inventário da fauna marinha da costa portuguesa.

Projecto de D. Carlos para a capa da sua obra “Estudos
Ornitológicos”. Aquário Vasco da Gama, Lisboa

6. UM BALANÇO

No reinado de D. Carlos I, há a destacar eventos como:
- As vitórias na campanha de África, contra o Gungunhana e namarrais;
- As celebrações do V Centenários do nascimento do Infante D. Henrique, no Porto (1894), e do IV Centenário do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, em Lisboa (1898);
- Um certo desenvolvimento das colónias;
- A ligação das ilhas dos Açores ao continente pelo cabo submarino;
- As visitas a Portugal de soberanos estrangeiros: Eduardo VII de Inglaterra (1903), Afonso XIII de Espanha (1905), Guilherme II da Alemanha (1905) e do Presidente República Francesa, Emile Loubet (1905), visitas que foram retribuídas e que correspondem a um notável trabalho diplomático.
Apesar de todos estes aspectos positivos do seu reinado e da notoriedade que alcançou a nível científico, tanto nacional como internacionalmente, D. Carlos I não conseguiu resolver os graves problemas políticos resultantes, por um lado, de uma profunda crise interna e do ambiente internacional, favorável ao desaparecimento das monarquias na Europa.
Em entrevista ao Diário francês “Le Temps” de Novembro de 1907, dizia D. Carlos: “Nunca esqueci, um instante sequer, quais são os meus deveres para com a minha coroa e para com o meu querido país”. Entendimento diferente tinham os republicanos, daí ser vítima de um atentado perpetrado em pleno Terreiro do Paço, a 1 de Fevereiro de 1908, quando regressava de Vila Viçosa. Os regicidas, os republicanos, Alfredo Costa e Manuel Buíça, mortos no próprio local do atentado, foram elevados à categoria de heróis nacionais. Diz-nos Margarida Magalhães Ramalho (10): “No dia seguinte, poucos jornais tarjaram de preto e a notícia foi dada displicentemente. Sobre D. Carlos pouco se disse. No estrangeiro, mesmo na França republicana, o atentado é condenado veementemente e em toda a imprensa estrangeira a figura do rei desaparecido é largamente enaltecida, lembrando-se o político, o artista e o homem de ciência. Por cá, são as figuras de Costa e Buiça que merecem o carinho do público, abrindo-se mesmo subscrições para os órfãos deste último”.
Para o jurista e jornalista Miguel Sousa Tavares (14) “Se a Maçonaria matou El-Rei D. Carlos, cada português, todos os portugueses, mataram El-Rei segunda vez, na escura cobardia colectiva, na estranha aceitação do crime e das suas consequências políticas”.
Em entrevista publicada pelo jornal “Correio da Manhã”, no dia dia 27 de Janeiro de 2008, o então Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano - Maçonaria Portuguesa (GOL), António Reis, esclareceu que “Por doutrina, a Maçonaria não é contra a monarquia, mas contra as monarquias absolutas e contra as ditaduras, por violarem um dos grandes princípios da Maçonaria que é a Liberdade”. Porém e de acordo com ele “A Maçonaria combateu a monarquia concreta de D. Carlos que com o governo de João Franco, de 1906 a 1908, teve uma deriva ditatorial, cuja responsabilidade pertence ao próprio rei. Foram estas circunstâncias que levaram a Maçonaria a preparar o derrube da monarquia”. Apesar de tudo e segundo o Grão-Mestre do GOL, “A Maçonaria “não interveio, nem directa, nem indirectamente” no regicídio de 1908, com o qual não concordou”.

7. A FOTOGRAFIA E A CARTOFILIA

D. Carlos I foi um amante da fotografia, arte a viver os seus primeiros tempos de pioneirismo e que também cultivou, registando para a posteridade, reportagens das múltiplas actividades em que se viu envolvido (campanhas oceanográficas, caçadas, regatas, comboios, etc).
É no reinado de D. Carlos que são introduzidos em Portugal os bilhetes-postais ilustrados.
O primeiro bilhete-postal ilustrado português foi emitido pelos correios e data de 4 de Março de 1894, quando da comemoração do 5° Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique. Seguiu-se-lhe o do VIl Centenário do Nascimento de Santo António, em 1895, e os do IV Centenário da Índia, em 1898.
O primeiro bilhete-postal ilustrado português de fabrico não oficial, exigindo a colagem de um selo de franquia ordinária, foi editado em 1895 pela Companhia Nacional Editora, a propósito do Centenário de Santo António.
Desde então para cá, correios e particulares nunca mais pararam na emissão e edição de bilhetes-postais ilustrados para comemorar efemérides, homenagear personalidades, fazer propaganda oficial ou religiosa, divulgar monumentos, paisagens ou costumes regionais e evocar acontecimentos históricos.
Com o aparecimento dos bilhetes-postais surgiu o seu coleccionismo (Cartofilia) e os coleccionadores (cartófilos).
Naturalmente que D. Carlos e com ele a família real seriam tema de edições particulares de postais ilustrados, o mesmo acontecendo com as visitas de soberanos estrangeiros, atrás referidas. Alguns desses bilhetes-postais ilustrados circularam com o selo do lado da imagem e são designados por TCV’s – timbre-cotê-vues.

Bilhete-postal ilustrado, edição privada, não identificada, 
reproduzindo sua Majestade, envergando a farda de
Almirante General da Armada, cerca de 1906. Porte de
10 reis. Expedido de LISBOA para BRUXELAS no dia
16-3-1906. Colecção Hernâni Matos.

8. BIBLIOGRAFIA

1. AQUÁRIO VASCO DA GAMA. El-Rei D. Carlos. A história de um dos pioneiros mundiais no estudo da Oceanografia.
4. GIRARD, Alberto (1909). Elogio Académico de Sua Majestade El-Rei o Senhor D. Carlos I, Presidente da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa: Typographia da Academia.
5. MARQUES, Oliveira (1954). História do Selo Postal Português. Volume I – Continente. Porto: Mercado Filatélico.
7. MARTINS, Rocha (1926). D. Carlos, História do seu Reinado. Lisboa; A.B.C.
8. ORTIGÃO, Ramalho (1908). REI D. CARLOS – O Martyrisado. Lisboa: Typographia “A Editora”.
9. RAMALHO, Margarida Magalhães (2003). Cadernos de Desenho – D. Carlos de Bragança. Lisboa: Edições INAPA.
10. RAMALHO, Margarida Magalhães (2001). FOTOBIOGRAFIAS SÉCULO XX – REI D. CARLOS. Lisboa: Círculo de Leitores.
11. RUIVO, Mário (1958). D. Carlos de Bragança – Naturalista e Oceanógrafo. Lisboa: Fundação da Casa de Bragança.
12. SERRÃO, J. Veríssimo (1986). História de Portugal, Volume X. Lisboa: Verbo.
13. SERRÃO, Joel (1976). Pequeno Dicionário de História de Portugal. Lisboa: Iniciativas Editoriais.
14. TAVARES, Francisco Sousa Tavares (1960). Combate Desigual. Lisboa: Edição de Autor.

Publicado inicialmente em 26 de Junho de 2010

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Rua do Outeiro, berço de barristas

 

Rua do Outeiro (1944). Roberto Augusto Carmelo Alcaide (1903-1979).


Como é sabido, sou assíduo frequentador do Mercado das Velharias em Estremoz. Ali tenho comprado coisas invulgares, umas pré-existentes na minha mente, outras descobertas por mero acaso. Foi o que aconteceu há cerca de 20 anos com uma pintura que me aqueceu a alma como investigador da barristica popular estremocense. Daí que a tenha utilizado como imagem de abertura do meu livro “Bonecos de Estremoz”, publicado em 2018 pelas edições Afrontamento. Trata-se da Rua do Outeiro (1944), um gouache sobre cartão (27 cm x 19 cm), da autoria de Roberto Augusto Carmelo Alcaide (1903-1979), autodidacta, caricaturista, maquetista, cenógrafo e dramaturgo. Casado com a poetisa Maria Palmira Osório de Castro Sande Meneses e Vasconcellos (1910-1992), que sob o pseudónimo Maria de Santa Isabel, publicou obra poética, a qual inclui: Flor de Esteva (1948), Solidão Maior (1957), Terra Ardente (1961), Fronteira de Bruma (1997), Poesia Inédita (A editar).
Nascido em 1946, tive o privilégio de conhecer em vida, não só a poetisa como o seu esposo, pertencente como eu a ramos distintos da Família Carmelo, ele da 9.º geração e eu da 10.ª.
Da rua do Outeiro, rua de oleiros e bonequeiras, nos fala a “Marcha do Outeiro”, vencedora do concurso de Marchas Populares de Estremoz, em 1948: “O outeiro iluminado / de rubras malvas bordado, / tanta graça Deus lhe pôs!) / que foi berço das primeiras / fantasias das oleiras / nos bonecos de Estremoz!”. A letra da marcha era da autoria de Luís Rui, pseudónimo literário de Joaquim Vermelho (1927-2002), que se tornaria um destacado estudioso da barrística popular estremocense.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 12 de Setembro de 2022

Roberto Augusto Carmelo Alcaide (1903-1979).

terça-feira, 16 de julho de 2024

Ceifeira adormecida - Litografia de Manuel Ribeiro de Pavia


Ceifeira adormecida (1955). Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).
 Litografia sobre papel - prova nº 7. 26 x 36 cm (mancha).
Colecção Hernãni Matos

Ceifeira adormecida (1955). Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).
Litografia sobre papel 19/50. 26 x 36 cm (mancha).
Colecção Hernãni Matos.

No Alentejo de outros tempos, a colheita do trigo recorria à ceifa manual, actividade sazonal dificultada pelo rigor do clima. Ceifeiros e ceifeiras sentiam-no bem no corpo. O trabalho penoso e mal pago, realizava-se de “sol a sol”, interrompido apenas por refeições rápidas e frugais. A “bucha” ao pegar no trabalho, o “almoço” pelas 10 horas da manhã, o “jantar” sensivelmente pelas 2 da tarde, a que se seguia a “sesta” de duas horas para um retemperar de forças. A sesta ocorria à sombra de uma azinheira ou de molhos de trigo e durava até serem acordados pelo manajeiro. A faina prolongava-se até às 8 da noite, altura em que tinha lugar a “ceia”, a última refeição do dia, finda a qual trabalhavam até haver luz e o manajeiro dar a ordem de “solta”. Depois era o descanso nocturno, até ao nascer do sol do dia seguinte.

A sesta dos ceifeiros é um tema recorrente na arte portuguesa. Manuel Ribeiro de Pavia na litografia “Ceifeira adormecida” (Fig. 2 e Fig. 3) patenteia uma ceifeira a descansar, encostada a uma árvore e protegida pela sua sombra. Observe-se que a litografia é anterior à criação da GRAVURA - Sociedade Portuguesa de Gravadores (1956). A prova nº 7 da litografia “Ceifeira adormecida” (Fig. 1) é uma prova de cor com um cromatismo mais vivo que o trabalho final (Fig. 2), o qual teve uma tiragem de 50 exemplares cujo cromatismo é mais sóbrio.

José Malhoa (Fig. 3) no óleo sobre tela “A sesta dos ceifeiros” (1895), mostra um grupo de ceifeiros a descansar à sombra de uma árvore, a qual não aparece representada.

Dordio Gomes (Fig. 4) no óleo sobre tela “A sesta dos ceifeiros” (1918), representa ceifeiros a descansar, protegidos por molhos de trigo. 

 Hernâni Matos

Fig. 3 - A sesta dos ceifeiros (1885). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre tela (95 x 132 cm).
Museu de Arte Contemporânea Armando Martins, Lisboa.

Fig. 4 - A sesta dos ceifeiros – Alentejo (1918). Dórdio Gomes (1890-1976).
Óleo sobre tela (74 x 59 cm). Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Visita guiada à exposição “NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS”



Créditos fotográficos:
Jorge Mourinha - Município de Estremoz

No próximo dia 13 de Julho (sábado), terá lugar pelas 16 horas, uma visita guiada à exposição de artes plásticas NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS, patente ao público na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho.

A visita será conduzida por mim próprio na qualidade de expositor. Nela começarei por dar uma visão do que foi o movimento neo-realista português, o modo como surgiu e porque surgiu, os seus marcos mais importantes, as lutas em que se envolveu antes do 25 de Abril, bem como as suas naturais implicações.

Seguidamente, orientarei uma visita guiada à exposição, procurando facilitar a leitura e interpretação das obras dos artistas plásticos patentes ao público: Júlio Pomar, António Cunhal, Lima de Freitas, Júlio Resende, Manuel Ribeiro de Pavia, Cipriano Dourado, Rogério Ribeiro, Alice Jorge, Jorge de Almeida Monteiro, Espiga Pinto, Querubim Lapa e Aníbal Falcato Alves.

No seu conjunto, as obras expostas são em número de 40 e distribuem-se por diferentes tipologias: desenho a grafite, desenho a tinta-da-China, guache, aguarela, técnica mista, serigrafia, linoleogravura, xilogravura, litografia, água forte e água tinta e colagem.

A exposição integra o programa das Comemorações "50 ANOS EM LIBERDADE: COMEMORAÇÕES DO 50° ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE ABRIL DE 1974”, promovidas pelo Município de Estremoz.

A mostra estará patente ao público até ao próximo dia 15 de Setembro.

A participação na visita guiada não carece de marcação e é inteiramente gratuita.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Ora agora falo eu!

 

O discurso de Hernâni Matos. Fotografia de Luís Mariano Guimarães.


Palavras proferidas no acto inaugural da exposição
NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS
que no passado dia 15 de Junho teve lugar na
Sala de Exposições Temporárias do
Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho

 

 Vejamos o que aqui nos traz aqui

Em boa hora o Município de Estremoz teve a iniciativa de promover um conjunto de iniciativas, de índole diversificada e plural, sob a epígrafe "50 ANOS EM LIBERDADE: COMEMORAÇÕES DO 50° ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE ABRIL DE 1974”.
Nestas comemorações se insere a presente exposição de artes plásticas, designada por NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS.
Este certame tem 3 objectivos precisos e claros: - Comemorar os 50 anos do 25 de Abril; - Realçar o papel da arte neo-realista como arte de resistência; - Divulgar trabalhos de artistas plásticos neo-realistas.

Falemos de Abril
Foi em 25 de Abril de 1974, graças à acção militar coordenada do Movimento das Forças Armadas – MFA, que foi conseguido o derrube da ditadura mais velha da Europa – o regime totalitário e fascista de Salazar e de Caetano.
No desenrolar dos acontecimentos teve papel determinante um esquadrão do RC3 comandado pelo então capitão Andrade Moura, o qual cumprida a missão que o levara a Lisboa, à chegada a Estremoz foi alvo de grandiosa recepção popular, sendo aclamado pela multidão entusiasmada e recebendo honras militares.
Estremoz, através do seu prestigiado RC3, participara na libertação, o que muito nos congratula.
No seu poema “As portas que Abril abriu!”, o saudoso poeta José Carlos Ary dos Santos, diz-nos quem fez o de Abril de 1974:

“Quem o fez era soldado
homem novo Capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.”

E mais adiante:

“Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.”

Com o 25 de Abril de 1974 houve uma mudança de paradigma. Como preito de homenagem a Luís Vaz de Camões, cujo 5º Centenário de Nascimento está a decorrer, mas pensando sempre no 25 de Abril de 1974, não resisto a parafrasear um excerto de um dos seus mais famosos sonetos:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”

Antecedentes do 25 de Abril
O 25 de Abril foi antecedido de muitas lutas contra o regime, por parte de múltiplos sectores da sociedade portuguesa: operários, camponeses, trabalhadores de serviços e intelectuais.
É nesse contexto de luta que surge informalmente uma frente cultural de escritores e artistas plásticos, descontentes com a política cultural do Estado Novo, frente essa que viria a ser designada por “Movimento neo-realista português”.
Tratou-se dum movimento filosófico, literário e artístico, o qual se manifestaria pela primeira vez em meados dos anos 30 através de polémicas literárias surgidas nos jornais “O Diabo” e “Sol Nascente”, bem como na revista “Vértice”, que defendiam uma arte virada para os verdadeiros problemas da sociedade, entrando em ruptura com o que era preconizado pela revista “Presença”, a qual defendia uma literatura expurgada de ideologia e não comprometida socialmente e que ao contrário do neo-realismo dava mais importância à “forma” que ao “conteúdo”.
O Movimento neo-realista português estender-se-ia já nos anos 40 às artes plásticas.
Os neo-realistas assumem-se então como representantes e porta-vozes dos anseios das classes trabalhadoras, propondo-se retratar a realidade social e económica do país, ao mesmo tempo que se empenham na transformação das condições sociais do mesmo. Para tal, focam-se no homem e na mulher comuns, procurando saber como vivem e trabalham operários e camponeses. Para além disso, abordam e aprofundam temas como as desigualdades sociais e a exploração do homem pelo homem. Escrutinam as injustiças e analisam o modelo social vigente. Pugnam pela elevação moral dos oprimidos e depositam esperança no futuro do Homem.
É claro que a defesa de todos estes valores se processa nas condições mais duras de repressão, que incluem no mínimo a censura (caso dos frescos de Júlio Pomar no Cinema Batalha no Porto em 1948, os quais foram mandados destruir), a apreensão de obras de arte (como aconteceu, entre outros, com Júlio Pomar, Lima de Freitas e Manuel Ribeiro de Pavia na Exposição Geral de Artes Plásticas de 1947, em Lisboa), a censura prévia de exposições (como aconteceu nas Exposições Gerais de Artes Plásticas entre 1948 e 1956), a proibição da realização de exposições (como aconteceu em 1952 em que não se realizou a Exposição Geral de Artes Plásticas, porque a Sociedade Nacional de Belas Artes esteve encerrada pela PIDE), a interdição do desempenho de cargos públicos (caso de Júlio Pomar e Alice Jorge) e no limite, a prisão (como aconteceu com os pintores Rogério Ribeiro, Júlio Pomar e Lima de Freitas) e mesmo o assassinato a tiro na via pública (como aconteceu com o escultor José Dias Coelho).

Memórias guardadas
Os trabalhos neo-realistas aqui expostos são registos da realidade de uma época nos seus múltiplos aspectos: social, económico e político. São pois, memórias do passado.
Por outro lado, ao reunir um acervo pessoal dessas obras, tornei-me, eu próprio, um guardador de memórias.
Estas memórias guardadas, conjuntamente com muitas outras memórias integram a chamada “memória colectiva”, a qual nos ajuda a construir e manter a nossa identidade cultural e histórica, preservando tradições, valores e experiências comuns.
É a memória colectiva que nos permite aprender com os erros e sucessos do passado, o que é essencial para o desenvolvimento e a evolução da sociedade.
A memória colectiva desempenha um papel crucial no exercício da cidadania e da democracia, pois é através da memória colectiva que as lutas e conquistas dos nossos antepassados são lembradas e honradas, incentivando a luta por um futuro melhor e mais justo.

A terminar
Dou-vos conta da minha disponibilidade para vos conduzir numa visita guiada à exposição.
Mas antes disso gostaria de expressar publicamente alguns agradecimentos:
Em primeiro lugar, ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, José Daniel Pena Sadio, que teve a gentileza de redigir um texto de abertura para o catálogo, que muito o valoriza e me honra, já que no mesmo é reconhecido o valor e o interesse de parte do meu acervo estar patente ao público, o que o levou a conceder o seu aval à presente exposição.
Em segundo lugar, ao estimado filósofo e meu prezado amigo António Júlio Rebelo, que igualmente teve a gentileza de redigir o texto “O imaginário desceu à terra”, um monumento de pensamento cuja inserção no catálogo muito me orgulha.
Em terceiro lugar, quero agradecer a curadoria da exposição, de Isabel Borda d’Água, Directora do Museu Municipal de Estremoz, que se mostrou inexcedível na preparação da exposição e na divulgação da mesma.
Por último, quero agradecer à equipa de montagem do Museu, liderada pelo Senhor Manuel Broa, a dedicação e a competência técnica reveladas na concretização do “visual da exposição”.
A todos, o meu muito obrigado. Bem hajam!
Para todos eles, peço uma calorosa salva de palmas.

Hernâni Matos

Uma aspecto inicial da assistência. Fotografia de Luís Mariano Guimarães.

domingo, 16 de junho de 2024

NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS

 



Créditos fotográficos:
Jorge Mourinha - Município de Estremoz


Integrada no Programa Comemorativo “50 anos em Liberdade: Comemorações do 50º Aniversário da Revolução de Abril de 1974”, decorreu ontem na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho, a inauguração da exposição de artes plásticas NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS.

No acto inaugural, participaram cerca de 4 dezenas de convidados, cuja presença e afecto foi para mim gratificante. Presidiu ao evento, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, José Daniel Pena Sadio, a quem agradeço as palavras amigas, bem como ao Chefe de Divisão, Hugo Guerreiro, o qual no mesmo sentido o antecedeu no uso da palavra.  Seguidamente, coube-me a mim igual papel, tendo agradecido as facilidades concedidas pelo Município. De resto e como não podia deixar de ser, procurei dar uma visão do que que foi o movimento neo-realista português, o modo como surgiu e porque surgiu, os seus marcos mais importantes, as lutas em que se envolveu antes do 25 de Abril, bem como as suas naturais implicações.

A terminar, orientei uma visita guiada à exposição, procurando facilitar a leitura e interpretação das obras dos artistas plásticos patentes ao público: Júlio Pomar, António Cunhal, Lima de Freitas, Júlio Resende, Manuel Ribeiro de Pavia, Cipriano Dourado, Rogério Ribeiro, Alice Jorge, Jorge de Almeida Monteiro, Espiga Pinto, Querubim Lapa e Aníbal Falcato Alves. No seu conjunto, as obras expostas são em número de 40 e distribuem-se por diferentes tipologias: desenho a grafite, desenho a tinta-da-China, guache, aguarela, técnica mista, serigrafia, linoleogravura, xilogravura, litografia, água forte e água tinta e colagem. A mostra estará patente ao público até ao próximo dia 15 de Setembro.

Hernâni Matos