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quinta-feira, 7 de agosto de 2025

O avental da mulher portuguesa


MINHO
Minhotas. Ilustração de Alfredo Morais (1872-1971).
Almanaque DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 1954.

O avental é uma peça de vestuário muito importante que integra o traje popular da mulher portuguesa.
O avental de trabalho teve sempre por função proteger a roupa que cobria. Era usado desde o norte até ao sul do continente, do litoral até ao interior mais recôndito, à beira-mar, na borda de água, nas campinas, nas planícies, nas serranias e planaltos, bem como nas ilhas. Camponesas, pastoras, varinas, vindimadoras, mondadeiras, ceifeiras, todas elas usavam avental, com corte e padrões variáveis, normalmente de linho, de lã, de riscado ou de chita garrida, que acentuava a graciosidade da sua portadora.
Existia também o avental de festas e romarias, ricamente decorado, sobretudo no Minho que reforçava em quem o envergava a sua condição de mulher. Umas vezes guarnecido de rendas e fitas, outras vezes bordado a lã, a espiguilha ou a passamanaria.
As mulheres do povo, tanto no campo como na cidade, usavam também avental de lides domésticas no decurso da confecção de alimentos ou na limpeza da casa. No campo tanto era usado pela mulher do grande proprietário rural, como pelas serviçais, o mesmo se passando na cidade em casas abastadas, que por vezes tinham várias criadas. Os aventais que estas usavam, salientavam sempre a sua condição de serviçal, com folhos e rendas que eram usados sobretudo por quem ia atender pessoas à porta da rua. Deste modo, o avental usado pelas mulheres duma casa, tinha uma relação directa com a sua hierarquia naquela casa e na escala social.
Quando se gastavam devido ao uso, os aventais eram remendados ou reparados com um pedaço de tecido, nem sempre igual, porque muitas vezes não o havia. Em fim de vida, o avental podia ainda ser utilizado como rodilha ou retalhado para com os seus pedaços se confeccionarem taleigos para transportar os avios de casa.

Publicado inicialmente em 17 de Janeiro de 2012

TRÁS-OS-MONTES
Costumes de Trás-os-Montes.
 Bilhete-postal ilustrado reproduzindo aguarela de Alfredo Moraes /1872-1971).
Colecção “Províncias de Portugal”. Edição António Vieira, Lda., Lisboa, s.d.

DOURO
Figurino "Chula do Douro" do bailado " Passatempo"
pela Cª Portuguesa de Bailados Verde-Gaio.
Teatro Nacional D. Maria II (1941). Thomaz de Mello (1906-1990).
Aguarela s/ cartão (33x25,2 cm). Museu Nacional do Teatro, Lisboa.

 BEIRA LITORAL
Póvoa do Valado (1938). Alberto de Souza (1880-1961).
 Aguarela sobre papel (26x37cm). Museu de Aveiro.


BEIRA ALTA
Madona da Serra - Beira Alta (1939). Augusto Tavares (1908-1984).
 Óleo s/ madeira (97,5 x 99,5 cm). Museu do Chiado - MNAC, Lisboa.

BEIRA BAIXA
Mulher da Beira Baixa. Aguarela de Laura Costa.
 Bilhete-postal ilustrado, editado por OLIVA –
Máquinas de Costura de Portugal. 

ESTREMADURA
Alzira (1940). Alberto de Souza (1880-1961).
Aguarela sobre cartão (52x37 cm).
Museu de José Malhoa, Caldas da Rainha. 
 
RIBATEJO
Mulher do Ribatejo. Aguarela de Laura Costa.
Bilhete-postal ilustrado, editado por OLIVA –
Máquinas de Costura de Portugal.  

 ALENTEJO
Ceifeira (1937).
Bilhete-postal ilustrado nº 33 dos CTT,
da "Série B" - Costumes Portugueses.
Reprodução de aguarela de Alberto de Souza (1880-1961).


ALGARVE
Camponesa (1937).
Bilhete-postal ilustrado nº 36 dos CTT,
 da "Série B" - Costumes Portugueses.
 Reprodução de aguarela de Alberto de Souza (1880-1961).

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Agosto na Pintura Universal


Agosto (1412-16). 
Paul, Jean et Herman de Limbourg (1370/80 – 1416).
Livro de Horas do Duque de Berry. 
Musée Condé, Chantilly.

“Agosto” é o tema central de obras executadas por grandes mestres da pintura universal, dos quais destacamos, associados por épocas/correntes da pintura, os seguintes:
- RENASCENÇA: Paul, Jean et Herman de Limbourg (1370/80 – 1416), holandeses; Cosmè Tura (1430-1495), italiano; Jean Poyer (activo pelo menos de 1483 até c.1503), francês; Gerard Horenbout  (c. 1465–1541), holandês; Simon Bening (1483/84-1561), flamengo; António de Holanda (1480/1500 – c. 1571), holandês; Oficina Simon Bening (c. 1483 – 1561), flamengo; Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569), flamengo;
- BARROCO: Leandro Bassano (1557-1622), italiano; Adriaan van Stalbemt (1580-1662). Flamengo;
- ESCOLA VENEZIANA: Bernardo Bellotto (1720-1780), italiano;
- ROMANTISMO: Francisco da Silva (séc. XVIII), português;
- IMPRESSIONISMO: Alfred Sisley (1839-1899), francês;
- ABSTRACCIONISMO: Gregory Amenoff (1948-  ), mericano;
Por norma, as pinturas destacam as actividades senhoriais ou agro-pecuárias características do quente mês de Agosto: ceifa, acarreto e debulha do cereal, trabalhos de eira, descanso e refeição de ceifeiros, colheita de frutos e tosquia de ovelhas. A noção de calor pode também ser transmitida através da presença de nadadores ou pelo trabalho de tanoeiros que fabricam vasilhame que vai ser usado após as vindimas do mês de Setembro que se avizinha.

Publicado inicialmente em 21 de Agosto de 2013 

Alegoria de Agosto: Triunfo de Ceres (1476-84).
Cosmè Tura (1430-1495).
Fresco (500 cm x 320 cm).
Palazzo Schifanoia, Ferrara. 
Agosto (c. 1500).
Jean Poyer (activo pelo menos de 1483 até c.1503).
Livro de Horas de Henrique VIII (c/1500).
Morgan Library, New York. 
O Mês de Agosto (c. 1510).
Gerard Horenbout  (c. 1465–1541).
Breviário Grimani (28 cm x 21,5 cm).
Biblioteca Nazionale Marciana, Venice.
 Agosto (c.1515).
Simon Bening (1483/84-1561).
Livro de Horas da Costa (c/ 1515).
Morgan Library, New York.

Agosto (1517-1551).
António de Holanda (1480/1500 – c. 1571). 
Livro de Horas de D. Manuel I. Pintura a têmpera e ouro sobre pergaminho
(10,8 cm x 14 c m). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.
Agosto (1530-1534)
Oficina Simon Bening (c. 1483 – 1561).
Livro de Horas de D. Fernando. Pintura a têmpera e ouro
sobre pergaminho (9,8 cm x 13,3 cm).
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.
 A colheita de milho – Agosto (1565).
Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569).
Óleo sobre madeira (118 cm x 161 cm).
Metropolitan Museum of Art, New York.
Agosto (1595/1600)
Leandro Bassano (1557-1622).
Óleo sobre tela (145 cm x 213 cm).
Museu de Arte Regional, Tula. 
 Alegoria do Mês de Agosto (?).
Adriaan van Stalbemt (1580-1662).
Oleo sobre madeira (76 cm x 123 cm).
Colecção privada.
Julho, Agosto (1731)
Francisco da Silva (séc. XVIII).
Óleo sobre madeira (23 cm x 33 cm).
Museu de Évora.
Dresden a partir da margem direita do rio Elba, acima da Augustusbrücke (1747).
Bernardo Bellotto (1720-1780).
Óleo sobre tela (132 cm x 236 cm).
Gemäldegalerie, Dresden.
Uma tarde de Agosto próximo de Veneux (1881).
Alfred Sisley (1839-1899).
Óleo sobre tela (54 cm x 73 cm).
Colecção privada.
Luz em Agosto (1996).
Gregory Amenoff (1948-  ).
Óleo sobre tela (233.7 cm x 304,8 cm).
Kemper Museum of Contemporary Art, Kansas City.

segunda-feira, 21 de julho de 2025

"Alentejo" de Júlio Resende

 

 Júlio Resende (1917-2011). Alentejo. Linoleogravura sobre papel.
Prova Única. 24 x 24 cm. Assinada e datada de 1950. 
Colecção Hernâni Matos.


Primeira versão de "Alentejo"
A presente prova única de linoleogravura, intitulada “Alentejo”, assinada e datada de 1950, a lápis, representa dois alentejanos de chapéu e capote, montados em cavalos e outros dois apeados, um em pé e outro dobrado, juntos a outro cavalo. O grupo encontra-se à frente de casario e são visíveis árvores na linha do horizonte. A linoleogravura foi produzida no último ano de permanência do pintor no Alentejo, onde viveu e foi professor nos anos de 1949-50 na Escola de Cerâmica de Viana do Alentejo. Foi o período em que privou com o escritor Vergílio Ferreira e com o pintor António Charrua. A linoleogravura pertenceu à colecção do livreiro portuense Fernando Fernandes (1934-2018), que em 1953 integrou o MUD juvenil e em 1958 fundou a Livraria-Galeria Divulgação que uma década depois, se transformou na Livraria Leitura, um espaço de cultura de excelência, tanto no campo das letras como das artes. Aquisição através de leiloeira.

Versões posteriores de "Alentejo"
Em 1961, quando do VII Aniversário do Cine Clube de Estremoz, Júlio Resende produziu a versão 1961 da composição ”Alentejo” de 1950, de que resultou a linoleogravura da capa do programa de aniversário e com o formato dele (18 x 16,5 cm). A assinatura e a data são agora serigráficas.
É conhecida também a versão 2006 da composição “Alentejo” sob a forma de desenho a carvão (170 x 170 cm), com assinatura e data também a carvão. Integrou a exposição “Resende - ALENTEJO”, a qual teve lugar em 2017 no Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, em Estremoz. 
EM 2021 foi vendido pela leiloeira Palácio do Correio Velho, em Lisboa, um quadro a óleo sobre tela (164 x 170 cm) de Júlio Resende, intitulado "Figuras de Viana do Alentejo", assinado e datado de 1951, pertencente à Colecção Professor Doutor António Ferraz Júnior e Dr. José Manuel Ferraz. Este quadro tem uma composição análoga à da linoleogravura e vem reproduzido no livro de Júlio Resende: “Júlio Resende - A Arte como / vida". Editora Civilização. Porto, 1989, pág. 50.

Júlio Resende (1917-2011)
Júlio Resende nasceu no Porto em 1917. É autor de uma obra de pintura vastíssima, desenvolvida entre os anos 30 do século XX e a primeira década do século XXI. Concluiu a formação em Pintura, no ano de 1945, na Escola de Belas Artes do Porto, onde seria docente entre 1958 e 1987.
Realizou inúmeras exposições no país e no estrangeiro, tendo iniciado, em 1934, a participação em exposições colectivas, e um trajecto individual em 1943. Ao longo da sua carreira, foi distinguido com relevantes prémios. Realizou obra pública com trabalhos em técnicas que vão da cerâmica ao fresco, do vitral à tapeçaria, instalados em espaços do norte ao sul de Portugal. Ilustrou obras literárias, nomeadamente para a infância, realizou cenários e figurinos para teatro, bailado e espectáculos de grande impacto.
Sobre a sua produção debruçaram-se os principais críticos e historiadores de arte portugueses, mas também importantes escritores e poetas.
Em 1947 instala-se em Paris. Viajou por França, Bélgica, Holanda, Inglaterra e Itália, onde interactuou com inúmeros artistas Nos anos de 1949 / 50 foi professor na Escola de Cerâmica de Viana do Alentejo, período em que privou com o escritor Vergílio Ferreira e com os artistas Júlio e Charrua. Nos anos 50 promoveu, em Portugal, as Missões Internacionais de Arte, para as quais eram convidados artistas estrangeiros em diálogo com artistas portugueses. Em 1954 lecciona na Escola Secundária da Póvoa de Varzim e em 1955 promove a segunda “Missão Internacional de Arte”, naquela localidade. Em 1970 seria responsável pela orientação visual e estética do Espectáculo de Portugal na “Exposição Mundial de Osaka”, momento relevante da sua presença no estrangeiro.
A criação do Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende foi um dos principais projectos a que se dedicou a partir da década final do século XX. Dedica-se à preservação e à divulgação do acervo de desenhos de Júlio Resende, que é composto por mais de duas mil e quinhentas obras que o Pintor reuniu ao longo da sua carreira.

sábado, 19 de julho de 2025

Cipriano Dourado e a apanha da azeitona

 

Rabisco. Litografia sobre papel 6/20. 42 x 35,5 cm. 1956.


Conjuntamente com a terra, a mulher é o tema dominante na obra de Cipriano Dourado (1921-1981), tanto no desenho, como na gravura ou na pintura. Nos seus trabalhos e independentemente da adversidade do contexto, sobressai sempre o encanto da feminilidade, resultado da delicadeza do seu traço.
No núcleo neo-realista do meu acervo pessoal de artes plásticas, tenho duas obras onde o artista aborda a apanha da azeitona.

Rabisco. Litografia sobre papel 6/20. 42 x 35,5 cm. 1956.
A litografia representa uma mulher do povo, de cabeça coberta por um lenço, com avental de trabalho e descalça, o que indicia a sua condição de pobreza. Encontra-se junto a uma oliveira, dobrada sobre si própria e apanha azeitona caída da árvore. No tempo do fascismo havia quem por necessidade tivesse que “andar ao rabisco”, isto é, ir à apanha da azeitona caída no chão, uma vez que tivesse terminado a safra. Era uma actividade de subsistência e último recurso, praticada por quem vivia miseravelmente. Nalgumas regiões era uma prática consentida pelos proprietários dos olivais, noutras não. Neste último caso, não era raro ver desgraçados entrar numa vila ou aldeia qualquer, à frente da guarda a cavalo. Como não tinham com que pagar a coima prevista, iam descansar as costas na prisão.
A litografia participou na I Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, a qual ocorreu entre 7 e 31 de Dezembro de 1957 nas salas de exposição da Sociedade Nacional de Belas-Artes em Lisboa. A tiragem da litografia foi de 20 exemplares e era vendida no local ao preço de 200$00 cada exemplar. Não foi editada pela GRAVURA, fundada no ano anterior, cujas tiragens eram na época de 100 exemplares e da qual Cipriano Dourado foi sócio fundador. Esta litografia fez parte da colecção do Eng. Frederico Marechal Spargo Pinheiro Chagas. Aquisição através de leiloeira.

Camponesa. Litografia sobre papel – prova de ensaio. 
45 x 33 cm. 1957.

Camponesa. Litografia sobre papel – prova de ensaio. 45 x 33 cm. 1957.
A litografia representa uma camponesa alentejana a colher azeitona de uma oliveira, a qual deposita no avental arregaçado. A cabeça encontra-se bem protegida por um lenço e as saias foram apanhadas em forma de calças, tal como usavam as ceifeiras. Aquisição feita a um antiquário. Litografia editada pela GRAVURA numa tiragem normal de 100 exemplares.

Cipriano Dourado (1921-1981)
Cipriano Dourado nasceu em 8 de Fevereiro de 1921 em Penhascoso (Mação). Em Lisboa, após frequentar a Escola Industrial Marquês de Pombal, inicia o seu percurso artístico como autodidacta. Com 14 anos, começou a trabalhar como desenhador-litógrafo e a perícia adquirida faz com que nas suas mãos, a litografia passe a ser gravura como arte maior.
O seu talento e vocação para as artes plásticas levaram-no a frequentar em 1939 a Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa, como aluno do curso nocturno, iniciando a sua participação nas exposições com trabalhos a aguarela, pois a gravura não tinha ainda entrada em exposições oficiais. Nos Salões de Inverno da SNBA, onde a aguarela e o desenho tinham acesso, Cipriano Dourado participou em 1947, com trabalhos de aguarela que obtiveram o 2º prémio Roque Gameiro e uma menção honrosa.
Entre 1949 e 1956 participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, na qualidade de desenhador, pintor e gravador. Em 1953, participou no “Ciclo do arroz” e em 1956 foi um dos sócios fundadores da Gravura – Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses. Como ilustrador colaborou em publicações como Seara Nova, Vértice, Colóquio-Letras e ilustrou livros de Orlando Gonçalves, Armindo Rodrigues, Mário Braga, Augusto Gil e Antunes da Silva, entre outros.
Participou em inúmeras exposições, tanto em Portugal como no estrangeiro. Encontra-se representado em museus como: Museu Nacional de Arte Contemporânea (Lisboa), Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), Museu do Neo-Realismo (Vila Franca de Xira) e outros, bem como em inúmeras colecções públicas e privadas.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

António Cunhal (1910-1932), artista plástico neo-realista


António Cunhal (1910-1932). Semeador. Desenho a
tinta-da-china sobre cartolina. 25 x 16 cm. Assinado
e não datado. Colecção Hernâni Matos.

Um Cunhal menos conhecido
ANTÓNIO CUNHAL (1910-1932), natural de Coimbra, faleceu em Lisboa em 1932, vítima de tuberculose e gangrena pulmonar. Filho de Avelino Cunhal (1887-1966) e irmão de Álvaro Cunhal (1913-2005), advogados, políticos, escritores e artistas plásticos neo-realistas.

Artista plástico
Com 21 anos de idade, António Cunhal expôs 26 trabalhos seus no Salão “PINTURAS E DESENHOS DE ANTÓNIO CUNHAL”, patente ao público entre 1 e 15 de Junho de 1931, na prestigiada Papelaria Progresso, situada na Rua do Ouro 151 a 155, em Lisboa.
Nesse salão esteve exposto “O semeador”, desenho a tinta-da-china sobre cartolina, aqui reproduzido, adquirido por mim em leiloeira, o qual pertenceu à colecção do Dr. Fernando Abranches Ferrão (1908-1985), advogado de defesa de opositores ao regime do Estado Novo, onde se destacam os processos da Revolta da Mealhada (1947), da Comissão Distrital de Lisboa do MUD - Movimento de Unidade Democrática (1948), de Humberto Delgado na sequência das eleições Presidenciais (1958), do Golpe de Beja (1962) e dos estudantes (1965).
“O semeador” está assinado mas não está datado, pelo que será de 1931 ou de data anterior, qualquer delas afastadas dos finais dos anos 30, apontados como período de surgimento do neo-realismo português. Todavia, não só pelo conteúdo temático, mas sobretudo pela estética da representação, sou levado a considerar “O semeador” como uma obra neo-realista e a incluir António Cunhal no rol dos artistas plásticos neo-realistas.
António Cunhal está representado no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa e em colecções particulares.

Cinesta de animação
António Cunhal realizou em 1930 com Raul Faria da Fonseca, o filme de animação “A lenda de Miragaia”. O argumento é da autoria de ambos, inspirado no Romanceiro de Almeida Garrett. Baseia-se numa lenda popular que relata como o rei Ramiro II de Leão raptou a princesa moura Zahara e como o seu irmão Alboazar raptou a esposa de Ramiro, a rainha Gaia.
Trata-se do primeiro filme de animação português, recorrendo à técnica inovadora de animação de silhuetas recortadas, as quis foram fotografadas uma a uma para criar o movimento.
O filme, com 400 metros de extensão, era constituído por 24 800 fotogramas, que representavam outros tantos desenhos e movimentos.
“A Lenda de Miragaia”, produção da Ulyssea Film, estreou-se em Lisboa, no Jardim Cinema, a 1 de Junho de 1931.

Epílogo
Talvez a obra de António Cunhal merecesse uma investigação apurada, visando concluir se é ou não um artista plástico neo-realista, tal como eu aqui o proclamo.

Publicado inicialmente em 3 de Fevereiro de 2024

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Ceifeira adormecida - Litografia de Manuel Ribeiro de Pavia


Ceifeira adormecida (1955). Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).
 Litografia sobre papel - prova nº 7. 26 x 36 cm (mancha).
Colecção Hernãni Matos

Ceifeira adormecida (1955). Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).
Litografia sobre papel 19/50. 26 x 36 cm (mancha).
Colecção Hernãni Matos.

No Alentejo de outros tempos, a colheita do trigo recorria à ceifa manual, actividade sazonal dificultada pelo rigor do clima. Ceifeiros e ceifeiras sentiam-no bem no corpo. O trabalho penoso e mal pago, realizava-se de “sol a sol”, interrompido apenas por refeições rápidas e frugais. A “bucha” ao pegar no trabalho, o “almoço” pelas 10 horas da manhã, o “jantar” sensivelmente pelas 2 da tarde, a que se seguia a “sesta” de duas horas para um retemperar de forças. A sesta ocorria à sombra de uma azinheira ou de molhos de trigo e durava até serem acordados pelo manajeiro. A faina prolongava-se até às 8 da noite, altura em que tinha lugar a “ceia”, a última refeição do dia, finda a qual trabalhavam até haver luz e o manajeiro dar a ordem de “solta”. Depois era o descanso nocturno, até ao nascer do sol do dia seguinte.

A sesta dos ceifeiros é um tema recorrente na arte portuguesa. Manuel Ribeiro de Pavia na litografia “Ceifeira adormecida” (Fig. 2 e Fig. 3) patenteia uma ceifeira a descansar, encostada a uma árvore e protegida pela sua sombra. Observe-se que a litografia é anterior à criação da GRAVURA - Sociedade Portuguesa de Gravadores (1956). A prova nº 7 da litografia “Ceifeira adormecida” (Fig. 1) é uma prova de cor com um cromatismo mais vivo que o trabalho final (Fig. 2), o qual teve uma tiragem de 50 exemplares cujo cromatismo é mais sóbrio.

José Malhoa (Fig. 3) no óleo sobre tela “A sesta dos ceifeiros” (1895), mostra um grupo de ceifeiros a descansar à sombra de uma árvore, a qual não aparece representada.

Dordio Gomes (Fig. 4) no óleo sobre tela “A sesta dos ceifeiros” (1918), representa ceifeiros a descansar, protegidos por molhos de trigo. 

 Hernâni Matos

Publicado inicialmente a 16 de Julho de 2024

Fig. 3 - A sesta dos ceifeiros (1885). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre tela (95 x 132 cm).
Museu de Arte Contemporânea Armando Martins, Lisboa.

Fig. 4 - A sesta dos ceifeiros – Alentejo (1918). Dórdio Gomes (1890-1976).
Óleo sobre tela (74 x 59 cm). Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

O Verão na Pintura Portuguesa


Junho – A ceifa [Século XVI (1517-1551)]. António de Holanda (?-?).
Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de Horas de D. Manuel I”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.

O Verão, estação caracterizada por elevadas temperaturas, abrange os meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro. A pintura portuguesa alegórica a esta época reflecte a actividade ao ar livre, característica deste período. Por um lado, as actividades agro-pastoris: tosquia de ovelhas e ceifa (Junho), debulha dos cereais nas eiras (Julho), transporte e armazenagem dos cereais (Agosto) e vindima (Setembro). Por outro lado, actividades lúdicas como os banhos de praia ou a caça.
Por ordem cronológica, os pintores por nós identificados que abordaram a temática “Verão” foram: António de Holanda (?-?), Oficina de Simon Bening (1483-1561), Autor desconhecido (Séc. XVII), Autor desconhecido (Séc. XVIII), Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929), D. Carlos de Bragança (1863 -1908), José Malhoa (1855-1933), Milly Possoz (1888-1967), Manuel Jardim (1884-1923), João Marques de Oliveira (1853-1927), Dordio Gomes (1890-1976), Mário Augusto (1895 - 1941), Lázaro Lozano (1906-1999) e Eduardo Malta (1900 - 1967).

Publicado inicialmente a 22 de Junho de 2012

Julho – A debulha [Século XVI (1517-1551)]. António de Holanda (?-?).
Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de Horas de D. Manuel I”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Agosto – O armazenamento do cereal [Século XVI (1517-1551)].
António de Holanda (?-?). Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de
Horas de D. Manuel I”. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Setembro – As vindimas [Século XVI (1517-1551)]. António de Holanda (?-?).
Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de Horas de D. Manuel I".
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Junho [Século XVI (1530-1534)]. Oficina de Simon Bening (1483-1561).
Iluminura (9,8x13,3 cm) do “Livro de Horas de D. Fernando”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Agosto [Século XVI (1530-1534)]. Oficina de Simon Bening (1483-1561).
Iluminura (9,8x13,3 cm) do “Livro de Horas de D. Fernando”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Setembro [Século XVI (1530-1534)]. Oficina de Simon Bening (1483-1561).
Iluminura (9,8x13,3 cm) do “Livro de Horas de D. Fernando”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

O Verão (Séc. XVII). Autor desconhecido (Séc. XVII). Óleo sobre tela (80x112 cm).
Museu de Évora.  

Cena de Merenda de Caça no Verão (1767). Autor desconhecido (Séc. XVIII).
Óleo sobre tela (192 x 156 cm). Palácio Nacional de Queluz.  

Alegoria do Verão (Séc. XIX). Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929).
Óleo sobre tela (88 x 146,8 cm). Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa. 

Praia de Cascais (1906). D. Carlos de Bragança (1863 -1908).
Aguarela sobre papel (24x16,5 cm). Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa.
 
Praia das Maçãs (1918). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre madeira (69x87 cm).
Museu do Chiado – MNAC, Lisboa. 

Praia de pescadores – Cascais (1919). Milly Possoz (1888-1967). Pintura a guache
sobre papel (56x68,5 cm). Museu do Chiado – MNAC, Lisboa. 

Na praia - crianças na praia (Séc. XX). Manuel Jardim (1884-1923). Óleo
sobre madeira (24x18,7 cm). Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra. 

PRAIA DE PESCADORES - PÓVOA DE VARZIM (Séc. XIX). João Marques de Oliveira
(1853-1927). Óleo sobre madeira (45x33 cm). Museu de José Malhoa, Caldas da Rainha. 

Verão" ou "A Ceifa". Dordio Gomes (1890-1976). Aguarela sobre papel. 

Praia da Figueira da Foz (1935). Mário Augusto (1895 - 1941). Óleo sobre cartão
(26,5x34,8 cm). Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa. 

Nu na Praia (1947). Lázaro Lozano (1906-1999). Óleo sobre tela
(123x96,5 cm). Museu José Malhoa, Caldas da Rainha. 

O Verão (Séc. XX). Eduardo Malta (1900 - 1967). Óleo sobre tela
(46,2x 33 cm). Museu José Malhoa, Caldas da Rainha.