sexta-feira, 14 de março de 2025

Exposição "Memórias do Alentejo" de José Manuel Espiga Pinto na Galeria Howard's Folly

 



Transcrito com a devida vénia de
do jornal E, nº 352,
de 14 de Março de 2025

A Galeria Howard’s Folly, em Estremoz, e o Legado de Espiga Pinto vão apresentar, no espaço daquela galeria, a exposição “Memórias do Alentejo”, por ocasião da celebração do 85º aniversário do artista plástico José Manuel Espiga Pinto (1940-2014).

A mostra, que inclui pintura, desenho e escultura, vai estar patente ao público entre 16 de março e 27 de abril e conta com o apoio institucional da BIALE, Bienal Internacional do Alentejo 2025.

As peças expostas, criadas na década de 60, aquando do regresso de Espiga ao Alentejo, refletem a excelência do seu período neorrealista e a infância do artista em Vila Viçosa.

A mostra integra peças em diversos suportes, desde a pintura, trabalhos sobre papel, desenho em tinta-da-china sobre cortiça escultura em bronze. A imagem representa a vida típica do Alentejo histórico, com composições que incluem o cavalo, o touro, a roda, a carroça, a apanha da azeitona, os agricultores, a camponesa e as festas locais.

“Roda”, de 1965, é a obra que sobressai pelo seu valor icónico, com tons laranja evocando a luz do amanhecer sobre a carroça no labor matinal nos campos e representando o símbolo de continuidade da vida. As peças escolhidas, nos vários suportes, continuam a complementar e a ecoar a roda ao longo da exposição.

A roda é um dos principais elementos recorrentes da iconografia de Espiga Pinto, presente em todas as suas fases subsequentes. A exposição centra-se nestes primeiros trabalhos da década de 1960, a “Série do Alentejo”, proporcionando uma narrativa de caráter histórico inspirada no profundo afeto do artista pela sua cultura.

Nascido em Vila Viçosa, em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, Espiga Pinto estudou escultura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, tendo sido distinguido com importantes prémios e distinções ao longo da vida pela sua contribuição multidisciplinar para as artes.

Foi membro da Academia Nacional de Belas Artes. As memórias e a ligação à vida rural no Alentejo influenciariam toda a sua obra. Espiga afirmou que foi na sua chegada a Estremoz, tinha então cerca de 20 anos, que assumiu como “sentido cósmico” para a sua vida “cantar o Alentejo”, explorando as principais formas figurativas e temas recorrentes, que mais tarde se tornariam a base para o simbolismo cósmico, patentes ao longo de uma extensa carreira de mais de 60 anos.

A arte de Espiga está amplamente estabelecida dentro e fora de Portugal, contando mais de 80 exposições individuais, com uma multiplicidade de obras em locais públicos e trabalhos presentes em prestigiadas coleções. Obras de Espiga foram recentemente incluídas em importantes exposições coletivas: Jaime Isidoro e Vila Nova de Gaia; 50 anos após os 1ºs Encontros Internacionais de Arte (2024), NEO-REALISMO – Memórias Guardadas do Acervo de Hernâni Matos (2024), Uma Terna (e Política) Contemplação do que Vive, obras da coleção Norlinda e José Lima (2023), 60º Aniversário da Cooperativa Árvore (2023) e Contra a Abstração, Obras da Coleção da Caixa Geral de Depósitos (2019).

Em 2020, Penelope Curtis, então Diretora na Fundação Calouste Gulbenkian, selecionou mais de 50 importantes obras, ampliando o já significativo conjunto de obras de Espiga na coleção do CAM – Centro De Arte Moderna Gulbenkian, incluindo peças associadas à temática da presente exposição.

O legado de Espiga Pinto preserva a obra e o acervo biográfico deste extraordinário artista, estando em curso uma extensa investigação com vista à elaboração de um catálogo raisonné. Esta exposição tem a curadoria de Amie Conway e Alex Cousens, profissionais independentes com um longo trajeto nas artes, baseados em Londres, Reino Unido, trabalhando diretamente com os dois herdeiros, Aurora e Leonardo Espiga Pinto, filha e filho, respetivamente. As obras são provenientes da coleção que o próprio artista cuidadosamente construiu, com agradecimentos pelo empréstimo de outras obras por parte de importantes coleções particulares.

Além do apoio institucional da BIALE 2025, esta exposição tem ainda o apoio da The Sovereign Art Foundation, do Grupo de Hotéis Marmóris, da Galeria Alvarez, da Galeria Aqui d’El Arte – CECHAP, da T.ARTe Collage.pt.

“A galeria do The Folly recebe normalmente artistas contemporâneos locais, mas estamos muito satisfeitos por, desta vez, recebermos um verdadeiro ícone da cena artística local que, infelizmente, já não está entre nós. Ter um artista desta estatura a expor na nossa galeria durante a BIALE do Alentejo é, na nossa opinião, muito propício” refere Howard Bilton, proprietário da Howard’s Folly e presidente da The Sovereign Art Foundation.

Aurora e  Leonardo Espiga Pinto, filhos do artista asseguram que “o regresso de Espiga Pinto ao seu Alentejo, e a Estremoz, tem um enorme significado. Esta é a primeira exposição de desenho, pintura e escultura de Espiga Pinto desde o seu falecimento. Além disso, a sua célebre “Série do Alentejo” (década de 1960) não era mostrada ao público há 15 anos. E, finalmente, a exposição tem lugar em Estremoz, lugar onde o nosso pai viveu e criou estas mesmas peças, na sua casa-atelier”.

Sem comentários:

Enviar um comentário