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quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

BIBLIOTECA MUNICIPAL DE ESTREMOZ / Uma tragédia nunca vem só

 

Fachada da actual Biblioteca Municipal de Estremoz, no Largo General Graça.
Fotografia recolhida com a devida vénia no sítio do Município de Estremoz.


Exórdio
Ainda pairam no ar, os ecos de toda a trapalhada suscitada pela intenção do anterior executivo municipal (MIETZ) de implementação do Monumento ao Boneco de Estremoz no polémico Parque Municipal de Santa Catarina. Apesar disso, o actual executivo municipal (PS) vê-se novamente com “uma criança nos braços”, herdada do anterior executivo. Trata-se do gravíssimo estado em que ficou o novo edifício da Biblioteca Municipal, após as intensas e fortes chuvadas do passado dia 13 de Dezembro, para o qual fora decretado estado de alerta vermelho pelo Instituto do Mar e da Atmosfera (IPMA).
O que ali aconteceu foi uma autêntica tragédia, a qual relatarei mais adiante, recorrendo ás palavras de José Sadio, actual Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, no decurso da reunião ordinária daquele órgão, ocorrida no passado dia 14 de Dezembro.
Como demostrarei no desenvolvimento do presente texto, o espaço em que foi construída a actual Biblioteca é um espaço de tragédia. Daí urge inferir as necessárias ilações para memória futura e com fins preventivos.

1ª tragédia
Por omissão de sucessivos executivos municipais, o chamado Edifício Luís Campos nunca foi classificado como imóvel de interesse público, pese embora o facto de o historiador de arte, Túlio Espanca, no Inventário Artístico de Portugal, o qual abrange o concelho de Estremoz e foi dado à estampa em 1975, ter realçado o interesse do imóvel, o qual remontava aos finais do séc. XVIII e incluía um património azulejar notável, que só por si justificaria aquela classificação.

2ª tragédia
Após o 25 de Abril, a Mercearia Luís Campos foi á falência e o edifício ficou ao abandono, até que alguém o adquiriu para o despojar de toda a azulejaria e não só, que depois vendeu a quem muito bem entendeu, uma vez que o edifício não se encontrava classificado. O referido património azulejar está actualmente exposto no Museu Berardo Estremoz.

3ª tragédia
Por motivos ainda hoje desconhecidos, o executivo municipal MIETZ resolveu adquirir o edifício e em 2016 já era publica a intenção de aí construir a futura Biblioteca Municipal, que do edifício anterior apenas viria a manter a fachada.
A decisão foi então objecto de fortes críticas da opinião pública, na medida em que o local e o espaço em que iria decorrer a construção, condicionavam fortemente as opções dos projectistas.

4ª tragédia
No decurso das obras, manifestou-se uma nascente de água nas fundações, a qual indiciava a conveniência ou melhor a necessidade de abandono da intenção de ali construir o futuro edifício da Biblioteca Municipal. Todavia, essa não foi a opção do executivo municipal em exercício de funções. Este decidiu prosseguir as obras projectadas até á sua finalização, procurando fazer passar a mensagem segundo a qual, a instalação de duas bombas hidráulicas em funcionamento permanente, permitiriam escoar a água que continuamente brotava da nascente.

5ª tragédia
Na sequência da forte intempérie ocorrida no passado dia 13 de Dezembro, o Presidente José Sadio, no decurso da reunião camarária ocorrida no dia seguinte, fez o balanço possível das sequelas da inclemência do tempo.
Referindo-se em particular á Biblioteca Municipal, informou que a situação da mesma era gravíssima e explicou porquê. As bombas de água instaladas na Biblioteca e que retiram a água no caso de o poço encher, revelaram-se manifestamente insuficientes, o que exigiu o reforço com outra bomba. Por outro lado e face ao risco, de inundação grave, houve que fazer prevenção no local. Tornou-se ainda necessário instalar sistemas de vigilância e detecção para emitir alarmes para o exterior, uma vez que eles não existiam.
Deu também conhecimento de que havia água por todo o edifício, muito em particular no auditório, registando-se graves prejuízos nos equipamentos de som e de luz.
Informou ainda que foi convocada a empresa construtora e a fiscalização, tendo sido reportadas todas as anomalias verificadas. De resto, vai ser accionada a garantia, esperando que se resolvam os problemas detectados para que o sucedido não volte a ocorrer.

O futuro é imprevisível
Ainda que o pessimismo não integre a matriz do meu pensamento, não sou um optimista irritante como o nosso actual Primeiro Ministro. Daí que dada a instabilidade cada vez maior do clima e que conduz a eventos meteorológicos cada vez mais extremos, ao contrário do Presidente José Sadio, não acalento a esperança de que o sucedido no passado dia 13 não se volte a repetir. É que o edifício da Biblioteca foi construído sobre uma nascente de água, está situado numa zona de acentuado declive e encontra-se na vizinhança dum curso de água subterrâneo.
A construção da Biblioteca no local onde foi efectuada, consistiu, a meu ver, numa tentativa vã de vencer as leis da Natureza. Estas, quando constrangidas ou desviadas do seu curso natural, procuram caminhos alternativos de acordo com as leis da Física. Surgem então os estragos consequentes, quase sempre irreversíveis e irreparáveis, que só surpreendem os ignorantes e os incautos, mas que são prejudiciais à comunidade no seu todo.
A sabedoria popular acerca do futuro é diversificada: “Não se pode contar com o futuro”, "Confiar no futuro mas pôr a casa no seguro", “O futuro a Deus pertence". Pessoalmente, encaro o futuro como imprevisível, o que me leva a não excluir os piores cenários. Daí que faça votos para que no local da antiga e prestigiada Mercearia Luís Campos, apostada em vender bacalhau sempre bem seco, não venham os amantes da leitura, a ter que consumir livros de molho.

Epílogo
Somos um país de brandos costumes, no qual a perda de memória colectiva tem tendência a branquear e validar situações lesivas do interesse geral da comunidade. Daí a importância da memória no exercício pleno da cidadania.
Ensina-nos a ancestral sabedoria popular que “A culpa não pode morrer solteira”, o que implica o exercício da cidadania através do sufrágio popular. Através dele, cada um de nós e de acordo com a sua consciência, pode prescindir daqueles cuja prática considera ter sido lesiva dos interesses da comunidade.
Pela minha parte, aguardo com serenidade a realização das próximas eleições autárquicas. Quando? Não sei!
Publicado no jornal E, nº 302, de 22 de Dezembro de 2022

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

O princípio da eternidade


 
LER AINDA:

O usufruto do direito à vida, há muito que me levou a declarar guerra à morte. Tem sido um combate sem quartel, feito de muitas batalhas das quais tenho saído sempre vencedor. Consciente de que o envelhecimento conduz à morte, na passagem do meu 75º aniversário fui levado a proclamar:
Apesar da minha firme determinação, o Facebook ignorou a minha vontade e anunciou o dia de hoje como data do meu aniversário, o que corresponderia a eu fazer hoje 76 anos, número composto dos algarismos 7 e 6, que somados dão 13, considerado número do azar. Todavia eu não acredito em maus agouros, pelo que prefiro reflectir sobre o significado dos algarismos associados à minha suposta idade.
O número 7 representa a totalidade do Universo em expansão, uma vez que resulta da associação do 4 (que simboliza a Terra com os seus quatro pontos cardeais) com o 3 (que simboliza o Céu). Quanto ao número 6 representa a perfeição (expressa graficamente por um triângulo equilátero inscrito num círculo de lado igual ao raio do hexágono).
Como ínfima parte do macrocosmos, enquanto todo organizado e harmónico, a etiquetagem com o número 76 assegura-me o princípio da eternidade, encarada como “posse simultânea e perfeita de uma existência sem fim”. [ Boécio (480-524) . De consolatione philosophiae].

BIBLIOGRAFIA
CHEVALIER; Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. 6ª ed. José Olímpio. Rio de Janeiro, 1992

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Município e ambiente - Uma no cravo, outra na ferradura

 

Pintura do projecto “O mar começa aqui” do Jardim de Infância de Santa Maria,
concretizado num sumidouro, junto à Praça de Táxis na Praça Luís de Camões,
em Estremoz. A memória descritiva do projecto, pode ser lida aqui .

Fotografias reproduzidas
com a devida vénia
do sítio do projecto

Sob o lema “Salvar os oceanos, proteger o futuro”, decorreu entre 27 de Junho e 1 de Julho passado, em Lisboa, a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, co-organizada pelos governos de Portugal e do Quénia.
Entre muitas outras conclusões, o documento final da Conferência dos Oceanos reconhece a importância da contribuição das crianças e jovens no sentido do avanço de uma economia sustentável baseada nos oceanos, o que pressupõe uma educação de qualidade e da literacia dos oceanos. Vejamos o que já foi feito nesse sentido em Estremoz.

Projecto "O mar começa aqui"
No início do mês de Junho foram pintadas pelo Agrupamento de Escolas de Estremoz, sarjetas e sumidouros na cidade. A iniciativa integrou-se no projecto Eco-Escolas “O mar começa aqui”, o qual contou com a participação de: Escola da Mata, Escola do Caldeiro, Jardim de Infância de Santa Maria e Escola Básica Sebastião da Gama. Estas aceitaram o desafio nacional lançado pela Associação Bandeira Azul da Europa – ABAE. A acção visava alertar toda a gente para o facto de que tudo o que entra naqueles escoadouros, através dos cursos naturais de água, flui em direcção ao mar.
De salientar que os objectivos globais do referido projecto, incluem: - Compreender a necessidade de preservação dos ecossistemas e da biodiversidade em geral e da qualidade da água doce e salgada em particular; - Educar para uma cidadania activa incitando os jovens a passar a mensagem de que “Tudo o que cai no chão, vai parar ao mar” a toda a comunidade educativa, - Estimular a criatividade dos alunos, através do desenvolvimento de competências em áreas como a expressão plástica; - Implementar estratégias de cooperação escolas-autarquias para a promoção da sustentabilidade. Esta pode ser definida como a capacidade de o ser humano interagir com o mundo, preservando o meio ambiente para não comprometer os recursos naturais das gerações futuras.

Estremoz Fun Running 2022
Integrada na Feira Internacional de Desporto de Estremoz - FIDMOZ, decorreu no passado dia 12 de Junho, a “Estremoz Fun Running”, iniciativa que visava conjugar a actividade física com diversão. A partida teve lugar pelas 17 horas, no Parque de Feiras e Exposições de Estremoz, percorreu diversas ruas da cidade e terminou no local onde começara.
Ao longo do percurso existiam estações de cor (verde, azul, vermelho, amarelo), de passagem obrigatória, onde os participantes foram pulverizados com pó colorido, constituído por amido de milho e corante alimentar, inócuo, biodegradável e lavável. Para que o pó aderisse melhor à roupa, em certos pontos do percurso existiam nebulizadores de água.
Assisti à “Corrida Alegre de Estremoz” na Praça Luís de Camões e vi os participantes atravessarem a estação de cor situada no Pelourinho, local onde foram pulverizados e nebulizados. No final, a presença de um autotanque dos Bombeiros Voluntários de Estremoz, permitiu que o piso fosse lavado á mangueirada, escorrendo a água colorida para dois sumidouros estrategicamente posicionados frente ao Pelourinho.

Sustentabilidade
Tanto o projecto "O mar começa aqui" como o evento “Corrida Alegre de Estremoz” contaram com o inestimável apoio do Município de Estremoz, para isso vocacionado, já que o primeiro é do âmbito educativo e o segundo dos domínios desportivo e lúdico.
Trata-se de eventos que não dispondo de públicos alvo inteiramente disjuntos, têm, todavia, alcances distintos. O projecto “O mar começa aqui” tem enorme alcance pedagógico. Como bem ensina o velho rifonário português, “É de pequenino que se torce o pepino”. Daí que o projecto procure educar as crianças para uma cidadania activa que induza na comunidade educativa, uma mudança de comportamentos que privilegiem a sustentabilidade.

E os miúdos?
Não sei se miúdos envolvidos no projecto "O mar começa aqui”, assistiram ou não à lavagem das estações de cor, uma vez terminada a "Corrida Alegre de Estremoz”. Em caso afirmativo, não sei também se alguns deles ficaram ou não confusos, ao ver água colorida escorrer para os sumidouros ou sargetas. Não sei também se terão ou não questionado o(a)s professor(a)s sobre aquilo que viram. Não sei também se o(a)s professor(a)s tiveram ou não dificuldade em fazê-los compreender que aquilo que estava a entrar nos sumidouros ou sargetas, não era prejudicial, porque não era contaminante. Admito que, dado o seu empenhamento pedagógico, o tenham conseguido fazer. Todavia, suponho que terá sido mais difícil explicar às crianças o desperdício de água usada, numa altura de seca que irá afectar a actividade agrícola nos próximos meses.
Quem sabe se o(a)s professor(a)s, aproveitando o ocorrido, não terão aproveitado para explicar o significado dos provérbios “Uma no cravo, outra na ferradura” e "Bem prega Frei Tomás, olha para o que ele diz, não olhes para o que ele faz."

Pós-escrito
“A minha Pátria é a Língua Portuguesa´´. Assim o proclamou Bernardo Soares (Fernando Pessoa) no “Livro do Desassossego”, afirmação que se tornou numa divisa seguida por figuras altaneiras da Cultura Portuguesa, como Manuel Alegre, Agustina Bessa Luís, Sophia de Mello Breyner Andresen e Vasco da Graça Moura, para só citar alguns.
Constitucionalmente, assiste-me o direito de me insurgir contra o abastardamento da língua portuguesa, seja qual for a sua origem. No caso presente, a utilização do anglicismo “Fun Running” é absolutamente desnecessária e estúpida, já que o conceito que lhe está subjacente é perfeitamente traduzível através da bem portuguesa designação “Corrida Alegre”.
Tal como Jesus expulsou os vendilhões do Templo, é imperioso expurgar a língua portuguesa de locuções anglicistas ou outras, estranhas à nossa matriz identitária. Quem não o fizer, está a apunhalar a Língua Portuguesa, pelo que terá de assumir as suas responsabilidades.

Hernâni Matos
Publicado no jornal E n.º 293, de 7 de Julho de 2022

SEQUÊNCIA DE IMAGENS RELATIVAS ÀS DIFERENTES FASES DE EXECUÇÃO DO PROJECTO "O MAR COMEÇA AQUI" PELO JARDIM DE INFÂNCIA DE SANTA MARIA



 



terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Grande Hernâni…


José Guerreiro. Sociólogo. Ex-Presidente da Câmara Municipal de Estremoz.
Ex-Director do jornal "Brados do Alentejo".

Conheço-te há décadas, meu grande piru. Lembro-me de ti no Colégio S. Joaquim mais alto e esticadinho do que todos os outros. E do dia em que foste atropelado, uma tragédia que nos marcou a todos. Ainda guardo fotos do teatro de finalistas, ensaiado pelo professor Augusto Leitão, e onde apareces fardado de marinheiro.
Depois foi a ida para Lisboa, para estudares na Faculdade de Ciências, onde não nos cruzamos, mas o teu activismo político deixou marcas que eu pude confirmar, quando fui tirar a pós-graduação em planeamento regional e urbano na Universidade Técnica, ali junto à Assembleia da República.
Quando acabaste o curso, regressaste a Estremoz, para dar aulas de Física e Química na Escola Secundária. Estávamos em 1975 e o ambiente político escaldava na Escola e fora da Escola. No ano lectivo seguinte, fui eleito com 24 anos para a presidência do conselho directivo. As reuniões gerais de professores eram quase semanais e tu distinguias-te pela firmeza e lucidez das intervenções. A tua voz de trovão conseguia calar os colegas que não tinham nada de útil para dizer, mas perturbavam e prolongavam desnecessariamente as reuniões.
Cedo começaste a ter um papel ativo na política local. Creio que foste um dos primeiros militantes do núcleo de Estremoz da UDP e um dos mais destacados membros da Comissão Organizadora das Festas do Povo que elaborou um programa que marcava a diferença com as Festas da Exaltação da Santa Cruz. Provavelmente, partiu de ti a ideia de promover a homenagem ao maestro José António Lima, com descerramento de lápide, na casa onde morou no Largo dos Combatentes.
Mais tarde, o nosso relacionamento estreitou-se em 1983, quando fui eleito Presidente da Camara Municipal de Estremoz e tu criaste a Associação Filatélica Alentejana. Foram vários os projectos culturais que a Associação promoveu e a CME apoiou, com toda a justiça.
Em Dezembro de 1993, o amigo José Sena ganha as eleições autárquicas pela APU e nós os dois juntamente com o Narciso Patrício fazemos parte da mesa da Assembleia Municipal, pela mesma força política. Foi uma experiência curta, porque o falecimento inesperado do Presidente da Câmara obrigou a uma reconfiguração do executivo municipal.
Mais recentemente, o teu trabalho de valorização da cultura popular e, em especial, dos "bonecos de Estremoz" tem sido notável. Não será exagerado reconhecer que a ti se deve, em boa medida, a classificação da UNESCO como património imaterial da humanidade.
Ainda no ano passado, pude contar com o teu apoio na pesquisa de algumas matérias relacionadas com um livro que estou a preparar sobre a história contemporânea da cidade. Foi extraordinária essa colaboração.
Sei que tens planeado vários projectos de futuro. Ficamos a aguardar, com toda a expectativa deste mundo.

José Guerreiro
Estremoz, 30 de Janeiro de 2021

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Poesia Portuguesa - 100


Fernando Pessoa (1912). Adolfo Rodríguez Castañé (1887-1978). Óleo sobre tela.

 
Santo António
Fernando Pessoa (1888-1935)
 
Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!
 
Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,            
Católico, apostólico e romano.
 
(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)
 
Adiante ... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.                                        
 
Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.
 
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.
 
Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.
 
Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.
 
Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza, Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.
 
(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.
 
És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.
 
És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.
 
És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.
 
Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?
 
Fernando Pessoa (1888-1935)
 
BIBLIOGRAFIA

PESSOA, Fernando. Fernando Pessoa: Santo António, São João, São Pedro. (Organização de Alfredo Margarido). A Regra do Jogo. Lisboa, 1986.

domingo, 18 de agosto de 2019

E vão quantos?




E vão quantos?
A resposta a esta sacramental pergunta é unívoca: 73. Fui parido no ano de 1946. No que respeita às centúrias: 1 e 9 são 10, noves fora 1. No referente a decénios, 4 e 6 são 10, noves fora 1. Também no que concerne à idade, 7 e 3 são 10, noves fora 1. Como estão a ver, a minha cronologia assenta no 1. É a revelação de que sou único, singular, excepcional e sem igual. Acontece ainda que nasci em Agosto. Daí que seja leónico e solar. O resto vem por acréscimo, tanto defeitos como qualidades.

E que tenho sido eu?                      
A sinopse da minha vida pessoal regista como marcos principais os seguintes: Parido, bebé de fraldas, puto de bibe e peão. Gaiato de calções, usei a opa da Igreja e como lusito marquei passo nas formaturas da Mocidade Portuguesa. Revoltado na Instrução Primária porque tive um professor que nunca o devia ter sido. Miúdo de Liceu, tornei-me um jovem descrente por tudo aquilo que via à minha volta. Corredor de fundo e saltador em altura, fui amputado para me deixar dessas coisas. Todavia, reaprendi a marchar, a andar de bicicleta e a dançar, já que nadar nunca se esquece. Concluí o Curso Liceal e fiquei livre da tropa, sem necessidade de fugir à guerra colonial. Na época já tinha consciência política, graças a alguns professores, ao meu pai e a amigos mais velhos com os quais acompanhava. Entrei na Universidade e no movimento associativo estudantil, fiz greves e manifestei-me, já que se vivia em plena crise académica e eu tinha o Maio de 68 na massa do sangue. Estudei que era por isso que por ali andava, fiz poesia e integrei o movimento desintegracionista. Quando dei por mim tinha acabado o curso. Físico, tornei-me professor sem querer e fui mestre-escola durante 36 anos.  
Pelo meio, amei, casei, fui pai e muitas vezes fui feliz. Recentemente, os meus alicerces deram de si e cheguei a estar do outro lado. Vagueei entre aquilo que dizem ser o céu, o inferno e o purgatório. Em todos estes locais fui rejeitado. Dai a razão de estar hoje aqui.
Falta-me plantar uma árvore, tarefa adiada porque me doem as costas. Para o ano logo se vê. E se Deus não quiser? - perguntarão alguns. A resposta é simples. Fica a árvore por plantar e eu curado das costas.

E que mais?
Desde os longínquos tempos do bibe e do pião que sou recolector de objectos materiais que me enchem as medidas. Assim me tornei filatelista, cartofilista, bibliófilo e ex-librista. Para além disso, o fascínio da ruralidade e o culto da tradição oral, levaram-me a reunir objectos que integram o registo da identidade cultural alentejana. Daí que por necessidade me tenha tornado investigador, historiador, etnógrafo e etnólogo com interesses pessoais na história local e na arte popular alentejana, muito em especial a arte pastoril e a barrística popular estremocense. Tenho montado exposições iconográficas, apresentado comunicações e como escritor, jornalista e blogger, tenho publicado livros e textos que constituem o reflexo da minha intervenção cívica. Para além disso, sou ambientalista, libertário, igualitário, solidário, livre pensador e, é claro, franco-atirador.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Ontem foi dia de aniversário


Este blogue fez ontem dois anos, pois surgiu a 19 de Fevereiro de 2010, como blogue pessoal, no qual assumi “A escrita como Instrumento ao Serviço da Libertação do Homem” e centrei a escrita em conteúdos que têm a ver com a Cultura Portuguesa, bem como com o Alentejo, muito particularmente os Usos e Costumes, a Arte Popular e a Identidade Cultural Alentejana. O meu campo de acção centra-se nas coisas “DO TEMPO DA OUTRA SENHORA”. Não todas, mas aquelas que me tocam a alma.
Decorridos  que são dois anos de vida, é novamente altura de fazer um balanço, pelo que faz sentido apresentar alguns números relativos a este blogue:


O blogue tem como retaguarda de apoio:
1) Uma página pessoal no Facebook com 4.227 amigos;
2) No Facebook um Grupo de Fãs homónimo do blogue, integrado até ao presente por 1.774 membros;
3) A divulgação dos textos editados no blogue, realizada através de edições efectuadas nos murais daquelas páginas do Facebook, bem como no Twitter.
O blogue tem 329 seguidores através do “Google Rede Social” e 207 através dos “Networked Blogs”, Este blogue é transversal à política, ao regime e às capelinhas estético-literárias que por aí há. E assim continuará com o apoio crescente dos amigos e leitores que nos estimulam através dos seus comentários. É pela motivação que temos dentro de nós e pensando neles, que continuaremos o caminho iniciado.
A todos vós, amigos e leitores, o meu muito obrigado pelo interesse manifestado, que procurarei não desmerecer.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ontem foi dia de aniversário


Este blogue fez ontem anos, pois surgiu a 19 de Fevereiro passado, como blogue pessoal, com posts originais, fruto da criação literária e da recolha etnográfica do seu autor.
Aqui assumi “A escrita como Instrumento de Libertação do Homem” e centrei a escrita em conteúdos que têm a ver com a Cultura Portuguesa, bem como com o Alentejo, muito particularmente os Usos e Costumes, a Arte Popular e a Identidade Cultural Alentejana. O meu campo de acção, centra-se nas coisas “DO TEMPO DA OUTRA SENHORA”. Não todas, mas aquelas que me tocam a alma.
Decorrido um ano de vida, é altura de fazer um balanço, pelo que faz sentido apresentar alguns números relativos a este blogue:


Como comentário pessoal seja-me permitido dizer o seguinte:
1) O número de comentários revela interactividade com o leitor;
2) O número de visitas, bom para um blogue de âmbito local, é fraco para um blogue que se assume como de âmbito nacional.
O blogue tem como rectaguarda de apoio:
1) Uma página pessoal no Facebook com 4.030 amigos;
2) No Facebook um Grupo de Fãs homónimo do blogue, integrado até ao presente por 1.599 membros;
3) A divulgação dos posts editados no blogue é realizada através de postagens efectuadas naquelas páginas do Facebook, bem como no Twitter.
O blogue tem 128 seguidores através do “Google Rede Social” e 41 através dos “Networked Blogs”, o que muitos blogues de âmbito nacional não têm.
O blogue aposta forte na selecção de links para outros blogues e tem ao longo do tempo solicitado permuta de links, visando suscitar a conectividade, a fim de facilitar a divulgação da sua existência, a circulação de informação e a interactividade. Tem sido uma tarefa difícil e mal sucedida. A esmagadora maioria dos blogues de âmbito nacional contactados, nem sequer se dignaram responder. A sua resposta foi um petulante e olímpico silêncio. É uma atitude que pode ser classificada como bloqueio de informação e que em termos éticos é deselegante. O se poderá ser compreensível em blogues que falam “politiquez”, é menos compreensível em blogues da área cultural como este. Mas eles lá saberão porquê.
Este blogue é trasnsversal à política, ao regime e às capelinhas estético-literárias que por aí há. E assim continuará com o apoio crescente dos amigos e leitores que nos estimulam através dos seus comentários. É pela motivação que temos dentro de nós e pensando neles, que continuaremos o caminho iniciado.
A todos vós, amigos e leitores, o meu muito obrigado.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Nós por cá todos bem




COMUNICAÇÃO "ON LINE"
A comunicação “on-line” está na ordem do dia. Qualquer um de nós é protagonista diário de uma saga que tem a ver com rotinas diárias que passam pela utilização da www, nos seus múltiplos aspectos:
- Motores de busca para recolha de informação;
- Correio electrónico para difusão de mensagens;
- Blogues e web sites para editar textos, imagens e sons;
- Redes sociais como o Facebook, para convívio e partilha de informação.
Hoje os eventos ocorrem à escala planetária e a sua divulgação processa-se à velocidade de um click.
Somos cidadãos do Mundo e neste ano de 2010, em que se comemora o Centenário da I República Portuguesa, quer queiramos ou não, somos os herdeiros lusitanos da Revolução Francesa, arautos dos valores da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade entre os homens.
Pesem embora alguns desvios de percurso, aqueles são valores que permanecem actuais e que urge honrar e revitalizar, porque os grandes valores são eternos. Têm a dimensão do Homem e/ou de Deus. A opção fica ao critério de cada um, porque é isso que é ser um Homem Livre.
PROBLEMÁTICAS SUSCITADAS PELA COMUNICAÇÃO “ON-LINE”
Hoje não podemos estar de costas viradas uns para os outros. A Liberdade exige Responsabilidade e não pode ser Anarquia em nome do combate à Tirania. A Cidadania exige que cada um de nós dê a cara e se assuma de corpo inteiro, não se refugiando no anonimato ou o que é pior do que isso, não se mascarando cobardemente atrás de um pseudónimo, que muitas das vezes não é mais que o auto-reconhecimento da incapacidade de ser um Homem Livre.
Hoje, comunicar é importante. Tão importante como respirar ou comer. É igualmente um acto que deve ser assumido de uma forma ética. Hoje, não é admissível que ninguém, em nome de nenhuns pseudo-valores, tente rebaixar os outros, para se elevar a si próprio. Hoje e muito bem, fala-se em Ética da Comunicação.
Hoje, que somos Homens Livres, devemos ter respeito pela Dimensão dos Outros, bem como respeito pela Propriedade e entre ela a Propriedade Intelectual. Um acto de comunicação na www, não pode ser um mero acto de corte e colagem. São atitudes que devem ser reprovadas pela Comunidade. A Elevação do Homem é fruto necessariamente do Trabalho e do Aperfeiçoamento, mas nunca da facilidade, nem do facilitismo.
São estes alguns dos valores em que acredito. Por eles dou a cara no blogue ESTREMOZ NET (http://estremoznet.blogspot.com), no qual, como diria Ives Montand, sou “compagnon de route” de amigos que não pensam como eu, mas que eu respeito na sua individualidade, porque como Homens de Corpo Inteiro, dão a Cara, na defesa dos ideais em que acreditam. Posso discordar deles, mas respeito-os.
Essa a Postura que será sempre a minha, nesse blogue cujos membros, numa atitute tipicamente cristã, ali resolveram partilhar o seu amor a Estremoz.
BLOGUE “ESTREMOZ NET”
“ESTREMOZ NET“ é um espaço de Encontro e de Caminhada, para quem ama Estremoz, o qual assumiu a forma de um blogue de âmbito local e regional, generalista e que se orienta pelos princípios da liberdade, do pluralismo e da independência, procurando assegurar a todos o direito ao debate construtivo e responsável. Como tal, respeita os direitos, deveres, liberdades e garantias consignadas na Constituição da República Portuguesa. Por isso, assume-se como independente de todos os poderes políticos e económicos, bem como de qualquer credo, de qualquer doutrina ou ideologia, respeitando todas as opiniões ou crenças. As opiniões políticas, doutrinárias ou ideológicas ali veiculadas, apenas vinculam os respectivos autores.
“ESTREMOZ NET" é integrado por bloggers que validarão sempre com o seu nome, os respectivos posts e tem a particularidade de não publicar comentários anónimos, mas unicamente os comentários de leitores devidamente identificados.
"ESTREMOZ NET" considera a sua acção como de serviço público, com respeito total pelos seus leitores, em prol do desenvolvimento da identidade e da cultura local, regional e nacional, da promoção do progresso económico, social e cultural das populações e do reforço da independência nacional e da paz. Estes são de resto, os princípios consignados no Estatuto Editorial do blogue.
Criado a 27 de Março de 2010, é integrado por 27 membros e tem como administradores António José Ramalho, José Capitão Pardal e Hernâni Matos. Da equipa de 27 bloggers, 7 ainda não chegaram a postar, provavelmente porque se dividem por múltiplas tarefas e outros têm postado espaçadamente. Todavia há um “núcleo duro” que assegura a continuidade e a permanência do blogue colectivo que veio para ficar. A sua saúde está bem e recomenda-se. De resto, não se trata de uma federação de blogues locais contra ou a favor de alguém, mas apenas de um espaço de Encontro e de Caminhada, para quem ama Estremoz, onde se valorizam questões como: Liberdade versus responsabilidade; - Anonimato e Identificação; - Ética da comunicação; - Propriedade Intelectual.
Outros números: até à presente data foram postadas 186 mensagens e verificaram-se 10849 visitas, o que corresponde a uma média de 35 por dia. O que não é mau, se atendermos a que é um blogue que entronca na realidade local.
BLOGUE “DO TEMPO DA OUTRA SENHORA”
Tem endereço http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com . Surgido a 20 de Fevereiro passado, trata-se do meu blogue pessoal, de autor, com posts originais, fruto da criação literária e da recolha etnográfica. Aí como blogger assumo “A escrita como Instrumento de Libertação do Homem” e centro a escrita em conteúdos que têm a ver com Estremoz e o Alentejo, muito particularmente os Usos e Costumes, a Arte Popular e a Identidade Cultural Alentejana. E sobretudo muito, mas muito humor, humor às carradas, com base em factos da vida real, que são “do tempo da outra senhora”.
Alguns números relativos a este blogue: até à presente data foram postadas 75 mensagens, o que corresponde a uma média de 1,8 mensagens por semana. Verificaram-se até agora 25527 visitas, o que corresponde a uma média de 148 por dia. O que seria bom para um blogue de âmbito local, mas que é fraco para um blogue que se assume como de âmbito nacional. De qualquer modo, a visualização do blogue tem vindo a consolidar-se e é caso para dizer que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”. O blogue que aposta forte na selecção de links para outros blogues, tem 108 seguidores através do “Google Rede Social” e 33 através dos “Networked Blogs”. Até agora os seus 75 posts receberam 295 comentários, o que corresponde a uma média de 3,9 comentários por post e é revelador da interactividade que este blogue suscita.
Este blogue tem como rectaguarda no Facebook um Grupo de Fãs homónimo do blogue, integrado até ao presente por 1534 membros, número que cresce diariamente.
MENSAGEM FINAL
Contra aquilo que apregoam alguns profetas da desgraça, apetece-nos parafraser o cineasta Fernando Lopes, dizendo:“NÓS POR CÁ TODOS BEM!”

sábado, 20 de março de 2010

Um mês de vida



Contrariamente ao que o seu nome possa levar a supor, DO TEMPO DA OUTRA SENHORA, não é um blog com barbas. Na verdade e pelo contrário, é um neófito entre os blogs, uma vez que completou agora um mês de vida, para gáudio de todos aqueles que nele se revêem.
Os dados relativos à edição e leitura de posts, estão sintetizados no quadro seguinte:


Os posts editados distribuem-se por cinco temas, pelo que tendo em conta que os posts podem abordar mais do que um tema, a distribuição dos posts por temas, está sistematizada no seguinte quadro:


Neste momento está a decorrer uma sondagem entre os leitores do blog, que visa saber quais os posts e os temas preferidos.
Como franco-atirador da escrita, o autor deste blog já deixou inúmeras marcas por aí, uma vez que já dispara na imprensa regionalista desde os anos 60 do século passado, na imprensa especializada desde os anos 80, na web desde Julho de 2002 e na blogosfera desde Junho de 2009.
Os temas abordados neste blog correspondem aos seus principais interesses, os quais são todavia mais vastos. São porém aqueles que, a seu ver, reúnem estrategicamente mais potencial para estabelecer pontes de união entre as pessoas, umas de esquerda, outras de direita, outras do centro, outras nem tanto. Umas republicanas, outras monárquicas, para não falar já dos republicanos com simpatias monárquicas e de monárquicos com simpatias republicanas. Uns mais altos e outros mais baixos. Uns mais gordos e outros mais magros. Porém, na sua esmagadora maioria, cidadãos de corpo inteiro, cuja Pátria é a Língua Portuguesa, os quais de uma forma ou de outra, se revêem na revisitação de memórias dos tempos idos, nos traços da identidade cultural alentejana e no espírito positivo com que se tem de enfrentar a adversidade e a crise, o que só pode ser feito com determinação e tenacidade, mas sobretudo com muito, mas muito humor, humor às carradas, com base em factos da vida real, que são “do tempo da outra Senhora”.
È para aqueles que se revêem na Alma Alentejana que o autor deste blog escreve com prazer e paixão, temperados pelo sentido da responsabilidade. Esta passa pela consciência de que a Alma Alentejana foi cromaticamente fixada na tela por um Silva Porto, um D. Carlos de Bragança ou um Dordio Gomes. Perpetuada na prosa por um Fialho de Almeida, um Manuel Ribeiro ou um Antunes da Silva, bem como registada poeticamente por um Conde de Monsaraz, uma Florbela Espanca ou um Manuel da Fonseca. São exemplos de alto gabarito, que nos obrigam a curvar e a tirar o chapéu, como sempre fez o camponês alentejano, em sinal de respeito. Daí que seja grande a responsabilidade do autor deste blog. Todavia ele espera não desiludir os seus leitores, pois decerto é isso que eles esperam de si. Para eles um abraço do tamanho da heróica planície alentejana.