Mostrar mensagens com a etiqueta Acerca de mim. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Acerca de mim. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Hernâni, meu velho amigo - António Simões


António Simões (1934- )

Poeta, professor, pedagogo e tradutor beringelense. Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra. Colaborador da imprensa regional: Brados do Alentejo (Estremoz) e Rodapé (Beja). Publicou poesia na imprensa nacional: Diário de Lisboa, Diário de Notícias, Jornal de Letras, O Século. Publicou igualmente na imprensa regional: Revista Convívio (Coimbra). Obras: Soneto de água e outros (Poesia, 1994), A Festa das letras (Poesia, 1995), Minha mãe amassa o pão (Poesia, 2001), Antologia de Poesia Anglo-Americana (Bilingue, 2002), Amor é um Fogo que Arde sem se Ver e outros sonetos (Poesia, 2004). Traduziu para a Campo das Letras, a partir do Inglês, livros de Andy Warhol: Anjos, Anjos, Anjos e Amor, Amor, Amor e as histórias para crianças: Noite de Natal, É duro ter 5 anos e Babushka. Tem diversas traduções na antologia de poemas Os Dias do Amor, publicada em Janeiro de 2009 pela editora Ministério dos Livros.


Hernâni. meu velho amigo (*)
António Simões (1934- )



Hernâni, meu velho amigo
E grande coleccionista –
Quer o novo, quer antigo,
Vai comprar onde ele exista!


Assim que tu abalaste,
Pus-me a pensar no assunto.
Pensei pouco ou pensei muito,
Foi com muita ou pouca arte? –
Deixemos isso de parte,
Enquanto a rimar prossigo.
Eis a quadra, mais não digo,
Outros dirão, que não eu –
Minha mente a concebeu,
Hernâni, meu velho amigo.

A quadra já está feita,
E pra que não se esqueça,
Vai de e-mail, mais depressa.
‘spero que chegue direita.
Inspiração desta feita
Não se esquivou ao artista –
Não há ninguém que resista
Ao seu sagrado fulgor,
Hernâni que és professor
E grande coleccionista.

Neste frio mês de Janeiro,
Com vento e chuva feroz,
Às vezes ficamos sós
A pensar junto ao braseiro.
A gente pensa primeiro
No mundo cheio de p’rigo
Em que irmão é inimigo –
E tu segues porfiando,
Hernâni coleccionando,
Quer o novo, quem antigo.

Enquanto eu meditava,
Quem é coleccionador
Vai tratando com amor
Da peça coleccionada,
Antes ade a ter arrumada
Nalgum sítio bem à vista.
E pra que nunca desista
D’ampliar a colecção,
Objecto de estimação
Vai comprar onde ele exista.

António Simões (1934- )

--------- 
(*) – A propósito da quadra que me foi pedir para um mote integrado na evocação de Tomás Alçalcaide Alcaide (2011?).

terça-feira, 29 de julho de 2025

A todas as Mulheres do Mundo...


Camponesa. Manuel Ribeiro de Pavia (1910-1957).


                                     ...mas em especial à Gina Ferro,
                                                       pelo privilégio da sua amizade.

As mulheres são nossas mães, nossas irmãs, nossas filhas, nossas companheiras, nossas amantes, nossas cúmplices, o bálsamo para os maus momentos, a nossa inspiração para a ode triunfal e o estímulo para a vitória.
Com elas apanhamos bebedeiras de azul, quando não gostam de vinho.
E fartos de azul, por elas bebemos vinho, até dizer basta!
Com elas e por elas, lutamos por amanhãs que não sabemos quando vêm, mas que temos a certeza inabalável que hão de vir.
A elas nos agarramos quando sentimos que estamos a mergulhar no abismo.
Delas gostamos do carinho, do amor e do sexo-porto de abrigo.
Nelas nos fundimos e com elas fazemos filhos, erguemos projectos e por vezes engendramos mudanças de paradigma.
Com elas nos derretemos em sangue, sémen, suor e lágrimas, com gemidos e ais, punhos erguidos e bandeiras vermelhas, raiva incontida que nos vem de baixo e que desfraldamos ao vento, porque somos insurrectos. É um direito que nos assiste!
Para além de sustentarem metade do céu sobre os seus ombros, as mulheres são a metade que nos falta, que nos dá força e que nos faz vacilar, qual travão que adocica o motor.
E mais não digo…

Publicado inicialmente em 8 de Dezembro de 2013

domingo, 27 de julho de 2025

Paredes de vidro


Cabeça de ceifeiro alentejano (1941).
Dórdio Gomes (1890-1976). 
Óleo sobre contraplacado (33 cm x 25 cm)

A Escrita ou seja o pensamento convertido em linguagem gráfica é fruto de um diapasão em ressonância sincronizada com a minha caixa do Pensamento.
Com o sentir da minha Alma, a minha caneta é a extensão pantográfica que me transporta sem me subjugar ao palco onde todos somos actores, ainda que uns sejam mais activos e outros mais passivos.
Pode-se falar de Vida ou de Morte, de Acção ou de Renúncia, de Amor ou de Desamor. Tanto faz! Todavia não é a mesma coisa, dar a cara como eu dou ou estar refugiado no anonimato, como acontece amiúde na web. Então, “Que fazer?” Esta é a questão dialéctica e sacramental levantada por Vladimir Ilitch Lenin (1870-1924), no seu livro homónimo de 1902. E isso para mim é uma questão fulcral, já que a vida é feita de saberes, mas também de não saberes, os quais por vezes se transmutam em dissabores. Como eu não me sinto atraído por não saberes, exijo que em nome da verdade e da claridade, dêem o nome e a cara, tal como eu dou. Esse poderá ser um ponto de partida salutar para uma conversa que dê os seus frutos.
Publicado em 30 de Julho de 2013

terça-feira, 15 de julho de 2025

Sei que não vou por aí!


Foto de Almada Negreiros (1893-1970), na I Conferência Futurista, em Abril de 1917.

O respeito às raízes e à nossa matriz identidária, bem como a verticalidade de carácter, são o que há de mais importante nas nossas vidas.
Não se compram numa grande superfície, nem tão pouco se adquirem em qualquer retiro de avental. Têm a ver com os nossos genes, com o que aprendemos com os nossos pais e avós, bem como aquilo que partilhamos com os nossos companheiros de estrada. São eles os nossos melhores conselheiros. Com eles aprendemos a caminhar e a descobrir caminho, caminhando.
São marcas de quem nunca se rende e não prescinde da sua individualidade, tendo assumidamente a coragem de não se esconder comodamente atrás de um qualquer colectivo. Cartilhas há muitas, algumas das quais castram e subjugam o individual em nome dum colectivo que alguém supostamente mandatado e auto-predestinado, controla. Por mim e em nome da ânsia de liberdade que é meu timbre, sou levado a parafrasear José Régio no “Cântico Negro”:

"Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 15 de Julho de 2013

domingo, 13 de julho de 2025

Auto da Alma


Cirurgia, um caso grave no hospital (1981). Louis Toffoli (1907-1999).
Óleo sobre tela. (114 x 162 cm). Musée Toffoli Charenton-le-Pont, France.
  

ADVERTÊNCIA AO LEITOR
Para que não haja confusões de tipo algum, fica o leitor avisado de que este “Auto da Alma” não é da lavra do beirão Gil Vicente, poeta e ourives, mas do alentejano Hernâni Matos, escritor, jornalista e blogger.

ENREDO
O enredo do auto desenrola-se na actualidade, em quatro locais distintos:
HOSPITAL - Instituição onde se tratam doentes e onde umas vezes se salvam vidas e outras vezes não.
CÉU – Morada do Senhor e dos anjos, para onde vão as almas dos bem-aventurados, na sequência de se terem separado do corpo após a morte.
INFERNO - Destino da alma humana daqueles que em vida assumiram condutas condenadas pela Igreja e que por isso ali sofrem castigo eterno, supliciados com o fogo por Satanás e pelos diabos menores.
PURGATÓRIO - Local em que as almas daqueles que morrem em estado de graça, mas que ainda são imperfeitas, são preparadas através do fogo purificador para poderem ascender ao céu.
O auto envolve 5 personagens, assim caracterizados:
ALGUÉM - Anestesista de serviço no Hospital.
ALMA - a do paciente submetido a intervenção cirúrgica.
SÃO PEDRO - Barbado e com pele crestada pelo sol da Galileia. Vestido de apóstolo e com um molho de chaves à cinta. Desempenha as funções de porteiro do céu e é robusto, para impedir a intrusão de almas indesejadas.
SATANÁS – Nu, peludo e com a pele avermelhada pelo calor do Inferno. Como anjo caído em desgraça, mantém as asas. Para torturar melhor os condenados ao fogo do Inferno, dispõe de cornos na cabeça, mãos com garras e cascos como um bode.  
CENA I
Após intervenção cirúrgica complexa e demorada, algo corre mal na sala de recobro do Hospital. Ouve-se então Alguém gritar:
- Acabamos de o perder!
A sala de recobro torna-se então num pandemónio, com o pessoal clínico a entrar em parafuso.
CENA II
O corpo do paciente torna-se instável e é abandonado pela alma que, de consciência tranquila se dirige para o céu, porque julga ingenuamente que é esse o seu caminho.
Atingida uma das portas do céu, o acesso é-lhe vedado por São Pedro, que lhe diz:
- Não pode entrar, Irmão!
Espantada, a alma pergunta:
- Então porquê, São Pedro?
A resposta do Santo foi imediata:
- Antes do Irmão aqui chegar, já o Senhor me tinha informado do sucedido lá em baixo. Alertou-me também para o facto de o Irmão não reunir os requisitos necessários para aqui entrar. Consultei então os Santos Registos, nos quais consta que o Irmão foi uma pessoa de bem, respeitador das crenças do próximo e que colaborou com as obras sociais da Igreja. Todavia, a nível de sacramentos isto está muito mal. Confirmei que o Irmão foi baptizado, recebeu o crisma, fez a 1ª comunhão e a comunhão solene e chegou a ensinar doutrina aos mais novos. Todavia, aí pelos 12 anos, deixou de se confessar e de comungar, assim como de frequentar a Igreja. Mais tarde, casou-se apenas pelo registo civil e divorciou-se, vindo a reincidir, ao casar novamente pelo civil. Mais recentemente, o Irmão só frequentava a Igreja para casamentos, baptizados e missas por defuntos. Como vê Irmão, nada disto abona a seu favor. 
Pesarosa, a alma prepara-se para replicar, mas São Pedro é peremptório:
- A lei do Senhor é para cumprir e não pode haver desvios. Foi por a fazer cumprir que passei de pescador a apóstolo, me tornei o 1.º Bispo de Roma e o 1.º Papa. Foi por a fazer cumprir que me tornei Mártir e agora sou porteiro do céu. 
Convencida que dali não leva nada, a alma despede-se, dizendo:
- Assim seja. Terei de procurar outro caminho.
CENA III
Depois de ver recusada a sua entrada no céu, a alma entra em depressão e dirige-se para o Inferno, onde julga que será o seu lugar. Numa das entradas encontra-se Satanás que, ao vê-la, dispara à queima-roupa: 
- Onde pensas que vais? Tira o cavalinho da chuva que aqui não tens cabidela. Era o que faltava!
Incrédula, a alma questiona: 
- Palavra de honra que não estou a perceber nada disto. Não me quiseram lá em cima e agora não me querem cá em baixo?
Resposta de Satanás:
Lá em cima é lá com eles, cá em baixo é comigo. E sempre te digo que é preciso descaramento para fazer de mim parvo e procurar cá entrar.
A alma que gosta de conhecer as linhas com que a cosem, insiste e questiona:
- Mas porquê?
Satanás responde de imediato:
- Em 1.º lugar, porque foste baptizado, recebeste o crisma, fizeste a 1.ª comunhão e a comunhão solene e chegaste mesmo a ensinar doutrina aos mais novos. Apesar de não te confessares e de comungar desde os 12 anos, ainda frequentavas a Igreja para casamentos, baptizados e missas por defuntos. Para além disso foste uma pessoa de bem, respeitador das crenças dos outros e que colaborou com as obras sociais da Igreja. Como estás a ver, tudo isto é contra ti. Mas há mais!   
Em 2.º lugar, tiveste preocupações sociais e lutaste por elas. Mas o mais grave de tudo é que fizeste parte da trupe da Catarina Martins, que defende a igualdade a todos os níveis e quer que os ricos paguem a crise. E isso não posso tolerar, já que os ricos constituem a maioria residente no Inferno, pelo que me cabe a mim zelar pelos seus interesses, mesmo depois de mortos.
Em terceiro lugar e por aquilo que conheço de ti, eras capaz de sabotar o fogo dos caldeirões, fomentar a greve entre os diabos menores e virá-los mesmo contra mim. Até eras capaz de me serrar os cornos, aproveitando alguma distracção minha ou quando estivesse a dormir.
Por isso, põe-te na alheta!
E a alma assim fez.
CENA IV
Mais pesarosa que antes, a alma dirige-se para o Purgatório, a ver se ao menos consegue ingressar ali. Com grande surpresa sua, logo à entrada vê um cartaz que diz: ENCERRADO POR FALTA DE HÓSPEDES. Para onde ir então?
CENA V
Na sala de recobro do hospital, após porfiados esforços do pessoal clínico, o paciente regressa à vida. Alguém exclama:
- Já cá o temos outra vez!
Nesse preciso momento, a alma regressa ao corpo. Terminara a sua peregrinação por territórios de rejeição. Já não era a mesma. Tinha muito que contar. Agora o seu lugar era ali, para o que desse e viesse.
MORAL DO AUTO
Preso por ter cão e preso por não ter.
Publicado pela 1ª vez em 13 de Julho de 2019

 São Pedro (Entre 1610 e 1612) . Peter Paul Rubens  (1577–1640). Óleo sobre
tela (107 x 82 cm). Museo del Prado, Madrid.

 O Inferno (c. 1510-1520). Mestre português desconhecido. Óleo sobre madeira
de carvalho (119 x 217,5 cm). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.

Um anjo salva as almas do purgatório (c. 1610). Lodovico Carraci (1555-1619).
Óleo sobre tela (44 x 51 cm). Pinacoteca, Vaticano.

domingo, 29 de junho de 2025

Jorge da Conceição e o Porteiro do Céu

 

Fig. 1 - São Pedro (1984). Jorge da Conceição (1963-  ).

A aparição de São Pedro
As horas são como as cerejas. Atrás de uma vem sempre outra. E foi assim que em Outubro passado, já a desoras, ainda me encontrava vigilante no meu posto de pescador à linha, a ver aquilo que conseguia pescar na internet. Já não me lembro da palavra chave que naquela altura utilizei como engodo no motor de busca do OLX. O que é verdade, é que fui surpreendido pelo aparecimento de “peixe graúdo”.
Tratava-se de uma imagem de São Pedro (Fig. 1), de grandes dimensões, identificada como “Boneco de Estremoz” e que na base ostentava a marca manuscrita “Jorge Conceição / Palmela 1984” distribuída por duas linhas, ladeada à esquerda e um pouco mais abaixo pelo carimbo “ESTREMOZ / PORTUGAL” (2 cm x 0,8 cm), distribuído igualmente por duas linhas. Trata-se de uma marcação (Fig. 2), que por desconhecimento meu não foi inventariada nas págs. 81 e 85 do meu livro (1). Se em 2018, à data de edição do livro, podia dizer “Quem dá o que tem, a mais não é obrigado”, na actualidade impõe-se o preenchimento da lacuna, do que aqui dou conta para usufruto do leitor.
A figura, da autoria do prestigiado barrista Jorge da Conceição Palmela, fora criada há quase quarenta anos, na sua primeira fase de produção. De imediato, contactei o vendedor, revelando o meu interesse na sua aquisição e solicitando o envio de coordenadas bancárias, visando o pagamento do item pretendido. O vendedor respondeu-me na manhã seguinte e eu de imediato, efectuei o respectivo pagamento. O inesperado “achado”, dada a sua natureza, ocupa um lugar de destaque e muito especial na minha colecção.

Onde se fala da sorte
Quem soube do sucedido, logo me disse:
- És um homem de sorte!
E eu repliquei sempre:
- Qual sorte, qual carapuça!
Não fosse eu um internauta persistente, com a mente povoada de sonhos e a ânsia de descobrir o que há para ser descoberto e nunca teria tido a sorte que me atribuem. De resto, a nossa tradição oral regista os provérbios: "Cada qual é artífice da sua sorte." e "A sorte ajuda os ousados." Mas houve quem continuasse:
- Isso são provérbios. O que é um facto, é que és um homem de sorte!
Bom. Aqui comecei a ficar com os azeites. Então o meu trabalho de pesquisa persistente não valia nicles? E vá daí, pus-me a pescar por aí, o que diz o pensamento ocidental acerca da sorte e respiguei as seguintes afirmações: “A sorte sorri aos fortes” (2); “A sorte ajuda os audazes” (3); “A diligência é a mãe da boa sorte” (4); “Acredito muito na sorte; verifico que quanto mais trabalho mais a sorte me sorri” (5), “Creio muito na sorte. Quanto mais trabalho, mais sorte pareço ter” (6); “A sorte não existe. Aquilo a que chamais sorte é o cuidado com os pormenores” (7); “A sorte marcha com aqueles que dão o seu melhor” (8); “A seguir ao trabalho duro, o maior determinante é estar no sítio certo à hora certa” (9).
Municiado com estes nobres pensamentos, procurei um a um, os meus opositores, fervorosos adeptos da sorte e disparei-lhos em frases seguidas, mesmo à queima roupa. E perguntei-lhes depois:
- E então? Continuam a acreditar na minha sorte?
Não houve um único que tivesse a coragem de me dizer que sim. Creio que alguns ficaram mesmo convencidos que eu tinha razão. Mas outros, adeptos das crenças cegas, lá no fundo continuaram a pensar que não. Todavia, não arranjaram argumentos para me fazer frente e “fecharam-se em copas”.

Jorge da Conceição visto à lupa
Como refiro no meu livro (1), “Tive o privilégio de ser professor de Física de 12º ano de Jorge da Conceição e desde essa época que o vejo como um perfeccionista que procura dar o melhor de si próprio em tudo aquilo que faz, o que se reflecte não só na concepção como nos acabamentos das figuras que modela.”. No livro dei conta de que Jorge da Conceição é “… filho da barrista Maria Luísa da Conceição (1934-2015), neto dos barristas Mariano da Conceição (1903-1959) e Liberdade da Conceição (1913-1990) e sobrinho de Sabina da Conceição Santos (1921-2005), irmã de Mariano.”. E concluí: ”Filho e neto de peixes sabe nadar, pelo que Jorge da Conceição estava condenado a ser barrista, tomando contacto com o barro desde criança e criando apetência pela manufactura de Bonecos como via fazer à avó e à mãe. Foi assim que aprendeu as técnicas e a arte de modelar o barro, manufacturando Bonecos enquanto estudava, até à idade de 21 anos”, quando frequentava no Instituto Superior Técnico, o Curso de Engenharia Electrónica e de Computadores – Variante de Electrónica e Telecomunicações. A imagem de São Pedro de Jorge da Conceição, datada de 1984, pertence à parte final da sua primeira fase de produção, já que ele decidiu interromper a sua actividade como barrista, para só a retomar em 2013, após uma carreira profissional na área de consultoria que durou 25 anos e o manteve afastado da modelação do barro. Todavia, a chamada do barro, que transporta na massa do sangue, levou-o em 2013 a dedicar-se exclusivamente à barrística.
Jorge da Conceição participou em 1983 e 1984, na I na II Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz. Foi nesta última que alguém comprou a imagem que hoje é minha. Na altura, eu não lhe comprei nada, pois o dinheiro não era muito e eu andava fascinado, como hoje ainda ando, pelo trabalho de sua avó, Liberdade da Conceição, que tal como sua mãe e ele próprio, me concedeu o privilégio da sua amizade. De sua avó, tenho na minha colecção um bom núcleo de figuras, com especial destaque para imagens de Santo António, São João Baptista e São Pedro, qualquer delas de grandes dimensões.

Felicitações de Jorge da Conceição
Quando soube da minha “pescaria”, Jorge da Conceição felicitou-me vivamente pela aquisição da imagem, já que são escassas as peças dessa época na posse de coleccionadores. Disse-me ainda que na II Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, para além de algum “peixe miúdo” à disposição do público, tinha ainda para vender as imagens de Santo António, São João Baptista, São Pedro e São Marçal, das quais vendeu apenas as duas últimas, integrando as duas primeiras a sua colecção. Com o regresso do seu São Pedro à terra mãe, é caso para reconhecer de uma forma proverbial que “O bom filho a casa torna”.

BiMestre Jorge da Conceição
Em 2019 teve lugar em Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte, um Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz. A formação da componente técnica do Curso foi liderada por Jorge da Conceição, que contou com o apoio inestimável de Isabel Água e de Luís Parente. Ali se formou um grupo de barristas, os quais se encontram presentemente a produzir. São eles: Ana Catarina Grilo, Inocência Lopes, Joana Santos, José Carlos Rodrigues, Luísa Batalha, Madalena Bilro, Manuel J. Broa, Sara Sapateiro, Sofia Luna e Vera Magalhães. Todos eles o reconhecem como uma referência de topo da nossa barrística e praticamente todos o tratam carinhosamente por Mestre, já que foi com ele que aprenderam.
As criações de Jorge da Conceição ostentam marcas identitárias singulares e por isso notáveis. Em primeiro lugar, o rigor e a perfeição na modelação, com integral respeito pelas proporções, pela morfologia, pelas texturas, bem como a representação do movimento. Em segundo lugar, um cromatismo harmonioso que resulta de uma sábia combinação de cores. Tudo isso contribui para que os trabalhos de Jorge da Conceição sejam reveladores da sua incomensurável mestria. Trata-se de facetas do seu trabalho, que ultrapassam o âmbito restrito dos seus formandos e catapultam o barrista a uma nova dimensão de Mestre. Daí eu ter assumido a iniciativa terminológica de o considerar um biMestre. De resto, tenho de lhe agradecer o prazer que me dá em usufruir do deleite de espírito causado pela visualização dos seus trabalhos. Daí que lhe confesse: Jorge,

De si é sempre admirável,
toda e qualquer criação.
Tudo o que faz é notável,
Mestre Jorge Conceição.

Oração a São Pedro
Senhor São Pedro, Pescador, Apóstolo, 1.º Bispo de Roma, 1.º Papa e Mártir, já que sois Porteiro do Céu, atrasai a abertura das portas da abóbada celeste, para que eu me possa libertar da culpa de há cerca de 40 anos não ter comprado Bonecos de Mestre Jorge da Conceição. Dai-me mais uns anos bons, para que eu possa preencher as muitas lacunas que ainda tenho na minha colecção. Amém.

(1) – MATOS, Hernâni. Bonecos de Estremoz. Edições Afrontamento. Estremoz / Póvoa de Varzim, Outono de 2018.
(2) - Terêncio (185 a.C.-159 a. C.), poeta romano
(3) - Virgílio (70 a.C-19 d.C.), poeta romano
(4) - Miguel de Cervantes (1547-1616), romancista espanhol.
(5) . Thomas Jefferson (1743-1826), estadista norte-americano.
(6) - Ralph Waldo Emerson (1803-1882), escritor norte-americano.
(7) - Winston Churchill (1874-1965), estadista inglês.
(8) - Horace Jackson Brown Jr. (1940-2021), romancista americano.
(9) - Michael Bloomberg (1942- ), magnata norte-americano.

Publicado em 20-04-2022


Fig. 2 - Marcação no interior da peanha da imagem de São Pedro. 

Fig. 3 - Jorge da Conceição em 1985.

sábado, 21 de junho de 2025

O elogio das palavras – III


RUA DE NISA (1932).  Raquel Roque Gameiro Ottolini (1889-1970).
Aguarela sobre papel (41 x 50 cm).

LER AINDA

As palavras acompanham-nos continuamente, mesmo em sonhos.
Há sempre o risco de esquecer algumas palavras, pelo que nos podem faltar palavras.
É permitido revisitar palavras nossas e mesmo inventar palavras. O que não se deve fazer, é reproduzir palavras dos outros, como se fossem nossas. Tão pouco se devem deturpar palavras.
Por vezes há que poupar palavras, por uma questão de tempo ou de espaço. Não se deve é balbuciar palavras, porque é indício de insegurança.
É através de palavras que defendemos pontos de vista e damos ênfase àquilo em que acreditamos e àquilo de que gostamos. Também é através das palavras, que damos conta daquilo que rejeitamos e não nos agrada.
As palavras são armas com as quais nos defendemos de agressões verbais ou não. Mas são também armas de ataque com as quais praticamos também agressões verbais.
A utilização das palavras, nem sempre é ética, já que através delas é possível dissimular, confundir e mentir. O mesmo se passa em relação à possibilidade de através das palavras, se atemorizar, aterrorizar, intimidar e dominar.
Há palavras que encerram em si, o purismo da língua. Coexistem com outras que são regionalismos ou integram a gíria popular e o calão. Há ainda palavras que constituem neologismos, estrangeirismos ou internetês.
As palavras são pilares que sustentam a língua, como factor de identidade nacional.
As palavras são porto de abrigo. Nelas nos refugiamos, na fuga de tempestades e na procura de bonanças.
As palavras constituem uma tábua de salvação. A elas nos agarramos, quando tudo parece estar perdido.
As palavras sobrevivem à morte de quem as pronuncia. Se não todas, pelo menos algumas, através do seu registo, tanto escrito como falado.
As palavras têm alquimia. Com elas conseguimos transmutar o nosso estado de espírito e o estado de espírito de quem nos ouve.
A nobreza das palavras é desigual. Algumas têm nobreza como um touro Miura. E para aqui não é chamada a nobreza de sangue azul, que pouco mais é que coisa nenhuma. A nobreza não é monárquica. É uma atitude republicana.
As palavras têm carácter e têm que ser usadas com carácter. Uma das maiores tragédias sociais, é a falta de carácter de alguns que as usam, servindo-se de cargos para os quais erradamente foram designados.
As palavras exigem plena fidelidade à sua essência e à mensagem que lhes está subjacente. Traí-las é trair o texto, o que pode configurar uma atitude de rendição.
As palavras têm que ser frontais. Caso contrário, quem as profere, não tem as partes no sítio.
Há palavras para o tudo e palavras para o nada.
Há palavras para acabar com as palavras:
– PIM! O TEXTO CHEGOU AO FIM!
Jornal E nº 188 – 30-11-2017
Publicado inicialmente em 2 de Junho de 2018

sexta-feira, 20 de junho de 2025

O elogio das palavras - II


VOLTA DO MERCADO (1925) -  Raquel Roque Gameiro Ottolini (1889-1970).
Aguarela sobre papel (30x50 cm).

LER AINDA

Há palavras sólidas, como as há líquidas e até voláteis.
As palavras têm estrutura. Podem ser cristalinas ou amorfas.
As palavras são materiais com que moldamos, forjamos ou carpintejamos textos.
As palavras têm transparência ou não, já que também há palavras opacas.
As palavras têm brilho. Podem ser brilhantes ou baças.
É necessário saber escolher as palavras.
As palavras permitem gerar códigos e cifras.
As palavras permitem-nos comunicar com os outros. Através delas podemos transmitir emoções e sentimentos, bem como descrever situações, eventos e fenómenos.
As palavras não têm todas a mesma dificuldade. Há palavras mais fáceis e palavras mais difíceis.
Há palavras que são incontornáveis.
Há palavras sondas, com as quais formulamos perguntas, para saber o que os outros pensam.
As palavras pertencem a uma de dez classes gramaticais, reconhecidas pela maioria dos gramáticos: substantivo, adjectivo, advérbio, verbo, conjunção, interjeição, preposição, artigo, numeral e pronome.
As palavras têm género. Podem ser masculinas ou femininas. Não há palavras gays, nem lésbicas.
Há palavras que designam agrupamentos, enquanto que outras se referem apenas a um componente único.
A ortografia das palavras têm variado ao longo das épocas e as mudanças nunca são pacíficas, como acontece no presente, com o país partido em dois: os detractores e os defensores do novo acordo ortográfico.
As palavras podem ser características de uma época, ainda que haja palavras intemporais.
Em certos locais e em certas épocas, algumas palavras foram consideradas impróprias, constituindo tabu e sendo mesmo proibidas.
Há palavras características de cada profissão, mas há igualmente as que lhe são transversais.
Há palavras que são mais usadas num dado período da vida que noutros.
Há palavras características de cada regime. Umas são monárquicas, outras são republicanas.
A religiosidade das palavras é variável. Há palavras laicas e há palavras religiosas que alguns podem considerar mesmo santas ou sagradas. E há ainda a palavra de Deus, que repetidamente é invocada no culto.
As palavras têm mãos que ao entrelaçarem-se com outras, conferem consistência ao texto.
As palavras têm pés para encontrar e percorrer o seu próprio caminho.
As palavras são peças que fazem funcionar o texto.
As palavras são bicicletas que pedalamos e que nos permitem fazer caminho, à procura de um texto.
As palavras fazem-nos suar, porque nem sempre é fácil parir palavras que traduzam exactamente o que nos vai na alma.
As palavras são arados. Com eles lavramos a terra-mãe do pensamento.
As palavras são as mensageiras do pensamento.
As palavras são arautos, tanto de boas como de más notícias.
As palavras são escadas que ligam os patamares do texto.
As palavras servem de ponte, umas às outras.
As palavras são cerejas, que puxam umas pelas outras.

Jornal E nº 187 – 16-11-2017
Publicado inicialmente a 31 de Maio de 2018

quinta-feira, 19 de junho de 2025

O elogio das palavras - I


ESTUDO PARA O "VIRA" (1904). Alfredo Roque Gameiro (1864-1935). Aguarela sobre
papel (39 x 26,5 cm). Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde).

LER AINDA

As palavras são multifacetadas como as pedras preciosas. Podem ser encaradas sob vários ângulos. Podem significar uma coisa ou outra, ou mesmo quase coisa nenhuma.
As palavras têm o seu próprio visual. Há palavras elegantes e outras que não o são tanto. Há mesmo palavras deselegantes.
As palavras têm a sua própria sonoridade. Há palavras ruidosas, como as há graves ou melodiosas. Há palavras que fazem eco e outras que esbarram contra muros de silêncio.
As palavras têm cheiro. Há palavras que fedem a distância, tal como as há aromáticas, constituídas por agradáveis e subtis fragrâncias.
As palavras têm sabor. Há palavras doces, tal como as há azedas, amargas ou ácidas.
As palavras são tácteis. Há palavras macias e mesmo aveludadas, mas também há palavras ásperas, como as há peganhentas e mesmo viscosas.
Há palavras terrestres, como as há aéreas, subterrâneas e aquáticas.
As palavras são caminheiras que se deslocam entre as margens do papel.
As palavras são mariposas que cruzam os ares, entre bocas e ouvidos.
As palavras em movimento geram correntes, ondas e turbilhões.
As palavras geram movimentos de apoio e de solidariedade, mas também de repulsa.
As palavras permitem saltar obstáculos e mesmo mover montanhas.
As palavras têm a sua própria velocidade. Há palavras lentas, tal como as há velozes.
As palavras têm o seu tempo próprio, não devem ser ditas antes, nem depois dele.
As palavras têm uma aceleração própria. Há palavras cadenciadas, como as há acelerantes ou atrasadoras.
As palavras têm forma, umas são angulosas e outras são redondas, já que não tem ponta por onde se lhes pegue.
As palavras têm simetria ou não. Há palavras simétricas e palavras assimétricas.
As palavras têm cor. Umas são mais coloridas, outras mais cinzentas e mesmo negras. Há mesmo palavras para todas as cores do espectro do arco-íris.
As palavras têm tamanho. Umas são curtas como a polegada, outras são compridas como a légua da Póvoa.
As palavras têm volume. Umas são como senhoras anafadas, outras como modelos anorécticos.
As palavras têm peso. Umas são pesos leves e outras, pesos pesados, tal como no boxe.
As palavras não têm todas igual densidade. Há palavras maciças, como há palavras balofas e mesmo ocas. As mais compactas submergem no texto, enquanto que as de compactidade reduzida, flutuam à flor do texto.
As palavras têm força. Há palavras fortes e palavras fracas.
As palavras têm potência. Umas são potentes, outras nem tanto e outras são mesmo impotentes.
A eficácia das palavras é variável. Umas são eficazes, outras não.
As palavras não têm todas a mesma duração. Há palavras imortais, como as há duradouras e breves. Há mesmo palavras que já ultrapassaram o prazo de validade.
As palavras não têm todas a mesma temperatura. Há palavras escaldantes, mas também as há cálidas, mornas, frias e gélidas.
Jornal E nº 182 – 27-07-2017
Publicado inicialmente em 27 de Julho de 2017

quinta-feira, 8 de maio de 2025

A rua onde eu moro, que impressão me faz

 

Pedras há muitas


Há 52 anos que moro na rua de Santo André em Estremoz e há mais de 70 que habito na área circundante da vetusta Igreja de Santo André, demolida criminosamente nos anos 60 do século passado, vítima da sanha empreendedora do autodenominado Estado Novo, o qual não olhou a meios para ali construir o actual Palácio da Justiça.
Tenho plena consciência de que a “minha” rua não é o centro do Universo pelo facto de eu lá morar, nem tampouco o centro da cidade, apesar de se situar na sua zona central, contígua ao Rossio Marquês de Pombal, considerado a sala de visitas da urbe. Contudo, a minha sensibilidade leva-me a ter a percepção da realidade de tal microcosmo. Daí que o imperativo da minha consciência cívica me leve a partilhar com o leitor, em tom coloquial, algumas preocupações que por um motivo ou por outro, grassam o meu espírito.

Pedras há muitas
No início do passado mês de Fevereiro rebentaram as águas à terra-mãe, mesmo à entrada da rua de Santo André, junto ao local onde resido. Depois da rápida e bem-sucedida intervenção dos competentes serviços, o problema estava resolvido já no dia 4. Como memória desse dia, decorridos que são 3 meses, perduram as pedras da calçada, encostadas à parede lateral do Palácio da Justiça, como se de contraforte se tratasse. É sabido que a Justiça em Portugal está a precisar de uma reforma profunda. Porém, daí até pôr contrafortes nos Palácios da Justiça que por aí há, vai uma grande distância. É caso para dizer:
- Pedras há muitas, calceteiros é que não!

A sede do felino

A sede do felino
Há dias, em tarde soalheira, fui dar com um gatinho abandonado a beber água de uma cova da calçada, que a chuva da véspera ali vertera. Trata-se de uma das muitas concavidades presentes no local, cuja existência remonta ao tempo dos anteriores senhores. São depressões que teimam em manter uma convivência indesejada com os transeuntes e os veículos que por ali transitam. A imagem enternecedora do gatinho sequioso perdura ainda na minha retina. De tal modo que sou levado a perguntar:
- Que acontecerá ao gatinho se taparem as covas?

 O cemitério de beatas

O cemitério de beatas
A calçada negra, irregular e escalavrada, encontra-se em determinada zona, pejada e conspurcada por uma multiplicidade de beatas nela semeadas, preenchendo os interstícios das pedras. Em tempos de pandemia foram para ali atiradas, pisadas e esmagadas por fumadores, no decurso das infindáveis filas junto à padaria e ao multibanco. Por ali permanecem, vítimas da sua e nossa pouca sorte de termos um tal cemitério em plena via pública. Nem o céu as salvou. Pelo contrário, as águas celestiais vertidas por São Pedro sempre que assim o entendeu, encarregaram-se do resto, consolidando no solo as beatas jazentes. Qualquer delas, em ar de desafio, parece dizer-nos:
- Daqui não saio, daqui ninguém me tira!
No tempo em que havia varredores, elas já não estariam ali. Mas hoje, quando as vassouras são passeadas pela calçada, só é recolhido o lixo maior. Por isso, as beatas ali permanecem como libelo acusatório da falta de civismo dos fumadores, bem como indício e denúncia muda da falta de higiene urbana no local.
Todavia, o despontar das ervas nos passeios, associado a um cíclico renascer da natureza, constituem um lenitivo para as nossas mágoas e um hino de esperança em melhores dias que hão de vir.

Todos ao molho e fé em Deus

Todos ao molho e fé em Deus
No tempo da coligação da mãozinha com as setas (1986-1990) foi criado um parque de estacionamento em cima do passeio, junto aos contentores, o qual sem sobressaltos tem sido utilizado ao longo do tempo. A mãozinha livrou-se das setas (1990-1993), mas o parque de estacionamento continuou, prosseguindo no tempo da foicinha (1994-2005), a que se seguiu novamente o regresso da mãozinha (2005-2009). Depois, foi a vez do polegar levantado, à maneira de César (2009-2021). Retirado este de cena, lá veio novamente a mãozinha (2021-2025) e o parque continuou a ser usado. Por outras palavras, as pessoas têm usufruído do parque de estacionamento ao longo de quase 40 anos.
Acontece que por muitos afazeres ou por estarem distraídos, os senhores nos quais descarregamos periodicamente o papelinho, se esqueceram todos de legalizar o estacionamento, colocando no local a sinalização vertical prevista na lei. Tal omissão foi corrigida recentemente com a aposição no local de sinalização vertical, que restringe o estacionamento a 3 lugares, visando facilitar o acesso aos contentores do lixo e o trânsito pedonal para a Rua 5 de Outubro. Tratou-se de uma medida acertada, uma vez que o estacionamento no local foi sempre do tipo “Todos ao molho e fé em Deus”, como é timbre do Zé português.
Apesar de tudo, o problema não ficou resolvido, uma vez que a instalação da sinalização vertical não foi acompanhada da marcação horizontal a amarelo no pavimento, identificando a localização dos 3 lugares de estacionamento. Na sequência dessa omissão, continua “Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes”. Por outras palavras, o estacionamento no local continua a ser do tipo “Todos ao molho e fé em Deus”. Daí que cada um vá estacionando o carro onde lhe dá mais jeito. Até ver.
Publicado no jornal E nº 356 de 8 de Maio de 2025

terça-feira, 15 de abril de 2025

Benfica - Arouca

 

Bacia de barro vermelho vidrado, de Redondo. Decoração esgrafitada e pintada
com base na tradicional tricromia verde-amarelo-ocre castanho, sobre fundo creme.

O emproamento verbal de quem se regozija com o empate Benfica-Arouca, leva-me a concluir que “A mau falar, boa resposta dar”, acrescido de “Quem muito fala, pouco acerta” e como nada está decidido, remato proclamando: “Bom é saber calar até ser tempo de falar”.

- VIVA O BENFICA!

A matriz do meu pensamento, expressa e veiculada através do texto supra, é invariante e inalterável. Não reage a diatribes verbais reactivas, independentemente da sua origem e motivação. Fazê-lo seria contemporizar com o clima tóxico alimentado pelo fanatismo que grassa nas hostes clubistas.
A meu ver, o exemplo a apresentar à juventude, que é o futuro, é a da elevação e da verdade desportiva, a qual deve ser transversal, abrangendo dirigentes, jogadores e adeptos. O contrário é suicídio dos intervenientes e a morte do desporto. Para tal não podem contar com o meu contributo.