quinta-feira, 15 de março de 2012

A gestação dum texto

Fotografia de Rui Alves.



                                                           À Catarina, minha filha:


Como decerto já perceberam, sou um homem dado a prazeres. Tenho prazer em escrever, assim como muito me agrada que me leiam e se possam regalar com a leitura.
A gestação dum texto nem sempre é fácil. Pode ser rápida, mas também pode ser demorada. Todavia, o parto é sempre doloroso e ainda bem que assim é. Torna-se necessário sentir na pele o que custa criar algo, a partir de pouco mais que coisa nenhuma. Por isso não se pode escrever a metro, como quem enche chouriços. Há que ser artesão das palavras.
Os textos precisam de despertar o apetite como de morangos se tratasse e ter sonoridade quanto baste como os ribeiros de água cristalina.
Alguma “patine” também é precisa, Por isso, os textos devem ter cabelos brancos e rugas, que isso faz parte da beleza da vida.
De resto, é importante fazer passar a mensagem “Maria não vás com as outras”. O texto deve ter cabeça própria e mergulhar raízes na nossa identidade cultural, única forma de nos imunizar do contágio da eurocracia de pacotilha.
Finalmente, se o texto for irreverente, tanto melhor. E se deitar a língua de fora ao poder, então ainda melhor.
PIM! O texto chegou ao fim!

13 comentários:

  1. Tem toda a razão não se escreve a metro nem a pressão, simplesmente se escreve com uma certa inspiração ditada da sabedoria e do coração. De outra forma não faz sentido. E só por isso vou
    continuando a ler os seus escritos, porque também para ler é preciso saber entender.
    Rosa Casquinha

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  2. Hernâni, meu amigo do coração!... Sabes do que falas e do ofício que conhecemos. Das noites e dias de um outra dimensão que se avassala e que se vai moldando ao ser que vai dar grito e oferenda de sonhos a quem rasga horizontes de palavras alentadas. Nós porfiamos,é o nosso mais belo destino!... De se dar a gentes e mundos.

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  3. Amigo Hernâni, tem toda, toda a razão. Custa, dói na alma e na carne, no sono que não vem, na palavra que não diz tudo...
    Gosto de o ler e entendo o que diz. Mas, sobretudo, gostei do sabor que tem essa imagem de um texto irreverente deitar de fora a língua ao poder! É que cada vez este merece mais que lhe deitem a língua de fora!
    Obrigada pelo gosto que me/nos dá !

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    1. Fernanda:
      Um Texto é um pretexto para dizer ou não aquilo que nos vai na Alma.
      Um Texto pode ser uma proclamação libertária, mas também uma declaração de Amor ou o reconhecimento de um desamor que está fora de prazo.
      Um Texto pode ser tudo isso e milhentas coisas mais. Revolucionário, ternurento, solidário e por aí adiante.
      O que um Texto nunca poderá ser é prostituto e cúmplice com o poder. Por isso, a Missão do Texto, para além do pretexto dele próprio, é desmascarar, ridicularizar e isolar o poder.
      É preciso deitar-lhe a língua de fora, fazer-lhe manguitos e mesmo piretes fálicos com os três dedos centrais da mão direita, que é aquela que mais força tem.
      E todos os PINS que possamos clamar, serão sempre insuficientes.
      Por isso o Texto nunca poderá chegar ao fim. Terá que renascer sempre, com vigor redobrado, tal como a Luz que se reforça com a Sombra.
      Obrigado pelo seu comentário e pelo estímulo das suas palavras. Os meus respeitos.

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  4. Achei este seu pequeno texto uma maravilha. Não o conhecia nem ao seu blog; vim para aqui dirgido por um comentário do FaceBook que até já nem consigo encontrar; se não fosse um convicto agnóstico até diria que foi milagre. Gostei. Vou explorar os seus blogs quando tiver tempo. Para já fica nos favoritos. Continue.
    Luís Tenório

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    1. Luís:

      Muito obrigado pelo seu comentário.
      Procurarei não desmerecer o interesse manifestado na minha leitura.
      Cumprimentos.

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  5. Pedro:
    Obrigado pelo seu comentário.
    O texto é o caminho que percorremos à procura de novos rumos...

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  6. A angústia da página em branco é semelhante à da posse. Será que consigo? Depois começa-se lentamente, meigamente, esperando que a página goste de ser preenchida e tomada. Num alto de inspiração sente a respiração de quem a escreve, de quem a ama, de quem a possui. E findo o texto, escrevedor satisfeito e cansado, olha a página, consolado. Escrever é amar!

    Jorge Sales Golias

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    1. Escrever é muitas coisas. Entre elas amar, o que é uma das coisas mais importantes.
      Obrigado pelo seu comentário, Jorge.

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  7. Sentir o livro

    viver
    amar
    viajar
    mergulhar no feitiço das palavras
    experienciar
    sofrer
    rir
    brincar
    chorar de emoção…
    descobrir
    encetar uma aventura
    estímulo à imaginação.

    Maria do Rosário de Freitas
    12 de Novembro de 2012

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    1. Rosário:
      Muito obrigado pelo seu belo poema onde poeticamente nos fala do acto de leitura. Bem haja.

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