Aguadeiro (2016). Ricardo Fonseca (1986 - ).
Aguadeiro. José Moreira (1926-1991).
Excerto da comunicação por mim proferida
no decurso do colóquio "RECENTRAR / Memória, Barro e Saber-fazer",
que entre 20 e 21 de Setembro teve lugar no Castelo de Évora Monte,
integrado no Encontro Nacional de Olaria.
As minhas primeiras memórias acerca da olaria de Estremoz são registos etnográficos e remontam aos tempos da minha infância. Têm a ver com o consumo de água em casa de meus pais. A água era guardada em cântaros de barro, o que constituía prática corrente em todas as casas da urbe até à inauguração da rede pública de abastecimento de água, em 26 de Maio de 1952.
Até
então, a água era distribuída por aguadeiros que a acarretavam em
cântaros de folha de Flandres ou de barro, transportados em cangalhas assentes
no dorso de burros ou em divisórias de carroças para o transporte de água. Recolhida nas fontes, assim ia parar à casa
dos fregueses. À chegada, à porta da rua, a água era transvasada do cântaro que
a transportara para um cântaro de barro do freguês.
Os
aguadeiros eram figuras do quotidiano diário da época que ficaram perpetuadas
na barrística de Estremoz.
Mulher das castanhas. Oficinas de Estremoz dos finais do
séc. XIX. Ex-colecção Emídio Viana.
Mulher das castanhas (1938). Ana das Peles (1869-1945).
Ex-colecção Azinhal Abelho.
Outras memórias igualmente da minha infância têm a ver com a venda de castanhas à porta das tabernas. Aí, mulheres sentadas em cadeiras, assavam castanhas em assadores de barro, aquecidos por fogareiros a carvão, igualmente de barro.
Tal
como os aguadeiros também as mulheres das castanhas, como figuras
do quotidiano diário da época, ficaram perpetuadas na barrística de Estremoz.
Qualquer
das memórias desperta em mim outras memórias. Assim, a memória dos aguadeiros
carrega consigo a memória da frescura e do sabor inigualável da água contida em
recipiente de barro. Por outro lado, a memória das mulheres das castanhas
transporta consigo o odor e o sabor das castanhas assadas. É caso para dizer
que as memórias são como as cerejas, vêm umas atrás das outras.
Hernâni Matos
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