O número e a diversidade destes
grupos corais, pode levar os leitores a pensarem que o objecto da presente
crónica é falar dos coralistas redondenses que integrem o naipe dos tenores ou
seja as vozes masculinas com a voz mais aguda. Mas tal não é o caso, pois o
termo “tenor” pode também designar um “aparador de aguardente”, isto é um
recipiente outrora utilizado nas adegas para recolher a aguardente obtida por
destilação do vinho nos alambiques.
Redondo é simultaneamente terra
de vinho e terra de oleiros, pelo que é natural que o vasilhame usado
tradicionalmente nas adegas fosse de barro, recurso local disponível. Assim se
evitava comprar vasilhame confeccionado com materiais que não constituíssem
recursos locais disponíveis (vidro ou metal) o qual seria mais caro.
Daí que as olarias locais
manufacturassem aparadores de aguardente (tenores) em barro vidrado (pelo menos
no interior), de base circular e plana, com morfologia variável com ou sem
asas. Eram os chamados “tenores de Redondo”, objectos oláricos actualmente
caídos em desuso.
A opção dos adegueiros pelo uso
de vasilhame de barro ecoou na cultura popular, a qual regista adágios aqui
aplicáveis: “No poupar é que está o ganho", “A necessidade é
mestra de engenho” e “Quem não tem cão, caça com gato."
A terminar e como está frio,
brindo-vos com alguns adágios sobre a aguardente. Dois deles, recomendam o seu
uso: "Aguardente, para o frio é quente”, "Uma pinga de aguardente,
faz bem a toda a gente". Pelo contrário, dois outros consideram o seu
consumo contra-indicado: "Pela manhã, a aguardente afugenta a gente”
"Aguardente não mata, mas ajuda a morrer".
Digam lá se a cultura popular é ou não é uma cultura democrática? É claro que sim. Há adágios que advogam uma coisa e outros que apregoam exactamente o contrário, o que sugere que a opção fica ao livre arbítrio de cada um. Há até um adágio que proclama: "Cada um sabe as linhas com que se cose". Permito-me aqui opinar sobre o assunto, propondo como que uma correcção: “sabe ou não”. Acho mais prudente fazer passar esta ideia.
Hernâni Matos


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