com motivos geométricos e florais, distribuídos por faixas no sentido do
comprimento. Tricromia verde – vermelho – preto. 60,5 cm x 3 cm.
Canudos de lume
da Colecção Hernâni Matos
À lareira, no Alentejo de outros tempos
No Alentejo de antanho, quando chegava o Inverno seroava-se à lareira, o que era prática corrente, tanto na casa dos camponeses como dos senhores da terra. As noites eram longas e o frio era de rachar, sobretudo nas casas dos pobres, menos confortáveis, muitas vezes com telhados de telha-vã [i] e pavimentos que eram de tijoleira e muitas vezes de laje de xisto.
O lume que crepitava frente às “bonecas”[ii] aquecia os membros da família sentados num “mocho”[iii] ou num “burro”[iv]. Simultaneamente, o fumo ascendente da lareira ia curar os enchidos do fumeiro suspensos de traves no interior da chaminé. Isto, é claro, se a família era daquelas que tinham posses para fazer a “matança do porco”, o que não constituía regra geral, nem lá perto.
Era à volta da lareira que a família fazia o balanço desse dia, se falavam dos planos para o dia seguinte, se evocavam aqueles que já tinham partido e os mais velhos davam conselhos aos mais novos. Era também à lareira que para “passar o tempo”, era transmitida de pais para filhos, a rica tradição oral que integra a matriz da nossa identidade cultural: estórias, cancioneiro popular, adivinhas, provérbios, lengalengas, rezas, etc.
Os canudos de lume
À medida que o tempo passava, a lenha ia sendo consumida e o lume ficava mais fraco. Tornava-se necessário reavivá-lo, acrescentando mais lenha ou/e atiçando o fogo, o que se conseguia utilizando o “canudo de lume”.
Este é um utensílio tradicional de forma tubular, utilizado como soprador de lume, o qual permite direccionar o ar para as brasas ou para a lenha, visando avivar o fogo. Para tal, o utilizador sopra na extremidade do orifício mais largo, saindo o ar pela extremidade oposta com o orifício mais estreito, em direcção ao lume.
O canudo de lume pode ser de metal, de madeira ou de cana, perfuradas. Nestes dois últimos casos, a superfície dos canudos de lume pode se encontrar finamente trabalhada e decorada, o que torna os canudos de lume, artefactos de arte pastoril.
Hernâni Matos
[i] O telhado de telha-vã era um tipo de cobertura em que as telhas de canudo (telhas mouriscas) de barro eram aplicadas directamente sobre a estrutura de suporte (barrotes e ripas de madeira), sem a instalação de qualquer forro por baixo.
Este tipo de cobertura favorecia a ventilação natural do espaço situado abaixo, o que era benéfico no Verão mas péssimo no Inverno, além de que oferecia fraco isolamento acústico, o que constituía um enorme inconveniente em períodos de ventania.
[ii] Ornamento interior das chaminés.
[iii] Banco baixo, confeccionado em madeira e com travessas para fortalecer os pés, empalhado em buinho.
[iv] Também designado por “tripeça”, já que é um assento de três pés e sem encosto, confeccionado toscamente, a partir de tronco de sobreiro ou de azinho.
Fig. 2 – Autor desconhecido. Incisões em baixo relevo sobre madeira. Decorado
com motivos geométricos e florais, distribuídos por faixas no sentido do comprimento.
Pentacromia verde – vermelho – azul – amarelo – laranja. 60,5 cm x 3 cm.
Fig. 3 – João Catarino (Orada). Incisões em baixo relevo sobre madeira. Decorado
com motivos geométricos, distribuídos por faixas no sentido do comprimento.
81 cm x 2,5 cm.
Fig. 4 – João Catarino (Orada - Borba). Incisões em baixo relevo sobre cana.
Decorado com motivos geométricos distribuídos por faixas no sentido do
comprimento. 87 cm x 2,5 cm.
Fig. 5 – Carlos Damas (Alandroal). Incisões em baixo relevo sobre madeira.
Decorado com motivos geométricos, distribuídos por faixas no sentido do
comprimento. Heptacromia verde – vermelho – azul – amarelo – rosa - lilás – preto.
69 cm x 2 cm. Mais estreito numa das extremidades que na outra.
Fig. 6 – Carlos Damas (Alandroal). Incisões em baixo relevo sobre madeira.
Decorado com motivos geométricos, distribuídos por faixas no sentido do
comprimento. 53,5 cm x 2.5 cm.
Fig. 7 – Teresa Serol Gomes (Estremoz). Incisões em baixo relevo sobre madeira.
Decorado com motivos florais que se distribuem no sentido do comprimento.
66,5 cm x 2 cm.
Fig. 8 – Teresa Serol Gomes (Estremoz). Incisões em baixo relevo sobre madeira.
Decorado com motivos fitomórficos, zoomórficos e antropomórficos que se distribuem
no sentido do comprimento. Madeira escurecida com aguada de viochene.
69 cm x 1,9 cm. Mais estreito numa das extremidades que na outra.
Fig. 9 – Joaquim Rolo (Glória – Estremoz). Incisões em baixo relevo sobre madeira.
Decorado com motivos geométricos e florais distribuídos por faixas no sentido do
comprimento. Madeira escurecida com aguada de viochene. 65,5 cm x 2,2 cm.
A extremidade da saída do ar termina em bisel.
Fig. 10 – Joaquim Rolo (Glória – Estremoz). Incisões em baixo relevo sobre madeira
Decorado com motivos geométricos, florais, zoomórficos e antropomórficos distribuídos
por faixas no sentido do comprimento. A decoração com motivos zoomórficos e
antropomórficas recorre a excrescências da madeira. 74 cm x 3 cm.
Mais estreito numa das extremidades que na outra.










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