O Amor é cego (s/d). Sabina Santos (1921-2005).
“O Amor é cego” é um Boneco de Estremoz
cuja origem remonta ao séc. XIX. É considerado uma figura de Carnaval e uma
alegoria à cegueira do amor e ao Cupido de olhos vendados. Trata-se de um tema
recorrente na pintura universal, onde conheço os seguintes quadros: - Cupido
com os olhos vendados (1452-1466) - Piero Della Francesca; - Primavera (c.
1482) - Sandro Botticelli (1445-1510); - Cupido, o pequeno amor com os olhos
vendados perfura o peito de um jovem (séc. XVI) – Clément Marot; - O julgamento
de Páris (1517-1518) – Niklaus Manuel; - Vénus e Cupido (c. 1520) – Lucas
Cranach, o Velho; - Vénus a vendar Cupido (c. 1565) - Vecellio Tiziano; -
Cupido castigado (séc. XVII-XVII) - Ignaz Stern; - Vénus a punir o amor profano
(c. 1790) – Escola alemã.
“O amor é cego” é um provérbio que traduz a
cegueira do amor (falta de objectividade), relativamente à qual são conhecidos
outros provérbios: “A amizade deve ser vidente e o amor, cego”, “O amor é cego
e a Justiça também”, “O amor é cego, a amizade fecha os olhos”, “O amor é cego,
mas vê muito longe”, “O amor não enxerga as cores das pessoas”, “O amor vem da
cegueira, a amizade do conhecimento”, “Quem anda cego de amores não vê senão
flores”, “Quem o feio ama, bonito lhe parece”.
O provérbio “O amor é cego” é muitas
vezes atribuído ao filósofo grego Platão (427-348 aC ), porque em “As Leis”
escreveu “Aquele que ama é cego para o que ama”. No entanto, é errado, atribuir
às palavras de Platão o significado que o provérbio tomou, porque naquele
texto, o filósofo fala de amor-próprio como fonte de erro.
“Amor é cego” é o título do soneto 137 de
William Shakespeare (1564-1614) cuja primeira quadra traduzida pelo poeta
António Simões nos diz que: “Tolo e cego Amor, a meus olhos que fazes agora, /
Que eles olham e não vêem o que a ver estão? / Conhecem a beleza e onde ela se
demora, / Mas, o que é pior, por melhor tomarão.”
A cegueira do amor está também retratada
no cancioneiro popular alentejano (2): “O Cupido anda às cegas, / Cahe aqui,
cahe acolá; / Em má hora eu te amei. / Em má hora, hora má.”
“O amor é cego e vê” é o título de uma ária
cantada por Tomás Alcaide (1901-1967) no filme “Bocage” a qual teve música de
Afonso Correia Leite / Armando Rodrigues e letra de Matos Sequeira / Pereira
Coelho. Roberto Alcaide (1903-1979), irmão de Tomás Alcaide tinha o hábito de
afirmar que o boneco “O Amor é cego” tinha sido criado por Mariano da Conceição
em homenagem ao irmão [Entrevista à barrista Maria Luísa da Conceição (1)]).
Tal afirmação não tinha fundamento algum, já que a figura remonta ao séc. XIX e
Mariano da Conceição nunca modelou “O Amor é cego”.
BIBLIOGRAFIA
(1)
- MATOS, Hernâni. Entrevista a Maria Luísa da Conceição. Estremoz,
7 de Fevereiro de 2013. Arquivo de Hernâni Matos.
(2)
- THOMAZ PIRES, A. Cantos Populares Portugueses. 4 vol. Typographia
e Stereotypia Progresso. Elvas, 1902 (vol. I), 1905 (vol. II), 1909 (vol. III),
1012 (vol. IV).
Publicado inicialmente a 10 de Maio de 2019
Este texto integra o meu livro "BONECOS DE ESTREMOZ" publicado em 2018
O AMOR é cego mas vê. O tacto fica mais apurado quando falha outro sentido
ResponderEliminarSaudações, gostei de ler o texto.
ResponderEliminarCongratulo-me com isso.
EliminarNunca é tarde para aprender muito o brigado
ResponderEliminarCongratulo-me por o texto ter sido do seu agrado.
Eliminar