Fig. 1 - Francisca Emília
Guerra Vieira de Barros (1874-1957) com a idade de 47 anos,
fotografada com seu
marido Manuel Duarte Baptista de Barros (1870-1958), com a
idade de 51 anos. Fotografia
de Furtado e Reis, Rua de Santa Justa, nº 107, Lisboa,
obtida em 1921. Arquivo
fotográfico do autor.
FRANCISCA EMÍLIA GUERRA VIEIRA DE BARROS (1874-1957)
Nasceu a 4 de Outubro de 1874 numa casa
da Rua Direita, na freguesia de Vimieiro, concelho de Vimieiro. Filha legítima
de João José Vieira, proprietário, natural da freguesia de Vimieiro e de Emília
Vitória, de profissão governo de casa, natural da freguesia de Brotas, concelho
de Évora. Francisca Emília seria baptizada a 9 de Novembro de 1874, na igreja
paroquial do Vimieiro (3).
A 20 de Janeiro de 1897 e com a idade de
22 anos viria a casar com Manuel Duarte Baptista de Barros, de 26 anos,
secretário da Santa Casa da Misericórdia de Estremoz. O casamento teria lugar
na igreja paroquial de São Bento do Ameixial, concelho de Estremoz. A noiva
viria a adoptar de seu marido o apelido Barros (4).
Manuel Duarte Baptista de Barros nascera
a 23 de Outubro de 1870 numa casa do Largo da Porta Nova, em Estremoz. Filho
legítimo de José Baptista de Barros, negociante e proprietário, natural de
Santa Maria Madalena de Alvaiázere, concelho de Alvaiázare e de Maria Apolónia
Duarte, governadeira de sua casa, natural da freguesia de Vidigão, concelho de
Arraiolos. Manuel Duarte viria a ser baptizado a 22 de Novembro de 1870, na
igreja paroquial de Santo André, em Estremoz (7).
O historiador Diogo Vivas (9) estabeleceu
uma biografia muito completa do marido de Francisca Emília: “Manuel Duarte
Baptista de Barros, filho de José Baptista de Barros e de Maria Apolónia
Duarte, nasceu na freguesia de Santo André, concelho de Estremoz, a 23 de
Outubro de 1870. A
sua educação ficou a cargo de um tio uma vez que ainda muito novo viria a
perder os seus pais. Completada, às expensas do tio, a sua formação liceal em
Évora teve por objectivo prosseguir os seus estudos em Lisboa, na Faculdade de
Farmácia. Porém, não sendo aceite essa nova deslocação para estudo, manteve-se
em Estremoz onde foi nomeado Secretário da Santa Casa da Misericórdia de
Estremoz, cujo cargo desempenhou até à aposentação. Em 20 de Janeiro de 1897
casou com Francisca Emília Guerra Vieira de Barros, na freguesia de São Bento
do Ameixial, concelho de Estremoz. Nas eleições de 14 de Novembro de 1917,
candidatando--se nas listas do Partido Republicano Português, foi eleito Presidente
da Comissão Executiva da Câmara Municipal de Estremoz. Tomou posse a 2 de
Janeiro de 1918 estando em exercício de funções até 4 de Fevereiro do mesmo
ano, quando a Comissão é dissolvida na sequência da chegada ao poder de Sidónio
Pais. Terminado o consulado sidonista é novamente empossado como Presidente da
referida Comissão a 7 de Março de 1919. Mantém-se no cargo até 1 de Janeiro de
1923. Iniciado a 22 de Julho de 1909 no Triangulo n.º 114, do REAA, de Estremoz
com o nome simbólico “Marquês de Pombal”. Atingiu o grau 6.º em 20 de Fevereiro
de 1918. Fundador do Triângulo e da Loja Propaganda em 10 de Janeiro de 1910.
Filiado, por passagem, em 21 de Março de 1924 na Loja Acácia, n.º 281, de
Lisboa. Faleceu a 2 de Abril de 1958 na freguesia de Santo André, concelho de
Estremoz.” Sabe-se que Francisca Emília e Manuel Duarte (Fig. 1) moravam no nº
28 e 30 da Rua Dr. Oliveira Salazar, antiga Rua de Santa Catarina e actual Rua
31 de Janeiro, em Estremoz. Francisca Emília era uma Senhora de Sociedade e
modelava os seus Bonecos, por um misto de motivação interior e de recreação,
não os comercializando, mas oferecendo-os a familiares e pessoas amigas.
A Dr.ª Maria Margarida Barros de Queiroz
Martins Mantero Morais, nascida em Estremoz a 20 de Novembro de 1934, e sobrinha-neta
de Francisca de Barros, prestou-me um interessante e valioso depoimento escrito
(6) que ajuda a caracterizar a barrista, o qual passo a transcrever: “A Tia Francisca Vieira de Barros (Fig.
1) minha Tia-Avó, era cunhada do meu Avô José Baptista de Barros, casada em
1897 com o seu único irmão Manuel Duarte de Barros. Em família, todos lhe
chamavam Chica. Era a Tia Chica para a minha Mãe e minhas Tias, a Avó-Chica
para o único neto, meu primo Manuel Joaquim Monteiro de Barros, poucos anos
mais velho do que eu. As lembranças que guardo dela fazem parte das minhas
memórias de criança. Datam dos meus 8 ou 9 anos, talvez 10, portanto de 1942,
43 ou 44, uma vez que eu nasci em 1934.
Era uma senhora muito recatada. Não era
expansiva, nem muito alegre, mas serena, calma e afável. Não tenho qualquer
ideia de vê-la fora de casa. Nunca participava nas reuniões familiares. Já o
mesmo não se passava com o marido, o Tio Manuel, que visitava com alguma
frequência os meus avós e que eu conhecia bem e encontrava por vezes na rua. Eu
morava com os meus pais numa casa perto da sua, na mesma rua. Talvez fosse esta
a principal razão por que ele me levou várias vezes até à Tia Chica para a ver
a fazer bonecos.
Quando eu chegava, ela estava sempre
sozinha numa pequena sala ao fundo do corredor, perto da cozinha, com muita
luz, a trabalhar. Interrompia a sua actividade, parecia agradada com a minha
presença e afavelmente explicava-me o que estava a fazer.
Recordo-a com um grande avental em
frente de uma mesa de madeira onde havia barro, tintas e pincéis. Dizia-me que eu
podia mexer onde quisesse e dava-me algum barro para eu modelar. Devo confessar
que Deus não me fadou para tal arte e nada saía de jeito, mas gostava
imensamente de ali estar naquela pequena sala muito iluminada pela luz do dia,
num ambiente diferente e para mim um pouco estranho. Olhava-a maravilhada e
admirada como era possível de um bocado de terra mole saírem santos, pastores e
borreguinhos.
Um Natal deu-me um presépio com as três
figuras principais, de que me restam apenas a Nossa Senhora e o São José.
A ideia que eu guardo da Tia Chica é a
de uma Senhora que não fazia renda, não ia para as Termas como a minha Avó, nem
saía de casa como a minha Mãe ou as minhas Tias. Vivia muito só, fechada no seu
mundo e dedicava todo o tempo que lhe sobrava das tarefas domésticas a fazer os
seus Bonecos de Estremoz.”
Aos Bonecos de Francisca Emília se
refere o poeta e escritor Celestino David (1880-1952), no nº 628 do jornal
Brados do Alentejo, de 31 de Janeiro de 1943 (1), no qual são reproduzidas e
por ele descritas cerca de 50 figuras executadas pela barrista. Diz-nos ele:
“Com esse pensamento, a sr.ª D. Francisca Vieira de Barros, fez com
inteligência e aptidão artística, uma colecção muito interessante, interpretada
por amadorismo da plasticidade, de sua inovação, cópia de modelos humanos de
que ressalta a realidade das atitudes, expressões, indumentárias, cores, tudo
de uma parecença exacta que é pena – esta senhora que me perdõe – não precisar viver
disso para desenvolver o comércio desses novos Bonecos de Estremoz. Outros
poderão tentá-lo com tal fim”.
Francisca Emília Guerra Vieira de
Barros, após prolongado sofrimento, faleceu a 7 de Setembro de 1957, com a
idade de 82 anos (5), (2), (8). Era mãe do Eng.º José Manuel Vieira de Barros e
avó do Eng.º Manuel Joaquim Monteiro de Barros.
Francisca Emília está representada no
acervo do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho, o qual inclui figuras
como “Primavera”, “Rei negro”, “Mulher a passar a ferro”, “Pastor” e “Mulher da
azeitona”. Está ainda representada em colecções particulares como a de seu neto
Eng.º Manuel de Barros, sua sobrinha neta Dr.ª Maria Margarida Mantero Morais,
na colecção de Delfina Mota e na minha.
As Irmãs Flores informaram-me que,
depois de elas terem aberto oficina por conta própria, uma senhora da família
de Francisca Emília que morava na Praça Luís de Camões nº34, em Estremoz, foi à
sua oficina oferecer-lhes os moldes em gesso que aquela barrista usava na
feitura das caras dos Bonecos.
BIBLIOGRAFIA
(1) - DAVID, Celestino. A
Plasticização do Barro de Estremoz in Brados do
Alentejo nº 628, 31/01/1943. Estremoz, 1943 (pág. 14 e 15).
(2) - FALECIMENTOS
– Francisca Emília Guerra Vieira de Barros in Brados
do Alentejo nº 1368, 15/09/1957. Estremoz, 1957 (pág. 2).
(3) - Francisca
Emília Guerra Vieira de Barros – Assento de
Baptismo nº 67 de 1874 da Freguesia de Vimieiro, concelho de Estremoz.
(4) - Francisca
Emília Guerra Vieira de Barros – Assento de
Casamento nº 1 de 1897, da Freguesia de São Bento do Ameixial, concelho de
Estremoz.
(5) - Francisca
Emília Guerra Vieira de Barros – Extracto do
Registo de Óbito nº 130 de 1957, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
(6) - MANTERO MORAIS, Maria Margarida
Barros de Queiroz Martins. Depoimento sobre
Francisca Emília Guerra Vieira de Barros. Estremoz,
2018. sp.
(7) - Manuel
Duarte Baptista de Barros – Assento de Baptismo nº
151 de 1870, da Freguesia de Santo André do Concelho de Estremoz.
(8) - NECROLOGIA
– D. Francisca Emília Vieira de Barros in O Eco
de Estremoz nº 2848, 15/09/1957. Estremoz, 1957 (pág. 2).
(9) - VIVAS, Diogo. Os
Presidentes da Câmara Municipal de Estremoz 1910–2006. Câmara Municipal de
Estremoz. Estremoz, 2006. (pág. 59-60).
Fig. 3 - Rei negro. Francisca Vieira de
Barros (1874-1957).
Acervo do Museu Municipal de Estremoz.
Fig. 4 - Mulher a passar a ferro. Francisca
Vieira de Barros (1874-1957).
Acervo do Museu Municipal de Estremoz.
Viva Hernâni,Se bem compreendi o que li a Sra. D. Francisca ainda era viva, no tempo em que o Senhor Sá Lemos tentava convencer a Ti Ana Das Peles a recordar-se como se faziam os bonecos, é então claro que desconhecia a habilidade e existência dessa senhora....
ResponderEliminarSempre interessada no que nos dá a conhecer. Obrigada.
Viva Hernâni, Se bem entendi o que li, a Sra. D. Francisca era do tempo em que o Sr. Sá Lemos andava a tentar que a Ti Ana das Peles se recordasse como se faziam os bonecos. Desconheciam portanto a habilidade e existência dessa Senhora.
ResponderEliminarNão vale a pena comentar o interesse que tenho pelo seu trabalho que muito agradeço.
Boa tarde, Sr. Hernâni Matos,
ResponderEliminarGostava de saber se o Sr. José Baptista de Barros era filho de Capitão da Marinha Daniel Baptista de Barros ou neto de João Baptista de Barros, de Viseu.
Além disso, como Manuel Duarte Baptista de Barros foi responsável pela Santa Casa da Misericórdia e, posteriormente, eleito em Estremoz, gostava de saber se tem alguma informação sobre o antigo cemitério da Misericórdia, que deixou de existir depois de 1888. Possui algum dado sobre o traslado dos corpos?
Meus melhores cumprimentos,
Jonathan Machado
Infelizmente não lhe sei responder a nenhuma das questões formuladas.
EliminarOs meus melhores cumprimentos.