Burro (Anos 80 do séc. XX).
Sabina Augusta da Conceição Santos (1921-2005).
Colecção particular.
Há milhares de anos que o burro é utilizado pelo
homem no transporte de pessoas e de carga, atrelado a carroças ou albardado,
transportando alforges ou cangalhas, tal como o faziam os almocreves e os
aguadeiros. Foi também muito utilizado para fazer mover noras, assim como na
agricultura, nomeadamente na lavra e na gradagem. Actualmente é uma espécie em
vias de extinção, devido ao abandono do mundo rural e da agricultura de
subsistência, fruto da mecanização dos trabalhos agrícolas.
É abundante a presença do burro na literatura de
tradição oral. A nível do cancioneiro popular alentejano é conhecida a quadra:
“Eu subi á serra d’Ossa / A cavalo num burrinho / Fui com medo de cair / Dentro
d’algum barranquinho.”. São bem conhecidos os adágios: “A gente, queira ou não
queira, tem de ir de burro à feira”, “Burro que geme, carga não teme” e “Um
olho no burro, outro no cigano”. A nível de ditados tópicos temos: “É como os
burros de Borba que acarretam vinho e bebem água”. No que respeita a adivinhas
é bem conhecida esta: "Cal é, cal é, quem não adivinha burro é?".
Quanto a lengalengas é muito famosa a seguinte: “ Arre burro / De Loulé / Carregado
/ De água-pé; Arre burro / De Monção / Carregado / De requeijão; Arre burrinho /
Pra S. Martinho / carregadinho / de pão e vinho; Arre burrinho / Arre burrinho /
Sardinha assada / Com pão e vinho.”.
No cristianismo, o burro simboliza pobreza, humildade,
paciência, tenacidade, força e obstinação. Daí ter sido usado na fuga para o
Egipto, descrita no Evangelho Segundo São Mateus (2:13-15), em que São José foge com
Nossa Senhora e o Menino Jesus, depois de ter sido avisado por um Anjo, do
massacre de crianças que iria ser perpetrado por ordem de Herodes. Terá sido
montado num burro que Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém, uma semana antes
da sua ressurreição (Mateus 21:1-11).
A nível de figurado de Estremoz, o burro não figura
nos tradicionais presépios de 6 figuras e de trono ou altar. Todavia, aparece
na bem conhecida “Fuga para o Egipto”, conjunto composto pela figura de Nossa
Senhora montada num burro, com o Menino Jesus ao colo, tendo à frente a figura
de São José, segurando um bordão rematado por um lírio.
Recentemente adquiri uma figura representando um
burro assente numa base rectangular, com as dimensões de 9,7 x 14,5 x 17 cm e que pesa 1140 g . Ostenta na base a
seguinte marca manuscrita de autor: “ Estremoz Portugal / Sabina A Santos “,
acompanhada da inscrição “Lembrança / do / Zé Artur”. Trata-se de uma peça que pertenceu
à professora eborense Ivone Andrade, já falecida e cuja colecção de burros
esteve à venda no Mercado das Velharias, em Estremoz. Terá sido
uma peça confeccionada por encomenda e que provavelmente é única. Esta marca
manuscrita era até agora desconhecida.A barrística de Estremoz está sempre a
surpreender-nos.
A mim os burros, sejam de barro sejam naturais, sempre me agradaram e agradam. São uma raça em vias de extinção que devemos preservar. Apenas tenho antipatia ( no mínimo ) pelos burros que feitos doutores se pavonear por S. Bento e, até por Belém , como actualmente
ResponderEliminarOctávio:
EliminarSubscrevo inteiramente o seu pensamento.
Os meus melhores cumprimentos.