Fig. 1 - Aclénia Pereira (1927-2012), com a idade de 13 anos.
Fotografia de autor desconhecido.
Fotografia de autor desconhecido.
CRÉDITOS
Bonecos fotografados por Luís Mariano Guimarães (2018).
Nascimento e nome
Aclénia nasceu às 21 horas do dia 26 de
Fevereiro de 1927 no nº 12 da Rua Magalhães de Lima, Freguesia de Santo André de
Estremoz. Filha legítima de Carlota Rita Capeto Pereira, 23 anos, doméstica,
casada com Ricardo de Jesus Pereira Ventas, 26 anos, conceituado relojoeiro e
ourives da nossa praça[1]
46, natural como sua mulher da Freguesia de Santo André, concelho de Estremoz
(4).
A criança então nascida era neta paterna
de Joaquim Abílio Ventas e de Adelaide do Nascimento Pataco e neta materna de
Estevão da Silva Capeto e de Perpétua Rosa Polido Capeto. A recém-nascida foi
registada a 21 de Março de 1927, no Registo Civil de Estremoz. Apadrinharam o
acto, José Joaquim Pereira Ventas, sapateiro, maior, e Maria Antónia Pulido
Capeto, doméstica, maior, ambos residentes em Estremoz.
A menina recebeu o nome de Aclénia
Risolete Capeto Ventas. Em 1945 o pai de Aclénia foi autorizado superiormente a
mudar o nome para Ricardo de Jesus Pereira, pelo que a filha com a idade de 18
anos foi também autorizada a alterar o nome para Aclénia Risolete Capeto
Pereira.
Em 28 de Dezembro de 1960, com a idade
de 33 anos, casou na Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, com
Pedro Paulo de Oliveira e Noronha, de 30 anos, natural de vale de Santarém,
Santarém, onde o casal passaria a residir. O nome da noiva passaria então a ser
Aclénia Risolete Capeto Pereira e Noronha (1).
Infância e juventude
Aclénia cresceu sem problemas e
frequentou o Ensino Primário Elementar em Estremoz, tendo sido aprovada no
exame de 2º grau em 1939, com a idade de 12 anos. Com a idade de 13 anos,
Aclénia (Fig. 1) inscreveu-se em 1940 na Escola Industrial António Augusto
Gonçalves[2]
situada na rua da Pena nº 11 em Estremoz, no local onde funcionaria mais tarde a
Ala nº 2 da Mocidade Portuguesa Masculina e depois o Salão Paroquial de Santa
Maria (3). Era então director José Maria de Sá Lemos (1892–1971). A organização
do Ensino Técnico-Profissional era regida pelo Decreto nº 20.420 de 20 de
Outubro de 1931. Na Escola era ministrado o ensino dos seguintes ofícios:
canteiro civil, canteiro artístico, oleiro e tapeceira, sendo o pessoal docente
desta Escola composto por 1 professor e 3 mestres.
Aclénia inscreveu-se no Curso de
Tapeceira e frequentou a Escola com aproveitamento até ao 3º ano, tendo
realizado todos os exames e frequências constantes do currículo. Não frequentou
todavia o 4º ano.
Na oficina de tapeçaria aprendeu com
Mestra Joana Maria de Albuquerque Simões e na oficina de Olaria com Mestre Mariano
Augusto da Conceição (1902-1959). A oficina de tapeçaria era no 1º andar e a
oficina de olaria, logo à entrada da Escola, do lado direito. Com as mãos
sábias e experientes de Mestra Joana aprendeu o ponto de Arraiolos, a bordar, a
recortar autênticas filigranas em papel e o deslumbramento da Arte Conventual.
Por sua vez, Mestre Mariano soube transmitir-lhe a arte bonequeira.
Com tais mestres e dotada de rara
habilidade e fina sensibilidade, Aclénia aprendeu a dominar os materiais e a
criar artefactos que nos deleitam o espírito.
Depois de ter saído da Escola Industrial
António Augusto Gonçalves terá frequentado a Escola do Magistério Primário de
Évora, após o que passou a desempenhar funções de Professora do Ensino
Primário, o que fez até à altura da sua aposentação. Após o casamento, em 1960,
deixou de morar na Avenida Dr. Marques Crespo, nº 23, em Estremoz, para onde
entretanto mudara e transferiu-se para Santarém.
O
regresso às origens
Em 1983 participou na I Feira de Arte
Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, cujo stand 5, 6, 7 ocupou. Dela
diz o catálogo (5): “Natural de Estremoz e residente em Santarém, dedica-se de
há longos anos à prática de variadíssimas técnicas, às artes popular e
conventual. Com barro, tecidos, papel, metal, organiza pequenas obras de arte
preenchendo da melhor maneira os lazeres da sua vida doméstica e profissional.”.
De acordo com o jornal “Brados do Alentejo” (6), Aclénia participou no certame
nas secções de “Barro”, “Papel” e “Têxteis”. Ainda de acordo com o catálogo,
partilhou o stand com sua tia Ernestina Capeto de Matos[3]
que apresentou trabalhos de arte conventual.
Aclénia está representada com os seus
Bonecos de Estremoz em colecções particulares e no Museu Rural de Estremoz.
Os Bonecos de Aclénia
Aclénia reproduziu as figuras que aprendera com Mestre Mariano: figuras que têm a ver com a realidade local, figuras intimistas que têm a ver com o quotidiano doméstico, figuras que são personagens da faina agro-pastoril das herdades alentejanas, figuras alegóricas e imagens religiosas.
Aclénia reproduziu as figuras que aprendera com Mestre Mariano: figuras que têm a ver com a realidade local, figuras intimistas que têm a ver com o quotidiano doméstico, figuras que são personagens da faina agro-pastoril das herdades alentejanas, figuras alegóricas e imagens religiosas.
Os Bonecos de Aclénia são
inconfundíveis, a meu ver pela ingenuidade e simplicidade dos traços do rosto,
que com a sua rara sensibilidade feminina lhes soube transmitir.
Normalmente têm estampadas na base a
marca de identificação da barrista: “Tanagra ” dentro de um rectângulo de 3 cm x 1 cm e a marca de
identificação do local de produção: “ESTREMOZ / PORTUGAL”, em maiúsculas e em
duas linhas, dentro de um rectângulo de 2,7 cm x 1 cm (Fig. 5).
Uma interpretação possível
As “tanagras” são estatuetas de barro
fabricadas com moldes que foram descobertas em túmulos antigos na cidade de Tanagra,
antiga cidade grega da Beócia, situada não muito longe de Platéia, a 20 km de Tebas, perto da
fronteira com a Ática. O facto de se terem encontrado as tanagras em túmulos antigos
é indicativo de que elas tinham uma função funerária. Representam, a maior
parte das vezes, mulheres graciosas cobertas com vestidos elegantes, jovens e
mais raramente crianças. Estiveram em voga desde o séc. IV a.C. até ao fim do
século III d.C. As tanagras tornaram-se a encarnação da graça feminina e, por
extensão, a palavra tanagra serve para adjectivar uma jovem fina e graciosa.
O facto de Aclénia, como barrista usar a
palavra “Tanagra” como marca de identificação é revelador de que sabia que a
palavra era sinónimo de estatueta fina e elegante. Todavia vou mais longe, como
Aclénia era uma mulher bela e elegante, poderá ter escolhido aquela marca de
identificação, por se considerar ela própria uma “Tanagra”. É uma hipótese
absolutamente plausível e que partilho com o leitor.
O falecimento de Aclénia
Em 21 de Abril de 2012, faleceu com a
idade de 85 anos na Casa de Saúde do Montepio Rainha D. Leonor, na Freguesia de
Nossa Senhora do Pópulo nas Caldas da Rainha, Aclénia Pereira (2), artesã
polifacetada e barrista estremocense, que tive o privilégio de conhecer nos
anos 50 do século passado, em virtude de ser amiga de minha prima Adozinda Pacífico
Carmelo da Cunha, que era íntima da casa de seus pais e me levava a passear com
ela.
BIBLIOGRAFIA
(1) - Aclénia
Risolete Capeto Ventas - Assento de Casamento nº
1 de 1960, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
(2) - Aclénia
Risolete Capeto Ventas - Assento de Óbito nº 332
de 2012, da Conservatória do Registo Civil de Santarém.
(3) - Aclénia
Risolete Capeto Ventas – Processo individual de
aluna nº 345, no Arquivo da
Escola Industrial António Augusto Gonçalves e sucessoras.
(4) - Aclénia
Risolete Capeto Ventas - Registo de Nascimento
nº 157 de 1927, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
(5) -
Catálogo da I Feira de Arte Popular e Artesanato. Câmara Municipal
de Estremoz. Estremoz, 15 a 17 de Julho de 1983.
(6) - I
Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz in
Brados do Alentejo, 3ª série, nº 93. Estremoz, 15 de Julho de 1983.
[1] A relojoaria e ourivesaria do pai de Aclénia
situava-se no Largo da República, 44-A, em Estremoz, no local onde funciona
hoje o Plaza-Pronto-A-Vestir. Lembro--me
de quando era rapaz ver expostas na montra do estabelecimento por altura do
Natal, figurinhas de presépio confeccionadas por Aclénia. O seu pai era tio e
padrinho de Inácio Augusto Basílio, com relojoaria e ourivesaria até há pouco
tempo no Rossio Marquês de Pombal, 98, em Estremoz.
[2] Esta Escola resultou da elevação a Escola
Industrial, pelo Decreto nº 18.420 de 4 de Junho de 1930, da Escola de Artes e
Ofícios de Estremoz, criada pela Lei nº 1.609 de 18 de Dezembro de 1924.
[3] Ernestina, além de artesã, era proprietária
de um bem afreguesado salão de cabeleireira, no Largo da República, 9-A, em
Estremoz.
Fig. 2 - Pastor com alforge ao ombro. Colecção particular.
Fig. 3 - Pastor a limpar o suor. Colecção particular.
Fig. 4 - Pastor a tocar gaita de beiços. Colecção particular.
Fig. 5 - Mulher a ordenhar vaca. Colecção particular.
Fig. 6 - Primavera. Colecção particular.
Fig. 7 – Marca de autor de Aclénia Pereira.
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