Fig. 1 - Liberdade da
Conceição (1913-1990), mulher de Mariano da Conceição
(1903-1959) a pintar
bonecos de Estremoz na Exposição do Mundo Português.
Fotografia do documentário
"A Grande Exposição do Mundo Português" (1940),
de António Lopes Ribeiro.
Nasceu às 3 horas de 11 de Agosto de 1913 na
freguesia de Santo André, em Estremoz. Filha legítima de José Ricardo Banha, de
33 anos, corticeiro natural da mesma freguesia e de Agripina da Conceição
Banha, de 36 anos, doméstica, natural da freguesia de São Bartolomeu, em Vila
Viçosa (2).
A 8 de Novembro de 1931, morando na Rua de São
Pedro, nº 40, em Estremoz, com 18 anos de idade e na condição de doméstica,
casou na Repartição do Registo Civil de Estremoz com Mariano Augusto da
Conceição, de 28 anos, oleiro, natural da freguesia de Santa Maria, em Estremoz
e residente na Calçada da Frandina, nº 15 da mesma localidade, filho ilegítimo
de Narciso Augusto da Conceição, industrial, natural da freguesia de Santo
Antão, em Évora. O casamento foi celebrado no regime de comunhão de bens e a
noiva adoptou o apelido Conceição do marido (4).
Quando Mariano da Conceição se tornou bonequeiro,
Liberdade passou a pintar os Bonecos manufacturados pelo marido. Esteve
presente na "Exposição do Mundo Português", que decorreu em
Lisboa, de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940.
O filme "A Exposição do Mundo Português (9),
de António Lopes Ribeiro (1908-1995), com a duração de 59 min 52 s, mostra
entre os 44 min 25 s e 44 min 39 s, 14 preciosos segundos de filme, onde se vê
Liberdade da Conceição (1913-1990), vestida de camponesa, a pintar bonecos de
Estremoz (Fig. 1).
Em vida do marido, Liberdade limitava-se a pintar.
Todavia, as coisas iriam mudar. Com a idade de 56 anos, Mariano seria atingido
por um coice de cavalo no final do I Raid Hípico Alentejano que terminou a 27
de Setembro de 1959 no Rossio Marquês de Pombal, em Estremoz. Vítima de uma
fractura da base do crânio, Mariano viria a falecer no dia 29 de Setembro, na
sua casa, situada na Rua Pedro Afonso, nº 6, em Estremoz (6), (1), (8), (10),
(11).
“A necessidade é mestra de engenhos” sentencia o
rifão. Foi assim que, por motivos de natureza económica, Liberdade (Fig. 2) se
iniciou em 1962 na modelação de Bonecos, que vira seu marido confeccionar.
Continuou a residir na Rua Pedro Afonso, nº 6, onde todavia só ia dormir.
Passava o dia na casa da filha, Maria Luísa da Conceição, na Rua Brito Capelo,
nº 33, onde na cozinha manufacturava e pintava os seus Bonecos, porque a
mesma tinha espaço suficiente para ter a sua mesa de trabalho e porque era ela
que cozinhava, sendo assim mais fácil conciliar as duas actividades.
A confecção e pintura dos Bonecos eram feitas na
cozinha, uma vez que o nº35 situado no rés-do-chão da moradia, era oficina de
Sabina Santos, sua cunhada, que se iniciara na actividade dois anos antes e em
ligação à Olaria Alfacinha, o que não veio a acontecer com Liberdade. A sua
filha Maria Luísa colaborava com a mãe na pintura dos Bonecos, só se tendo
iniciado na modelação em 1981.
Inicialmente, Liberdade cozia os Bonecos na Olaria
Alfacinha por deferência dos cunhados, na linha de continuidade do que
acontecera com Mariano que também não tinha forno próprio. À medida que ia
fazendo os Bonecos e estes secavam, eram metidos em “gaiolas”, recipientes
cilíndricos de barro grosso nos quais iam a cozer no forno de lenha da Olaria
Alfacinha, para onde eram transportados. Só a partir de 1981, quando Maria Luísa da Conceição começou a confeccionar os seus próprios Bonecos é que esta e
o filho Jorge da Conceição construíram um forno a lenha no quintal, o qual
passou também a ser usado por Liberdade. Só depois da aposentação de Sabina
Santos, em 1988, e depois de Maria Luísa ter ocupado a oficina do nº 35, é que
foi abandonado o forno de lenha e comprada uma mufla eléctrica.
A nível de feiras, Liberdade participou
na Feira Internacional de Artesanato do Estoril, na Feira da
Agricultura em Santarém e posteriormente na Feira de Arte Popular e Artesanato
do Concelho de Estremoz.
Os Bonecos de Liberdade além de serem vendidos nas
feiras, eram comercializados em Estremoz, na sua residência e nas Lojas de
Artesanato de Rafael dos Santos Grades, situadas na Rua Victor Cordon, n.ºs 27
e 30, em Estremoz. De resto, havia lojas de Évora e de Lisboa que lhe adquiriam
regularmente Bonecos.
Liberdade viria a falecer no dia 22 de Agosto de
1990, com 77 anos de idade (3). Foi um rude golpe na barrística popular
estremocense e a cultura popular local ficou mais pobre. Liberdade partiu, mas
deixou-nos os seus Bonecos, bem como a sua filha, Maria Luísa da Conceição e
seu neto, Jorge da Conceição para darem continuidade à arte bonequeira.
BIBLIOGRAFIA
1 - Falecimento
(Mariano da Conceição) in Brados do Alentejo nº
1475, 04/10/1959. Estremoz, 1959 (pág. 2).
2 - Liberdade
da Conceição Banha - Assento de Nascimento nº 446 de 1913, da Conservatória
do Registo Civil de Estremoz.
3 - Liberdade
da Conceição Banha - Assento de Óbito Informatizado nº 372 de 2016, da
Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
4 - Liberdade
da Conceição Banha
- Registo de Casamento nº 68 de 1931 da Conservatória do Registo Civil de
Estremoz.
5 - Mariano
Augusto da Conceição - Assento de Nascimento nº 305 de 1912
da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
6 - Mariano
Augusto da Conceição - Assento de Óbito nº 193 de 1959 da
Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
7 - Mariano
Augusto da Conceição - Registo de Casamento nº 68 de 1931 da
Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
8 - Mariano
Augusto da Conceição in O Eco de Estremoz nº 2951,
04/10/1959. Estremoz, 1959 (pág. 3).
9 - RIBEIRO, António Lopes. A
Exposição do Mundo Português. Lisboa, 1940.
10 - Terminou
o I RAID HIPICO ALENTEJANO in Brados do Alentejo nº
1475, 04/10/1959. Estremoz, 1959. (pág. 3).
11 - Um
estúpido acidente atirou para a morte o sr. mestre Mariano in Boletim
da Escola Industrial e Comercial de Estremoz, 29/09/1959. Estremoz, 1959 (pág.
1).
Hernâni Matos
Fig. 2 - Liberdade da Conceição (1913-1990).
Fotografia do Arquivo Fotográfico
Municipal de Estremoz / BMETZ – Colecção Joaquim Vermelho.
Municipal de Estremoz / BMETZ – Colecção Joaquim Vermelho.
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