Fig. 1 - Maria Luísa da Conceição (1934-2015). Fotografia do Arquivo Fotográfico
Municipal de Estremoz / BMETZ - Colecção Joaquim Vermelho.
Nasceu às 13 horas de 20 de Maio de 1934
no prédio situado no nº 13 da rua Brito Capelo, da freguesia de Santo André, em
Estremoz. Filha legítima de Mariano Augusto da Conceição, de 31 anos, oleiro e
de Liberdade Banha da Conceição, de 20 anos, doméstica, ambos naturais da
referida freguesia. Neta paterna de Narciso Augusto da Conceição, oleiro, e de
Leonor das Neves Conceição, doméstica. Neta materna de José Ricardo Banha e de
Agripina da Conceição Banha (5).
A 23 de Julho de 1946 é aprovada no
exame do 2º grau do Ensino Primário Elementar. Com 13 anos de idade,
candidata-se em 12 de Agosto de 1947 à frequência do Curso de Tapeceira (3
anos) após o Dr. Francisco Affonso de Mattos, médico cirurgião pela Universidade
de Coimbra, ter atestado que Maria Luísa foi revacinada contra a varíola há
menos de um ano e não sofre de doença infecto-contagiosa, designadamente
tuberculose pulmonar ou qualquer das suas formas clínicas. Conclui o curso de
Tapeceira em 1950. A
19 de Agosto desse ano candidata-se à frequência do Curso de Aperfeiçoamento de
Comércio (4 anos), o qual conclui em 1954, tendo nesse mesmo ano realizado o
Exame de Aptidão Profissional (4).
A 21 de Abril de 1957, com 22 anos de
idade e na condição de doméstica, casou catolicamente com Octávio Varela Dias
Palmela, de 34 anos, comerciante, natural da freguesia de Casa Branca, concelho
de Sousel. A celebração do matrimónio decorreu na Capela de Nossa Senhora da
Conceição em Estremoz e foi presidida pelo Padre Serafim Tavares. Adoptou então
o sobrenome Palmela do marido (2).
O primeiro contacto de Maria Luísa com
os Bonecos de Estremoz remonta a 1940, à época da Exposição do Mundo Português,
quando, com 6 anos, já ajudava a mãe a pintar os Bonecos confeccionados pelo
pai. Com a morte prematura do pai em 1959 e o início da modelação pela mãe, em
1961, Maria Luísa continua a ajudá-la na pintura dos Bonecos. Confecção e
pintura são feitas na cozinha, uma vez que aquela que viria a ser a sua oficina
e se situava no rés-do-chão da moradia, era então oficina de Sabina Santos, tia
de Maria Luísa.
Apesar de ajudar a mãe a pintar, Maria
Luísa (Fig. 1) não modela e a sua actividade profissional é tricotar vestuário
de lã, o que faz até 1981, ano em que, por motivo de alergia, é levada a
abandonar aquela laboração, o que coincide também com o ingresso do filho,
Jorge da Conceição, no Instituto Superior Técnico. Passa então a modelar
Bonecos de Estremoz, cuja manufactura tinha aprendido por observação do pai, da
mãe e da tia. O trabalho continua a ser feito na cozinha. Só com a aposentação
da tia em 1988 é que mãe e filha passam a trabalhar na oficina do rés-do-chão,
na Rua Brito Capelo, nº 35, em Estremoz. Aqui comercializam os seus Bonecos,
passando mais tarde Maria Luísa a fazê-lo também na loja “Artesanato José
Saruga”, no Rossio Marquês de Pombal, 98 A , em Estremoz.
Maria Luísa era uma frequentadora
assídua de feiras de artesanato: Feira Internacional de Artesanato (Lisboa),
Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde, Feira de Artesanato de Coimbra,
FIAPE (Estremoz), Salão de Artesanato da Feira de Vila Franca de Xira, Feira de
Artesanato da Foz do Douro e Festa Ibérica da Olaria e do Barro (São Pedro do
Corval). Foi numa dessas feiras, a XIII Feira de Artesanato de Coimbra, que se
sentiu indisposta e acabou por falecer num Hospital de Coimbra, vítima de
paragem cárdio-respiratória, na madrugada de 7 de Junho de 2015 (3), (7).
Tinha então 81 anos. A comunidade bonequeira de Estremoz ficou de luto e, com a
sua partida, a barrística popular de Estremoz ficou mais pobre. Maria Luísa era
uma pessoa muito estimada em Estremoz. Daí que o seu funeral para o cemitério
local, tenha constituído uma sentida manifestação de pesar, na qual se
integraram familiares, amigos, admiradores e oficiais do mesmo ofício, que lhe
foram prestar uma última homenagem.
Como traço importante do carácter de
Maria Luísa, ressalta o orgulho que sentia em ser quem era, filha de
bonequeiros, que tinha prazer em trabalhar e ir junto das pessoas, nas feiras de
artesanato.
Era com emoção que falava dos Bonecos de
Estremoz, sempre que dava entrevistas, o que era frequente. É que Maria Luísa
tinha os Bonecos na massa do sangue. Aqueles que lhe saíram das mãos, tanto os
“Bonecos da Tradição”, como aqueles que criou e nisso foi pródiga, são muito
apreciados e apresentam marcas de identidade muito próprias e inconfundíveis, que
os distinguem dos confeccionados pelos diferentes barristas, incluindo o seu
pai e a sua mãe. Deixa como continuador da sua arte, o seu filho, Jorge da
Conceição, cujos Bonecos ostentam igualmente marcas de identidade muito
próprias.
A qualidade do seu trabalho, levou a que
lhe fossem atribuídos inúmeros prémios e distinções, sendo de salientar o 1.º Prémio
para a melhor peça de artesanato (Vila do Conde - 1991) e o 1.º Prémio da
Exposição de Presépios (Viana do Castelo - 2007), merecendo especial destaque a
Medalha de Prata de Mérito Municipal, que lhe foi outorgada pela Câmara Municipal
de Estremoz, em 2008.
Maria Luísa da Conceição concedera-me há
muito, o privilégio da sua amizade e dela reúno Bonecos que comecei a
coleccionar desde a I Feira de Artesanato de Estremoz, em 1983. Em sua casa me
recebeu inúmeras vezes, onde, como estudioso, me deslocava sempre que precisava
de uma informação ou de um esclarecimento sobre Bonecos de Estremoz.
Em 2012 concedeu-me uma entrevista [1] (6) (Fig. 2) que considero importante e que conjuntamente com descobertas que fiz no Arquivo
da Escola Secundária e em correspondência particular, permitiram-me esclarecer
aspectos menos claros da História dos Bonecos de Estremoz. Estes foram trazidos
à luz do dia, quando naquela Escola proferi uma conferência (8)
subordinada ao tema “Mestre Mariano da Conceição (O Alfacinha)”, à qual ela
assistiu, bem como o seu filho, Jorge da Conceição.
Maria Luísa da Conceição partiu, mas
deixou connosco os Bonecos que criou, disseminados por museus e colecções particulares.
Deixou também connosco, a Memória da sua jovialidade e da sua vitalidade. De
forte compleição física como seu pai, dele herdou também o gosto, a vontade e a
determinação que punha em tudo o que fazia. Aos oitenta e um anos, deslocava-se
sozinha no seu automóvel, a fim de participar nas feiras de artesanato, de
norte a sul do país. Por isso, deu um elevado contributo para a divulgação dos Bonecos
de Estremoz.
Quando faleceu, decorria a candidatura
dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial de Humanidade, para a
qual muito contribuiu e da qual era entusiasta. Agora que a candidatura saiu
vitoriosa, sou levado a proclamar:
- MARIA LUÍSA
DA CONCEIÇÃO, PRESENTE!
BIBLIOGRAFIA
1 - Catálogo
da I Feira de Arte Popular e Artesanato. Câmara
Municipal de Estremoz. Estremoz, 15
a 17 de Julho de 1983.
2 - Maria
Luísa Banha da Conceição – Assento de Casamento nº
65 de 1957, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
3 - Maria
Luísa Banha da Conceição – Assento de Óbito nº 94
de 2015, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
4 - Maria
Luísa Banha da Conceição – Processo Individual de
aluna nº 528, no
Arquivo da Escola Industrial António Augusto Gonçalves e
sucessoras.
5 - Maria
Luísa Banha da Conceição – Registo de Nascimento
nº 301 de 1934, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz
6 - MATOS,
Hernâni. Entrevista a Maria Luísa da Conceição. Estremoz,
7 de Fevereiro de 2013. Registo sonoro do Arquivo de Hernâni Matos.
7 - MATOS,
Hernâni. Maria Luísa da Conceição, presente! in Brados
do Alentejo nº 861, 25/06/2015. Estremoz, 2015 (pág. 4).
8 - MATOS,
Hernâni. Mestre Mariano da Conceição (O
Alfacinha). Escola Secundária da Rainha Santa
Isabel. Estremoz, 15 de Fevereiro de 2013. sp.
[1] Sem
aviso prévio, surgi-lhe inesperadamente na oficina, acompanhado do fotógrafo Luís
Mariano Guimarães. Disse-lhe que queria que me concedesse uma entrevista sobre
o trabalho do pai, da mãe e dela própria. A sua resposta foi imediata:
- Sim senhor, mas tem que ser rápida.
Sabe porquê? Não me deu tempo para responder.
Deu ela própria a resposta:
- É que tenho aqui uma Santa para lhe
pôr dois braços.
Todavia, a entrevista não foi rápida.
Falámos agradável e descontraidamente durante mais de uma hora. É que “As
palavras são como as cerejas, vêm umas atrás das outras. Com aquela conversa
informal começou a ser reescrita a História dos Bonecos de Estremoz. Foi um bom
começo duma caminhada que nunca terá fim.
Fig. 2 - Maria Luísa da Conceição e o autor no decurso da entrevista que lhe concedeu
em Fevereiro de 2013.
Sem comentários:
Enviar um comentário