Garrafão
Pontos nos ii
A olaria de Estremoz, extinta com a morte de Mário Lagartinho em 2016, é há muito, objecto das minhas preocupações, as quais tenho partilhado com os leitores, desde a criação deste blogue em 2010. Em 2016, lancei o alarme mais forte de todos, mas não fizeram caso do que eu disse e redisse, alegando que havia outro projecto em carteira. Decorridos todos estes anos, está a decorrer finalmente e por módulos, um Curso de Olaria em Estremoz, numa parceria do Município com o CEARTE. É do conhecimento público que os resultados estão a superar as expectativas, o que muito me congratula. A minha expectativa agora é só uma: saber quem é que vai continuar a Arte, depois de ter terminado o Curso.
Entretanto, como estudioso e coleccionador de longa data de peças oláricas de Estremoz, entendo que é chegada a altura de tocar trombetas e motivar ainda mais as pessoas para a nossa olaria. Este texto deve assim ser encarado como um pontapé de saída nessa direcção.
Tipologia
É diversificada a tipologia das peças oláricas de Estremoz. As principais são: Assadores, Barris, Bilhas, Cafeteiras, Cântaros, Cantis, Cinzeiros, Copos, Fogareiros, Garrafas, Jarras, Mealheiros, Medalhas, Moringues, Palmatórias, Pratos, Púcaros, Reservatórios, Troncos, Vasos de flores, etc.
Morfologia
A uma dada tipologia podem corresponder várias morfologias. Assim um moringue pode ter um corpo ovóide, esferóide, cilindróide segundo a vertical ou a horizontal, bem como qualquer outra forma distinta das anteriores.
Dimensões
Em geral, uma peça olárica de determinada tipologia e com uma dada morfologia, existe em vários tamanhos, numerados a partir do 1, número que corresponde ao mais pequeno. Este número pode aparecer gravado na base da peça ou aí marcado a giz, depois da cozedura ou então nem sequer ter sido marcado.
Proporções
É óbvio que as proporções entre as 3 dimensões de qualquer peça olárica no seu todo ou entre os seus componentes, não é arbitrária. São proporções que os oleiros de várias gerações foram perpetuando no barro, após a magia das suas mãos as ter tornado harmoniosas.
Tipos de decoração
Os tipos de decoração utilizados nas peças oláricas de Estremoz são de seis tipos principais:
1 - O empedrado, no qual meniscos convexos de argila, decorados com minúsculos fragmentos de quartzo, são colados com barbutina à peça;
- 2 - O riscado, que recorre a sulcos gravados na superfície, com recurso a um teque, um arame, um prego ou uma sovela;
- 3 - O picado, que utiliza formas geométricas que são gravadas na superfície por percussão de objectos cuja secção tem uma determinada geometria, como é o caso dos invólucros de bala e dos cartuxos de caça;
- 4 - O polido, que utiliza o contraste entre a superfície baça e os motivos que foram polidos com recurso a um seixo ou a um teque;
- 5 - A fitomórfica e/ou zoomórfica, na qual folhas, bolotas, ramos de sobreiro e/ou animais, são moldados em barro e colados com barbutina à superfície;
- 6 - A relevada, na qual brasões de Estremoz ou outros, bem como inscrições como “RECORDAÇÃO DE” ou “LEMBRANÇA DE”, são moldadas em barro e colados com barbutina à superfície;
Para além disso são conhecido exemplares que ostentam uma decoração obtida pela utilização conjunta de alguns dos tipos referidos de 1. a 6. Assim:
- 7 - Empedrado e riscado;
- 8 - Empedrado e picado;
- 9 - Empedrado, riscado e picado;
- 10 - Empedrado, riscado e relevado;
- 11 - Empedrado, picado e relevado;
- 12 - Empedrado, riscado, picado e relevado;
- 13 - Fitomórfica e/ou zoomórfica e polido;
- 14 – Fitomórfica e/ou zoomórfica, relevado e polido;
Por aqui se vê a diversidade e logo a riqueza da decoração das peças oláricas de Estremoz. Essa diversidade verifica-se também ao nível da decoração fitomórfica/ e ou zoomórfica e da decoração relevada, já que esta não é igual em olarias distintas, bem como na mesma oficina pode ter sido obtida por moldes diferentes, além de que estes podem ter sido substituídos por outros no decurso do tempo, devido a desgaste ou por questões meramente estéticas.
Funcionalidade
A funcionalidade das peças oláricas de Estremoz é predominantemente servirem de vasilhame para conter e transportar água, conter flores, dinheiro, velas, ou então servirem de elementos decorativos. Algumas funcionalidades deixaram de ser utilizadas, devido ao desenvolvimento tecnológico. É o caso dos tijolos, telhas, canos, sifões e manilhas.
Marcas
O levantamento das marcas de olaria de Estremoz é um trabalho que ainda está em curso. Até ao momento, eu já dei o contributo que me foi possível, inventariando três marcas da Olaria Alfacinha, em uso nos anos 30 do século passado, as quais foram caracterizadas pela primeira vez no meu artigo “Medalhas de barro de Estremoz”, publicado no meu blogue em 12 de Novembro de 2012. Também em 21 de Fevereiro de 2013, publiquei no meu blogue o artigo “Nova marca de olaria de Estremoz”, no qual inventariei e caracterizei uma marca de olaria, usada nos anos 30 do século passado, na Escola Industrial António Augusto Gonçalves. É um trabalho que precisa urgentemente de ser continuado, o que pela minha parte, farei assim que me for possível.
Estética
A meu ver, a estética das peças oláricas de Estremoz é determinada por quatro factores distintos, mas de igual importância: o cromatismo vermelho do barro, aliado à morfologia, às proporções e à decoração. É da conjugação desses factores, sabiamente combinados, que resulta a excelência da beleza das peças oláricas de Estremoz.
Património Cultural Imaterial
À semelhança dos Bonecos, também a olaria de Estremoz apresenta marcas identitárias locais, muito próprias e constitue Património Cultural Imaterial do Concelho de Estremoz, pelo que urge que seja classificada como sendo de interesse municipal. A partir daí, logo se vê.
Ponto final
Os meus votos sinceros são os de que este artigo tenha sido útil a todos aqueles que me lêem. Se assim for, congratulo-me com tal facto e prometo voltar ao assunto.
Assador de castanhas
Bilha com tampa
Cafeteira
Cântaro
Garrafa
Jarro
Medalhas
Moringue
Moringue
Moringue
Prato
Púcaro
Púcaro
Reservatório
Tronco
Vaso
Como filha dessa linda terra que é Estremoz, gostei imenso de ler tudo o que escreveu dou-lhe os meus parabéns todas essas peças são uma obra de arte e como eu as conheço todas tão bem se mais ninguém tenha lido fique certo eu além de ler ever só tenho a agradecer por não deixar esquecer a tamanha beleza que é a nossa olaria parabéns mais uma vez Maria Olivia Carinhas
ResponderEliminarCongratulo-me por ter gostado, quer das peças da nossa olaria, quer do meu texto. Tem sido um texto bastante lido, de acordo com as estatísticas do blogue.
EliminarMuito obrigado pela sua visita ao blogue.
Os meus cumprimentos.
Excelente artigo para melhor compreensão desta maravilhosa arte, nos nossos dias. Com os meus 70 anos, já sou do tempo em que essas peças eram imprescindíveis em qualquer casa. Ainda em pequeno aprendi a beber água, nessas embkemáticas bolhas. Um merecido tributo à olaria de Estremoz.
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário. Os meus cumprimentos.
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