Uma imagem de 25 de Abril de 1974, que correu mundo.
Abril trouxe-nos a Liberdade, como nos disse Sophia
de Mello Breyner Andresen em “25 de Abril”: “Esta é a madrugada que eu esperava
/ O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E
livres habitamos a substância do tempo”. Testemunho análogo nos deu António
Simões em “25 de Abril, 1974: a primeira manhã”: “foste pranto e crime e viuvez
– / que bom dizer-te: “Foste, já não és, / Abril deu liberdade a todos nós!”
.Por sua vez, José Fanha em “Eu sou Português Aqui”, referiu-se à liberdade,
dizendo: “Nasci / aqui / no mês de Abril /quando esqueci toda a saudade / e
comecei a inventar / em cada gesto / a liberdade”. Daí a importância de
comemorar Abril no exercício diário da cidadania e na defesa dos valores que
lhe estão associados. Abril é quando um homem quiser e como quiser, porque
Abril é plural, tal como proclamou Manuel Alegre em “Abril de Abril”: “Era um
Abril na praça Abril de massas / era um Abril na rua Abril a rodos / Abril de
sol que nasce para todos”.
Não existem receitas nem fórmulas mágicas para
comemorar ou sentir Abril. No meu caso, Abril está-me na massa do sangue, que o
transporta do coração até à flor da pele. Aqui brota com cheiro a cravos
vermelhos, a papoilas, a esteva e a rosmaninho, que são plantas desta terra
transtagana, que foi de Florbela, mas também de Catarina e muitos outros mais,
cuja memória todos nós registamos na nossa Alma Alentejana.
Cabe-nos a missão histórica e inescapável de
transmitir aos vindouros, o testemunho de Abril. Convenhamos que muitas vezes
não é fácil, dado o facilitismo que se instalou na sociedade, com a crença
errónea de que é desnecessário lutar por aquilo a que temos direito, já que
alguns crêem que compete aos timoneiros do (des)governo de ocasião, decidir se,
de facto, temos ou não direito e quando é que temos direito. Paralelamente,
Abril tem sido ritualizado pelo poder que o acantona e espartilha em
comemorações oficiais, repletas de pompa e circunstância, confinadas ao
hemiciclo de São Bento. Mas, Abril não é isso. Abril é sair à rua como um mar
de gente, em comunhão de ideais e ânsia de justiça social, como bem expressou
Jorge de Sena em “Cantigas de Abril”: “Saem tanques para a rua, / sai o povo
logo atrás: / estala enfim altiva e nua, / com força que não recua, / a verdade
mais veraz”. A mesma ideia foi partilhada por José Carlos Ary dos Santos em “As
Portas que Abril Abriu”: “Foi então que Abril abriu / as portas da claridade /
e a nossa gente invadiu / a sua própria cidade”. E o povo saiu à rua,
empunhando cravos vermelhos, como relatou Armindo Rodrigues, em “Portugal,
cravo vermelho”: “Mal rompeu o dia novo, / logo por ruas e praças, / das
cidades às aldeias, / floriram cravos vermelhos”. Porque a rua é o palco onde
se julgam os algozes e se esconjuram os fantasmas do passado, tal como
verbalizou José Carlos Ary dos Santos em “As Portas que Abril Abriu”: “Quando o
povo desfilou / nas ruas em procissão / de novo se processou / a própria
revolução”. E concluiu: “Agora que já floriu / a esperança na nossa terra / as portas
que Abril abriu / nunca mais ninguém as cerra”.
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