Primavera de arco. Mariano da Conceição (1903-1959). Colecção Jorge da Conceição.
Na galeria dos Bonecos de Estremoz existem
exemplares cuja origem remonta ao séc. XIX e das quais a designação consagrada
pelo uso é a de “Primaveras”. Trata-se de uma designação genérica que abrange
as chamadas “Primaveras de Arco”, as “Primaveras de Plumas” e as “Bailadeiras”.
Trata-se de alegorias à estação do ano do mesmo nome, bem como à sua chegada. Todavia
são mais do que isso. Desde tempos remotos que existem rituais vegetalistas de
celebração e exaltação do desabrochar da natureza. Tais ritos vieram a ser
assimilados pela Igreja Católica que começou a comemorar o Entrudo.
Referindo-se ao Entrudo de antigamente diz Xavier da Cunha (1) na revista
OCCIDENTE, de 15 de Fevereiro de 1879: “Aquilo, sim, que era bom tempo! e
fossem lá dizer-lhes que trocassem, a ver se queriam, pela desenxabida
insipidez do carnaval d’hoje aquellas folgazãs intrudadas de que todos riam.
Hoje de todos esses brinquedos, que passaram, restam apenas as decantadas
danças de cavallões e marmanjos vestidos de pastorinhas a bailarem entre os
costumados arquinhos de flores ao som do classico apito – elemento essencial da
ordem no programma de toda aquella brincadeira”. Significa isto que em 1879, no
desfile de Entrudo referido pelo articulista, supostamente decorrido em Lisboa,
há a registar a presença de marmanjos (mariolas) vestidos de pastorinhas a
bailarem com arcos de flores. Também na capa da revista “PARODIA – COMEDIA
PORTUGUEZA”, nº 5, de 18 de Fevereiro de 1903 (2), o traço magistral de Raphael
Bordalo Pinheiro retrata vários mascarados num salão particular. À esquerda,
duas figuras supostamente de homens mascarados de figuras femininas, empunham um
arco com flores. A finalizar e face ao exposto, julgo não ser despropositado
concluir que as “Primaveras”, para além de constituírem uma alegoria à estação
do mesmo nome, são também figuras de Entrudo e registos dos primitivos rituais
vegetalistas de celebração e exaltação do desabrochar da natureza. Como
apontamento final desta nota de rodapé, saliento que no Museu Municipal
Frédéric Blandin (Nevers-França) existem duas estatuetas em vidro do séc.
XVIII, que são alegorias da Primavera. Trata-se de figuras masculina vestidas à
antiga, uma com túnica e outra com saiote, que por cima da cabeça sustentam um
arco de flores, símbolo da Primavera.
BIBLIOGRAFIA
(1)
- CUNHA, Xavier. O Carnaval Português in OCCIDENTE, 2º ano, vol. II, nº 28, 15
de Fevereiro de 1879 (pág. 31 e 32). Lisboa, 1879.
(2)
- PARODIA – COMEDIA PORTUGUEZA, nº 5, de 18 de Fevereiro de 1903 (pág. 1).
Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 26 de Junho de 2014
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