domingo, 21 de abril de 2024

Poesia Portuguesa - 105

 


Acordai
José Gomes Ferreira (1900-1985)

 

Acordai,
homens que dormis
a embalar a dor
dos silêncios vis!
vinde, no clamor
das almas viris,
arrancar a flor
que dorme na raiz!

Acordai,
raios e tufões
que dormis no ar
e nas multidões!
vinde incendiar
de astros e canções
as pedras e o mar,
o mundo e os corações!

Acordai!
acendei,
de almas e de sois
este mar sem cais,
nem luz de faróis!
e acordai,
depois das lutas finais,
os nossos heróis
que dormem nos covais

Acordai
!

José Gomes Ferreira (1900-1985)

Como era Portugal antes do 25 de Abril de 1974

 

Embarque de militares no navio Niassa para a guerra colonial em 1971.

COMO ERA PORTUGAL ANTES DO 25 DE ABRIL DE 1974


- As mulheres tinham menos direitos que os homens;
- As mulheres precisavam de autorização do marido para poderem ser comerciantes, para arrendarem uma casa e para viajar para o estrangeiro;
- As professoras primárias tinham de pedir autorização para casar, que só era concedido se o pretendido tivesse um ordenado igual ou superior ao da mulher;
- Os ordenados eram de miséria, sem direito a subsídios de férias e de Natal;
- O despedimento de trabalhadores estava facilitado;
- Os sindicatos corporativos eram fortemente controlados pelo regime;
- As greves estavam proibidas e eram consideradas crime;
- Reuniões só com autorização do Governo;
- Os partidos e movimentos políticos estavam proibidos;
- Partidos políticos só havia um, a União Nacional – o partido do Governo;
- Nas eleições só podiam votar os chefes de família, com um grau de instrução mínima e rendimentos. Assim ficavam de fora as mulheres, os analfabetos e os pobres. E tudo isto numa farsa de eleições onde, no recenseamento, eram logo excluídos dos cadernos eleitorais os opositores ao regime e depois, nas próprias eleições, se manipulavam e falsificavam os resultados;
- Os líderes oposicionistas como Mário Soares, Manuel Alegre ou Álvaro Cunhal, encontravam-se exilados;
- O serviço militar obrigatório durava 4 anos;
- Rara era a família que não tinha alguém a combater em África;
- Com 10 milhões de habitantes, Portugal fizera um esforço de guerra em África cerca de 9 vezes superior ao dos EUA, no Vietname, com os seus 250 milhões de habitantes;
- Portugal mobilizara para a guerra colonial mais de 800 mil jovens. Teve 8 mil mortos, 112.205 feridos e doentes, 4 mil deficientes físicos e estima-se que cerca de 100 mil doentes de stress de guerra;
- 40% do Orçamento de Estado destinava-se à Defesa;
- Um milhão e meio de emigrantes tinha saído para os países ricos da Europa, entre 1960 e 1974;
- Havia 21% de analfabetos e a vida cultural era apertadamente vigiada;
- A expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pela Censura e pela polícia política, a PIDE que gozava de plenos poderes;
- A censura e a PIDE controlavam os jornais, a rádio e a televisão e impediam-nos de ler, de ouvir ou ver tudo aquilo que pusesse em causa o regime ou que era considerado por eles, os bons costumes;
- A PIDE, responsável por 80 assassinatos, prendeu, entre 1960 e 1974, cerca de 50 mil pessoas;
- As prisões políticas estavam cheias;
- Muitos dos presos políticos eram torturados e condenados com as chamadas medidas de segurança, isto é, terminada a pena de prisão, a PIDE podia mantê-los na prisão, sem novo julgamento, por períodos prorrogáveis até 3 anos, o que podia equivaler a prisão perpétua. Para ajudar a condenar estas pessoas existiam os tribunais plenários que só julgavam, sem efectivas garantias de defesa, os presos políticos;
- Trabalhar na função pública, só com declaração de fidelidade ao regime vigente e a aprovação da PIDE. 

Hernâni Matos
Publicado no jornal E, nº 332, de 11 de abril de 2024


Emigração portuguesa nos anos 60.

sábado, 20 de abril de 2024

Poesia neo-realista

 

Camponesas (1947). Serigrafia sobre papel, 50 x 44 cm. Manuel Ribeiro de Pavia
(1907-1957). Museu do Neo-realismo, Vila Franca de Xira.


ÁLVARO FEIJÓ
Gare
ALVES REDOL
- Queres viajar, Maria Flor?
ANTUNES DA SILVA
ARMINDO RODRIGUES
CARLOS DE OLIVEIRA
Mãe pobre
DANIEL FILIPE
EGITO GONÇALVES
- Sobre os poemas
FERNANDO NAMORA
Vida
FRANCISCO JOSÉ TENREIRO
Ciclo do álcool
JOÃO JOSÉ COCHOFEL
 Firmeza
JOAQUIM NAMORADO
ARS
JOSÉ GOMES FERREIRA
Não
Ser
Meu galope é em frente
PAPINIANO CARLOS
Menino Povo
POLÍBIO GOMES DOS SANTOS
Poema da voz que escuta
SOEIRO PEREIRA GOMES
Poema único - Para a C...
SIDÓNIO MURALHA
Amanhã
Romance
VIRGÍLIO FERREIRA
Veio ter comigo hoje a poesia





PÁGINA EM CONSTRUÇÃO




terça-feira, 16 de abril de 2024

Repórter de concertos de violino


Moringue antropomórfico. Fabrico da Olaria Alfacinha. Estremoz, anos 40 do séc. XX.

De vez em quando vislumbro objectos que tangem as tensas cordas de violino da minha alma. Então, olho-os melhor, miro-os e remiro-os, trespasso-os com o meu olhar e eles revelam-se em toda a sua plenitude, para além daquilo que é óbvio. Digo-lhes: Olá! Então e só então, eles me recebem de braços abertos, como se um deles se tratasse. Contam-me então as suas estórias, às quais outras estórias se seguirão. É então que eu, repórter de concertos de violino, escrevo na pauta de papel, tudo aquilo que tocaram e eu consegui entender.

Publicado inicialmente em 15 de Abril de 2021

segunda-feira, 15 de abril de 2024

A incomensurável beleza e diversidade da geometria natural

 

A Natureza na sua gigante insignificância. Fotografia de Manuela Mendes.


A NATUREZA NA SUA GIGANTE INSIGNIFICÂNCIA, foi a legenda associada por Manuela Mendes, à magnífica fotografia que publicou no seu Facebook, a qual aqui reproduzo.
A imagem, de uma beleza extraordinária, revela a coabitação num tronco de eucalipto, de dois frutos (cápsulas) deiscentes, que se abrem, um por 4 e outro por 5 válvulas apicais, por onde podem sair muitas sementes.
Sem rejeitar aquela legenda, alvitrei, todavia, como legenda alternativa a seguinte: A INCOMENSURÁVEL BELEZA E DIVERSIDADE DA GEOMETRIA NATURAL.
Repare-se que as válvulas num caso assumem a forma de uma cruz, simbolicamente associada a Jesus, encarado como condutor de multidões e salvador do mundo.
No outro caso, as válvulas assumem a forma de uma estrela de 5 pontas, curiosamente o símbolo do internacionalismo proletário, dos trabalhadores que lutam pela emancipação social.
A natureza parece oferecer dois caminhos distintos, que provavelmente sob um ponto de vista epistemológico não serão opostos, já que cada um à sua maneira, aposta na valorização humana.

 Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 20 de Abril de 2023 

domingo, 14 de abril de 2024

Atributos, pormenores e estilo


Mulher a passar a ferro. Jorge da Conceição (1963-  ). Colecção do autor.


Prólogo
A barrística de Estremoz é diversificada, pelo que legitimamente se põe a questão de saber quais as características que os exemplares produzidos ao modo de Estremoz, não podem deixar de ter. Vou procurar dar uma resposta a essa questão num caso concreto.

Atributos
Na barrística de Estremoz, cada um dos chamados “Bonecos da Tradição”, goza de determinados atributos. Estes não são mais que as particularidades invariantes que obrigatoriamente um barrista deve ter em conta na confecção de cada uma dessas figuras. Essas particularidades estão associadas a cada uma dessas figuras e ajudam a identificá-las.
No caso da figura conhecida por “Mulher a passar a ferro” (Figs. 1 a 13) esses atributos são quatro: mesa, peça de roupa, ferro de engomar e mão direita da mulher a segurar o ferro;

Pormenores
Para além das particularidades invariantes atrás referidas, existem outras particularidades variáveis (pormenores) cuja inclusão na manufactura de uma figura, depende do livro arbítrio do barrista. No caso da figura conhecida por “Mulher a passar a ferro”, esses pormenores são os seguintes:
- MESA: pode variar o tipo de mesa, bem como a sua cor e a cor do tampo;
- FERRO DE ENGOMAR: pode ser de diferentes tipos;
- PEÇA DE ROUPA A SER ENGOMADA: de tipo e cor variável;
- PEÇAS DE ROUPA EXSTENTES EM CIMA DA MESA: Em número, tipo e cor variável;
- COBERTURA DO TAMPO DE MESA: pode existir ou não;
- MÃO ESQUERDA DA MULHER: pode estar assente sobre a mesa, segurando ou não a peça de roupa, mas pode estar também apoiada no corpo, em posição variável; 
- VESTIDO DA MULHER: de tipo, cor e componentes variáveis;
- OUTRO VESTUÁRIO DA MULHER: pode trajar avental ou ter um xaile nas costas;
- CABELO DA MULHER: o penteado é variável;
- CABEÇA DA MULHER: a cabeça pode estar a descoberto ou ser protegida por um lenço ou ainda estar ornamentada com uma canoa;
- GEOMETRIA DA BASE: rectangular ou trapezoidal, com as pontas vivas, adoçadas ou aparadas em bisel;
- TOPO DA BASE: verde-escuro simples ou pintalgado de zarcão, branco e amarelo. Em alternativa pode ter uma decoração que simula um chão, como por exemplo, de tijoleira;
- ORLA DA BASE: zarcão, castanho ou pintalgado com as cores da base.

Estilo
O estilo é o modo como cada barrista se exprime, revelando a sua individualidade através de marcas identitárias que lhe são próprias e que se repetem ao longo da sua produção.

Epílogo
A pluralidade de resultados distintos possíveis de obter na confecção de uma figura, mesmo dos chamados “Bonecos da tradição”, é reveladora da riqueza da barrística de Estremoz.

Publicado inicialmente em 6 de Outubro de 2020
Oficinas de Estremoz do séc. XIX. Colecção do autor.

Ana das Peles (1859-1945). Colecção Jorge da Conceição.

Mariano da Conceição (1903-1959). Colecção Jorge da Conceição.

Sabina da Conceição (1921-2005). Colecção do autor.

Liberdade da Conceição (1913-1999). Colecção Jorge da Conceição.

José Moreira (1926-1991). Colecção do autor.


Maria Luísa da Conceição (1934-2015). Colecção Jorge da Conceição.

Jorge da Conceição (1963-  ). Colecção do autor.

Carlos Alves (1958-  ). Colecção do autor.

Ricardo Fonseca (1986-  ). Colecção do autor.

José Carlos Rodrigues (1970-   ). Colecção do autor.

Luís Parente (?  -   ). Colecção do autor.

Jorge Carrapiço (1968  -   ). Colecção do autor


#hernanimatos #bonecosdeestremoz #figurado de estremoz

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Abril na Pintura Universal


ABRIL (SÉC. XV). Paul, Jean et Herman de Limbourg (1370-80-1416).
Iluminura do “Livro de Horas do Duque de Berry”. Museu Condé, Chantilly.

Abril, quarto mês do calendário gregoriano, tem 30 dias; segundo dos romanos, antes da reforma do calendário por Numa; segundo da ano astronómico, por coincidir com a entrada do Sol no signo de Touro (animal doméstico que personifica a força e a utilidade), segundo do Zodíaco e primeiro dos francesas, até 1564, ano em que Carlos IX decretou que o ano começasse a ser contado a partir do dia 1 de Janeiro.
O seu nome derivará do latim Aprilis, que significa abrir, o que constitui uma referência à germinação das culturas. Uma hipótese etimológica alternativa aventa que Abril seja derivado de Aprus, nome etrusco de Vénus, deusa do amor e da paixão. Daí a crença de que os amores nascidos em Abril são para sempre. Finalmente, outra conjectura etimológica é aquela que relaciona Abril com Afrodite, nome grego da deusa Vénus, que teria nascido da espuma do mar, que em grego arcaico se dizia "Abril".
“Abril” é o tema central de telas criadas por grandes nomes da pintura universal, dos quais destacamos, associados por épocas/correntes da pintura:
RENASCENÇA: Paul, Jean et Herman de Limbourg (1370-80-1416). holandês; Francesco del Cossa (c. 1435-c. 1477), italiano; Artista desconhecido, Bruges, flamengo; Artista desconhecido, Bruges, flamengo; Simon Bening (1483-1561), flamengo; Miniaturista flamengo (?-?), flamengo; António de Holanda (?-?), holandês; Oficina de Simon Bening (1483-1561), flamengo.
BARROCO: Leandro Bassono (1557–1622), italiano.
Todos eles dão grande realce às actividades agro-pecuárias do mês de Abril.

Publicado inicialmente a 3 de Abril de 2012


ALEGORIA DE ABRIL OU TRIUNFO DE VÉNUS (1476-84). Francesco del
Cossa (c. 1435-c. 1477). Fresco (500 x 320 cm). Palazzo Schifanoia, Ferrara.
 
 1ª PÁGINA DO CALENDÁRIO DE ABRIL (1480). Artista desconhecido, Bruges.
Iluminura do “Livro de Horas de Joana de Castela”. British Library, London.

2ª página do Calendário de Abril (1480). Artista desconhecido, Bruges.
Iluminura do “Livro de Horas de Joana de Castela”. British Library, London. 

ABRIL (C/1515). Simon Bening (1483-1561). Iluminura do “Livro de Horas
da Costa”. Morgan Library, New York. 

ABRIL (1490-1510). Miniaturista flamengo (?-?). Iluminura (28 x 21,5 cm)
do “Breviário Grimani”. Biblioteca Nazionale Marciana, Venice. 

ABRIL (1517-1551). António de Holanda (?-?). Iluminura (10,8x14 cm) do
“Livro de Horas de D. Manuel I”. Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa. 

ABRIL (1530-1534). Oficina de Simon Bening (1483-1561). Iluminura (9,8x13,3 cm)
do “Livro de Horas de D. Fernando”. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.
 
ABRIL (1595/1600). Leandro Bassono (1557–1622). Óleo sobre tela
(164,5x145,5 cm). Kunsthistorisches Museum, Viena.