domingo, 5 de maio de 2024

Poesia Portuguesa - 179



Incomunicabilidade
Luís Veiga Leitão (1915-1987)


Caneta, lápis, papel
e lâmina de ponta de lua
um autômato do bolso me tirava...
Depois a minha mão ficou nua
da vestimenta que usava.

Mas deram-me uma tinta preta
(nuvem negra dum fogo posto)
e meteram-me no tinteiro...
Na tinta, afogo as mãos, o rosto,
o meu corpo inteiro:

A força, o canto, a voz que encerra,
ninguém, ninguém pode afogar
– como as raízes da terra
e o fundo do mar.


Luís Veiga Leitão (1915-1987)

Hernâni Matos 

Sem comentários:

Enviar um comentário