domingo, 21 de abril de 2024

Como era Portugal antes do 25 de Abril de 1974

 

Embarque de militares no navio Niassa para a guerra colonial em 1971.

COMO ERA PORTUGAL ANTES DO 25 DE ABRIL DE 1974


- As mulheres tinham menos direitos que os homens;
- As mulheres precisavam de autorização do marido para poderem ser comerciantes, para arrendarem uma casa e para viajar para o estrangeiro;
- As professoras primárias tinham de pedir autorização para casar, que só era concedido se o pretendido tivesse um ordenado igual ou superior ao da mulher;
- Os ordenados eram de miséria, sem direito a subsídios de férias e de Natal;
- O despedimento de trabalhadores estava facilitado;
- Os sindicatos corporativos eram fortemente controlados pelo regime;
- As greves estavam proibidas e eram consideradas crime;
- Reuniões só com autorização do Governo;
- Os partidos e movimentos políticos estavam proibidos;
- Partidos políticos só havia um, a União Nacional – o partido do Governo;
- Nas eleições só podiam votar os chefes de família, com um grau de instrução mínima e rendimentos. Assim ficavam de fora as mulheres, os analfabetos e os pobres. E tudo isto numa farsa de eleições onde, no recenseamento, eram logo excluídos dos cadernos eleitorais os opositores ao regime e depois, nas próprias eleições, se manipulavam e falsificavam os resultados;
- Os líderes oposicionistas como Mário Soares, Manuel Alegre ou Álvaro Cunhal, encontravam-se exilados;
- O serviço militar obrigatório durava 4 anos;
- Rara era a família que não tinha alguém a combater em África;
- Com 10 milhões de habitantes, Portugal fizera um esforço de guerra em África cerca de 9 vezes superior ao dos EUA, no Vietname, com os seus 250 milhões de habitantes;
- Portugal mobilizara para a guerra colonial mais de 800 mil jovens. Teve 8 mil mortos, 112.205 feridos e doentes, 4 mil deficientes físicos e estima-se que cerca de 100 mil doentes de stress de guerra;
- 40% do Orçamento de Estado destinava-se à Defesa;
- Um milhão e meio de emigrantes tinha saído para os países ricos da Europa, entre 1960 e 1974;
- Havia 21% de analfabetos e a vida cultural era apertadamente vigiada;
- A expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pela Censura e pela polícia política, a PIDE que gozava de plenos poderes;
- A censura e a PIDE controlavam os jornais, a rádio e a televisão e impediam-nos de ler, de ouvir ou ver tudo aquilo que pusesse em causa o regime ou que era considerado por eles, os bons costumes;
- A PIDE, responsável por 80 assassinatos, prendeu, entre 1960 e 1974, cerca de 50 mil pessoas;
- As prisões políticas estavam cheias;
- Muitos dos presos políticos eram torturados e condenados com as chamadas medidas de segurança, isto é, terminada a pena de prisão, a PIDE podia mantê-los na prisão, sem novo julgamento, por períodos prorrogáveis até 3 anos, o que podia equivaler a prisão perpétua. Para ajudar a condenar estas pessoas existiam os tribunais plenários que só julgavam, sem efectivas garantias de defesa, os presos políticos;
- Trabalhar na função pública, só com declaração de fidelidade ao regime vigente e a aprovação da PIDE. 

Hernâni Matos
Publicado no jornal E, nº 332, de 11 de abril de 2024


Emigração portuguesa nos anos 60.

2 comentários:

  1. Hernâni eu trabalhei nos escritórios da Marmoz e o meu patrão Luís Ruy Gutierrez Caeiro, filho do Archiminio Caeiro, de Évora, sempre nos pagou subsídio de Natal e até duplicava o valor. Digo sempre que foi um patrão com sentido de justiça e que aumentava os trabalhadores das pedreiras sem que estes lhe pedissem. Sem saber, o que era democracia , conheci um grande democrata
    Isto passou-se entre 1965 e 1969. Saí da Marmoz, com grande pena minha, para ingressar no BNU.

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    1. Muito obrigado pelo seu precioso depoimento, o qual fica aqui registado.
      Cumprimentos.

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