Embarque de militares no navio Niassa para a guerra colonial em 1971.
COMO ERA PORTUGAL ANTES DO 25 DE ABRIL DE 1974
- As mulheres tinham menos direitos que os homens;
- As mulheres precisavam de autorização do marido para poderem ser comerciantes, para arrendarem uma casa e para viajar para o estrangeiro;
- As professoras primárias tinham de pedir autorização para casar, que só era concedido se o pretendido tivesse um ordenado igual ou superior ao da mulher;
- Os ordenados eram de miséria, sem direito a subsídios de férias e de Natal;
- O despedimento de trabalhadores estava facilitado;
- Os sindicatos corporativos eram fortemente controlados pelo regime;
- As greves estavam proibidas e eram consideradas crime;
- Reuniões só com autorização do Governo;
- Os partidos e movimentos políticos estavam proibidos;
- Partidos políticos só havia um, a União Nacional – o partido do Governo;
- Nas eleições só podiam votar os chefes de família, com um grau de instrução mínima e rendimentos. Assim ficavam de fora as mulheres, os analfabetos e os pobres. E tudo isto numa farsa de eleições onde, no recenseamento, eram logo excluídos dos cadernos eleitorais os opositores ao regime e depois, nas próprias eleições, se manipulavam e falsificavam os resultados;
- Os líderes oposicionistas como Mário Soares, Manuel Alegre ou Álvaro Cunhal, encontravam-se exilados;
- O serviço militar obrigatório durava 4 anos;
- Rara era a família que não tinha alguém a combater em África;
- Com 10 milhões de habitantes, Portugal fizera um esforço de guerra em África cerca de 9 vezes superior ao dos EUA, no Vietname, com os seus 250 milhões de habitantes;
- Portugal mobilizara para a guerra colonial mais de 800 mil jovens. Teve 8 mil mortos, 112.205 feridos e doentes, 4 mil deficientes físicos e estima-se que cerca de 100 mil doentes de stress de guerra;
- 40% do Orçamento de Estado destinava-se à Defesa;
- Um milhão e meio de emigrantes tinha saído para os países ricos da Europa, entre 1960 e 1974;
- Havia 21% de analfabetos e a vida cultural era apertadamente vigiada;
- A expressão pública de opiniões contra o regime e contra a guerra era severamente reprimida pela Censura e pela polícia política, a PIDE que gozava de plenos poderes;
- A censura e a PIDE controlavam os jornais, a rádio e a televisão e impediam-nos de ler, de ouvir ou ver tudo aquilo que pusesse em causa o regime ou que era considerado por eles, os bons costumes;
- A PIDE, responsável por 80 assassinatos, prendeu, entre 1960 e 1974, cerca de 50 mil pessoas;
- As prisões políticas estavam cheias;
- Muitos dos presos políticos eram torturados e condenados com as chamadas medidas de segurança, isto é, terminada a pena de prisão, a PIDE podia mantê-los na prisão, sem novo julgamento, por períodos prorrogáveis até 3 anos, o que podia equivaler a prisão perpétua. Para ajudar a condenar estas pessoas existiam os tribunais plenários que só julgavam, sem efectivas garantias de defesa, os presos políticos;
- Trabalhar na função pública, só com declaração de fidelidade ao regime vigente e a aprovação da PIDE.
Hernâni Matos
Publicado no jornal E, nº 332, de 11 de abril de 2024
Publicado no jornal E, nº 332, de 11 de abril de 2024
Hernâni eu trabalhei nos escritórios da Marmoz e o meu patrão Luís Ruy Gutierrez Caeiro, filho do Archiminio Caeiro, de Évora, sempre nos pagou subsídio de Natal e até duplicava o valor. Digo sempre que foi um patrão com sentido de justiça e que aumentava os trabalhadores das pedreiras sem que estes lhe pedissem. Sem saber, o que era democracia , conheci um grande democrata
ResponderEliminarIsto passou-se entre 1965 e 1969. Saí da Marmoz, com grande pena minha, para ingressar no BNU.
Muito obrigado pelo seu precioso depoimento, o qual fica aqui registado.
EliminarCumprimentos.