Libertação
Papiniano Carlos (1918-2012)
A liberdade ficava para lá
do arame farpado
e do meu corpo fétido, podre,
roído de chagas, cheio de pus,
com olhos cegos de tanta escuridão!
A sentinelas cinzentas espiavam.
Mas que me importavam as sentinelas?
Mal me cabia na boca roxa
a língua cortada, grossa, sarrosa,
quando por ela anunciei
que era LIVRE,
e o meu grito espantoso
pôs um arrepio na nuca
de todos os tiranos.
Pasmaram as sentinelas
e o meu cadáver tombou na terra.
Papiniano Carlos (1918-2012)
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