Acre e dura carne
Luís Veiga Leitão (1915- 1987)
Pátria onde nasci Desespera
vê-la tão seca na matriz
Acre e dura carne (austera)
no coração do meu país
Flor de saibro O rosto mole
vem da névoa cega e fria
Rastros do carro do sol
carregando o corpo do dia
Ondas de pedra — a fúria nos arcos
da voz: Morda aguente e fique!
E os pinhais — cascos de barcos
que navegaram a pique
Mentira o Fado que se toca:
Na pedra mais pedra mais secreta
abre-se e rasga-se uma boca
onde um pássaro canta e dejecta
Lá a cabra o vento o poeta
naturais de alma e corpo ao léu
trazem nos ventres o demo
e à flor dos cornos o céu
Luís Veiga Leitão (1915- 1987)
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