quarta-feira, 1 de maio de 2024

Poesia Portuguesa - 162





Amanhã
Sidónio Muralha (1920-1982)


Na hora que vem de longe,
cresce e vem, cresce e vem,

– os que tiverem frio hão-de lançar os meus versos ao lume,
e a chama há-de subir…
– os que tiverem fome hão-de lançar os meus versos à terra,
como se fossem estrume,
e a terra há-de florir…

Os meus poemas de tragédia são degraus

da hora que vem,
– cresce e vem,
– cresce e vem… –
Nos meus poemas cresceu, e sofreu, e aprendeu
nos meus poemas revoltos,
por isso vem de longe, nua, nua,
e traz os cabelos soltos…

Hora que vens de longe,
de longe vens, de rua em rua:
– hás-de passar e hás-de parar por toda a parte,
nua, formosamente, nua,

– para que já não possam desnudar-te.


Sidónio Muralha (1920-1982)

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