segunda-feira, 29 de abril de 2024

Poesia Portuguesa - 152

 


Aviso á navegação
Joaquim Namorado (1914-1986)



Alto lá!
Aviso à navegação!
Eu não morri:
Estou aqui

na ilha sem nome,
sem latitude nem longitude,
perdida nos mapas,
perdida no mar Tenebroso!

Sim, eu,
o perigo para a navegação!
o dos saques e das abordagens,
o capitão da fragata
cem vezes torpedeada,
cem vezes afundada,
mas sempre ressuscitada!

Eu que aportei
com os porões inundados,
as torres desmoronadas,
os mastros e os lemes quebrados
- mas aportei!

Aviso à navegação:
Não espereis de mim a paz!

Que quanto mais me afundo
maior é a minha ânsia de salvar-me!

Que quanto mais um golpe me decepa
maior é a minha força de lutar!

Não espereis de mim a paz!
Que na guerra
só conheço dois destinos:

ou vencer – ai dos vencidos! –
ou morrer sob os escombros
da luta que alevantei!

- (Foi jeito que me ficou
não me sei desinteressar
do jogo que me jogar.)

Não espereis de mim a paz,
aviso à navegação!

Não espereis de mim a paz

Joaquim Namorado (1914-1986)

Hernâni Matos

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