Mostrar mensagens com a etiqueta Literatura oral. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Literatura oral. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 12 de março de 2021

O Pernas

 

Mateus Serra. Engenheiro.

Conheci o Hernâni, quando ambos estudava-mos no Colégio de Estremoz, no ano fatídico que o acidente, o erro médico, o azar ou lá o que fosse, lhe roubou uma perna, fazendo que a alcunha que recentemente lhe havíamos posto, deixasse de ser pronunciada.
O Pernas que nasceu por ser magro, alto e com as pernas longas, passou a ser o Hernâni, com todas as suas valências, nascidas talvez também por causa dessa perda dramática.
Voltei a vê-lo, passados talvez três ou quatro anos. Falámos de tudo, com realce para as ciências e as letras. Depois disso, só voltei a saber do Hernâni, pelas redes sociais e fiquei maravilhado com as coisas que escrevia. Crítico mordaz num estilo que me fazia lembrar os clássicos surrealistas. Escrever brincando, deixando meio escondida a mensagem, num ritmo quase poético. Estilo. É o estilo, que caracteriza os seus escritos e que o faz diferente.
Gosto do Hernâni, da sua verticalidade e dos seus escritos que espero, venham a ser lidos por todos. Só não gostei da alcunha Pernas.
 
Mateus Serra
Borba, 20 de Fevereiro de 2021

quinta-feira, 11 de março de 2021

Um lutador


Isabel Taborda Oliveira. Professora. Ex-vereadora do Pelouro da Cultura
da Câmara Municipal de Estremoz.

Meu Amigo Hernâni, que problema tenho! Como exprimir a grande admiração, respeito e amizade, sendo um zero na escrita?
Admiro o seu grande amor por Estremoz e pelas suas gentes. Sempre com um enorme sentido de justiça e isenção. Com persistência, lutando sem tréguas pela verdade e homenageando as pessoas que fizeram a nossa História.
Um grande obrigado pela sua obra e que continue por muitos anos.

 

Isabel Taborda Oliveira
Estremoz, 20 de Fevereiro de 2021



terça-feira, 9 de março de 2021

Hernâni Matos - O Boniqueiro das Palavras


Luís Parente. Professor. Barrista. Presidente do Orfeão de Estremoz Tomaz Alcaide.

Conheço o Professor Hernâni Matos há muitos anos. A minha memória mais antiga, seria eu um catraio, está na rua das lojas... era assim conhecida a rua 5 de Outubro em Estremoz, onde o seu pai tinha uma alfaiataria e o meu tio uma loja de fazendas. Foi ali que o encontrei na minha memória, à porta, a falar com o seu pai. De certa maneira a minha vida sempre se cruzou com a sua, quer fosse por ter sido professor do meu irmão, quer pelo facto de a sua filha ser uma das grandes amigas da minha prima, quer ainda pelo motivo da sua esposa fazer parte do Orfeão, onde os meus pais e tios também cantavam, ou até mesmo, mais tarde, por partilharmos um espaço contíguo no Centro Cultural Dr. Marques Crespo enquanto agentes culturais, eu com o "meu" Museu Rural da Casa do Povo de Santa Maria, ele com um espaço museológico de excepção que geria em nome da Associação Filatélica Alentejana e onde promovia continuamente exposições e eventos culturais de índole diversificada, de reconhecida importância para a cidade e para a região. A partir dessa altura passámos a falar mais do que o simples e cordial "Bom dia! Como está?" e foi então que melhor percebi que o Professor Hernâni Matos não era só um professor de reconhecida qualidade e competência mas um extraordinário intérprete cultural. Homem de cultura, conhecedor e protector de tradições, amante da escrita, defensor de causas que, não raras vezes, lhe terão trazido alguns dissabores por ser uma pessoa vertical e não abdicar da liberdade de expressar o que a sua consciência lhe ditasse. Benfiquista, independente, defensor da festa brava, das ciências, das memórias e estudioso do passado mas sempre, sempre com os olhos postos no futuro... pessoa de interesses e gostos abrangentes e variados como a etnografia, a poesia popular, a filatelia, o coleccionismo e, no fundo, aqueles que, sem desprimor para os restantes, mais me "tocam"... a simpatia e reconhecimento pelo "meu" Orfeão de Estremoz "Tomaz Alcaide" e o amor aos "Bonecos de Estremoz". Sobre os "Bonecos", considero que são poucos os que dedicam o seu tempo a estudar esta arte secular e o Professor Hernâni Matos é um dos expoentes máximos no que a este assunto diz respeito. Sendo eu também artesão, já falámos inúmeras vezes sobre esta temática tendo o próprio confessado que o contributo que pode dar a esta arte é estudá-la, falar sobre ela, dar a conhecer a sua história, a sua evolução e apoiar quem, com a matéria-prima e com as mãos consegue conduzi-la ao futuro e tudo isso, garantidamente fá-lo com mestria. Talvez tenha sido por isso que, há tempos, achei que o epíteto que melhor definiria o Professor Hernâni Matos era o de "Boniqueiro das Palavras", precisamente por ser através delas que expressa toda a sua alma, por ser aquele que consegue, através dessas mesmas palavras, aliar a defesa das características tradicionais dos "Bonecos de Estremoz" à sua contemporaneidade, privilegiando sempre o acto criativo de cada um dos artesãos... e por ser aquele que, mesmo não conseguindo fisicamente modelar um "Boneco", consegue, através da escrita, modelar e pintar os dos outros mas, no fundo, no fundo, ser também aquele que acaba por conseguir de uma outra forma "modelar" e "pintar" os seus.

Luís Parente.
Estremoz, 15 de Fevereiro 2021

domingo, 7 de março de 2021

Hernâni, “O colecionador”


Luís Mariano Guimarães. Técnico Industrial.

A imagem que tenho do meu amigo Hernâni Matos é a de um colecionador insaciável. Ele tudo organiza e tudo coleciona.
A sua casa é um museu com mais recheio do que muitos museus. Ele são, principalmente, os Bonecos de Estremoz (alguns com séculos), são as rendas, os artefactos de cortiça, as miniaturas talhadas em madeira, são os talegos, os livros, as gravuras, os jornais… é o mundo rural dentro de portas que a Fátima vai gerindo sempre com um sorriso nos lábios.
A única coisa que o faz sair da cama cedo é a intuição de haver alguma novidade transacionável no Mercado de Sábado.
Este mundo vivido entre as memórias da sua cidade levou a que o Hernâni se confunda com a própria Cidade.
De espírito obstinado, algumas vezes sem razão, tem a particularidade de persistir nas suas pesquisas para lá do infinito. Muitas das memórias esquecidas de Estremoz, algumas descobertas também, devem-se a esta maneira de ser.
Acidentalmente tornei-me seu fotógrafo “oficial” através de muitas sessões de inventário dos Bonecos em sua casa, no Museu Municipal, em casa de outros colecionadores, no antigo Museu Rural, em procissões até.
Foi pela mão dele e pelos seus ensinamentos que sei alguma coisa da nossa terra.
A sua ânsia de adquirir conhecimentos e de os transmitir, a sua costela de investigador e professor manifestam-se na sua obra. Infelizmente esta não tem sido valorizada pelos poderes municipais e pela pequenez de alguns decisores.
Um dia vai ter nome de rua, mas o que fazia mesmo falta era o museu Hernâni Matos, Já!
Os estremocenses devem sentir orgulho nesta obra e nesta personagem. Por mim, muito por cima disso, sinto-me agradecido pela sua amizade.
                                                                                                       
 Luís Mariano Guimarães
Estremoz, 16 de Fevereiro de 2021

quinta-feira, 4 de março de 2021

Hernâni Matos: a memória de um amigo distante

 
Adelino Caravela. Aposentado da Função Pública. Filatelista.


Hernâni Matos: a memória de um amigo distante

Vai mais além, 
sempre mais e mais.         
Desata laços,
transpõe barreiras,              
salta os muros da mediocridade,
faz das horas mortas,
tempo de validade. 
Não pactua com o fácil,
diz não quando preciso for.         
Tem a coragem
de renegar, até a dor                                                
é apanágio do forte,
é a bandeira do que nada teme,
nem sequer a morte!
               
 
Adelino Caravela
Leiria, 7 de Fevereiro de 2021

terça-feira, 2 de março de 2021

Hernâni Matos, um homem que não passa ao lado da vida


José Alberto Fateixa. Professor. Ex-Deputado à Assembleia da República.
Ex-Presidente da Câmara Municipal de Estremoz

O Hernâni tem mais doze anos que eu e confesso que não sei bem quando comecei a conviver com ele. Os nossos pais eram ambos comerciantes, embora em áreas diferentes, tendo em comum uma antipatia e rejeição pelo Estado Novo. As primeiras imagens que guardo dele são as de um jovem que se destacava pela forma de estar e de se vestir diferentes, que todos afirmavam ser um excelente estudante. Partilho este testemunho de amizade sobre caminhos que ele percorreu ao longo da vida.
O Professor. Fui colega do Hernâni na Escola Secundária, pertencíamos a grupos afins, ele do grupo de “Física-Química” e eu de “Química-Física”. Nesse contexto partilhámos os mesmos espaços. Ele, com formação na área da Física, foi sempre um excelente profissional, preocupado com a qualidade das aprendizagens, com abertura de perspetivas para os seus alunos e com uma participação ativa na vida da escola, valorizando, a aprendizagem científica associada à dimensão cidadã.
O Militante Político. Em 1974 o pai do Hernâni, João Sabino de Matos, o meu pai e tio estiveram envolvidos na constituição da seção do PS em Estremoz e eu da JS, e ele um ativo militante do PC.  Depois, ambos abandonámos essas militâncias e viemos a encontrar-nos no núcleo da UDP da nossa cidade. Posteriormente, as nossas formas de pensar a sociedade levou-nos para caminhos diferentes, em que muitas vezes concordámos, mas também muitas vezes discordámos. Sinto que a maturidade da vida reforçou a importância da pluralidade, do diálogo, do entendimento em torno de objetivos de melhoria da democracia, da valorização do progresso e da justiça social. Saliento o homem de causas, que nunca deixou de defender os valores em que acredita.
O Comunicador. Saber mais, investigar, partilhar conhecimento e tomar posição. Esta pode ser uma síntese do percurso de uma vida de comunicação, na escola, na imprensa local, nas publicações temáticas e especializadas. Nos últimos anos abriu a frente digital com a partilha positiva e inteligente de vivências, apontamentos e conhecimentos que ajudam a sustentar histórias e diferentes dimensões culturais da nossa terra.
O Colecionador. Há muitos anos que guardo imagens de um homem que procura encontrar pontes entre tempos. A procura de utensílios, objetos, documentos, símbolos que permitam ajudar a explicar e entender épocas, modos de viver, o trabalho, a arte, as tradições, as culturas, o rural e o urbano, em suma elementos para a história da cultura popular que impregnam o seu ser.
O Filatelista. O trabalho na área da filatelia revelou ao país outra sua enorme dimensão. O estudo, a categorização, o enquadramento, a divulgação, as exposições em torno do selo e do colecionismo associativo. Essa sua dimensão proporcionou-nos uma catadupa de eventos que assinalam uma intensa e real atividade de dinamização cultural.
O Cruzado. Nos últimos anos para a sociedade o Hernâni assume publicamente uma velha nova frente de dedicação, a barrística e os Bonecos de Estremoz. Estudar, investigar, historiar, compreender, contextualizar, divulgar, defender, valorizar os trabalhos dos transformadores dos barros de Estremoz, em muito em especial do figurado de barro. Tem escolhido um novo terreno de combate, a blogosfera, onde partilha momentos, protagonistas, saberes e histórias de afirmação da nossa cultura popular.
A Pessoa. O Hernâni tem uma existência em que é forçado a lidar com dificuldades suplementares, mas como poucos, deixa marcas na sociedade onde escolheu viver. No nosso relacionamento pessoal ao longo das nossas vidas estivemos próximos e afastados, caminhámos em conjunto e tivemos discordâncias significativas, houve momentos em que não foi fácil e outros enormemente estimulantes e agradáveis. Hoje com uma naturalidade da passagem do tempo e dos anos é para mim muito claro, que é um homem que não quis passar ao lado da vida. A sua formação científica de base reflete-se na disciplina de abordar os seus trabalhos. É o eterno etnólogo que tenta encontrar explicações que dão vida e sustentação à cultura popular, sempre com uma dimensão cívica de agitador por convicções. Do Hernâni sublinho a dedicação e interesses em tantas frentes e a capacidade de fazer acontecer.
Assumo uma sincera admiração e reconhecimento pela caminhada realizada. Hernâni obrigado pela oportunidade de estar contigo neste momento.
 
José Alberto Fateixa
Estremoz, 16 de Fevereiro de 2021

segunda-feira, 1 de março de 2021

O nosso amigo Hernâni


Georgina Ferro. Professora.

O nosso amigo Hernâni
 
O Hernâni não se aposentou, de facto.
Só restringiu o modo de leccionar.
Cumpre um papel pedagógico mais lato,
Como bom jornalista e escritor ímpar.
É conferencista em múltiplos assuntos
Que vão desde a arte rural mais singela,
Utensílios de barro e bonecos juntos,
À filatelia que tanto zela!...
 
O Hernâni é um eterno apaixonado
Pela sua terra de alvura caiada,
Pelos campos doirados, pastagem do gado,
Por gente de hoje ou da era passada,
Pelos poetas a quem deu nome e palcos,
Os pintores, os oleiros ou boniqueiras,
Pelos ganhões a pisar trilhos e socalcos,
A quem notabiliza em suas maneiras.
 
Procura as raízes do povo que respeita,
Busca-lhe a singularidade da arte,
A ciência singela, inata, perfeita,
Achando algo de novo em qualquer parte,
A sugerir-lhe uma maior atenção,
Para registar em documento escrito,
Criado com minuciosa  precisão,
Num elogio fácil e bem explícito.
 
Já completou um monumento imortal,
Que é depósito ou cofre de memórias    
Desta bela cidade de mármore e cal,
De ceifas, mondas, gente e suas histórias,           
Dos jogos de infância no largo da Fonte...
A par dos selos, envelopes, e postais,
O Hernâni publicou para que conste,
Coisas que nunca se valorizam demais!
              
Georgina Ferro
Estremoz, 14 de Fevereiro de 2021
 

sábado, 27 de fevereiro de 2021

O amigo Hernâni


João Moura Reis. Médico. Presidente do Conselho de Administração da ULSNA, EPE. 
Ex-Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz.

O Hernâni, amigo desde longa data, conheci-o melhor no início dos anos oitenta do século passado. Pessoa “inquieta” e com “bichos-carpinteiros”, sempre a olhar para tudo, sedento de saber e questionando tudo e todos. Em parte a sua formação académica ajudava à percepção científica da “coisa”, à sua inquirição, à sua continuidade e como tal à sua vida através dos tempos, originando recolecção e acabando na colecção. Com a colecção vem o trabalho de investigação científica, assim como a transformação para o saber, que lhe dá o grau ou a capacidade de ser especialista.
A minha maior interacção com o Hernâni foi, como disse, no início dos anos oitenta em que ele, com o meu pai, eu e outros “carolas” dos selos, formámos a AFA - Associação Filatélica Alentejana, como forma de patrocinar o coleccionismo de selos, assim como fazer sair muitos dos que se juntaram a nós, da fase de recolector de “coisas” para a fase de coleccionador. O Hernâni, nunca foi pessoa de se satisfazer com pouco e amigo do ócio, pelo que singrou na Filatelia, com árduo trabalho, chegando a receber vários prémios, de que destaco a “Ordem de Mérito Filatélico”.
Como disse de início, a inquietude do Hernâni não é só com a Filatelia, é com a imprensa escrita, com as novas plataformas informáticas, com a cultura em geral, com a escrita e literatura, com a política concelhia, com a educação e claro com os nossos bonecos de barro de Estremoz, sendo neste momento, talvez o seu “afilhado” mais recente, em termos de estudo e investigação, no entanto com obras escritas e bem fundamentadas por um estudo criterioso e obviamente exaustivo e científico.
Hernâni continua com o teu trabalho, já que o mesmo é bastante profícuo e deixa-nos a capacidade de apreciar tudo o que tens feito. O meu abraço e muito obrigado.
João Moura Reis
Estremoz, 7 de Fevereiro de 2021

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Ao meu amigo Hernâni Matos

 
Manuel Lapão. Empresário.

AO MEU AMIGO HERNÂNI MATOS  
  
Caro ”Velho” amigo Hernâni Matos
Fizeste boa carreira de professor
Muito vens brilhando como escritor
Vincando sobranceiramente teus atos
                                                                
Biografando-te sinto-me honrado
Longe de algo na manga ou na palma
Escrevo de ti o que me vai na alma
Eu sou mestre, enquanto tu és mestrado
Proponho que sejas homenageado
Pelos teus procedimentos sensatos
Divulgas conhecimentos natos
Comentas com muita sabedoria
Não estou a fazer qualquer fantasia
Caro ”Velho” amigo Hernâni Matos
 
Secundária de Estremoz te recorda
Pela tua competência a exercer
Fui teu aluno, sei que estou a dizer
Quem frequentou a secundária concorda
Tua determinação nunca transborda
Eras disciplinado e disciplinador
Lecionaste com todo o teu rigor
Tua sonante voz, aluno ouviu      
Muito bem aprendeu quem te seguiu
Fizeste boa carreira de professor
                       
Tua cultura geral é invejável
És filho de um saudoso alfaiate
A escrever e a ler ninguém te bate
Sendo júri atribuía-te o Nobel
À cultura foste sempre muito fiel
Tratas todas as causas com muito amor
Participas sempre com muito calor
Facilidade em orar ou escrever
Manipulas palavras com todo prazer
Muito vens brilhando como escritor
                       
O teu perfil enobrece o bairrismo
Tens Estremoz gravado no teu coração
Pugnas muito pela dinamização
Sempre com muito otimismo
Chancelado plo teu puro dinamismo
Filatélica moldurou teu retrato
Os Bonecos de Estremoz são-te gratos
Pelo muito que lhe tens emprestado
Facto que mereces ser elogiado
Vincando sobranceiramente teus atos
 
Manuel Lapão
Estremoz, 5 de Fevereiro de 2021


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Homem de Paixões


 António J. B. Ramalho. Economista. Professor. Ex-vereador da CME.

O Hernâni é um homem de paixões. As primeiras que lhe conheci foram a Maximafilia e a Filatelia. Depois, um pouco mais tarde, percebi que também na Ciência era um homem rigoroso… para ele a regra geral (e simplificada) do arredondamento era redutora para quem não brinca com números, logo, fiquei a saber que se 0,125 + 0,875 somam 1 (um), então também o arredondamento às centésimas desses números tem de somar 1 (0,12+0,88=1; enquanto 0,88+0,13 já soma 1,01). Este rigor estava também associado a uma certa ansiedade. Dou um exemplo, não vi em mais nenhum colega professor a intenção (que não sei se algum dia concretizou) de trazer os sumários escritos de casa numa etiqueta autocolante, para disponibilizar mais tempo para aquilo que verdadeiramente importava: Ensinar! Foram ainda as paixões que lhe possibilitaram uma transição (mais) pacífica entre a vida ativa e a aposentadoria. Ou seja, outras havia que, provavelmente, já germinavam na sua cabeça mas que, para quem está de fora, apenas nesse momento se tornaram evidentes. Refiro-me à pesquisa histórica, ao arrolamento e inventariação das tradições das suas gentes, da sua cultura, sem nunca esquecer os poetas (tanto eruditos como populares) e outros vultos da Cultura que nasceram ou viveram naquela que é a sua cidade: Estremoz!       

António J. B. Ramalho
Estremoz, 5 de Fevereiro de 2021

Hernâni Matos

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Hernâni Matos

 

Maria Odete Gato Ramalho. Economista, Professora.
Ex-Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz.
 

Antes de aparecer o corpanzil alto, magro e ligeiramente curvado, ouve-se o vozeirão como um rochedo no início de uma derrocada que tudo arrasta. Olhamos uns para os outros com pontos de exclamação no olhar: não há a mínima dúvida de quem se aproxima, é o Hernâni! E é assim, arrastando obstáculos, que põe toda a gente a mexer, seja para uma exposição de selos ou de bonecos de Estremoz, seja para um almoço com poetas populares…

- Preciso que vás dizer uma poesia no evento X. Já falei também com a Fátima Crujo e a Francisca Matos.
Num instante despeja o que tem a dizer. E aquela voz de trovão, mesmo quando sussurrada, apoiada pela expressão séria atrás do bigodinho, que vai mexendo (talvez seja mesmo a coisa menos convincente que possui) não dá margem para dizer que não, mesmo que, por dentro, lhe chame chato. Impõe respeito. Não sei bem como, ou o que provoca tudo isto. Agora que penso nisso, acho que este homem se pode traduzir, antes de mais, talvez antes ainda de ser o filho do bom alfaiate Matos, ou do professor de Físico-Química da minha/nossa querida Escola Secundária, ou do homem que é pai da Catarina e marido da Fátima, o que ali vive, o que domina é uma vontade férrea que o empurra para a frente com força e que lhe dá uma capacidade de trabalho impressionante, que se propaga a tudo o que o rodeia.
Por falar em alfaiate, lembro-me do Hernâni sempre impecavelmente enfarpelado, nos seus fatos completos, de boas fazendas, com gravata e lenço na lapela. Outros tempos. Hoje é a aparência mais descontraída. Mas por dentro continua o mesmo. A escrever, a pesquisar, a dar a conhecer o mais que pode a cultura alentejana e, em particular de Estremoz. enquanto outros apenas choram por tradições perdidas.
Uma cultura ou uma civilização, como um ser vivo, nasce, cresce, vive e morre. Não adianta brigarmos a favor ou contra o progresso. Clamar pela continuação de costumes ou tradições. A mudança é inevitável. E não esqueçamos as desvantagens, a dureza e as injustiças de muitos aspetos da vida antiga, quando recordamos, romântica e nostalgicamente, os trabalhos no campo, as searas a perder de vista, a ardósia para escrever, a bola de trapos de jogar nas ruas, ou as “guerras” à pedrada de partir cabeças, entre os rapazes de antigamente. Que fazer no dilema entre a nossa memória seletiva da parte boa dos “tempos da outra senhora” e o avanço tecnológico? A resposta é clara: antes de mais há que registar para manter a memória, seja ela boa ou má! É com registos que se escreve a História e é ela que julgará o melhor e o pior dos tempos. E é isso que faz este nosso amigo.
Obrigada, Hernâni, por essa teimosia, por esse trabalho incansável que regista e dá a conhecer a nossa cultura alentejana e, em particular, a de Estremoz.
Confinada no espaço, mas com o coração expandido com esperança num mundo melhor, em 4 de fevereiro de 2021,
                                                                      
Maria Odete Gato Ramalho
Lisboa, 4 de Fevereiro de 2021

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Companheiros Filatélicos


João Manuel Lopes Soeiro. Empresário. Presidente da Confraria Timbrológica Meridional.

Conheço o Hernâni Matos desde adolescente. Hoje com quase cinquenta e oito anos de idade quase que me apetece dizer que o conheço desde sempre…
Travámos conhecimento na Associação Fotográfica do Sul, na sua secção filatélica, onde a paixão pelos selos nos fez percorrer durante muitos anos um caminho comum. Quando falo deste caminho comum, falo de um percurso intenso ligado à filatelia e a muitos eventos filatélicos, realizados em conjunto quer na AFA, quer na ANJEF, quer na Confraria, quer na colaboração prestada a outras coletividades. Fez parte da lista dos filatelistas fundadores da Confraria Timbrológica Meridional em Évora, de vários Corpos Sociais de alguns clubes ligados à filatelia e até da própria Federação Portuguesa de Filatelia.
Sempre o conheci determinado e cheio de projetos, nos quais “arrastava” e “envolvia”, os amigos mais próximos, para que o objetivo fosse conseguido. Poderia enumerar aqui vários exemplos deste dinamismo, mas estou seguro que não é necessário fazê-lo, porque todos os que privam com ele e o conhecem suficientemente bem, o podem fazer tão bem quanto eu. Era até costume dizer-se no meio filatélico, que o Hernâni era a AFA e a AFA era o Hernâni.
Para além das excelentes coleções que possuía, era dotado de grandes conhecimentos e foi por mérito próprio Jurado FIP.
Para além da filatelia, sempre o vi motivado pela escrita, pela pesquisa, pelo aprofundar do conhecimento ligado às raízes culturais do povo alentejano. É um acérrimo defensor da cultura popular, da etnografia e da história, cuja intervenção vai desde a olaria e dos bonecos de barro até aos poetas populares.
Nos últimos anos afastou-se da atividade filatélica, ocupando o seu tempo quase em exclusivo com a escrita, onde o seu blogue dá conta desta profunda atividade e desta inquietação permanente.
Um grande abraço para o meu Amigo Hernâni, com o desejo expresso que prossiga por muitos anos esta sua atividade.

João Manuel Lopes Soeiro 
Évora, 2 de Fevereiro de 2021

 Hernâni Matos

Hernâni Matos e João Soeiro (ao centro), durante a XIX Exposição Filatélica Nacional
realizada em Évora, em 2006. Estão ladeados à esquerda por Pedro Vaz Pereira (Pre-
sidente da FPF) e à direita por Rui Arimateia (Chefe de Divisão de Cultura da CME).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Hernâni: uma referência


Maria Manuela Fidalgo Marques. Professora. Ex-vereadora do Pelouro da Cultura
da Câmara Municipal de Estremoz.

Conheci o Hernâni, professor na Escola Comercial e Industrial, hoje Escola Secundária da Rainha Santa Isabel. Era um professor exigente. A "simpatia" não foi à primeira vista. Confesso que o achava um pouco "arrogante".O Hernâni é observador, dinâmico, atento, arguto, determinado e por vezes irónico. No blogue "Do Tempo da Outra Senhora" de sua autoria, é abrangente. Conta "estórias", fala-nos da história da sua cidade e não só.
É um Homem de causas, que defende sem medos. É um orgulho tê-lo como amigo do qual gosto, por ser como é.
 
Maria Manuela Fidalgo Marques
Estremoz, 2 de Fevereiro de 2021


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Grande Hernâni…


José Guerreiro. Sociólogo. Ex-Presidente da Câmara Municipal de Estremoz.
Ex-Director do jornal "Brados do Alentejo".

Conheço-te há décadas, meu grande piru. Lembro-me de ti no Colégio S. Joaquim mais alto e esticadinho do que todos os outros. E do dia em que foste atropelado, uma tragédia que nos marcou a todos. Ainda guardo fotos do teatro de finalistas, ensaiado pelo professor Augusto Leitão, e onde apareces fardado de marinheiro.
Depois foi a ida para Lisboa, para estudares na Faculdade de Ciências, onde não nos cruzamos, mas o teu activismo político deixou marcas que eu pude confirmar, quando fui tirar a pós-graduação em planeamento regional e urbano na Universidade Técnica, ali junto à Assembleia da República.
Quando acabaste o curso, regressaste a Estremoz, para dar aulas de Física e Química na Escola Secundária. Estávamos em 1975 e o ambiente político escaldava na Escola e fora da Escola. No ano lectivo seguinte, fui eleito com 24 anos para a presidência do conselho directivo. As reuniões gerais de professores eram quase semanais e tu distinguias-te pela firmeza e lucidez das intervenções. A tua voz de trovão conseguia calar os colegas que não tinham nada de útil para dizer, mas perturbavam e prolongavam desnecessariamente as reuniões.
Cedo começaste a ter um papel ativo na política local. Creio que foste um dos primeiros militantes do núcleo de Estremoz da UDP e um dos mais destacados membros da Comissão Organizadora das Festas do Povo que elaborou um programa que marcava a diferença com as Festas da Exaltação da Santa Cruz. Provavelmente, partiu de ti a ideia de promover a homenagem ao maestro José António Lima, com descerramento de lápide, na casa onde morou no Largo dos Combatentes.
Mais tarde, o nosso relacionamento estreitou-se em 1983, quando fui eleito Presidente da Camara Municipal de Estremoz e tu criaste a Associação Filatélica Alentejana. Foram vários os projectos culturais que a Associação promoveu e a CME apoiou, com toda a justiça.
Em Dezembro de 1993, o amigo José Sena ganha as eleições autárquicas pela APU e nós os dois juntamente com o Narciso Patrício fazemos parte da mesa da Assembleia Municipal, pela mesma força política. Foi uma experiência curta, porque o falecimento inesperado do Presidente da Câmara obrigou a uma reconfiguração do executivo municipal.
Mais recentemente, o teu trabalho de valorização da cultura popular e, em especial, dos "bonecos de Estremoz" tem sido notável. Não será exagerado reconhecer que a ti se deve, em boa medida, a classificação da UNESCO como património imaterial da humanidade.
Ainda no ano passado, pude contar com o teu apoio na pesquisa de algumas matérias relacionadas com um livro que estou a preparar sobre a história contemporânea da cidade. Foi extraordinária essa colaboração.
Sei que tens planeado vários projectos de futuro. Ficamos a aguardar, com toda a expectativa deste mundo.

José Guerreiro
Estremoz, 30 de Janeiro de 2021

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Uma vida ao serviço da Cultura Portuguesa


 Pedro Marçal Vaz Pereira. Presidente da FPF - Federação Portuguesa de Filatelia.
Presidente Honorário da FEPA - Federação Europeia de Sociedades Filatélicas. 
 

Hernâni Carmelo de Matos é um dos homens mais brilhantes, que conheci ao longo da minha vida.
Homem culto, competente, empreendedor, ama o seu Alentejo e dedicou-lhe toda a sua vida.
Autor de excelentes obras de grande valor histórico e social, como “Memórias do Tempo da Outra Senhora” e “Franco-Atirador”, que são o culminar de muitos anos de uma vida cheia de experiências e tendo a “Escrita como Instrumento da Libertação do Homem”. Hernâni Matos passou para o papel essas suas vivências sociais e culturais de outros tempos e outros modos, para que estas memórias fiquem presentes no futuro, como a força e experiência de vida deste alentejano multifacetado e multicultural.
Apaixonado pela arte do barro, pelos bonecos de Estremoz, pela olaria, Hernâni de Matos reuniu umas das maiores coleções, dedicada a esta soberba arte de fazer bem e bonito com o barro.
Para imortalizar esta sua paixão, escreveu um extraordinário livro dedicado ao tema, a que deu o título de “Bonecos de Estremoz” e que apresentou em Janeiro de 2019, na cidade de Estremoz.
Hernâni Matos é também um apaixonado pela etnografia alentejana.
Depois é vê-lo aos sábados na feira de Estremoz, realizada em frente da Câmara Municipal, à procura de objectos que lhe interessem e a receber dos feirantes peças que estes guardaram para a sua colecção. Primeiro está o Dr. Hernâni e depois estão os outros, se o Dr. Hernâni não quiser, assim me confessou uma vez um desses feirantes.
E assim a sua colecção, tornou-se numa das mais ricas do país.
Adora a história e a literatura oral, tendo promovido diversas sessões onde esta última teve um papel importantíssimo.
O seu envolvimento cívico na vida de Estremoz e do seu Alentejo, é notável e merecedor dos maiores elogios e agradecimentos. Sem ele, Estremoz e o Alentejo não seriam os mesmos.
E deixei para o fim, um dos aspectos culturais mais ricos de Hernâni de Matos. Trata-se da Filatelia.
Hernâni de Matos é um dos melhores filatelistas de Portugal e um dos mais distintos a nível nacional, sendo reconhecido a nível internacional.
Com as suas colecções de Inteiros Postais e Maximafilia, apresentadas em exposições filatélicas nacionais e internacionais, foi classificado com altíssimos prémios.
É um jornalista filatélico de corpo inteiro, sendo um excelente articulista, tendo escrito brilhantes artigos, para muitas revistas filatélicas.
Foi membro da Direcção da Federação Portuguesa de Filatelia.
Integra como Jurado o quadro nacional de jurados da Federação Portuguesa de Filatelia e integra igualmente como Jurado o quadro de jurados internacionais da FIP - Federação Internacional de Filatelia.
A Federação Portuguesa de Filatelia atribuiu-lhe em 2004, a Ordem de Mérito Filatélico, pelos excepcionais serviços prestados à Filatelia.
Foi ainda membro da Comissão de Inteiros Postais da Federação Internacional de Filatelia e Delegado Nacional da Federação Portuguesa de Filatelia, a essa Comissão.
A FEPA-Federação Europeia de Associações Filatélicas teve o seu primeiro website em 2001, tendo sido Hernâni Matos o responsável pela sua criação e manutenção até 2009.
Teve um período da sua vida, que dedicou à juventude filatélica, tendo captado muitos jovens para a Filatelia Portuguesa.
No associativismo filatélico foi Presidente da Associação Filatélica Alentejana, que desenvolveu a nível nacional uma acção de grande prestígio, mérito e competência.
Fundou o Correio do Alentejo, revista da Associação Filatélica Alentejana, revista difusora das iniciativas daquela agremiação e da Filatelia de Portugal.
Foi ainda o fundador da ANJEF - Associação Nacional de Escritores e Jornalistas Filatélicos, da qual foi Presidente, tendo instituído os prémios anuais para os melhores trabalhos de Literatura Filatélica e fundado uma revista de grande qualidade, com o título “Convenção Filatélica”.
Foi o organizador de muitas exposições em Estremoz, algumas de grande porte e importância, como foi a de 2004, comemorativa dos 50 anos da Federação Portuguesa de Filatelia, onde Brasil e Espanha estiveram presentes.
Brilhante conferencista, proferiu imensas conferências tanto filatélicas como de outros temas.
O Alentejo e a cultura de Portugal devem muito a Hernâni de Matos, que de forma altruísta, dedicada e competente, mas sempre desinteressada, muito tem dado a Portugal e ao seu Alentejo.
Hernâni de Matos é daqueles amigos que sabe bem ter na nossa vida, pelo seu enorme estatuto cultural, pela sua competência, pela sua lealdade, pela sua verticalidade e acima de tudo pelo gosto de termos amigos como ele.
Aqui fica este meu sincero testemunho, que transportado para a vida real e cultural, dá uma enorme obra de Hernâni de Matos, para o seu amado Alentejo e para Portugal.
Contamos com Hernâni de Matos para muitas mais.
Bem-haja meu Amigo por tudo que nos tem dado e tem realizado.
 
Pedro Marçal Vaz Pereira
Lisboa, 3 de Fevereiro de 2021


Hernâni Matos no desempenho das funções de jurado FIP de Inteiros Postais na
Exposição Mundial de Filatelia ESPAÑA 2006 (Málaga, 7 a 14 de Outubro).

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Ferozmente independente


Manuel Calado. Arqueólogo.


Décimas dedicadas a Hernâni Matos
pelo seu amigo Manuel Calado


FEROZMENTE INDEPENDENTE

Ferozmente independente
Homem das letras exactas
Sempre na linha da frente
Sem timidez nem bravatas

Aguçado pela ciência,
Com método positivo,
Vens construindo um arquivo
Com saber e paciência.
Um marco da resistência
Da cultura popular,
A alma da nossa gente.
É uma forma de lutar,
E contra a maré remar, 
Ferozmente independente.

Um guardador de memórias, 
Que se perdem hora a hora. 
Tempos da outra senhora. 
Entre bonecos e estórias. 
Os sonhos do povo, as glórias 
De um viver ancestral. 
Boneco, selo, postal,
Juntando dados e datas.
Hernâni Matos, o tal
Homem das letras exactas. 

Vais pondo, em letras certinhas,
Coisas simples, verdadeiras. 
Dás ânimo às boniqueiras,
Que contemplas e acarinhas.
Tu sabes ou adivinhas
Como se fazem artistas. 
Cada peça que conquistas
Também enriquece a gente.
És homem largo de vistas,
Sempre na linha da frente. 

Como bom filho do povo 
Alimentas as raízes 
O que escreves e o que dizes,
Sempre antigo, é sempre novo. 
Coisas com que me comovo. 
Hernâni, homem de Abril, 
Outono primaveril:
As belezas que retratas
São a arte pastoril, 
Sem timidez, nem bravatas.

Manuel Calado
Borba, 3 de Fevereiro de 2021

terça-feira, 19 de maio de 2020

Adagiário de São Roque


São Roque (c. 1516). Iluminura do Missal de Joanna de Ghistelles, c. 1516:
Egerton MS 2125, f. 209 v.

Propus-me estudar o adagiário português dos Santos e dei conta desse estudo em três textos publicados sucessivamente:
Adagiário dos Santos - 3                 
Apesar da expressividade do culto a São Roque em Portugal, não conheço nenhum adágio português que faça referência ao dia de São Roque (16 de Agosto). Todavia, na tradição oral francesa, existem adágios que têm a ver com o calendário agrícola do mês de Agosto:
- À la Saint-Roch, grande chaleur prépare vin de couleur (Por São Roque, muito calor origina vinho de cor);
- À la Saint-Roch, les noisettes on croquet (Por São Roque comemos avelãs);
- Après la Saint-Roch, aiguise ton soc et chausse tes sabots (Depois de São Roque, afia a tua relha e calça os teus tamancos) - Diz-se aos lavradores, porque é chegado o momento de fazer os preparativos para as sementeiras de Outono;
- C'est saint Roch et son chien (É São Roque e o seu cão) – Diz-se de duas pessoas inseparáveis;
- La Saint-Roch annonce le temps d'automne (São Roque anuncia o Outono);
- Oncques pluye ne fict tord à la grand saint Roch en Retord (Nunca a chuva prejudicou o grande São Roque em Retord);
- Peigné comme saint Roch  (Pentado como São Roque) – Diz-se de alguém mal penteado;
- Qui aime saint Roch, aime son chien (Quem gosta de São Roque, gosta do seu cão) – Idem;
- Qui voit saint Roch, voit bientôt son chien (Quem vê São Roque, vê logo o seu cão) – Diz-se de duas pessoas que se seguem uma à outra;
-S'il pleu t à la Saint-Roch les truffes pousseront sur le roc (Se chover em São Roque, as trufas crescerão na rocha);
Não há adágios portugueses sobre São Roque, mas há adágios franceses. É caso para dizer:
- Quem não tem cão, caça com gato.



São Roque (1508). Iluminura do “Livre de prières de Madeleine d'Azay”, folha 27 r,
Manuscrito 355, Biblioteca- Mediateca de Nancy.

Cura de São Roque (15..). Iluminura do “ Livre d'heures à l'usage de Chalon”,
folha 108 v, manuscrito 6881, Biblioteca Municipal de Lyon.

domingo, 17 de maio de 2020

COVID - 19




Textos publicados no contexto da pandemia de COVID-19


Coronavírus COVID-19 (Blogue: 15 de Março de 2020)
Aos devotos de São Roque (Blogue: 19 de Março de 2020)
Bonecos de Estremoz e pandemia: São Roque (Blogue: 13 de Maio de 2020)
São Roque em Portugal (Blogue: 16 de Maio de 2020)
Adagiário de São Roque (Blogue: 19 de Maio de 2020)
Santo António e COVID-19 (Blogue: 26 de Maio de 2020)
Bonecos de Estremoz e Pandemia: Peralta e Sécia (Blogue: 28 de Maio de 2020)
Bonecos de Estremoz e pandemia: Ricardo Jorge (Blogue: 11 de Junho de 2020)
Auto do desconfinamento de Santo António (Blogue: 13 de Junho de 2020) 
-  Bonecos de Estremoz e pandemia (Blogue: 30 de Janeiro de 2021)


Hernâni Matos


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Bonecos de Estremoz: a Literatura de Tradição Oral


Assobios compostos: Sargento a cavalo, Amazona e Peralta a cavalo. Irmãs Flores.

O conjunto dos Bonecos da Tradição incorpora entre outros apitos, três figuras a cavalo: Amazona, Peralta a cavalo e Sargento a cavalo. Estas imagens têm base rectangular e o apito está localizado na cauda do cavalo. Um rolo de barro foi aí colado com barbotina e depois furado com um arame grosso da base exterior do rolo para o interior, até cerca de metade do comprimento. Na parte superior do rolo foi depois efectuado outro furo, até encontrar o primeiro. Esta particularidade da manufactura dos apitos induziu a que, no domínio dos ditos e apodos colectivos, aplicados aos estremocenses, se dissesse “Têm o apito no cú” [David de Morais (1)]. Daí que, quando alguém disparava um traque, acompanhado ou não de pestilenta semeadura de fedores fecais, se dissesse: “És como os de Estremoz: tens o apito no cú” (1). Outro dito e apodo colectivo aplicado aos estremocenses era o de “Bonecos” [Soeiro de Brito (5)], numa clara alusão à produção de figuras em barro de Estremoz. De acordo com este autor, quando faltava qualquer coisa, costumava dizer-se: “Então o que quer que lhe faça? Quer que o mande vir de Estremoz?” Por outro lado (2) “Há curiosidades dispersas nos dizeres da região, a respeito de perfeições físicas ou morais que se exigiam a uma pessoa: - olha “se queres mais perfeito, manda-o fazer de barro de Estremoz”, ou esta outra: - “Queres noiva como desejas, só no Outeiro de Estremoz. Pintam-se e são bôas de génio”. Também Portugal Dias (4) refere “…a fama proverbial dos Bonecos de Estremoz exaltada em ditos familiares quasi sempre alusão ás perfeições moraes de qualquer: - “Só feito de encomenda em Estremoz” – “Se queres melhor manda-o vir de Estremoz!”… - e ainda na intenção satírica da quadra: 

“Vergonha da minha cara
Se contigo tenho amores!
- Se quizesse amar bonecos…
Mandava-os vir de Estremores.”

Até na ironia da cantiga se contem a ideia de superioridade do boneco de barro que ao menos não tem falhas moraes. - Só feitos de encomenda, concerteza!” A nível de cancioneiro popular é conhecida a moda alentejana “Se eu quisesse amar bonecos”, recolhida em Reguengos de Monsaraz por Pombinho Júnior (3):

“Se eu quisesse amar bonecos,
Mandav’òs vir de ‘Stremôris,
Vergonha da minha cara
Se eu contigo tinha amôris.

Se eu contigo tinha amôris,
Se eu era o tê namorado,
Mandav’òs vir de ‘Stremôris,
Mandav’òs vir do Chiado!”

Os exemplos apontados mostram bem como os Bonecos de Estremoz estão perpetuados na literatura oral, um filão com potencial que urge explorar, para bem da Cultura Popular.

BIBLIOGRAFIA
(1) - DAVID DE MORAIS, J. A. Ditos e Apodos Colectivos. Colibri. Lisboa, 2006. (pág. 55)
(2) - Indústrias em Estremoz – mármores e barros in Brados do Alentejo nº 210, 3/2/1935. Estremoz, 1935 (pág. 17).
(3) - POMBINHO JÚNIOR, J.A. Cantigas Populares Alentejanas. Maranus, 1936.
(4) - PORTUGAL DIAS, Maria. A Vida Eterna das Cousas, Tradição e Arte I in Brados do Alentejo nº 8, 22/03/1931. Estremoz, 1931 (pág. 5).
(5) - SOEIRO DE BRITO, J.M. Ditados tópicos alentejanos. Tipografia Progresso. Elvas, 1938 (pág. 17).
Publicado inicialmente a 15 de Abril de 2020