Prólogo
O presento texto visa clarificar e consolidar conceitos inerentes à Barrística Popular de Estremoz. Tem, pois uma função pedagógica. É ilustrado com imagens de 14 ceifeiras produzidas por 12 barristas, desde os anos 30 do séc. XX, até à actualidade.
A ausência de exemplares de alguns barristas, apenas é devida ao facto de até ao presente não me ter sido possível inclui-los na minha colecção. As aquisições têm ocorrido ao acaso, fruto de circunstâncias e oportunidades. A ausência de exemplares de alguns barristas não significa, de modo algum, um juízo de valor sobre o trabalho dos “ausentes”. É sabido que como coleccionador e investigador da Barrística Popular de Estremoz, tenho dado provas de apreciar o trabalho e a matriz identitária do trabalho de cada um e assim continuará a ser.
Atributos
Na Barrística Popular de Estremoz, cada um dos chamados “Bonecos da Tradição”, goza de determinados atributos. Estes não são mais que as particularidades invariantes que um barrista deve ter em conta na produção de cada uma dessas figuras. Essas particularidades estão associadas a cada uma dessas figuras e ajudam a identificá-las.
Pormenores
Para além das particularidades invariantes atrás referidas, existem outras particularidades variáveis (pormenores) cuja inclusão na manufactura de uma figura, depende do livro arbítrio do barrista.
Estilo
O estilo é a maneira como cada barrista se exprime, fruto do seu modo próprio de observar e interpretar o mundo que o cerca, revelando a sua individualidade através de marcas identitárias que lhe são próprias e que se repetem ao longo da sua produção. Depende de múltiplos factores, entre eles: o talento, a cultura artística, a criatividade e o brio profissional. Deste modo, como resultado da produção, podem resultar figuras mais simples (populares) ou mais elaboradas (eruditas).
A pluralidade de resultados distintos possíveis de obter na produção de uma figura, mesmo dos chamados “Bonecos da tradição”, é reveladora da riqueza da Barrística Popular de Estremoz.
Liberdade cromática
No século XXI surgiram barristas que não trilharam os caminhos habituais de aprendizagem: contexto oficinal e contexto familiar, que condicionam sempre a concepção, a modelação e a decoração. À semelhança do que já se passara com outros, como foi o caso de Sabina da Conceição Santos (1921-2005) e de Mário Lagartinho (1935-2016) que aprenderam por autoformação, o mesmo se veio a verificar com outros como: João Fortio (1951- ), Rui Barradas (1953- ), Carlos Alves (1958- ) e Jorge Carrapiço (1968- ). Por outro lado, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte em Estremoz, teve lugar em 2019 um Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, orientado tecnicamente pelo barrista Jorge da Conceição (1963- ). Aqui os formandos aprenderam e aplicaram os fundamentos da modelação e da decoração para virem a aplicar na sua actividade como barristas, sem a preocupação da obrigatoriedade de ter que seguir os traços identitários do formador ou de qualquer outro barrista, nomeadamente no que respeita a cores. Pelo contrário, ficaram com a consciência de que deviam procurar duma forma incessante o seu próprio caminho e a sua própria matriz identitária.
Epílogo
A Barrística Popular de Estremoz quer-se viva, pelo que deve reflectir os anseios e a sensibilidade dos seus criadores, para além dos contextos de produção ou inerentes ao tema abordado, mas sempre com integral respeito pelo modo de produção e pela estética dos Bonecos de Estremoz.
A Barrística Popular de Estremoz não se pode limitar a ser uma linha de montagem e de reprodução dos modelos criados pelos mestres e pelas mestras. Se o fosse, estaria embalsamada no tempo e seria merecedora de um funeral condigno.
É preciso perceber de vez que a Barrística Popular de Estremoz não é como o Pai-nosso que só pode ser dito de uma maneira.
José Moreira (1926-1991)
José Moreira (1926-1991)
Fátima Estróia (1948- )
Quirina Marmelo (1922-2009)
Isabel Catarrilhas Pires (1955 - )
Carlos Alberto Alves (1958 - )
Inocência Lopes (1973 - )
Ana Catarina Grilo (1974 - )
Joana Santos (1978 - )
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