Ex-Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz.
Antes de aparecer o corpanzil alto, magro e ligeiramente curvado, ouve-se o vozeirão como um rochedo no início de uma derrocada que tudo arrasta. Olhamos uns para os outros com pontos de exclamação no olhar: não há a mínima dúvida de quem se aproxima, é o Hernâni! E é assim, arrastando obstáculos, que põe toda a gente a mexer, seja para uma exposição de selos ou de bonecos de Estremoz, seja para um almoço com poetas populares…
- Preciso que vás dizer uma poesia no
evento X. Já falei também com a Fátima Crujo e a Francisca Matos.
Num
instante despeja o que tem a dizer. E aquela voz de trovão, mesmo quando
sussurrada, apoiada pela expressão séria atrás do bigodinho, que vai mexendo
(talvez seja mesmo a coisa menos convincente que possui) não dá margem para
dizer que não, mesmo que, por dentro, lhe chame chato. Impõe respeito. Não sei
bem como, ou o que provoca tudo isto. Agora que penso nisso, acho que este
homem se pode traduzir, antes de mais, talvez antes ainda de ser o filho do bom
alfaiate Matos, ou do professor de Físico-Química da minha/nossa querida Escola
Secundária, ou do homem que é pai da Catarina e marido da Fátima, o que ali vive,
o que domina é uma vontade férrea que o empurra para a frente com força e que
lhe dá uma capacidade de trabalho impressionante, que se propaga a tudo o que o
rodeia.
Por
falar em alfaiate, lembro-me do Hernâni sempre impecavelmente enfarpelado, nos
seus fatos completos, de boas fazendas, com gravata e lenço na lapela. Outros
tempos. Hoje é a aparência mais descontraída. Mas por dentro continua o mesmo.
A escrever, a pesquisar, a dar a conhecer o mais que pode a cultura alentejana
e, em particular de Estremoz. enquanto outros apenas choram por tradições
perdidas.
Uma
cultura ou uma civilização, como um ser vivo, nasce, cresce, vive e morre. Não
adianta brigarmos a favor ou contra o progresso. Clamar pela continuação de
costumes ou tradições. A mudança é inevitável. E não esqueçamos as
desvantagens, a dureza e as injustiças de muitos aspetos da vida antiga, quando
recordamos, romântica e nostalgicamente, os trabalhos no campo, as searas a
perder de vista, a ardósia para escrever, a bola de trapos de jogar nas ruas,
ou as “guerras” à pedrada de partir cabeças, entre os rapazes de antigamente.
Que fazer no dilema entre a nossa memória seletiva da parte boa dos “tempos da
outra senhora” e o avanço tecnológico? A resposta é clara: antes de mais há que
registar para manter a memória, seja ela boa ou má! É com registos que se
escreve a História e é ela que julgará o melhor e o pior dos tempos. E é isso
que faz este nosso amigo.
Obrigada,
Hernâni, por essa teimosia, por esse trabalho incansável que regista e dá a
conhecer a nossa cultura alentejana e, em particular, a de Estremoz.
Confinada
no espaço, mas com o coração expandido com esperança num mundo melhor, em 4 de
fevereiro de 2021,
Maria
Odete Gato Ramalho
Lisboa,
4 de Fevereiro de 2021
Também recordo com saudades o meu vizinho amigi de infância e seus pais abraço deus o abençoe para sempre amen
ResponderEliminarMuito obrigado.
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