Luís Parente. Professor. Barrista. Presidente do Orfeão de Estremoz Tomaz Alcaide.
Conheço o Professor Hernâni Matos há muitos anos. A minha memória mais antiga, seria eu um catraio, está na rua das lojas... era assim conhecida a rua 5 de Outubro em Estremoz, onde o seu pai tinha uma alfaiataria e o meu tio uma loja de fazendas. Foi ali que o encontrei na minha memória, à porta, a falar com o seu pai. De certa maneira a minha vida sempre se cruzou com a sua, quer fosse por ter sido professor do meu irmão, quer pelo facto de a sua filha ser uma das grandes amigas da minha prima, quer ainda pelo motivo da sua esposa fazer parte do Orfeão, onde os meus pais e tios também cantavam, ou até mesmo, mais tarde, por partilharmos um espaço contíguo no Centro Cultural Dr. Marques Crespo enquanto agentes culturais, eu com o "meu" Museu Rural da Casa do Povo de Santa Maria, ele com um espaço museológico de excepção que geria em nome da Associação Filatélica Alentejana e onde promovia continuamente exposições e eventos culturais de índole diversificada, de reconhecida importância para a cidade e para a região. A partir dessa altura passámos a falar mais do que o simples e cordial "Bom dia! Como está?" e foi então que melhor percebi que o Professor Hernâni Matos não era só um professor de reconhecida qualidade e competência mas um extraordinário intérprete cultural. Homem de cultura, conhecedor e protector de tradições, amante da escrita, defensor de causas que, não raras vezes, lhe terão trazido alguns dissabores por ser uma pessoa vertical e não abdicar da liberdade de expressar o que a sua consciência lhe ditasse. Benfiquista, independente, defensor da festa brava, das ciências, das memórias e estudioso do passado mas sempre, sempre com os olhos postos no futuro... pessoa de interesses e gostos abrangentes e variados como a etnografia, a poesia popular, a filatelia, o coleccionismo e, no fundo, aqueles que, sem desprimor para os restantes, mais me "tocam"... a simpatia e reconhecimento pelo "meu" Orfeão de Estremoz "Tomaz Alcaide" e o amor aos "Bonecos de Estremoz". Sobre os "Bonecos", considero que são poucos os que dedicam o seu tempo a estudar esta arte secular e o Professor Hernâni Matos é um dos expoentes máximos no que a este assunto diz respeito. Sendo eu também artesão, já falámos inúmeras vezes sobre esta temática tendo o próprio confessado que o contributo que pode dar a esta arte é estudá-la, falar sobre ela, dar a conhecer a sua história, a sua evolução e apoiar quem, com a matéria-prima e com as mãos consegue conduzi-la ao futuro e tudo isso, garantidamente fá-lo com mestria. Talvez tenha sido por isso que, há tempos, achei que o epíteto que melhor definiria o Professor Hernâni Matos era o de "Boniqueiro das Palavras", precisamente por ser através delas que expressa toda a sua alma, por ser aquele que consegue, através dessas mesmas palavras, aliar a defesa das características tradicionais dos "Bonecos de Estremoz" à sua contemporaneidade, privilegiando sempre o acto criativo de cada um dos artesãos... e por ser aquele que, mesmo não conseguindo fisicamente modelar um "Boneco", consegue, através da escrita, modelar e pintar os dos outros mas, no fundo, no fundo, ser também aquele que acaba por conseguir de uma outra forma "modelar" e "pintar" os seus.
Luís Parente.
Estremoz, 15 de Fevereiro 2021
gostaria de agradecer ao amigo pela excelente explanação sobre o que é exatamente "as cáguedas",artesanato popular a que eu fiquei impressionado pela beleza e criatividade dos artesão alentejanos da pastorícia,e fiquei ao mesmo tempo preocupado com a usança do artifício,pois o amigo nos expôs que as cáguedas,estão em perigo de extinção,ah! mas que pena,pois são tão bonitas e enobrecem tanto a arte campestre e pastoril,pois que lutemos e salvamo-las...!!!
ResponderEliminarMuito obrigado pelo seu comentário. Cumprimentos.
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