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segunda-feira, 29 de março de 2021

Preservar memórias


Sónia Ferro. Jurista. Vereadora da Câmara Municipal de Estremoz.
 
O Professor Hernâni, por muitos motivos e mais alguns, é-me pessoalmente querido e por ele nutro a maior consideração.
Não posso deixar de me recordar de quando, ainda bem miúda, tive o privilégio de que me mostrasse a sua coleção de selos, ou provavelmente parte dela, pois já à data era bastante extensa e impressionante. Eu e o meu irmão Pedro, um pouco mais novo que eu, ficámos absolutamente fascinados! A tal ponto que iniciámos logo várias coleções, algumas das quais ainda hoje preservamos.
Também na Escola Secundária, apesar de nunca ter sido sua aluna, até porque ingressei pelo mundo das letras, fui marcada pela sua figura carismática. Foram muitos os meus amigos e colegas que, pela sua influência e pela forma cativante como lecionava, enveredaram pelas “físicas” e pelas “químicas”.
Hoje tenho-o como um homem de saber, perseverante e resiliente. Alguém cuja determinação e empenho tem contribuído, de forma singular, para a preservação e valorização do património cultural de Estremoz. O rigor com que leva a cabo os seus projetos e estudos, entre outros como investigador da Barrística Popular Estremocense, asseguram-nos a autenticidade, a preservação e o respeito pelas “nossas” memórias e tradições populares.
A sua capacidade de partilhar o saber e o seu conhecimento aprofundado e especializado é também de louvar. Por meio do seu Blogue, de publicações na imprensa e dos livros de que é autor ou organizando exposições temáticas e iconográficas, o Professor Hernâni abre-nos o livro da história da nossa comunidade.
Como filha da terra resta-me demonstrar-lhe a minha gratidão.
 
Sónia Ferro
Estremoz, 4 de março de 2021
 
 Hernâni Matos

domingo, 28 de março de 2021

O meu posto é aqui!

 

 


É forte o meu amor pelos Bonecos de Estremoz. É como se a Terra-Mãe de barro se tivesse fundido comigo num acto de paixão perene que me aquece e alegra a alma. Por outras palavras: tenho os Bonecos de Estremoz na massa do sangue. Eles são o meu amor de todas as horas e acompanham-me para onde quer que eu vá. Longe de ser um fardo, é uma missão que assumi de corpo inteiro. De tal modo que por vezes me vejo obrigado a puxar das divisas e a proclamar:
- O meu posto é aqui!
Esse o significado da presente fotografia de quem não nasceu para posar para fotografias, mas antes para rasgar horizontes, já que é para serem rasgados que os horizontes existem. Todavia, os horizontes fogem de mim e sempre que avanço na minha caminhada, os horizontes passam a ser outros, até eu passo a ser outro, porque, entretanto, cresci durante a caminhada.
Recolectar, observar, analisar, ver para além do óbvio, estudar, investigar, pulverizar os dogmas e as verdades de conveniência onde alguns gostam de se acoitar e acabam por se atolar, são alguns dos passos dessa caminhada.
Boniqueiro das palavras ou picareta escrevente tanto faz. O que interessa é o que escrevo e como escrevo, já que se escrevo e porque escrevo é espontaneamente da máxima importância, por ser tão vital como o respirar, o comer, o dormir e o procriar.  E a voz que é minha com a força e a legitimidade de provir igualmente da Terra-Mãe, tal como eu nunca se rende e mesmo em momentos difíceis proclama comigo e a uma só voz:
- O meu posto é aqui!

sexta-feira, 26 de março de 2021

Hernâni Matos: uma referência na vida estremocense

 
 Pedro Ramalho. Funcionário autárquico. Radialista.

 Traçar o perfil biográfico de quem quer que seja, não é tarefa fácil, muito menos do Professor Hernâni Matos. Limitar-me-ei a alguns tópicos resultantes da minha interação com ele.

Durante o seu percurso como docente na Escola Secundária Rainha Santa Isabel, não cheguei a ser seu aluno. Certamente, cruzávamo-nos nos corredores e o nosso relacionamento não passaria dum circunstancial “bom dia” ou “boa tarde”.
No ano de 1994, conheci pessoalmente o Professor Hernâni Matos como autarca na Assembleia Municipal de Estremoz, à qual eu prestava assistência como funcionário do Município. Aos sábados de manhã era vulgar encontrarmo-nos no Café Alentejano, onde em torno de uma bica, o tema de conversa eram os assuntos pertinentes da ocasião, abordando-se também a sua prestação no órgão autárquico e os projetos que desenvolvia na altura (Filatelia, Animação Cultural e Imprensa local). Muitas vezes coloquei à sua disposição os meus conhecimentos no arranjo e produção gráfica de trabalhos das diversas áreas em que tem intervindo.
A meu ver, o seu papel como autarca traduz-se até aos dias de hoje, numa das melhores prestações que o órgão conheceu. Foi ele que implementou a utilização de actas electrónicas na Assembleia Municipal. Era um homem que só precisava da coragem e da força de vontade para lutar por aquilo em que acreditava.
O Professor Hernâni, com o seu espírito persistente, gosta de aprender e ensinar. Desta forma, sabe como ninguém, pensar com serenidade e ponderação.
Há cerca de 50 anos que vem desenvolvendo intensa e diversificada atividade cultural a nível local. Como filatelista alcançou projeção internacional, tendo recebido inúmeros prémios e distinções. Há 12 anos que mantém um blogue dedicado à Cultura Portuguesa, muito em especial à Cultura Popular, com especial incidência no âmbito local e regional. Colaborador ativo da Imprensa local, publicou 4 livros com os conteúdos centralizados em Estremoz.
Pela sua postura cívica representa um exemplo a seguir por qualquer um que tenha a consciência do dever para com a sociedade a que pertence.
Bem-haja, Professor.

 Pedro Ramalho
Estremoz, 4 de Março de 2021

Hernâni Matos

terça-feira, 23 de março de 2021

Amizade em tempos de Covid ou sobre os seres que são catedrais

 

Joana Santos. Boniqueira.

Dou comigo a pensar que o corpo com que nascemos nos molda. Como se as características físicas fossem os atributos extensíveis da nossa personalidade. Ou talvez seja ao contrário. Que o corpo se vai moldando de forma a albergar a dimensão dos nossos interesses, dos nossos valores, do nosso conhecimento, de como somos com os outros à medida que crescemos.

Em 2019, quando embarquei no Curso de Técnicas de Figurado de Estremoz, estava longe de imaginar que a minha vida ia dar uma volta de 360 graus. Mas uma grande volta deu a minha vida, de tal forma que, inspirada e apaixonada pelo que tinha aprendido, deixei um emprego certo e decidi dedicar-me à incerteza de ser artesã e fazer bonecos. Uns mais inspirados nos de Estremoz do que outros, mas sempre com os de Estremoz, e o que aprendi no curso, no horizonte e como ponto de partida.

Neste meu salto em queda livre, foram muitos os que me foram abrindo para-quedas, de tal forma que acabei por perceber que afinal não era uma queda, mas sim um voo. E ninguém como o Hernâni Matos, que agora tenho o privilégio de ter como Amigo,  e que me tem acompanhado neste voo e tem sido uma  ponte sólida entre o meu trabalho como artesã e o mundo dos Bonecos de Estremoz.

Não me esqueço o sábado de sol, de um princípio de verão, no dia em que nos conhecemos. Um dia da era estranha dos tempos Covid, que não são ainda dias do passado, mas que espero, possam sê-lo em breve. Ambos de máscara posta, adereço uniformizador da nossa vulnerabilidade humana, escudo que nos protege a vida, mas que nos afasta da riqueza codificada das expressões faciais. O que era para ser uma entrega de uma peça à laia de um café, tornou-se numa conversa que teria durado todo o dia, não fosse a sardinhada em família que o Hernâni tinha agendado para esse sábado.

A mente do Hernâni é como as cartolas dos mágicos, e exerce o mesmo fascínio para quem tem a sorte de privar com ele.  Nem bem acabado que está de sair o primeiro coelho, já uma pomba, um lenço, uma rosa se põem em fila para sair também, num desfile inesgotável e surpreendente, cada um como consequência inevitável do outro. Dos cumprimentos formais "do como está, é um prazer conhecê-lo finalmente", o Hernâni deslindou o primeiro "coelho da sua cartola" com a lenda de São Roque e do seu confinamento visionário, em tempos de outras pandemias, e sobre o cão que lhe trazia pão e que lhe permitiu sobreviver. Do São Roque passou-se aos apitos. Os mais tradicionais, os mais contemporâneos. Fiquei a saber que o Hernâni prefere os mais singelos. Depois a conversa discorreu para a origem carnavalesca das figuras do Amor é Cego, da sua possível inspiração nas obras barrocas com cupidos e outros anjos. Daí passámos à Primavera, às peças de inovação, o percurso histórico dos Bonecos. Outro truque da cartola, e o Hernâni falou do seu percurso profissional como aprendiz de alfaiate, e depois como professor de Física no Liceu. Mencionou um aluno brilhante que teve, o seu perfeccionismo já evidente, e que se transformou num dos grandes do Figurado Português, com o qual tive o privilégio de aprender o que sei de figurado -  o Mestre Jorge Palmela. Logo a conversa se virou para os novos artesãos, os mais velhos, os que já não estão.  E daquela cartola não parariam de sair "coelhos e pombas", na analogia possível aos temas de grande interesse que ali partilhávamos, não tivesse chegado a hora do almoço.

O mercado de sábado, que me parecia acontecer apenas com o propósito de servir de cenário à nossa conversa, era  já um baile de gente a arrumar bancadas e outras de sacos nas mãos a transbordar com ramas verdes, comprando um último ingrediente, ou  fazendo uma última negociação de algum achado em segunda mão, antes do regresso a casa.

E assim, sob o olhar atento da fonte do Sátiro, do escultor Sá Lemos, nos despedimos. Sem abraços, ou outras manifestações de proximidade, porque os tempos não estão para isso.

No regresso a casa vim a pensar no quanto aquele homem de 74 anos, ao qual praticamente só vi os olhos, leva dentro. Tanto conhecimento, tanta força, tanta generosidade, tanto amor por tantas coisas e um incomensurável pelos Bonecos, que o seu corpo mais não poderia ser se não um corpo alto, basilar, com a elegância da idade e das coisas interessantes às quais dedica o seu tempo.

Desde então são inúmeras as vezes que trocamos ideias. Não se cingem aos bonecos, nem ao eterno dilema, tão velho como a própria arte em si, da tradição versus a inovação, que pano para longas mangas tem dado aos Bonecos da Cidade Branca. Outros temas afloram, alguns de cariz mais atual, outros mais poéticos e oníricos. Em todos eles sempre a mesma generosidade, cuidado, mente crítica,  conhecimento profundo, sensibilidade e, a qualidade mais preciosa entre todas - humanidade. 

Seres como Hernâni são seres raros, bons, necessários cuja contribuição para o bem maior é indelével. E por isso têm corpos como catedrais, fortes, amplos, erguidos, para que neles possa existir o universo vasto que contêm. 

Que acabem rápido estes dias covidescos, e que a nossa amizade possa fazer-se de mais dias de verão, numa esplanada de Estremoz, irradiada pelo sol e pela partilha de saber, de interesses comuns e pelos nossos sorrisos.

 

Joana Santos

Foros do Queimado, 1 de Março de 2021



Joana Santos no seu atelier.

domingo, 21 de março de 2021

O professor Hernâni

 

Sónia Caldeira. Professora. Deputada à Assembleia Municipal em Estremoz.


As minhas lembranças do professor Hernâni remontam a meados dos anos 90 em que eu era aluna na Escola Secundária de Estremoz e ele, professor. Fui aluna de Técnicas de Laboratoriais de Química, uma vez que sempre fui mais da Química das reações, das ligações e fusões, do que da Física dos movimentos, forças e leis. O professor Hernâni era mais da Física tendo acabado por nunca ter sido meu professor. De qualquer forma não passou despercebido, não só por ser marido da minha querida professora Fátima, mas também porque pessoas como ele, não passam indiferentes a ninguém.
Recordo-me do seu ar imponente e da sua voz altiva que punha qualquer turma em sentido naquele corredor dos laboratórios de Física e de Química. Todos os respeitavam, todos lhe reconheciam qualidades de um excelente professor de Física e de um grande dinamizador de atividades…
Anos mais tarde, em 2005, reencontrei o professor Hernâni na Assembleia Municipal. Ele da bancada da CDU e eu da bancada do PS, num tempo em que eu iniciava as minhas lides na política e ele já quase tinha um mestrado nesta área. Estive ali para aprender, as minhas poucas intervenções passariam despercebidas a qualquer um, ao contrário das intervenções do professor Hernâni, cujas palavras ecoavam ora em tom de convicção, ora em tom de manifestação, no imponente salão Nobre dos Paços do Concelho.
Ao longo dos tempos os nossos caminhos continuaram a cruzar-se e em 2014 fomos ambos convidados para ser colunistas do Jornal E. Foi nessa altura que redescobri o seu grande interesse pela filatelia, pelos usos e costumes do Alentejo e dos alentejanos e a sua grande paixão pelos “nossos” Bonecos de Estremoz. Percebi também que tudo o que escreve é baseado em informação recolhida e criteriosamente selecionada.
Respondendo ao seu convite estive presente na apresentação do seu penúltimo livro “O Franco-Atirador”. Os seus textos/reflexões são centrados em problemas sociais e visam a tomada de consciência e o despertar para mudanças essenciais que contribuam para um mundo mais justo e igualitário.
Nos últimos tempos vou acompanhando alguns dos seus textos no blog “Do Tempo da Outra Senhora”. Aguardo com expetativa o lançamento do próximo livro.
Obrigado professor Hernâni, estou certa que será sempre uma referência para Estremoz e que o seu legado nunca se perderá.
 
Sónia Caldeira
Estremoz, 23 de Fevereiro de 2021

sexta-feira, 19 de março de 2021

Hernâni Matos, pois claro!


Maria de Fátima Crujo. Professora.


Texto redigido com predominância
das iniciais do nome do visado:
Hernâni António Carmelo de Matos

 

Mal o ano chegou, mais concretamente, no começo do mês em curso, mandou missiva. Ai, conseguirei cumprir?

Catarina, ajuda-me. Confirma aí, o antecessor que te apresentou ao mundo… antes de Carmelo, chama-se…?

– …

Ah, maravilha! Haja alfabeto!

Anteontem, madrugada adentro, ambiente criado, concentrei-me e consegui caracterização.

Homem da cultura, ativista, melómano, apreciador de artistas e de aguarelistas, complementa o curso de ciências, amando conjuntamente as artes e ainda os herdeiros das cantigas de amigo e de amor, ansiando constantemente homenagear com afinco Antero, os Antónios, e Almada, o Almeida, Cesário e Camões, os modernistas e os mais que couberem.

Mestre maior a avivar memórias, habitual mentor, é hábil conhecedor de adágios e aforismos, anexins dos antepassados, o antigo mister campesino. Curioso por aprender mais e mais ainda, é um colecionador compulsivo de arte campestre, ajudante máximo da arte dos artesãos da cidade e do Alentejo, não se cansando de mostrar os de agora, que maravilhosamente manuseiam a massa à moda antiga.

É colaborador assíduo dos meios de comunicação cá da cidade com crónicas e comentários carregados de maravilhosas metáforas e habitualmente muito atento às causas maiores, à contribuição cívica como cidadão deste aglomerado e dos arredores, do cantinho, do mundo.

Em 1995, em maio, aproximou amigos, de modo multidisciplinar, e assegurou apresentações, ajustadas à área, de múltiplas comunicações acerca da água. Da mesma maneira, constantemente agrupa colegas, atribui um mote, e matuta na melhor maneira de criar concursos.

Há anos, convidou-me a apresentar a minha coleção de corujas, conseguindo que se carregassem milhares, de muitos materiais, o que cativou adeptos do colecionismo, colhendo agradáveis apreciações.

Acabo aqui, caro colega, almejando cabeça e musculada massa cinzenta que aguente acompanhar-te em mais coisas mil, manifestando além do mais, e atenta no meu humilde conselho, que conserves a mesma atividade abundante e absoluta firmeza.

Concluo, assim, este é o habilidoso, acelerado, célebre e metódico Hernâni António Carmelo de Matos, pois com certeza!


Maria de Fátima Crujo
Estremoz, 21 de Fevereiro de 2021



 Fátima Crujo declamando um poema em 31 de Outubro de 2010, no acto
inaugural  da Exposição “PINTURA DE RUI ALVES”,  promovida pela
 Associação Filatélica Alentejana na Sala de Exposições do Centro
 Cultural de Estremoz.

sexta-feira, 12 de março de 2021

O Pernas

 

Mateus Serra. Engenheiro.

Conheci o Hernâni, quando ambos estudava-mos no Colégio de Estremoz, no ano fatídico que o acidente, o erro médico, o azar ou lá o que fosse, lhe roubou uma perna, fazendo que a alcunha que recentemente lhe havíamos posto, deixasse de ser pronunciada.
O Pernas que nasceu por ser magro, alto e com as pernas longas, passou a ser o Hernâni, com todas as suas valências, nascidas talvez também por causa dessa perda dramática.
Voltei a vê-lo, passados talvez três ou quatro anos. Falámos de tudo, com realce para as ciências e as letras. Depois disso, só voltei a saber do Hernâni, pelas redes sociais e fiquei maravilhado com as coisas que escrevia. Crítico mordaz num estilo que me fazia lembrar os clássicos surrealistas. Escrever brincando, deixando meio escondida a mensagem, num ritmo quase poético. Estilo. É o estilo, que caracteriza os seus escritos e que o faz diferente.
Gosto do Hernâni, da sua verticalidade e dos seus escritos que espero, venham a ser lidos por todos. Só não gostei da alcunha Pernas.
 
Mateus Serra
Borba, 20 de Fevereiro de 2021

quinta-feira, 11 de março de 2021

Um lutador


Isabel Taborda Oliveira. Professora. Ex-vereadora do Pelouro da Cultura
da Câmara Municipal de Estremoz.

Meu Amigo Hernâni, que problema tenho! Como exprimir a grande admiração, respeito e amizade, sendo um zero na escrita?
Admiro o seu grande amor por Estremoz e pelas suas gentes. Sempre com um enorme sentido de justiça e isenção. Com persistência, lutando sem tréguas pela verdade e homenageando as pessoas que fizeram a nossa História.
Um grande obrigado pela sua obra e que continue por muitos anos.

 

Isabel Taborda Oliveira
Estremoz, 20 de Fevereiro de 2021



terça-feira, 9 de março de 2021

Hernâni Matos - O Boniqueiro das Palavras


Luís Parente. Professor. Barrista. Presidente do Orfeão de Estremoz Tomaz Alcaide.

Conheço o Professor Hernâni Matos há muitos anos. A minha memória mais antiga, seria eu um catraio, está na rua das lojas... era assim conhecida a rua 5 de Outubro em Estremoz, onde o seu pai tinha uma alfaiataria e o meu tio uma loja de fazendas. Foi ali que o encontrei na minha memória, à porta, a falar com o seu pai. De certa maneira a minha vida sempre se cruzou com a sua, quer fosse por ter sido professor do meu irmão, quer pelo facto de a sua filha ser uma das grandes amigas da minha prima, quer ainda pelo motivo da sua esposa fazer parte do Orfeão, onde os meus pais e tios também cantavam, ou até mesmo, mais tarde, por partilharmos um espaço contíguo no Centro Cultural Dr. Marques Crespo enquanto agentes culturais, eu com o "meu" Museu Rural da Casa do Povo de Santa Maria, ele com um espaço museológico de excepção que geria em nome da Associação Filatélica Alentejana e onde promovia continuamente exposições e eventos culturais de índole diversificada, de reconhecida importância para a cidade e para a região. A partir dessa altura passámos a falar mais do que o simples e cordial "Bom dia! Como está?" e foi então que melhor percebi que o Professor Hernâni Matos não era só um professor de reconhecida qualidade e competência mas um extraordinário intérprete cultural. Homem de cultura, conhecedor e protector de tradições, amante da escrita, defensor de causas que, não raras vezes, lhe terão trazido alguns dissabores por ser uma pessoa vertical e não abdicar da liberdade de expressar o que a sua consciência lhe ditasse. Benfiquista, independente, defensor da festa brava, das ciências, das memórias e estudioso do passado mas sempre, sempre com os olhos postos no futuro... pessoa de interesses e gostos abrangentes e variados como a etnografia, a poesia popular, a filatelia, o coleccionismo e, no fundo, aqueles que, sem desprimor para os restantes, mais me "tocam"... a simpatia e reconhecimento pelo "meu" Orfeão de Estremoz "Tomaz Alcaide" e o amor aos "Bonecos de Estremoz". Sobre os "Bonecos", considero que são poucos os que dedicam o seu tempo a estudar esta arte secular e o Professor Hernâni Matos é um dos expoentes máximos no que a este assunto diz respeito. Sendo eu também artesão, já falámos inúmeras vezes sobre esta temática tendo o próprio confessado que o contributo que pode dar a esta arte é estudá-la, falar sobre ela, dar a conhecer a sua história, a sua evolução e apoiar quem, com a matéria-prima e com as mãos consegue conduzi-la ao futuro e tudo isso, garantidamente fá-lo com mestria. Talvez tenha sido por isso que, há tempos, achei que o epíteto que melhor definiria o Professor Hernâni Matos era o de "Boniqueiro das Palavras", precisamente por ser através delas que expressa toda a sua alma, por ser aquele que consegue, através dessas mesmas palavras, aliar a defesa das características tradicionais dos "Bonecos de Estremoz" à sua contemporaneidade, privilegiando sempre o acto criativo de cada um dos artesãos... e por ser aquele que, mesmo não conseguindo fisicamente modelar um "Boneco", consegue, através da escrita, modelar e pintar os dos outros mas, no fundo, no fundo, ser também aquele que acaba por conseguir de uma outra forma "modelar" e "pintar" os seus.

Luís Parente.
Estremoz, 15 de Fevereiro 2021

domingo, 7 de março de 2021

Hernâni, “O colecionador”


Luís Mariano Guimarães. Técnico Industrial.

A imagem que tenho do meu amigo Hernâni Matos é a de um colecionador insaciável. Ele tudo organiza e tudo coleciona.
A sua casa é um museu com mais recheio do que muitos museus. Ele são, principalmente, os Bonecos de Estremoz (alguns com séculos), são as rendas, os artefactos de cortiça, as miniaturas talhadas em madeira, são os talegos, os livros, as gravuras, os jornais… é o mundo rural dentro de portas que a Fátima vai gerindo sempre com um sorriso nos lábios.
A única coisa que o faz sair da cama cedo é a intuição de haver alguma novidade transacionável no Mercado de Sábado.
Este mundo vivido entre as memórias da sua cidade levou a que o Hernâni se confunda com a própria Cidade.
De espírito obstinado, algumas vezes sem razão, tem a particularidade de persistir nas suas pesquisas para lá do infinito. Muitas das memórias esquecidas de Estremoz, algumas descobertas também, devem-se a esta maneira de ser.
Acidentalmente tornei-me seu fotógrafo “oficial” através de muitas sessões de inventário dos Bonecos em sua casa, no Museu Municipal, em casa de outros colecionadores, no antigo Museu Rural, em procissões até.
Foi pela mão dele e pelos seus ensinamentos que sei alguma coisa da nossa terra.
A sua ânsia de adquirir conhecimentos e de os transmitir, a sua costela de investigador e professor manifestam-se na sua obra. Infelizmente esta não tem sido valorizada pelos poderes municipais e pela pequenez de alguns decisores.
Um dia vai ter nome de rua, mas o que fazia mesmo falta era o museu Hernâni Matos, Já!
Os estremocenses devem sentir orgulho nesta obra e nesta personagem. Por mim, muito por cima disso, sinto-me agradecido pela sua amizade.
                                                                                                       
 Luís Mariano Guimarães
Estremoz, 16 de Fevereiro de 2021

quinta-feira, 4 de março de 2021

Hernâni Matos: a memória de um amigo distante

 
Adelino Caravela. Aposentado da Função Pública. Filatelista.


Hernâni Matos: a memória de um amigo distante

Vai mais além, 
sempre mais e mais.         
Desata laços,
transpõe barreiras,              
salta os muros da mediocridade,
faz das horas mortas,
tempo de validade. 
Não pactua com o fácil,
diz não quando preciso for.         
Tem a coragem
de renegar, até a dor                                                
é apanágio do forte,
é a bandeira do que nada teme,
nem sequer a morte!
               
 
Adelino Caravela
Leiria, 7 de Fevereiro de 2021

terça-feira, 2 de março de 2021

Hernâni Matos, um homem que não passa ao lado da vida


José Alberto Fateixa. Professor. Ex-Deputado à Assembleia da República.
Ex-Presidente da Câmara Municipal de Estremoz

O Hernâni tem mais doze anos que eu e confesso que não sei bem quando comecei a conviver com ele. Os nossos pais eram ambos comerciantes, embora em áreas diferentes, tendo em comum uma antipatia e rejeição pelo Estado Novo. As primeiras imagens que guardo dele são as de um jovem que se destacava pela forma de estar e de se vestir diferentes, que todos afirmavam ser um excelente estudante. Partilho este testemunho de amizade sobre caminhos que ele percorreu ao longo da vida.
O Professor. Fui colega do Hernâni na Escola Secundária, pertencíamos a grupos afins, ele do grupo de “Física-Química” e eu de “Química-Física”. Nesse contexto partilhámos os mesmos espaços. Ele, com formação na área da Física, foi sempre um excelente profissional, preocupado com a qualidade das aprendizagens, com abertura de perspetivas para os seus alunos e com uma participação ativa na vida da escola, valorizando, a aprendizagem científica associada à dimensão cidadã.
O Militante Político. Em 1974 o pai do Hernâni, João Sabino de Matos, o meu pai e tio estiveram envolvidos na constituição da seção do PS em Estremoz e eu da JS, e ele um ativo militante do PC.  Depois, ambos abandonámos essas militâncias e viemos a encontrar-nos no núcleo da UDP da nossa cidade. Posteriormente, as nossas formas de pensar a sociedade levou-nos para caminhos diferentes, em que muitas vezes concordámos, mas também muitas vezes discordámos. Sinto que a maturidade da vida reforçou a importância da pluralidade, do diálogo, do entendimento em torno de objetivos de melhoria da democracia, da valorização do progresso e da justiça social. Saliento o homem de causas, que nunca deixou de defender os valores em que acredita.
O Comunicador. Saber mais, investigar, partilhar conhecimento e tomar posição. Esta pode ser uma síntese do percurso de uma vida de comunicação, na escola, na imprensa local, nas publicações temáticas e especializadas. Nos últimos anos abriu a frente digital com a partilha positiva e inteligente de vivências, apontamentos e conhecimentos que ajudam a sustentar histórias e diferentes dimensões culturais da nossa terra.
O Colecionador. Há muitos anos que guardo imagens de um homem que procura encontrar pontes entre tempos. A procura de utensílios, objetos, documentos, símbolos que permitam ajudar a explicar e entender épocas, modos de viver, o trabalho, a arte, as tradições, as culturas, o rural e o urbano, em suma elementos para a história da cultura popular que impregnam o seu ser.
O Filatelista. O trabalho na área da filatelia revelou ao país outra sua enorme dimensão. O estudo, a categorização, o enquadramento, a divulgação, as exposições em torno do selo e do colecionismo associativo. Essa sua dimensão proporcionou-nos uma catadupa de eventos que assinalam uma intensa e real atividade de dinamização cultural.
O Cruzado. Nos últimos anos para a sociedade o Hernâni assume publicamente uma velha nova frente de dedicação, a barrística e os Bonecos de Estremoz. Estudar, investigar, historiar, compreender, contextualizar, divulgar, defender, valorizar os trabalhos dos transformadores dos barros de Estremoz, em muito em especial do figurado de barro. Tem escolhido um novo terreno de combate, a blogosfera, onde partilha momentos, protagonistas, saberes e histórias de afirmação da nossa cultura popular.
A Pessoa. O Hernâni tem uma existência em que é forçado a lidar com dificuldades suplementares, mas como poucos, deixa marcas na sociedade onde escolheu viver. No nosso relacionamento pessoal ao longo das nossas vidas estivemos próximos e afastados, caminhámos em conjunto e tivemos discordâncias significativas, houve momentos em que não foi fácil e outros enormemente estimulantes e agradáveis. Hoje com uma naturalidade da passagem do tempo e dos anos é para mim muito claro, que é um homem que não quis passar ao lado da vida. A sua formação científica de base reflete-se na disciplina de abordar os seus trabalhos. É o eterno etnólogo que tenta encontrar explicações que dão vida e sustentação à cultura popular, sempre com uma dimensão cívica de agitador por convicções. Do Hernâni sublinho a dedicação e interesses em tantas frentes e a capacidade de fazer acontecer.
Assumo uma sincera admiração e reconhecimento pela caminhada realizada. Hernâni obrigado pela oportunidade de estar contigo neste momento.
 
José Alberto Fateixa
Estremoz, 16 de Fevereiro de 2021

segunda-feira, 1 de março de 2021

O nosso amigo Hernâni


Georgina Ferro. Professora.

O nosso amigo Hernâni
 
O Hernâni não se aposentou, de facto.
Só restringiu o modo de leccionar.
Cumpre um papel pedagógico mais lato,
Como bom jornalista e escritor ímpar.
É conferencista em múltiplos assuntos
Que vão desde a arte rural mais singela,
Utensílios de barro e bonecos juntos,
À filatelia que tanto zela!...
 
O Hernâni é um eterno apaixonado
Pela sua terra de alvura caiada,
Pelos campos doirados, pastagem do gado,
Por gente de hoje ou da era passada,
Pelos poetas a quem deu nome e palcos,
Os pintores, os oleiros ou boniqueiras,
Pelos ganhões a pisar trilhos e socalcos,
A quem notabiliza em suas maneiras.
 
Procura as raízes do povo que respeita,
Busca-lhe a singularidade da arte,
A ciência singela, inata, perfeita,
Achando algo de novo em qualquer parte,
A sugerir-lhe uma maior atenção,
Para registar em documento escrito,
Criado com minuciosa  precisão,
Num elogio fácil e bem explícito.
 
Já completou um monumento imortal,
Que é depósito ou cofre de memórias    
Desta bela cidade de mármore e cal,
De ceifas, mondas, gente e suas histórias,           
Dos jogos de infância no largo da Fonte...
A par dos selos, envelopes, e postais,
O Hernâni publicou para que conste,
Coisas que nunca se valorizam demais!
              
Georgina Ferro
Estremoz, 14 de Fevereiro de 2021
 

sábado, 27 de fevereiro de 2021

O amigo Hernâni


João Moura Reis. Médico. Presidente do Conselho de Administração da ULSNA, EPE. 
Ex-Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz.

O Hernâni, amigo desde longa data, conheci-o melhor no início dos anos oitenta do século passado. Pessoa “inquieta” e com “bichos-carpinteiros”, sempre a olhar para tudo, sedento de saber e questionando tudo e todos. Em parte a sua formação académica ajudava à percepção científica da “coisa”, à sua inquirição, à sua continuidade e como tal à sua vida através dos tempos, originando recolecção e acabando na colecção. Com a colecção vem o trabalho de investigação científica, assim como a transformação para o saber, que lhe dá o grau ou a capacidade de ser especialista.
A minha maior interacção com o Hernâni foi, como disse, no início dos anos oitenta em que ele, com o meu pai, eu e outros “carolas” dos selos, formámos a AFA - Associação Filatélica Alentejana, como forma de patrocinar o coleccionismo de selos, assim como fazer sair muitos dos que se juntaram a nós, da fase de recolector de “coisas” para a fase de coleccionador. O Hernâni, nunca foi pessoa de se satisfazer com pouco e amigo do ócio, pelo que singrou na Filatelia, com árduo trabalho, chegando a receber vários prémios, de que destaco a “Ordem de Mérito Filatélico”.
Como disse de início, a inquietude do Hernâni não é só com a Filatelia, é com a imprensa escrita, com as novas plataformas informáticas, com a cultura em geral, com a escrita e literatura, com a política concelhia, com a educação e claro com os nossos bonecos de barro de Estremoz, sendo neste momento, talvez o seu “afilhado” mais recente, em termos de estudo e investigação, no entanto com obras escritas e bem fundamentadas por um estudo criterioso e obviamente exaustivo e científico.
Hernâni continua com o teu trabalho, já que o mesmo é bastante profícuo e deixa-nos a capacidade de apreciar tudo o que tens feito. O meu abraço e muito obrigado.
João Moura Reis
Estremoz, 7 de Fevereiro de 2021

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Ao meu amigo Hernâni Matos

 
Manuel Lapão. Empresário.

AO MEU AMIGO HERNÂNI MATOS  
  
Caro ”Velho” amigo Hernâni Matos
Fizeste boa carreira de professor
Muito vens brilhando como escritor
Vincando sobranceiramente teus atos
                                                                
Biografando-te sinto-me honrado
Longe de algo na manga ou na palma
Escrevo de ti o que me vai na alma
Eu sou mestre, enquanto tu és mestrado
Proponho que sejas homenageado
Pelos teus procedimentos sensatos
Divulgas conhecimentos natos
Comentas com muita sabedoria
Não estou a fazer qualquer fantasia
Caro ”Velho” amigo Hernâni Matos
 
Secundária de Estremoz te recorda
Pela tua competência a exercer
Fui teu aluno, sei que estou a dizer
Quem frequentou a secundária concorda
Tua determinação nunca transborda
Eras disciplinado e disciplinador
Lecionaste com todo o teu rigor
Tua sonante voz, aluno ouviu      
Muito bem aprendeu quem te seguiu
Fizeste boa carreira de professor
                       
Tua cultura geral é invejável
És filho de um saudoso alfaiate
A escrever e a ler ninguém te bate
Sendo júri atribuía-te o Nobel
À cultura foste sempre muito fiel
Tratas todas as causas com muito amor
Participas sempre com muito calor
Facilidade em orar ou escrever
Manipulas palavras com todo prazer
Muito vens brilhando como escritor
                       
O teu perfil enobrece o bairrismo
Tens Estremoz gravado no teu coração
Pugnas muito pela dinamização
Sempre com muito otimismo
Chancelado plo teu puro dinamismo
Filatélica moldurou teu retrato
Os Bonecos de Estremoz são-te gratos
Pelo muito que lhe tens emprestado
Facto que mereces ser elogiado
Vincando sobranceiramente teus atos
 
Manuel Lapão
Estremoz, 5 de Fevereiro de 2021


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Homem de Paixões


 António J. B. Ramalho. Economista. Professor. Ex-vereador da CME.

O Hernâni é um homem de paixões. As primeiras que lhe conheci foram a Maximafilia e a Filatelia. Depois, um pouco mais tarde, percebi que também na Ciência era um homem rigoroso… para ele a regra geral (e simplificada) do arredondamento era redutora para quem não brinca com números, logo, fiquei a saber que se 0,125 + 0,875 somam 1 (um), então também o arredondamento às centésimas desses números tem de somar 1 (0,12+0,88=1; enquanto 0,88+0,13 já soma 1,01). Este rigor estava também associado a uma certa ansiedade. Dou um exemplo, não vi em mais nenhum colega professor a intenção (que não sei se algum dia concretizou) de trazer os sumários escritos de casa numa etiqueta autocolante, para disponibilizar mais tempo para aquilo que verdadeiramente importava: Ensinar! Foram ainda as paixões que lhe possibilitaram uma transição (mais) pacífica entre a vida ativa e a aposentadoria. Ou seja, outras havia que, provavelmente, já germinavam na sua cabeça mas que, para quem está de fora, apenas nesse momento se tornaram evidentes. Refiro-me à pesquisa histórica, ao arrolamento e inventariação das tradições das suas gentes, da sua cultura, sem nunca esquecer os poetas (tanto eruditos como populares) e outros vultos da Cultura que nasceram ou viveram naquela que é a sua cidade: Estremoz!       

António J. B. Ramalho
Estremoz, 5 de Fevereiro de 2021

Hernâni Matos

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Hernâni Matos

 

Maria Odete Gato Ramalho. Economista, Professora.
Ex-Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz.
 

Antes de aparecer o corpanzil alto, magro e ligeiramente curvado, ouve-se o vozeirão como um rochedo no início de uma derrocada que tudo arrasta. Olhamos uns para os outros com pontos de exclamação no olhar: não há a mínima dúvida de quem se aproxima, é o Hernâni! E é assim, arrastando obstáculos, que põe toda a gente a mexer, seja para uma exposição de selos ou de bonecos de Estremoz, seja para um almoço com poetas populares…

- Preciso que vás dizer uma poesia no evento X. Já falei também com a Fátima Crujo e a Francisca Matos.
Num instante despeja o que tem a dizer. E aquela voz de trovão, mesmo quando sussurrada, apoiada pela expressão séria atrás do bigodinho, que vai mexendo (talvez seja mesmo a coisa menos convincente que possui) não dá margem para dizer que não, mesmo que, por dentro, lhe chame chato. Impõe respeito. Não sei bem como, ou o que provoca tudo isto. Agora que penso nisso, acho que este homem se pode traduzir, antes de mais, talvez antes ainda de ser o filho do bom alfaiate Matos, ou do professor de Físico-Química da minha/nossa querida Escola Secundária, ou do homem que é pai da Catarina e marido da Fátima, o que ali vive, o que domina é uma vontade férrea que o empurra para a frente com força e que lhe dá uma capacidade de trabalho impressionante, que se propaga a tudo o que o rodeia.
Por falar em alfaiate, lembro-me do Hernâni sempre impecavelmente enfarpelado, nos seus fatos completos, de boas fazendas, com gravata e lenço na lapela. Outros tempos. Hoje é a aparência mais descontraída. Mas por dentro continua o mesmo. A escrever, a pesquisar, a dar a conhecer o mais que pode a cultura alentejana e, em particular de Estremoz. enquanto outros apenas choram por tradições perdidas.
Uma cultura ou uma civilização, como um ser vivo, nasce, cresce, vive e morre. Não adianta brigarmos a favor ou contra o progresso. Clamar pela continuação de costumes ou tradições. A mudança é inevitável. E não esqueçamos as desvantagens, a dureza e as injustiças de muitos aspetos da vida antiga, quando recordamos, romântica e nostalgicamente, os trabalhos no campo, as searas a perder de vista, a ardósia para escrever, a bola de trapos de jogar nas ruas, ou as “guerras” à pedrada de partir cabeças, entre os rapazes de antigamente. Que fazer no dilema entre a nossa memória seletiva da parte boa dos “tempos da outra senhora” e o avanço tecnológico? A resposta é clara: antes de mais há que registar para manter a memória, seja ela boa ou má! É com registos que se escreve a História e é ela que julgará o melhor e o pior dos tempos. E é isso que faz este nosso amigo.
Obrigada, Hernâni, por essa teimosia, por esse trabalho incansável que regista e dá a conhecer a nossa cultura alentejana e, em particular, a de Estremoz.
Confinada no espaço, mas com o coração expandido com esperança num mundo melhor, em 4 de fevereiro de 2021,
                                                                      
Maria Odete Gato Ramalho
Lisboa, 4 de Fevereiro de 2021

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Companheiros Filatélicos


João Manuel Lopes Soeiro. Empresário. Presidente da Confraria Timbrológica Meridional.

Conheço o Hernâni Matos desde adolescente. Hoje com quase cinquenta e oito anos de idade quase que me apetece dizer que o conheço desde sempre…
Travámos conhecimento na Associação Fotográfica do Sul, na sua secção filatélica, onde a paixão pelos selos nos fez percorrer durante muitos anos um caminho comum. Quando falo deste caminho comum, falo de um percurso intenso ligado à filatelia e a muitos eventos filatélicos, realizados em conjunto quer na AFA, quer na ANJEF, quer na Confraria, quer na colaboração prestada a outras coletividades. Fez parte da lista dos filatelistas fundadores da Confraria Timbrológica Meridional em Évora, de vários Corpos Sociais de alguns clubes ligados à filatelia e até da própria Federação Portuguesa de Filatelia.
Sempre o conheci determinado e cheio de projetos, nos quais “arrastava” e “envolvia”, os amigos mais próximos, para que o objetivo fosse conseguido. Poderia enumerar aqui vários exemplos deste dinamismo, mas estou seguro que não é necessário fazê-lo, porque todos os que privam com ele e o conhecem suficientemente bem, o podem fazer tão bem quanto eu. Era até costume dizer-se no meio filatélico, que o Hernâni era a AFA e a AFA era o Hernâni.
Para além das excelentes coleções que possuía, era dotado de grandes conhecimentos e foi por mérito próprio Jurado FIP.
Para além da filatelia, sempre o vi motivado pela escrita, pela pesquisa, pelo aprofundar do conhecimento ligado às raízes culturais do povo alentejano. É um acérrimo defensor da cultura popular, da etnografia e da história, cuja intervenção vai desde a olaria e dos bonecos de barro até aos poetas populares.
Nos últimos anos afastou-se da atividade filatélica, ocupando o seu tempo quase em exclusivo com a escrita, onde o seu blogue dá conta desta profunda atividade e desta inquietação permanente.
Um grande abraço para o meu Amigo Hernâni, com o desejo expresso que prossiga por muitos anos esta sua atividade.

João Manuel Lopes Soeiro 
Évora, 2 de Fevereiro de 2021

 Hernâni Matos

Hernâni Matos e João Soeiro (ao centro), durante a XIX Exposição Filatélica Nacional
realizada em Évora, em 2006. Estão ladeados à esquerda por Pedro Vaz Pereira (Pre-
sidente da FPF) e à direita por Rui Arimateia (Chefe de Divisão de Cultura da CME).