quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O meu caminho


Nuvens cor-de-rosa de manhã. A chuva está a caminho (2012).  Sandrine Gergaud. 
Acrílico sobre tela (20 cm x 60 cm). Colecção particular.



Por vezes questionam-me sobre certas coisas das quais eu também não estou certo. A minha única certeza é de a de não ter certeza nenhuma. É a de procurar caminhos, caminhando. E dessa incerteza toda, nasce a legítima esperança de um dia ser capaz de realizar aquilo que alguns apelidaram de Magna Obra.
Não sei quantos degraus percorri, nem tão pouco quantos patamares me faltam atingir. Sei que vou jornadeando à medida de mim próprio e em sincronia com os fluxos espirituais que o Universo partilha comigo.
A certeza da minha incerteza, resulta daí. Sinto e vivo animicamente cada passo. Todavia não sei quantos passos me faltam dar, nem tampouco o caminho que vou seguir. Apenas sei que tenho de continuar a caminhar, com denodo e esperança. Só assim descobrirei o meu caminho.

(Texto publicado inicialmente em 14 de Agosto de 2013)

11 comentários:

  1. Sábias e sensatas palavras, as tuas. Também eu, a pouco mais de um ano de fazer 80, eu, que sempre tenho vivido com os outros e pelos outros, dando e recebendo, recebendo e dando, continuo na minha caminhada pela vida fora, fruindo com avidez o instante que passa e tentando prendê-lo em palavras ou emoções que não verbalizo. Meus olhos olham interrogativos
    as pessoas e as coisas e neles tento encontrar a ajuda de que todos nós precisamos para encontrar o melhor caminho. Complexa e contraditória que seja a vida, ela tem sempre o fascínio de estarmos vivos pois, por mais breve que seja a vida, como disse nosso irmão brasileiro, Vinícius de Moraes, ela é eterna enquanto dura. E depois, o que há? Confesso-te que não sei. Seja que for, estar aqui rodeado de família e de amigos, basta-me para me sentir eterno e eternos sentir todos quanto, família e amigos, vivem seguros no meu coração.

    Aqui te deixo um velho poema de 1976, que de uma forma simbólica fala do meu enraizamento no chão da vida:

    POR ISTO

    somos crianças brincando
    na seara de ser felizes -

    pela força da semente
    pela firmeza do tronco
    pelo silêncio das raízes
    pela verdade do trigo,
    eu te ofereço este poema -

    pelo prazer de estar vivo.


    Um grande abraço.
    António Simões

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    1. Amigo Simões:
      Obrigado pelo teu comentário.
      Na impossibilidade de lhe dar resposta, redigi o post:
      NÃO SOU DA NATUREZA DE ME RENDER
      http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.pt/2013/08/eu-sou-da-natureza-de-nao-me-render.html
      Trata-se de um texto que te é dedicado e com ele me despeço com um grande abraço, também.

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  2. Caro amigo partilho consigo muito das suas ideias e sentimentos. A propósito desta sua crónica permita-me que lhe diga que todos nós podemos ter uma certeza. Uma única, mas absoluta. A única que a todos nos é permitida. A Morte!

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    1. O que é a Morte? O fim da existência física ou outra coisa sobre a qual há ideias divergentes?
      Há quem satirize sobre a Morte, dizendo que ela nos conduz a um local donde ninguém quer voltar. Será o Paraíso de que falam as Religiões?

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  3. Nos tempos que atravessamos, ou que nos atravessam, quem não procede assim arrisca-se a ficar exausto, sem nada compreender e sem nada conseguir. É um mecanismo de defesa lógico, melhor do que outros que conheço, porque nos permite avançar, ainda que seja devagarinho...
    Bom caminho, Caminhante!

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  4. Pois meu caro Hernâni Matos. A Morte é sempre o fim. Para uns, normalmente os crentes, o fim de um ciclo ou fase, como quiser.
    Para outros, como eu, a Morte é o fim do individuo. O regresso ao nada. Os átomos do meu corpo podem permanecer dispersos e organizados noutras formas materiais. Quanto ao meu espírito come-o um gato. Tenho mente assente numa base material que é o meu cérebro. Sou inteligente graças a essa mente. Mas espírito ou alma, como quiser chamar, não tenho. Não, não sou niilista. Acredito no Homem, na Beleza, na Ética, na Ciência, na Verdade e na Vida. Para mim o apego egóico é a forma suprema do egoísmo. O medinho da morte atemoriza-nos e transforma-nos em crentes. Um importante músico do século XX sintetizou isso numa frase que considero brilhante:
    "god is a concept by wich we measure our pain.
    Carlos Costa

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  5. Caro Hernâni há "posts" que despoletam em mim um comentário imediato,(porque raramente resisto a não comentar)... outros são tão intensos que necessito que eles " me habitem no silêncio de mim" ... Deduzo que pertenço àqueles que fazem perguntas...não em busca de respostas mas, de reflexões ... e esta é absolutamente tocante ... A ilustração escolhida ilustra magnificamente o seu pensamento e a construção do seu projecto a de realizar a Magna Obra e ... (des) instalou - me da minha Aurea Mediocritas.
    Conceição


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  6. É isso, Hernâni... O melhor é ser humilde e ir fazendo o caminho. Nem mais...

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  7. Disse o poeta sevilhano António Machado (1875-1939):

    “Caminhante, são teus rastos
    o caminho, e nada mais;
    caminhante, não há caminho,
    faz-se caminho ao andar.
    Ao andar faz-se o caminho,
    e ao olhar-se para trás
    vê-se a senda que jamais
    se há-de voltar a pisar.
    Caminhante, não há caminho,
    somente sulcos no mar…”

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  8. Viva amigo Hernâni Matos!
    O texto e tão singelo quanto profundo!
    Parabéns!
    Quanto à morte, Saramago disse de forma simples e linda que é deixarmos de estar!... e eu também acho! Prosaicamente, direi que faz parte da vida!
    Um abraço

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