Prato ratinho em faiança policroma com 30 cm de diâmetro.
Seguramente que aí pelos meus dez anos dos tempos de bibe e de pião, eu já coleccionava postais, selos, copos e pratos lindos, que empenhadamente pedia às mulheres da minha família e de famílias alheias. E que haviam elas de fazer senão dar-mos, quando o pedido brotava vigoroso e convincente da voz cristalina dum puto com cara de anjo e caracóis de querubim?
Foi assim que arranjei as minhas primeiras peças de colecção. Alguns dirão que pelintra e pedinchão com artes de sedutor, era o que eu era. Decerto que estão no seu direito de pensar assim. Todavia, para mim não era nada disso. Era um impulso incontido de possuir tudo aquilo que considerava belo.
Pela mesma época tive os meus primeiros desgostos de amor, quando por vezes, os objectos amados e venerados pela posse, se libertavam das minhas pequenas mãos e se transformavam em cacos. Aí, eu, nem padre nem cangalheiro, demorava anos até ser capaz de fazer o funeral das vítimas da minha falta de coordenação motora. Eram tragédias de sofrimento incontido que me marcavam profundamente, das quais ainda hoje me recordo com profunda tristeza, sempre que mentalmente regresso ao tempo e aos territórios da minha infância.
Hoje, mais de cinquenta anos volvidos, poucas coisas mudaram no essencial. Persistente e imutável permanece o meu amor desinteressado à beleza, apenas aprofundado pela experiência, pela sabedoria e pela “patine” que o tempo confere ao nosso saber fazer. O amor, esse continua mais forte do que nunca.
muito gostaria que nos desse mais alguma informação sobre o magnifico prato que figura como ilustração da sua muito boa cronica sobre a persistencia do amor!
ResponderEliminarExº Senhor:
EliminarA dentificação da peça é a que passo a descrever:
Trata-se do lote nº:
172 :: Prato Ratinho
em faiança policromada. Portugal, séc. XVIII. Diam. 30 cm.
Base de licitação: 150 €
LEILÕES TROCADERO
Imagem disponível em:
http://www.trocadero.pt/catalogos/index.php?option=com_content&task=view&id=111&Itemid=&limit=20&limitstart=160
onde é do domínio público. Mais informação não tenho, porque não a vendi, nem a comprei.
O Museu do Azulejo tem uma publicação/catálogo sobre este tipo de loiça muito interessante, que foi objecto dum quadro do nosso magistral Malhoa, aqual lhe recomendo.
Com os melhores cumprimentos:
HM
Perdoe a ignorância. O que é prato "ratinho" ? Sera um prato grande tipo para sobremesa ? Acontece que também sou colecionadora de loiça antiga.
ResponderEliminarLaurinda
Laurinda:
EliminarOs pratos ratinhos são pratos de tamanhos e decoração variada, com a particularidade de serem faiança popular de Coimbra , que os trabalhadores beirões que sazonalmente vinham trabalhar para o Alentejo, transportavam consigo.
Sugiro-lhe a leitura da publicação:
OS RATINHOS, Faiança Popular de Coimbra
Catálogo da Exposição promovida no Museu Nacional do Azulejo, em Janeiro-Abril de 1998
Os meus melhores cumprimentos.
Dr. Hernani
ResponderEliminarComo amante de coleccionismo, recebi por heranca, um prato igual ao que possui.
Estes pratos seriam trocados no final das fainas por tecidos que os trabalhadores " ratinhos " necessitavam.
Como deve saber, Estremoz tambem teve uma Fabrica de Faianca, ao tempo manufactura, que funcionou entre 1773 ou 4 e 1808.Motivos lindos, cores suaves e pecas lindas.
A dita fabrica desapareceu com as invasoes francesas. MCMeira
Dona Maria do Céu:
EliminarGostaria de a poder contactar por email. O meu email é:
hernanimatos@gmail.com
Fico à espera.
Os meus cumprimentos.
Amigo,
ResponderEliminarFelicito-o por esse seu amor pela Beleza ! Primeiro porque tem a generosidade de partilhar a Beleza da sua escrita e do que nos conta através dela, depois, porque tem a sabedoria de procurar e transmitir o que nos pode dar muitas, muitas alegrias, e muita felicidade, neste tempo de terrível adensar de escuridão. Obrigada por compartilhar tudo isso connosco!
Cumprimentos
mf/.
Fernanda:
EliminarÉ tudo consequência de eu ser um coleccionador compulsivo daquilo que tem a ver com a nossa identidade cultural e escrever está-me na massa do sangue. Depois é um trabalho de filigrana. Como diria o Fernando Pessoa, a escrita tem a ver com 10% de inspiração e 90% de transpiração.
Muito belo Hernâni, o prato e as tuas palavras...
ResponderEliminarUm abraço
Helena Caracol
Helena:
EliminarObrigado pelo teu comentário. Congratulo-me por teres gostado da minha escrita e espero não desmerecer no futuro, o interesse manifestado.
Um abraço para ti, também.