quarta-feira, 9 de março de 2022

Inocência Lopes e a mulatitude de “O Amor é cego”

 


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Estado da arte
No conjunto dos Bonecos de Estremoz destaca-se pela sua garridice e simbolismo, “O Amor é Cego”, considerado uma figura de Entrudo e que constitui uma alegoria ao “Cupido de olhos vendados”. Trata-se de uma figura [i] que recomeçou a ser produzida por Sabina Santos (1921-2005), a qual se inspirou em exemplar criado por Oficinas de Estremoz do séc. XIX e que pertence ao acervo do Museu Municipal de Estremoz.

Atributos
“Quem conta um ponto aumenta um ponto”, sentença que se aplica aos Bonecos de Estremoz. Daí que depois de Sabina, o modo como é abordada a representação de “0 Amor é Cego”, nem sempre seja convergente e antes pelo contrário, seja maioritariamente divergente. Apesar de tudo, existem invariantes nas representações dos diferentes barristas. Eles constituem os atributos de “O Amor é Cego” e são: olhos vendados, toucado enfeitado com plumas e decoração frontal com um coração, flores numa mão, coração(ões) trespassado(s) por seta(s) na outra, vestido com saia curta e calçado com fitas atadas às pernas.

Mulatitude
A universalidade do amor, arrasta consigo a cegueira desse mesmo amor, independentemente da cor da pele. Daí que Inocência Lopes, que já revogara o imperativo da pele ser branca e proclamara a eventualidade da sua negritude, anuncia agora a possibilidade da sua mulatitude.

Cromatismo
Sob o ponto de vista cromático, a decoração da figura é uma hexacromia, integrada pelas seguintes cores: ZARCÃO (vestido, toucado, botas, flores do bouquet), VERMELHO (corações, seta, asas, meias, plumas, lábios), CASTANHO (cor da pele), VERDE (folhos e barra do vestido, cordões das botas, toucado, folhas do bouquet), PRETO (cabelo), BRANCO (venda dos olhos). As cores quentes (zarcão, vermelho, castanho) predominam sobre a única cor fria (verde) e as cores neutras (branco e preto). Deste modo e globalmente, a figura vê associada a ela a quentura da paixão do amor carnal. Os dois corações trespassados pela seta, sugerem que a figura já foi atingida duas vezes pela cegueira do amor, o qual terá dado mau resultado, uma vez que o coração verde da parte frontal do toucado, sugere a esperança num amor tranquilo e duradouro.

Requebros
A mulatitude da figura leva-me a associar-lhe requebros: uma voz quente com uma sonoridade sensual e o movimento lascivo do corpo. Só não é visível a expressão amorosa do olhar, pois a venda que o cobre, não deixa. Já os lábios carnudos e húmidos parecem convidar a beijar.
Olhando para esta figura, ecoam na minha cabeça os acordes do samba “Mulata assanhada” do compositor e cantor Ataulfo Alves (1909-1969)

Ô, mulata assanhada
Que passa com graça
Fazendo pirraça
Fingindo inocente
Tirando o sossego da gente!

Gratidão
Obrigado Inocência, pela quentura e sensualidade da figura com que nos estimulou os sentidos. Bem haja.



[i] Há quem associe androginismo à figura, associando-lhe ambiguidade sexual. A meu ver, trata-se de uma leitura bastante aceitável de uma figura de Entrudo do séc. XIX, época cujos costumes não permitiam que uma mulher se mascarasse com roupa tão reduzida, pelo que seriam homens a envergar roupa de mulher.









domingo, 27 de fevereiro de 2022

O fascínio da cerâmica de Redondo

 

Bacia. Oleiro desconhecido. 1910-1911.


Pontapé de saída
A cerâmica de Redondo exerce há muito sobre mim, um enorme e justificado fascínio: pela diversidade da sua tipologia, pela riqueza e variedade da sua morfologia, pela tecnologia de fabrico, pela sua decoração, pelos processos pelos quais é concretizada, pelas temáticas da decoração, pelo cromatismo, pela funcionalidade dos seus modelos e, finalmente, pela sua História e Etnografia.

O jogo em si
Ao longo dos anos fui reunindo exemplares que fui adquirindo, sobretudo no Mercado das Velharias em Estremoz e mais recentemente através de compras “on line”.
Ultimamente cheguei à conclusão que era imperioso inventariar os espécimes da minha colecção, pelo que se tornava necessário estudá-los, o que tenho vindo a fazer, recorrendo à bibliografia existente e que disponho ao meu alcance. Não tem sido tarefa fácil, a começar pela datação das peças, as quais não estando datadas, é sempre aproximada. A maioria das peças não estão assinadas, pois isso era pratica corrente. Deste modo, há um número considerável delas, para os quais não consegui identificar nem o oleiro, nem o(a) decorador(a). A tarefa a que me propus é uma tarefa hercúlea, daquelas que vulgarmente são designadas por “bico de obra”. Para ser mais preciso: a inventariação sem mácula de uma peça olárica de Redondo, é humanamente impossível, tal como o é a quadratura do círculo. Todavia, tal impossibilidade não me tem impedido de procurar inventariar os meus exemplares, tendo em conta os itens em relação aos quais é possível fazê-lo.
Uma tal inventariação tem sido acompanhada de uma leitura antropológica, que delas vou fazendo e na sequência das qual acabo por contruir uma estória, já que as peças falam comigo e eu sou um contador de estórias. As mesmas têm sido divulgadas no meu blogue "Do Tempo da Outra Senhora"  e posteriormente na minha página do Facebook.

Remate final
Recentemente e na sequência da divulgação da mais invulgar peça da minha colecção, recebi do historiador, Dr. José Calado, um comentário que muito me congratulou:
- Fantástica. Muito obrigado por mais esta extraordinária partilha...
A minha resposta célere foi a que reproduzo de seguida:
- É com todo o gosto que o faço. Como coleccionador sinto necessidade de estudar as peças que me tocam a alma e a divulgação dos resultados da minha pesquisa é um corolário natural que culmina todo o processo. Todavia, este não fica fechado. É um processo sempre em aberto, permeável a todas as descobertas e/ou reflexões que eu próprio ou alguém possa produzir. Nesse sentido, a representação que faço da peça é uma representação dinâmica, já que se encontra em permanente reconstrução.
É isso que prometo continuar a fazer, já que sou resiliente e costumo reincidir. Podem ter a certeza.

BIBLIOGRAFIA
MADUREIRA, João. Memórias da Olaria de Redondo. Centro de Documentação do Pão. Terena, 2015
CALADO, José. Redondo Terra de Oleiros. Santa Casa da Misericórdia de Redondo. Redondo, 2013.
CARMELO AIRES, António. Cerâmica de Redondo – Um Outro Olhar. Câmara Municipal de Redondo. Redondo, 1921.
Hernâni Matos

Bacia. Oleiro desconhecido.

Alguidar. Oleiro desconhecido.

Prato covo. Ti Rita (1891-1974).

Prato covo. Ti Rita (1891-1974).

Bacia. Álvaro Chalana (1916-1983).


Prato covo.  Álvaro Chalana (1916-1983).

Prato covo.  Álvaro Chalana (1916-1983).


Bacia. Ti Rita (1891-1974).


Bacia. Oleiro desconhecido.

Prato covo. Olaria Beira.

Prato peixeiro.  Álvaro Chalana (1916-1983).

Barril.  Álvaro Chalana (1916-1983).

Borracha. F. R. Cte, oleiro. 1941

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Estória da amizade entre um oleiro e o seu barbeiro, na Vila de Redondo, no ano de 1941


Borracha. F.R.C., oleiro. Redondo, 1941.

Ao meu amigo Dr. António Carmelo Aires,
seguramente o maior coleccionador
e investigador da cerâmica de Redondo


Antelóquio
Recentemente, ao fim da tarde, localizei à venda na Internet, uma peça olárica de Redondo, a qual já lá estava há quatro horas. O meu interesse por ela foi “tiro e queda”, que é como quem diz “amor à primeira vista”. Instantes depois estava comprada e paga, “não fosse o diabo tecê-las”, o que a acontecer não seria a primeira vez e decerto também não seria a última. É que o tempo é uma variável muito importante a ter em conta, já que outros se podem antecipar. Vários foram os factores que contribuíram para a minha forte motivação em a comprar. O leitor irá perceber porquê.

Leitura da peça
O exemplar olárico de Redondo que é objecto do presente estudo, configura uma “borracha”, recipiente em couro para transporte de líquidos, em particular de vinho. O mesmo dispõe de uma abertura para entrada e saída de líquido, a qual pode ser vedada com uma rolha. Dispõe ainda de duas alças, uma, próximo da embocadura e outra, do lado oposto, junto ao fundo. Estas alças visam permitir prender a elas um cordão ou tira de couro, permitindo transportar a borracha a tiracolo. A borracha funciona assim como cantil.
O engobe exterior e interior da peça é numa tonalidade creme, a qual pretende imitar a cor do couro. A superfície da “borracha” foi esgrafitada e pintada em tricromia com as cores tradicionais da cerâmica de Redondo: verde, amarelo e ocre castanho.
A peça, de morfologia periforme, encontra-se decorada em cada uma das duas faces, por um grupo de ilustrações legendadas, que nos relatam uma estória.
Numa das faces, encontram-se ilustrados e identificados por um número, dez utensílios de barbeiro, de meados do séc. XX: 1 – taça da espuma, 2 – pincel da barba, 3 – cabaça do pó de talco, 4 – navalha da barba, 5 – assentador de navalhas, 6 – pente, 7 – tesoura, 8 – máquina de cortar cabelo, 9 – frasco de perfume, 10 – escova de tirar os cabelos. Por debaixo deste conjunto de ilustrações, uma inscrição em maiúsculas, distribuída por quatro linhas: “OFERECE F. R. Cte / A J. FALÉ / BARBEIRO / SM”. Desconheço o significado da sigla SM na última linha. Todavia, é possível concluir que estamos em presença de uma “borracha” em barro vidrado, oferecida e dedicada por um oleiro de Redondo (F. R. Cte) a um barbeiro (J. Falé), decerto o seu barbeiro, residente naquela Vila.
Na outra face da “borracha” encontram-se três ilustrações. Na parte de cima, um cacho de uvas com duas parras. Na parte debaixo e à direita, um homem (supostamente o barbeiro) de boné na cabeça e sentado numa cadeira, não se sabe se por já não ser capaz de se ter em pé. Com a mão direita leva um copo de vinho à boca, enquanto que com a mão esquerda segura uma garrafa de vinho parcialmente cheia, assente na sua perna esquerda. Esta ilustração tem à sua esquerda, logo abaixo do cacho de uvas com parras, uma outra ilustração. Trata-se de uma tripeça na qual assenta um barril, de cuja torneira escorre vinho que está a encher uma garrafa. A mensagem parece óbvia: O barbeiro é um grande bebedor, de tal modo que ainda não tendo despejado uma garrafa, já se encontra outra a encher, para não haver perda de tempo. Na parte debaixo e à esquerda, uma inscrição em maiúsculas, distribuída por quatro linhas: “VIVA / A PARÓDIA / VIVA / 9-5-1941”. As quatro linhas desta inscrição estão cobertas de ocre castanho, como que simulando que o oleiro tivesse entornado vinho quando confeccionava a peça. Nesse sentido, a peça materializa a auto-crítica do oleiro, que se assume igualmente como grande bebedor e amante da “paródia”, tal como o seu amigo barbeiro.

Epítome
Do exposto se conclui que a peça em estudo constitui aquilo que se pode considerar uma ”Jóia da Coroa”. Com efeito, é de uma tipologia pouco vulgar, está datada, tem oitenta anos, é uma peça com dedicatória, falante e ilustrada, que conta com humor a estória de amizade entre um oleiro e o seu barbeiro na Vila de Redondo. Em suma: é uma peça única, pela qual fiquei desde logo apaixonado e mais confortado desde que a paguei. É com peças destas que vão crescendo e se vão edificando a pulso, passo a passo, colecções modestas como a minha e que assim se vão consolidando.

Hernâni Matos




 

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Jorge Carrapiço e a escultura em alto-relevo

 

Sargento (2022). Escultura em alto relevo. Jorge Carrapiço (1968-  ).

O alto-relevo do barrista Jorge Carrapiço possui uma tipologia muito própria, que o diferencia dos altos-relevos característicos, quer de Sabina Santos quer de José Moreira. A base não é, nem quadrangular nem trapezoidal, mas sim rectangular. Por sua vez, a figura está enxerida segundo o eixo central, paralelo aos lados maiores do rectângulo. A base é verde bandeira e não se limita a ter a orla pintada a zarcão, como o fazem aqueles barristas. Em vez dessa orla, apresenta uma moldura de igual cor.
Dois orifícios colocados na parte superior da placa, viabilizam a sua suspensão numa parede, com recurso a um fio ou a um arame. As dimensões da placa são 9,5 x 16 cm.
A figura eleita pelo barrista foi o bem conhecido Sargento, com as mãos na anca como é seu predicado. Bem erecto, espadaúdo, peitudo e com as pernas algo abertas como quem procura estabilidade. Em suma: um ar desafiante.
O cromatismo da figura assenta numa tetracromia: azul (farda e gorro), vermelho (peitilho, orla inferior, punhos e divisas do blusão, assim como listas exteriores das pernas das calças e lista do gorro), amarelo (botões) e preto (sapatos). A cor dominante é o azul, que tendo uma conotação celeste, sugere que através dela o barrista tenha procurado transmitir a tranquilidade e a confiança que os militares devem inspirar à população civil.
É notório que o alto-relevo pompeia as marcas identitárias muito próprias do barrista, notórias por exemplo, nos assobios antropomórficos e nos assobios mistos, assim como na banda de música com 21 figuras, com que recentemente nos brindou
A minha impressão sobre a presente criação de Jorge Carrapiço fica aqui expressa sob a forma de redondilha maior:

Um sargento sem igual,
Pelo Jorge foi criado,
Tendo um ar bem marcial
E o peito todo empinado.

Parabéns, Jorge!
Hernâni Matos

domingo, 20 de fevereiro de 2022

Vera Magalhães e a escultura em alto-relevo


Peralta (2022). Escultura em alto relevo. Vera Magalhães (1966- ).

O alto-relevo da barrista Vera Magalhães enquadra-se na bem conhecida estética dos altos-relevos de Sabina Santos: figura implantada segundo uma das diagonais da base quadrangular, verde bandeira e com a orla em zarcão. Um orifício posicionado na parte superior da placa, assegura a sua suspensão numa parede, com recurso a um fio ou a um arame. As dimensões da placa são 14 x 14 x 1 cm.
A figura escolhida pela barrista foi o bem conhecido Peralta, com as mãos na anca como é seu atributo. O cromatismo da figura assenta numa tetracromia: castanho (fato), branco (camisa), preto (sapatos e chapéu) e vermelho (lenço). A cor dominante é o castanho, o que me leva a admitir que a barrista se possa ter inspirado no bem conhecido Peralta de Mestre Mariano da Conceição, pertencente à colecção do Museu Rural de Estremoz. O castanho é a cor da terra e da madeira. Com ela e a meu ver, a barrista terá procurado transmitir à figura, as impressões de simplicidade, estabilidade, qualidade e seriedade.
Indubitavelmente que o alto-relevo ostenta as marcas identitárias muito próprios da barrista, a qual me confessou ser muito crítica do seu próprio trabalho, interrogando-se muitas vezes sobre o caminho a seguir, todavia sem nunca parar.
À laia de remate ao presente texto, sou levado a dizer:

Reparem que o alto-relevo
Que a Vera tão bem criou,
Se revela em si um enlevo
com o qual bem nos brindou.

Parabéns, Vera!
Hernâni Matos

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Exposição Biográfica de Tomaz Alcaide

 


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Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 16 de Fevereiro de 2022.


De 19 de fevereiro a 27 de março de 2022 vai estar patente, no Teatro Bernardim Ribeiro, a exposição biográfica de Tomaz Alcaide.
Esta exposição é uma compilação de documentos e memórias que traduzem a importância do tenor estremocense, que foi aplaudido de pé nos melhores teatros do mundo.
Segundo um facto narrado pelo Diretor da Orquestra da Ópera de Paris ao senhor Professor Artur Trindade e que vem descrito no Jornal “Brados do Alentejo”, de 19 de maio de 1940, “O público, que não o conhecia ainda, desgostou-se. Alcaide entrou em cena, com o teatro a abarrotar de gente.
Houve sussurros, arrastar de pés e outras precipitadas manifestações de descontentamento. Mas o nosso compatriota, impõe-se, cria, com a sua presença e a sua arte divina, um ascendente imperativo sôbre o público de Paris; e com tal galhardia se houve que, no fim do 2º acto, aquêle mesmo público descontente, se ergueu num delírio que eu nunca saberia descrever, e que foi uma das maiores apoteoses com que terá sido festejado um artista lírico.”.
Em 2011 o Município de Estremoz entregou-lhe o título de Cidadão Honorário e a Medalha de Ouro da Cidade, no dia em que depositou as suas cinzas no monumento erguido em sua homenagem, junto à casa onde nasceu, a 16 de fevereiro de 1901, data que, 121 anos depois, é motivo para mais uma exposição e mais uma cerimónia de deposição de cinzas, desta vez, da sua esposa Asta-Rose Alcaide.
Visite a exposição do homem que correu o mundo, mas que nunca abdicou da terra que o viu nascer, palavras do próprio publicadas numa nota num livro autobiográfico que publicou em 1961 chamado “Tomaz Alcaide - um cantor no palco e na vida”: “… Deus fez-me nascer em Portugal e por nada deste mundo renegaria a minha pátria.”.
Hernâni Matos

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Cerimónia de deposição de cinzas de Asta-Rose Alcaide

 

Estátua da autoria do escultor Domingos Soares Branco (1925-2013), inaugurada em
1987 pelo então Presidente da República, Mário Soares (1924-2017).
Fotografia de Município de Estremoz

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Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 15 de Fevereiro de 2022.


O monumento em homenagem a Tomaz Alcaide será palco, dia 19 de fevereiro, pelas 15:30 horas, da cerimónia de deposição das cinzas de Asta-Rose Alcaide.
Asta-Rose Alcaide nasceu no Brasil, em 1922, local onde faleceu a 30 de novembro de 2016. A bailarina e coreógrafa foi casada com o tenor estremocense Tomaz Alcaide, que conheceu num encontro no Teatro Municipal de São Paulo quando o já reconhecido tenor era famoso. Em 1941 casaram-se e foram morar na Argentina, mas durante a segunda guerra mundial mudaram-se para Portugal, onde Asta-Rose trabalhou na Embaixada dos Estados Unidos e ambos contribuíram intensamente para o desenvolvimento cultural europeu e Asta-Rose enriqueceu o seu conhecimento na área da música clássica.
A última vez que esteve em Estremoz, a 12 de dezembro de 2011, foi para assistir à Cerimónia promovida pelo Município de Estremoz, onde foi entregue a Tomaz Alcaide o título de Cidadão Honorário e a Medalha de Ouro da Cidade e, com honras militares, foi depositada a urna com as cinzas do artista, junto ao monumento em sua homenagem, em frente à casa que o viu nascer, a 16 de fevereiro de 1901, data que inspirou o Município para mais uma cerimónia, desta vez, a deposição das cinzas da sua amada Asta-Rose, conforme desejo manifestado pela própria.
Juntos em vida, juntos para além da morte!
Do programa consta a deposição de uma coroa de flores, um momento musical de clarinete e violino, com Mário Tiago e Margarida Espírito Santo, seguido da inauguração de uma exposição sobre Tomaz Alcaide, no Teatro Bernardim Ribeiro.
Hernâni Matos