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Falar de Jorge Carrapiço
Hoje é dia de falar de Jorge Carrapiço. Não é a
primeira vez que o faço. Já falei dele no meu livro “Bonecos de Estremoz”,
assim como no blogue “Do Tempo da Outra Senhora”, no qual reproduzi imagens de
trabalhos seus.
Nunca é demais falar de um barrista, das suas
criações e da sua obra. Obra cuja construção só termina com o finamento do autor.
Até lá, o seu trabalho é uma procura incessante de caminhos, a proclamação de
mensagens e a revelação de marcas identitárias. É o que se passa com o barrista
Jorge Carrapiço, que transporta consigo a pesada herança de ser bisneto de Ana
das Peles. A carga genética propiciou terreno fértil à aprendizagem da modelação
do barro, primeiro com o seu vizinho e pintor de construção civil, Óscar Cavaco
e depois com o seu professor de Trabalhos Manuais e artista plástico, Aníbal
Falcato Alves. O seu pai, pintor de construção civil, ensinou-o a utilizar as
tintas e a misturá-las até àquela cor e não outra, que é capaz de transmitir um
determinado estado de alma. É assim que as pinceladas mágicas nascidas da mão
do pintor, acabam por falar connosco, como se tivessem vida.
O percurso de Jorge Carrapiço não é como os demais.
Não aprendeu em contexto oficinal nem familiar, nem em qualquer acção de
formação. Aprendeu nas condições já referidas e o resto depois tem sido com ele.
Uma figura que cega
Hoje é um dia de cegueira. Fiquei cego pela luz que
irradia do seu “Amor é cego”. Uma figura luminosa pela predominância de cores
quentes e pelo recurso pouco usual ao verniz brilhante, que constitui uma das
suas marcas identitárias. Jorge Carrapiço intuiu e bem o calor que deve
irradiar desta figura, para traduzir o calor e a cegueira da paixão.
Os tons ocre usados no calçado e no toucado, tons
de pigmentos “terras de Siena” indiciam que o amor aqui abordado alegoricamente
é “Eros”, o amor romântico que se vive na Terra.
As flores que ornamentam os braços da figura em
tonalidades de vermelho e com corolas amarelas, sugerem gerberas, flores que ao
longo da História das Civilizações, de uma forma ou de outra, têm traduzido a beleza da vida e a energia
positiva proveniente da natureza. O simbolismo induzido pela suas cores é
variável. As gerberas vermelhas estão associadas à inconsciência e à
total imersão no amor (cegueira do amor).
A sensualidade expressa pelos lábios vermelhos da
figura é reforçada pelas rosetas avermelhadas nas maçãs do rosto ou não se
desse o caso da paixão afoguear as faces.
À espera de
mais
Estou a lembrar-me de um poema de Vinicius de
Morais intitulado “Operário em Construção”. Parafraseando o título do
celebérrimo poeta carioca, sou levado a concluir que Jorge Carrapiço é um “Barrista
em Construção”. Surpreende-me em cada trabalho em que recria o que já tinha
sido criado e revela muito daquilo que tem para nos dar e nós esperamos vir a receber.
Obra genial- Parabéns pelo texto, Hernâni
ResponderEliminarMuito obrigado.
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