quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Eu e os Bonecos de Estremoz


Hernâni Matos e alguns dos seus Bonecos. Fotografia de Fátima Fernandes.

Coleccionar Bonecos de Estremoz
Uma das coisas que colecciono são Bonecos de Estremoz, os quais descobri há cerca de quarenta anos. E digo que descobri porque, efectivamente, nado e medrado em Estremoz, tinha os olhos abertos, mas não via, como acontece a muito boa gente. Até que um dia, os meus olhos foram para além da missão elementar de observar o óbvio. Então, a minha retina transmitiu às redes neuronais um impulso nervoso que se traduziu numa emoção com um misto de estético e de sociológico. Foi tiro e queda a minha atracção pelos Bonecos de Estremoz.
Bonecos que duplamente têm a ver com a nossa identidade cultural estremocense e alentejana, Bonecos que, antes de tudo, são arte popular, naquilo que de mais nobre, profundo e ancestral, encerra este exigente conceito estético-etnológico.
Bonecos moldados pelas mãos do povo, a partir daquilo que a terra dá - o barro com que porventura Deus terá modelado o primeiro homem no sexto dia da criação do Mundo, tal como nos diz o Génesis.
Foi com esse mesmo barro que as bonequeiras de setecentos começaram a criar aquilo que se convencionou chamar “Bonecos de “Estremoz”. Bonecos que nascem nus e depois vão sendo vestidos e enfeitados, que os Bonecos também são vaidosos. Bonecos que depois de secos, são cozidos no forno e pintados com cores minerais já utilizadas pelos artistas rupestres de Lascaux e Altamira no Paleolítico, mas aqui garridas e alegres, como é timbre das claridades do Sul. Por fim, são protegidos com verniz.
Invariância e mutabilidade nos Bonecos de Estremoz
Os Bonecos de Estremoz são pela sua excelência, notórias marcas de identidade desta terra transtagana. E são-no duma maneira que supera o estatismo e que se torna dinâmica. É que a manufactura de cada boneco encerra em si duas componentes distintas: a invariância e a mutabilidade.
Em primeiro lugar, invariância, porque encerram em si mesmos traços de identidade que se mantêm de barrista para barrista, tal como o gesto augusto do semeador reproduz ancestrais trejeitos padrão.
Em segundo lugar, mutabilidade, já que cada barrista tem a sua própria individualidade, o seu próprio modo de observar o mundo que o cerca e de o interpretar à sua maneira. Lá diz o rifão: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”. É assim que cada barrista, sem pôr em causa a essência temática de cada figura, acrescenta-lhe pormenores através dos quais fixa a posição da mesma ou sugere movimento, bem como pormenores do vestuário e dos utensílios usados, assim como particularidades da actividade desenvolvida. Com esta mutabilidade, os Bonecos de Estremoz transvazam a mera produção monolítica e ascendem a novos patamares em que se revigoram, qual Fénix renascida das cinzas, o que vem acontecendo desde a sua génese.
Marcas de identidade
A matriz identitária do figurado de Estremoz distribui-se por quatro níveis distintos.
Em primeiro lugar a manufactura “sui-generis” que a distingue de todo o figurado português.
Em segundo lugar é notória a identidade cultural alentejana. As figuras são muitas das vezes protagonistas das fainas agro-pastoris do Alentejo de antanho, envergando os seus trajes populares. São um relato fiel dos ciclos de produção, dos usos e costumes, bem como da gastronomia. A identidade cultural regional está, de resto, presente no alegre e garrido cromatismo das imagens, que reflecte as claridades do Sul.
Em terceiro lugar é patente também uma identidade cultural local, que tem a ver com o quotidiano das gentes, com a vida íntima na comunidade, com o respeito pela instituição militar, com a veneração pelos santos da Igreja Católica e com a comemoração de festas cíclicas.
Em quarto e último lugar estão as marcas de identidade de autor, gravadas ou estampadas na base dos Bonecos ou no interior das peças ocas. São marcas através das quais os bonequeiros assumem a maternidade ou a paternidade de cada peça nascida das suas mãos. Afirmação legítima da auto-estima dos barristas, que nos relembra as siglas gravadas pelos pedreiros medievais nas pedras que afeiçoavam e que transmitiam a mensagem “Esta pedra é Obra minha”.
As marcas de identidade de autor, além de identificarem o artesão, permitem balizar o período de manufactura das figuras, na medida em que os artífices no decurso da sua actividade vão, por vezes, utilizando marcas distintas. Todavia, não só as marcas de autor permitem identificar o bonequeiro, já que cada um tem o seu próprio modo de observar o mundo que o cerca e de o interpretar, legando traços de identidade pessoal nas peças que manufactura e que são marcas indeléveis que permitem identificar o seu autor.
Tradição, inovação e mudança de paradigma
Na galeria dos Bonecos de Estremoz é possível identificar um núcleo central de cerca de 100 figuras que são produzidas pelos barristas de hoje, à semelhança do que fizeram os seus antecessores, ainda que cada um lhe confira as suas próprias marcas de identidade. São os chamados “Bonecos da tradição”.
O trabalho de cada barrista não se esgota, porém, na feitura dos “Bonecos da tradição”. Por sua própria iniciativa, fruto de encomenda ou por sugestão de alguém, os barristas são levados a criar novas figuras que até então ninguém fizera. São aquilo que podemos designar por “Bonecos da inovação”, mas que respeitam o ancestral processo de fabrico dos Bonecos de Estremoz.
Bonecos de Estremoz - Património Cultural Imaterial da Humanidade
Cada boneco de Estremoz fala-nos de um contexto antropológico, social ou religioso. Fala-nos também do seu criador e dos sonhos que lhe povoam a mente. Fala-nos ainda das técnicas ancestrais que o artista popular domina e que lhe brotam à flor das mãos.
Cada boneco é fruto de uma relação de amor de quem procura fazer tudo a partir do nada que é a massa informe de barro. Todavia é também a expressão viva do ganha-pão diário de quem tem necessidade de assegurar a sua subsistência e a dos seus.
Cada boneco é um panfleto de cores garridas e de claridades do sul, próprias desta terra transtagana.
Tomar um boneco nas mãos é criar sinestesias que envolvem os nossos cinco sentidos. É como possuir uma bela mulher que nos enche as medidas e por quem sentimos exactamente o mesmo desejo da semente que fecunda a Terra-Mãe. Por isso, eu amo os Bonecos de Estremoz. Daí que tenha subscrito com alma e coração a sua Candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Um legado extraordinário


Ivone Carapeto (Advogada, Directora do jornal E, de Estremoz)
DR
Os Bonecos de Estremoz são agora não só nossos, mas também de toda a Humanidade. Assim o decidiu no passado dia 7 de dezembro, na Coreia do Sul, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Partilhar com o mundo esta herança é um feito que não pode ser subestimado, pela imensidão das potencialidades que se abrem para o concelho, e foi liderado pelo município, como devia ser. Será esta a indelével marca que este executivo vai deixar para o futuro, sendo agora também responsável por lançar as bases para a sustentabilidade desta arte tão nossa, agora universalmente reconhecida e acarinhada. Mas esse é um trabalho de todos e onde todos devem ser escutados, principalmente os mais envolvidos, sejam os artesãos, sejam os estudiosos que a ela se têm dedicado, sejam os que a têm colecionado e preservado. Saber escutar é uma humildade que exige muita sabedoria. A chancela da UNESCO é um passo de gigante dado no sentido da salvaguarda e transmissão desta arte do figurado em barro de Estremoz e é agora o tempo de concretizar os planos para efetivamente ser garantido esse sonho maior, mas também para tornar este ativo que é cultural, também num ativo económico, sem nunca trair a sua alma e essência.
O sentimento de orgulho e a emoção que uniu todos os estremocenses é, na verdade, o reflexo da imensa honra de participarmos, porque estamos vivos, num prémio que sabemos ter atrás de nós muitos que, pela sua dedicação e criatividade, lhe deram corpo e tornaram possível um momento então nem sonhado. É agora nossa responsabilidade que também no futuro perdure esta distinção que tanto nos identifica e nos distingue.
Vamos então fazer por bem prestar o merecido tributo a quem tanto o mereceu e bem contar a história dos nossos Bonecos e deixar que eles falem, através dos tempos, daquela que foi a nossa história.
Neste número tão especial, o E’ dedica-se quase exclusivamente a este brilho que agora nos ilumina. É um legado extraordinário.

Ivone Carapeto
Advogada, Directora do jornal E, de Estremoz
(Texto publicado no jornal E nº 189, de 14-12-2017)


Hernâni Matos

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

BONECOS DE ESTREMOZ - A minha crença numa candidatura vitoriosa


Hernâni Matos no Museu Municipal de Estremoz. Fotografia de Armando Alves.

Nunca vendi gato por lebre
No Franco-Atirador de 12-01-2017 (Jornal E nº 168), tive oportunidade de afirmar: “Como coleccionador e como investigador da barrística local, amo os bonecos de Estremoz e subscrevo desde a primeira hora, com alma e coração, a sua Candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Esta candidatura foi em devido tempo apresentada pelo Município, seguindo todos os trâmites legalmente previstos e contando com a assessoria técnico-científica de Hugo Guerreiro, Director do Museu Municipal, que ali tem desenvolvido um trabalho notável.”
No Franco-Atirador de 09-02-2017 (Jornal E nº 170), reiterei a minha confiança na vitória da Candidatura, quando acrescentei: “A fundamentação rigorosa da Candidatura, concedeu-lhe solidez e peso e consequentemente credibilidade, respeitabilidade e vigor, que a meu ver são condições não só necessárias como suficientes, para que seja uma Candidatura vitoriosa.”
No Franco-Atirador de 12-01-2017, acrescentei ainda: “No presente, o figurado de Estremoz além de figurar no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial, já tem a sua Candidatura entrada na UNESCO, como se pode concluir por consulta do respectivo website.
O Museu Municipal de Estremoz é actualmente Centro UNESCO para a Valorização e Salvaguarda do Boneco de Estremoz e no início do mês passado, estiveram em Estremoz representantes da Federação Portuguesa das Associações, Centros e Clubes UNESCO, para assinatura de um Protocolo de Parceria Estratégica, no âmbito do Centro UNESCO, para a valorização e salvaguarda dos Bonecos de Estremoz.
A decisão da UNESCO relativamente à Candidatura apresentada pelo Município será conhecida em finais de 2017.”
No Franco-Atirador de 09-02-2017, profetizei ainda: “A inclusão dos bonecos de Estremoz na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, será o corolário natural de toda uma Candidatura que tem sido desenvolvida com rigor e traduzir-se-á numa maior divulgação, valorização e reconhecimento a nível planetário do nosso figurado.” 
Aviso à navegação
Terminei o Franco-Atirador de 12-01-2017, denunciando publicamente determinado tipo de postura que procurava denegrir a Candidatura. Para tal, afirmei que: “O noticiário do Município tem divulgado publicamente todas as etapas do processo e a imprensa tem feito a divulgação das mesmas, o que posso confirmar, já que sei do que estou a falar. Daí que não perceba quais as reais intenções de quem na imprensa local, pareça querer pôr a Candidatura em causa, ao afirmar que “Em Estremoz … não se sabe ao certo”. Quem tem acompanhado os noticiários do Município e a imprensa local, regional e nacional, sabe. Quem não sabe e fala do que não sabe, fica mal na fotografia.”
De resto, denunciei igualmente na imprensa local, a crítica negativa que foi feita ao Município de Estremoz, por não ter querido integrar a Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas, a qual faz parte da Associação Europeia de Cidades Cerâmicas, que pretende candidatar a cerâmica a Património Cultural Imaterial da Humanidade e criar uma denominação de origem geográfica protegida do sector.
Teria sido um erro histórico se o Município de Estremoz tivesse participado naquela Associação, onde pontifica a CENCAL (Centro de Formação Profissional para a Indústria Cerâmica) das Caldas da Rainha, criado em 1981, visando a formação profissional na área da cerâmica, mas que desde 2011 se estendeu ao sector do vidro.
Felizmente que o Município de Estremoz teve a percepção que a participação na referida Associação não fazia sentido, uma fez que o figurado em barro de Estremoz tem uma manufactura “sui generis” que a distingue e valoriza face a figurados como os de Barcelos, Mafra ou Caldas da Rainha, para não falar de outros. Para além disso, a meu ver, a Candidatura tanto da associação portuguesa como da europeia, carecem de qualquer sentido, uma vez que os produtos cerâmicos têm a ver com a identidade cultural local. Basta pensar na diferença que há entre as olarias de Estremoz, Nisa, Ribolhos e Barcelos.
Moral da História
Quando assisto a alguém que se arvora a falar daquilo que não sabe, porque não sabe mesmo ou como também é o caso, se encontra obliterado pela cegueira política, fico “piurso”, pelo que retirando um projéctil verbal da minha cartucheira de rifões, disparo à queima roupa:
- QUEM TE MANDA A TI SAPATEIO, TOCAR RABECÃO?

sábado, 9 de dezembro de 2017

Bonecos de Estremoz vistos por estremocenses


Primavera. Oficinas de Estremoz do séc. XIX.
Colecção Júlio dos Reis Pereira. Museu Municipal de Estremoz.
ÁLVARO BORRALHO (Sociólogo)
- Bonecos de Estremoz: não há identidades puras (Jornal E nº 199, de 03-05-2018)
ANTÓNIO SIMÕES (Professor e poeta)
- Bonecos e Artesãos de Estremoz (Jornal E nº 196, de 22-03-2018)
ARMANDO ALVES (Pintor)
Bonecos de Estremoz (Jornal E nº 190, de 28-12-2017)
DIOGO VIVAS (ARQUIVISTA, DOUTORANDO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO)
FRANCISCA DE MATOS (Professora)
E depois da classificação? (Jornal E nº 194, de 22-02-2018)
HERNÂNI MATOS (Coleccionador e Investigador da Barrística Popular Estremocense)
Bonecos de Estremoz na Assembleia da República (Jornal E nº 189, de 14-12-2017)
Eu e os Bonecos de Estremoz (Jornal E nº 190, de 28-12-2017) 
- Más-línguas contra a imprensa local
 (Jornal E nº 190, de 28-12-2017) 
- BONECOS DE ESTREMOZ - Semear para colher
 (Jornal E nº 191, de 11-01-2017)
IVONE CARAPETO (Advogada, Directora do jornal E, de Estremoz)
Um legado extraordinário  (Jornal E nº 189, de 14-12-2017)
Senhor Doutor Hugo Guerreiro, sinta-se condecorado! (Jornal E nº 192, de 25-1-2018)
MANUEL XAREPE (Antropólogo)
MARGARIDA MALDONADO (Educadora de Infância e Pintora)
Os bonecos de Estremoz (Jornal E nº 191, de 11-01-2017)
OTELO LAPA (Director de Cena da Fundação Calouste Gulbenkian)
Bonecos de Estremoz (Jornal E nº 197, de 05-04-2018)
RITA RATO (Deputada estremocense do PCP)
- BONECOS DE ESTREMOZ - Orgulho e importância
 (Jornal E nº 190, de 28-12-2017)



sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Bonecos de Estremoz na Assembleia da República



Voto de Congratulação pela inscrição da Produção de Figurado em Barro de Estremoz, conhecido por “Bonecos de Estremoz”, na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da UNESCO
(Por iniciativa dos deputados eleitos pelo círculo eleitoral do distrito de Évora,
António Costa da Silva (PSD), João Oliveira (PCP), Norberto Patinho (PS) e
da deputada estremocense Rita Rato (PCP). Aprovado por unanimidade
e aclamação na sessão plenária de 7 de Dezembro de 2017)

«A Assembleia da República congratula-se pela decisão de reconhecimento do Figurado em Barro de Estremoz, conhecido por “Bonecos de Estremoz”, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, durante a 12.ª Reunião do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial.
Os Bonecos de Estremoz remontam ao século XVII e inicialmente eram manufaturados apenas por mulheres. Representam ofícios e tradições do Alentejo, figuras religiosas, temas urbanos e rurais e a sua estética muito característica torna os Bonecos imediatamente identificáveis.
De acordo com o investigador Hernâni Matos, "Trata-se de uma manufatura “sui-generis”, distinta de todo o figurado português. Nela, o todo é criado a partir das partes, recorrendo a três geometrias distintas: a bola, o rolo e a placa. São elas que, com tamanhos variáveis, são utilizadas na gestação de cada boneco. Para tal são coladas umas às outras, recorrendo a barbutina e afeiçoadas pelas mãos mágicas dos artesãos, que lhes transmitem vida e significado.
Os bonecos nascem nus e depois vão sendo vestidos e enfeitados, que os bonecos também são vaidosos. Apenas a cara é confecionada com recurso a moldes adequados.
A técnica ancestral de produção de “Bonecos de “Estremoz” transmitiu-se ao longo dos séculos e chegou até nós. Depois da sua manufatura, os bonecos são postos a secar, depois são cozidos no forno e são pintados com cores minerais já utilizadas pelos artistas rupestres de Lascaux e Altamira no Paleolítico, mas aqui 2 garridas e alegres, como é timbre das claridades do Sul. Por fim, são protegidos com verniz."
Ainda de acordo com aquele investigador, trata-se de "Bonecos que duplamente têm a ver com a nossa identidade cultural estremocense e alentejana, bonecos que, antes de tudo, são arte popular, naquilo que de mais nobre, profundo e ancestral, encerra este exigente conceito estético-etnológico."
Atualmente, modelam bonecos as Irmãs Flores, Fátima Estróia, Afonso e Matilde Ginja, Duarte Catela e Ricardo Fonseca. Utilizando as técnicas tradicionais, mas modelando com formas contemporâneas e locais, temos Isabel Pires, Jorge da Conceição e Célia Freitas/Miguel Gomes.
A consagração da Produção de Figurado em Barro de Estremoz, como Património Imaterial da Humanidade é um importante elemento de valorização desta expressão da cultura popular e contribui decisivamente para a sua preservação e salvaguarda.
Através deste voto, a Assembleia da República felicita as entidades que integraram a Comissão Executiva da candidatura pelo trabalho que, de forma persistente, desenvolveram, bem como todas as entidades e individualidades que se envolveram e empenharam neste processo, bem como todos os estremocenses.

A Assembleia da República felicita, de forma destacada, todas as artesãs e artesãos, pelo seu insubstituível papel de preservação e divulgação deste património, cujo reconhecimento pela UNESCO engrandece a cultura popular e o País»

Assembleia da República, 7 de dezembro de 2017

Os Deputados

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

BONECOS DE ESTREMOZ - Proclamados Património Cultural Imaterial da Humanidade


Da esquerda para a direita: Luís Mourinha (Presidente da Câmara Municipal de Estremoz),
 Manuel António Gonçalves de Jesus (Embaixador de Portugal na República da Coreia),
António Ceia da Silva (Presidente do Turismo do Alentejo) e Hugo Guerreiro (Director do
 Museu Municipal e autor da Candidatura). Fotografia reproduzida com a devida vénia,
a partir do Facebook de António Ceia da Silva.

Como era expectável, a inscrição da "Produção de Figurado em Barro de Estremoz" na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, foi aprovada no decurso da 12.ª Reunião do Comité Intergovernamental da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que entre 4 e 9 de Dezembro decorreu no Centro Internacional de Convenções Jeju, na ilha de Jeju, na República da Coreia.
Reconhecimento planetário
A inscrição do figurado de barro de Estremoz na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, é o reconhecimento planetário do labor e criatividade dos barristas do passado e do presente, que com as suas mãos mágicas e desde as bonequeiras de setecentos, transmitiram de geração em geração e até à actualidade, uma manufactura “sui generis” de figurado de barro, dita ao “modo de Estremoz”. Todavia, cabe também aqui denunciar aqueles que numa atitude minimalista, centram exclusivamente o mérito da classificação dos bonecos de Estremoz pela UNESCO nos artesãos, o que não é correcto, nem tão pouco justo. O merecimento da classificação é similarmente e com grande peso específico, o reconhecimento do mérito visionário do escultor José Maria de Sá Lemos (1892-1971), director nos anos 30-40 do século passado, da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, de Estremoz. Foi ele que com a sua reconhecida perseverança, recorrendo a ti Ana das Peles [Ana Rita da Silva (1870-1945)] primeiro e a Mariano da Conceição (1903-1959) depois, deu um contributo decisivo para a revitalização da manufactura dos bonecos de Estremoz, então praticamente extinta. Sem ele não existiriam hoje bonecos de Estremoz.
Por outro lado, tal inscrição não seria possível sem o esforço de estudiosos, investigadores, escritores e publicistas que não deixaram morrer a memória dos bonecos de Estremoz. Cito de uma forma simplificada: Luís Chaves, D. Sebastião Pessanha, Virgílio Correia, Azinhal Abelho, Solange Parvaux, Joaquim Vermelho e outros.
O mérito da classificação pela UNESCO cabe ainda a coleccionadores, dos quais o mais destacado é Júlio dos Reis Pereira, que ao longo de décadas foram reunindo, catalogando, estudando, comparando e interpretando espécimes, que viabilizaram a apresentação de uma candidatura pelo Município de Estremoz.
O mérito da classificação cabe igualmente e isso é muito importante, ao director do Museu Municipal de Estremoz, Hugo Guerreiro, que despoletou e argumentou a candidatura, a qual veio a ter êxito e que corresponde ao primeiro figurado do mundo a merecer a distinção de Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Consequências da inscrição
A inscrição da "Produção de Figurado em Barro de Estremoz" na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, permitirá que os bonecos de Estremoz possam ser portadores de um selo certificador dessa condição. Para além disso, a cidade de Estremoz passará a integrar a rota do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Daqui resultará um previsível incremento do turismo cultural, com reflexos importantes em termos da economia local.
Delegação portuguesa na Coreia
A delegação portuguesa que viajou até à Coreia em apoio da candidatura portuguesa foi numerosa e incluiu: - EMBAIXADOR DE PORTUGAL NA REPÚBLICA da COREIA: Manuel António Gonçalves de Jesus; - DELEGAÇÃO ESTREMOCENSE: Luís Mourinha (Presidente da Câmara Municipal), Maria Helena Mourinha (Coordenadora da Biblioteca Municipal), Nuno Rato (Presidente da Assembleia Municipal), António Serrano (Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara), Sílvia Dias (Vereadora da Câmara Municipal), Márcia Oliveira (Vereadora da Câmara Municipal), Amélia Frazão Moreira (Antropóloga, Investigadora do CRIA [Centro em Rede de Investigação em Antropologia] da Universidade Nova de Lisboa. Áreas de Investigação: Antropologia, Antropologia do Ambiente, Etnobotânica / Etnobiologia / Etnoecologia e Contextos Africanos. Membro do Órgão de Avaliação da Convenção da Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, para os ciclos de 2015 a 2018), Hugo Guerreiro (Director do Museu Municipal e autor da Candidatura), Jorge Conceição Palmela (Artesão) e Perpétua Sousa (Artesã); - DELEGAÇÃO DO TURISMO DO ALENTEJO: Presidente (António Ceia da Silva), Técnicos de Turismo (Felício Florentino, Leonor Nobre, Maria Ricardo, Raul Pereira e Vítor Silva) e jornalistas: LUSA (Hugo Teixeira), RTP (Ismael Pratas e Paulo Nobre), SIC (Hugo Milhinhos) e TVI (Carla Correia e Rui Rocha).
Património cultural imaterial português reconhecido pela UNESCO
A Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade regista até ao presente, as seguintes inscrições portuguesas: - 2011 - FADO; - 2013 - DIETA MEDITERRÂNICA (envolvendo Chipre, Croácia, Espanha, Grécia, Itália e Portugal); - 2014 - CANTE ALENTEJANO; - 2016 - FALCOARIA, UMA HERANÇA HUMANA VIVA (envolvendo Emiratos Árabes Unidos, Áustria, Bélgica, República Checa, França, Alemanha, Hungria, Itália, Cazaquistão, República da Coreia, Mongólia, Marrocos, Paquistão, Portugal, Qatar, Arábia Saudita, Espanha e República Árabe da Síria); 2017 - PRODUÇÃO DE FIGURADO EM BARRO DE ESTREMOZ.
Por sua vez, a Lista de Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente arrola até à actualidade, as seguintes inscrições portuguesas: - 2015 - FABRICO DE CHOCALHOS; - 2016 - FABRICO DA CERÂMICA NEGRA DE BISALHÃES.


quarta-feira, 29 de novembro de 2017

BONECOS DE ESTREMOZ - Património Cultural Imaterial da Humanidade?



A inscrição da "Produção de Figurado em Barro de Estremoz" na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, vai ser decidida entre 4 e 9 de Dezembro, no decurso da 12.ª Reunião do Comité Intergovernamental da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, a ter lugar no Centro Internacional de Convenções Jeju, na ilha de Jeju, na República da Coreia.
Ao longo dos seis dias, os vinte e quatro membros do Comité, eleitos pela Assembleia-geral da Convenção de 2003, discutirão uma série de questões relevantes para a salvaguarda do património cultural imaterial em todo o mundo.
A agenda da reunião é vasta e inclui a análise das nomeações (6) para inscrição na Lista de Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente, bem como o exame das nomeações (35) para inscrição na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Na sequência desse estudo, o Comité votará as nomeações. De salientar que em qualquer das duas listas, a votação e aprovação de uma dada candidatura não exclui a votação e aprovação de qualquer das outras.
Delegação estremocense na Coreia do Sul
Visando assistir à 12.ª Reunião do Comité Intergovernamental da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, parte no próximo dia 3 de Dezembro para a Coreia do Sul, uma delegação estremocense integrada por Luís Mourinha (Presidente da Câmara Municipal), Maria Helena Mourinha (Coordenadora da Biblioteca Municipal), Nuno Rato (Presidente da Assembleia Municipal), António Serrano (Chefe de Gabinete do Presidente da Câmara), Sílvia Dias (Vereadora da Câmara Municipal), Márcia Oliveira (Vereadora da Câmara Municipal), Hugo Guerreiro (Director do Museu Municipal e autor da Candidatura), Jorge Conceição Palmela (Artesão) e Perpétua Sousa (Artesã).
Consequências da nomeação
A inscrição da "Produção de Figurado em Barro de Estremoz" na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, permitirá que os bonecos de Estremoz possam ser portadores de um selo certificador dessa condição. Para além disso, a cidade de Estremoz passará a integrar a rota do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Daqui resultará um previsível incremento do turismo cultural, com reflexos importantes em termos da economia local.
Centro Interpretativo do Figurado em Barro de Estremoz
Reabilitar o edifício da antiga Olaria Alfacinha, destinando-o a Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, foi considerado um dos múltiplos objectivos a atingir através da “PROPOSTA DE DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE REABILITAÇÃO URBANA – CIDADE DE ESTREMOZ”, elaborado em Agosto de 2015, pelo Sector de Gestão Urbanística, Planeamento e Projecto Municipal da CME. O mesmo objectivo consta igualmente no “PLANO DE PORMENOR DE REABILITAÇÃO URBANA – CIDADE DE ESTREMOZ”, produzido em Julho de 2016. Para tal e de acordo com este último documento, o Município iria candidatar-se a fundos comunitários do programa de financiamento denominado “Estratégia Europa 2020 – Portugal 2020”. Todavia, a reabilitação do edifício da antiga Olaria Alfacinha através daquele programa de financiamento não consta da “Lista de Operações” aprovadas, reportada a 31 de Agosto de 2017. Aquela reabilitação não consta igualmente no “PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO URBANO DO MUNICÍPIO DE ESTREMOZ”, uma vez que não está prevista num documento nele inserido, datado de 31 de Maio de 2016 e que é o Contrato celebrado entre a Autoridade de Gestão do Programa Operacional Regional do Alentejo, representada pelo Presidente da Comissão Directiva, Roberto Pereira Grilo e o Vice - Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, Francisco João Ameixa Ramos, substituto legal do Presidente da Câmara. Porém, “escrevendo direito por linhas tortas”, no ”PLANO ESTRATÉGICO DE DESENVOLVIMENTO URBANO 2015 | 2030” (definitivo) da cidade de Estremoz, lá está contemplada a reabilitação do edifício da antiga Olaria Alfacinha, visando instalar ali um Centro Interpretativo do Bonecos e da Olaria de Estremoz, no qual o Município pretende que seja ministrada formação no âmbito da olaria. “A ver vamos como diria Frei Ramos”, já que o Município procura concretizar a aquisição daquele edifício há mais de 15 anos.
Consciente da necessidade de recuperação e salvaguarda da olaria de Estremoz como uma das expressões mais elevadas da nossa identidade cultural local, não deixarei de aplaudir a concretização do que está projectado.
Cautela e caldos de galinha…
O Centro Interpretativo a criar, deverá assegurar a acessibilidade consagrada na lei a pessoas com necessidades especiais (deficientes motores, cegos, grávidas, crianças e idosos), o que não se verifica actualmente no Museu Municipal, no qual não existe rampa de acesso nem elevador, o que é impeditivo de uma participação cívica activa e integral.