segunda-feira, 25 de março de 2024

Atrás da Primavera, outras Primaveras hão de vir

 

O testemunho da Primavera. A Boniqueira - Joana Santos Ceramista


Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
FLORBELA ESPANCA (1894-1930)

Fascínio é o natural e intenso sentimento despertado pela imagem aqui apresentada. Lado a lado, duas Primaveras com os mesmos atributos, a mesma estética e o mesmo cromatismo, diferentes apenas no tamanho. Uma é Primavera adulta e a outra uma Primavera menina.
É notória uma forte ligação entre elas, patente na mão da mãe que segura a mão da filha, a quem comunica confiança e também ternura, igualmente transmitida pelo olhar que a Primavera menina absorve, encantada. É a partilha de saberes, de luz e de claridades, de cores e de tons, de perfumes e sons. É o legado de marcas identitárias ciclicamente propaladas à natureza e que assinalam a sua renovação. É uma mensagem de esperança nos dias da amanhã. É o revelar de um paradigma: Atrás da Primavera, outras Primaveras hão de vir.
O Testemunho da Primavera de Joana Santos é simultaneamente o testemunho do génio criativo e da mente brilhante de uma mulher ceramista, que há muito pôs a magia das suas mãos tecnicamente dotadas, em sincronia harmónica com os impulsos de alma. É um deleite de espírito a visualização e a contemplação das suas criações. É, de resto, um privilégio e isso para mim é muito importante, usufruir do privilégio da sua amizade.

Publicado em 18 de Abril de 2023

domingo, 24 de março de 2024

A Primavera de Joana Oliveira


Primavera de arco (2020) - Parte da frente. Joana Oliveira (1978-  ).
A Primavera constitui há muito um tema transversal a toda a poesia portuguesa. Camões, numa “Elegia” confessa: “Vi já que a Primavera, de contente, / De mil cores alegres, revestia / O monte, o rio, o campo, alegremente.”. Por sua vez, Florbela Espanca, no soneto “Amar” proclama: “Há uma Primavera em cada vida: / É preciso cantá-la assim florida, / Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!”. Já o cancioneiro popular considera que: “Primavera, linda flor / Como ela não há iguais: / Primavera volta sempre, / Mocidade não vem mais!”.
A Primavera dos pintores
A Primavera é o tema central de obras de grandes mestres da pintura universal, com destaque pessoal para Sandro Botticelli, Jacob Grimmer, Tintoretto, Christian Bernhard Rode, János Rombauer, Caude Monet, Alfons Mucha, Veloso Salgado e José Malhoa.
Os seus quadros representam a natureza, verdejante e florida, com a presença alegórica de graciosas figuras femininas, enquadradas por flores, em ramos, grinaldas ou arcos.
A Primavera dos barristas
Na barrística popular de Estremoz existem figuras designadas genericamente por “Primaveras”, que para além de constituírem uma alegoria à estação do mesmo nome, são também figuras de Entrudo e registos dos primitivos rituais vegetalistas de celebração e exaltação do desabrochar da natureza.
Como figuras emblemáticas que são, as Primaveras constituem um tema inescapável à modelação por qualquer barrista. Nela são variados os caminhos que se lhe deparam. Em primeiro lugar, a modelação, a qual pode ser executada na linha de continuidade dos barristas precedentes ou alternativamente num rumo que de certo modo constitui uma ruptura com aquela prática. Trata-se de uma ruptura que sem fugir aos cânones da modelação tradicional, proclama as suas próprias marcas identidárias, notórias na estética da figura criada. Em segundo lugar, a decoração desta. Aqui pode haver uma inovação na cromática tradicional que reforce a mensagem que é intrínseca ao tema, bem como a introdução de elementos de composição que reforcem a contextualização temática.         
A Primavera de Joana Oliveira
A barrista Joana Oliveira recriou recentemente a chamada “Primavera de arco”. Na sua construção seguiu o segundo dos caminhos anteriormente apontados: o da inovação. E fê-lo para dar conta do modo como vê as coisas e com a força anímica que é seu timbre.              
A Primavera nasceu-lhe das mãos e tomou forma. Cresceu como figura, emancipou-se e autonomizou-se para fazer companhia a um apaixonado incorrigível da barrística popular de Estremoz. Permitam-me que vos apresente a “Primavera” que é e será sempre de Joana Oliveira. 
É uma figura de corpo elegante, aspecto juvenil e delicado, com ar jovial, da qual irradia luminosidade e frescura.
A postura das mãos parece antecipar o levantamento dos braços para o corpo rodopiar sobre si mesmo. E aqui reside aquilo que me parece ser uma das características mais importantes da modelação de Joana Oliveira: a capacidade mágica de através de uma representação estática, sugerir uma representação cinemática. E só este pormenor, revela-nos de imediato, Joana Oliveira como uma barrista de primeira água. 
Na decoração da figura, predominam o verde e o amarelo. O primeiro é a cor da natureza viva, associada ao crescimento e à renovação. O segundo traduz a alegria e o calor humano que lhe está associado. O azul do chapéu transmite serenidade, tranquilidade e harmonia a todo o conjunto.
Gratidão
Eu queria agradecer-lhe Joana, a beleza da figura que criou.
Bem haja! 
Publicado inicialmente a 6 de Julho de 2020

Primavera de arco (2020) - Parte de trás. Joana Oliveira (1978-  ).

sexta-feira, 22 de março de 2024

Exposição ANÍBAL FALCATO ALVES




Integrada no Programa Comemorativo “50 anos em Liberdade: Comemorações do 50º aniversário da Revolução de Abril de 1974”, a Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho irá receber, de 23 de março a 2 de junho, a exposição “Aníbal Falcato Alves”.

Aníbal Falcato Alves nasceu em Estremoz, em 1921. Aos 10 anos começou a trabalhar como caixeiro, profissão que conservou durante 40 anos. Fez o curso de canteiro artístico. Em 1971, ingressou no ensino como professor de trabalhos manuais, profissão que abandonou em 1991. Autor de vasta e riquíssima obra sobre a cultura alentejana, que compreende recolhas gastronómicas e peças de artesanato em madeira e papel, realizou inúmeras exposições na região. Data de 1987 a sua primeira exposição individual, em Almada, no Grupo de Teatro Campolide; contando com mais de 30 exposições no país, entre individuais e coletivas. Fundador do Cine Clube de Estremoz, então um dos mais importantes do país, e do Círculo Cultural de Estremoz. Sócio da Sociedade de Belas Artes na altura do ressurgimento, bem como da Gravura e da Cooperativa Árvore, na sua fundação. Militante do PCP desde a década de 50, teve participação destacada na luta contra a ditadura fascista e integrou ativamente as campanhas do General Norton de Matos e Humberto Delgado. Faleceu em junho de 1994.

A inauguração decorrerá no sábado, dia 23 de março de 2024, pelas 16h00, no Museu Municipal de Estremoz.

Não perca! Visite!

Hernâni Matos

quinta-feira, 21 de março de 2024

Começou a Primavera


Primavera (1917).
José Maria Veloso Salgado (1864-1945).
Óleo sobre tela (108 x 160 cm).
Museu Abade de Baçal, Bragança. 

A Primavera (do latim primus, primeiro, et tempus, tempo), é a estação do ano que sucede ao Inverno e antecede o Verão. Marca a renovação da natureza, sendo especialmente associada ao reflorescimento da flora e da fauna terrestres.
Entre nós, a Primavera tem início a 20 de Março e termina a 20 de Junho. Inicia-se no equinócio de Março, em que o dia e a noite têm exactamente a mesma duração. A partir daí, a cada dia que passa, a duração dos dias aumenta e a das noites diminui. É uma estação que corresponde aos meses de Março, Abril, Maio e Junho. Caracteriza-se pelo abrandamento dos rigores do tempo verificados durante o Inverno, pela fusão das neves, assim como pelo brotar e pelo florescer das plantas. As árvores privadas das suas folhas no Outono, revivescem graças à acção de chuvas frequentes e de temperaturas amenas, proporcionadas por um sol mais presente que durante o Inverno.
Algumas árvores de fruto assinalam a sua actividade através do aparecimento de flores, que cobrem igualmente os campos, nos quais a erva tenra, regala o gado, liberto da dieta de feno ocorrida durante o inverno.
É nesta estação que devido a um aumento significativo do calor, despertem as espécies hibernantes e regressem as migratórias.
É escasso o adagiário português onde é utilizada explicitamente a palavra Primavera:
- Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera.
- Dizem os antigos, gente rude e sincera: nunca passou por mau tempo a chuva da Primavera.
- Um dia de Outono vale por dois de Primavera.
- Como vires a Primavera, assim pelo al espera.
Na pintura portuguesa, a Primavera foi um tema abordado por mestres como: Silva Porto (1850-1893), Alfredo Keil (1854-1907), Veloso Salgado (1864-1945), José Malhoa (1855-1933) e Eduardo Malta (1900-1967). Nos seus quadros a natureza está verdejante, florida e por vezes regista-se a presença de graciosas figuras femininas, visando reforçar a alegoria.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 20 de Março de 2012


 Primavera (1882).
António Carvalho de Silva Porto (1850-1893).
Óleo sobre madeira (37,2 x 55 cm).
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa.
Primavera (1882).
Alfredo Keil (1854-1907).
Óleo sobre tela (114 x 76 cm).
Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa. 
Primavera (1932).
José Malhoa (1855-1933).
Óleo sobre tela (24,5 x 33, 5 cm).
Museu José Malhoa, Caldas da Rainha.  
Primavera (1933).
José Malhoa (1855-1933).
Pastel sobre papel (30 x 23 cm).
Museu José Malhoa, Caldas da Rainha. 
A Primavera (séc. XX).
Eduardo Malta (1900-1967).
Óleo sobre tela (46,2 x 33 cm).
Museu José Malhoa, Caldas da Rainha.


Allegro do concerto para violino
 “Primavera" das “Quatro Estações”
 de Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741),
executado pela orquestra Filarmónica de Israel
sob a direcção do Maestro Itzhak Perlman.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Vem aí a Primavera!


Primavera de arco (Alegoria à estação homónima).
Liberdade da Conceição (1913-1990).

A Primavera é a estação do ano que sucede ao Inverno e antecede o Verão.
No hemisfério norte a Primavera tem início no equinócio de Março (20 de Março) no qual o dia e a noite têm a mesma duração na linha do equador. A cada dia que passa, a duração do dia aumenta e da noite diminui, o que faz aumentar a insolação. A Primavera termina no solstício de Junho (20 de Junho). As datas referidas variam pouco de ano para ano.
A Primavera marca a renovação da natureza, sendo especialmente associada ao reflorescimento da flora e da fauna terrestres.
Como é natural, a Primavera marca presença no adagiário português:
- Após a névoa opaca do Inverno, sempre vem o colorido vivo da Primavera
- Borboleta branca: Primavera franca.   
- Como vires a Primavera, assim pelo al espera.
- Dizem os antigos, gente rude e sincera: nunca passou por mau tempo a chuva da Primavera.
- Foi atravessando os rigores do Inverno que o tempo chegou à Primavera.
- Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera.
- Um cuco não trás a Primavera.
- Um dia de Outono vale por dois de Primavera.
- Uma andorinha não faz a Primavera.
- Uma andorinha só não faz a Primavera.
- Uma flor não faz Primavera.
- Uma palavra gentil é como um dia de Primavera.


Publicado a 13 de Março de 2020

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Inauguração da Exposição "PARAÍSO" de Joana Santos na @arquivolivraria, em Leiria, no sábado, dia 2 de Março

 


Transcrito com a devida vénia da
de 28 de Fevereiro de 2024.


"O paraíso não é um lugar, é uma condição da alma." - Simone Weil

O que é o Paraíso? Onde é o Paraíso? O Paraíso existe?

O Paraíso pode ser um destino final. Um lugar celestial ao qual se chega no final dos dias corpóreos, como uma recompensa. Pode ser um espaço tangível, exótico, perfeito onde a natureza abundante é habitada por seres que vivem em uníssono e onde a felicidade é eterna.

O Paraíso pode ser um espaço que nos habita, que nasce e cresce dentro de nós.

Este é o Paraíso que nasceu das minhas mãos, materializado na delicadeza do grés branco, nos tons azuis e verdes dos cabelos livres das figuras que o habitam, no amarelo ocre das folhas de ginkgo biloba ou no vermelho coração. Uma reflexão sobre o amor, em particular o amor-próprio, vivido no feminino. Uma Ode ao Paraíso como corpo e à sua relação com o mundo físico que o encapsula. Ode também ao mundo interior que se preenche de sentimentos, ideias e tempo.

O Paraíso encontrado no ato da criação, da ideia ao desafio de lhe dar forma usando o barro, tornando físico o meu Paraíso particular e pessoal.

Convido-vos a virem descobrir o meu "Paraíso".

De 2 a 31 de março, na @arquivolivraria, em Leiria. Inauguração, dia 2 de Março, pelas 18h30!

Conto convosco?

Joana Santos


REPORTAGEM FOTOGRÁFICA DA EXPOSIÇÃO













 Hernâni Matos