Primavera de arco (2020) - Parte da frente. Joana Oliveira (1978- ).
LER AINDA:
A Primavera dos poetas
A Primavera constitui há muito um tema transversal
a toda a poesia portuguesa. Camões, numa “Elegia” confessa: “Vi já que a
Primavera, de contente, / De mil cores alegres, revestia / O monte, o rio, o campo,
alegremente.”. Por sua vez, Florbela Espanca, no soneto “Amar” proclama: “Há
uma Primavera em cada vida: / É preciso cantá-la assim florida, / Pois se Deus
nos deu voz, foi pra cantar!”. Já o cancioneiro popular considera que:
“Primavera, linda flor / Como ela não há iguais: / Primavera volta sempre, /
Mocidade não vem mais!”.
A Primavera dos pintores
A Primavera é o tema central de obras de grandes
mestres da pintura universal, com destaque pessoal para Sandro Botticelli,
Jacob Grimmer, Tintoretto, Christian Bernhard Rode, János Rombauer, Caude
Monet, Alfons Mucha, Veloso Salgado e José Malhoa.
Os seus quadros representam a natureza, verdejante
e florida, com a presença alegórica de graciosas figuras femininas, enquadradas
por flores, em ramos, grinaldas ou arcos.
A Primavera dos barristas
Na barrística popular de Estremoz existem figuras
designadas genericamente por “Primaveras”, que para além de constituírem uma
alegoria à estação do mesmo nome, são também figuras de Entrudo e registos dos
primitivos rituais vegetalistas de celebração e exaltação do desabrochar da
natureza.
Como figuras emblemáticas que são, as Primaveras
constituem um tema inescapável à modelação por qualquer barrista. Nela são
variados os caminhos que se lhe deparam. Em primeiro lugar, a
modelação, a qual pode ser executada na linha de continuidade dos barristas
precedentes ou alternativamente num rumo que de certo modo constitui uma ruptura
com aquela prática. Trata-se de uma ruptura que sem fugir aos cânones da
modelação tradicional, proclama as suas próprias marcas identidárias, notórias
na estética da figura criada. Em segundo lugar, a decoração desta. Aqui pode
haver uma inovação na cromática tradicional que reforce a mensagem que é
intrínseca ao tema, bem como a introdução de elementos de composição que
reforcem a contextualização temática.
A Primavera de Joana Oliveira
A barrista Joana Oliveira recriou recentemente a
chamada “Primavera de arco”. Na sua construção seguiu o segundo dos caminhos
anteriormente apontados: o da inovação. E fê-lo para dar conta do modo como vê
as coisas e com a força anímica que é seu timbre.
A Primavera nasceu-lhe das mãos e tomou forma.
Cresceu como figura, emancipou-se e autonomizou-se para fazer companhia a um
apaixonado incorrigível da barrística popular de Estremoz. Permitam-me que vos apresente
a “Primavera” que é e será sempre de Joana Oliveira.
É uma figura de corpo elegante, aspecto juvenil e
delicado, com ar jovial, da qual irradia luminosidade e frescura.
A postura das mãos parece antecipar o levantamento
dos braços para o corpo rodopiar sobre si mesmo. E aqui reside aquilo que me
parece ser uma das características mais importantes da modelação de Joana Oliveira:
a capacidade mágica de através de uma representação estática, sugerir uma
representação cinemática. E só este pormenor, revela-nos de imediato, Joana
Oliveira como uma barrista de primeira água.
Na decoração da figura, predominam o verde e o
amarelo. O primeiro é a cor da natureza viva, associada ao crescimento e à
renovação. O segundo traduz a alegria e o calor humano que lhe está associado.
O azul do chapéu transmite serenidade, tranquilidade e harmonia a todo o
conjunto.
Gratidão
Eu
queria agradecer-lhe Joana, a beleza da figura que criou.
Bem
haja!
Publicado inicialmente a 6 de Julho de 2020
Também gostei muito mas pensei que fugir às cores fortes poderia prejudicar, ainda bem que não.
ResponderEliminarParabéns aos "Bonecos de Estremoz" por terem ganho mais uma criadora nata.
ResponderEliminarParabéns à barrista Joana Oliveira pelo amor e arte que dedica a cada figura que cria, traduzidos na sensibilidade e minúcia de cada pormenor.
Parabéns também para o Sr. Hernâni Matos pelo papel que desempenha no cumprimento deste objectivo.
Enquanto este amor se mantiver através das mãos e coração dos nossos artistas, teremos a garantia que o nosso passado cultural não acabará.
Felicidades.
Isabel Figueira