sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Monumento aos Mortos da Grande Guerra / Chega de bagunça


Estremoz - Comemoração da vitória da selecção portuguesa no Euro 2016
(10 de Julho de 2016). Fotografia recolhida no Facebook.
41º Aniversário do Armistício (11 de Novembro de 1959). Imagem de Foto Tony,
Estremoz. Fotografia gentilmente facultada pelo Núcleo de Estremoz dos
Combatentes da Grande Guerra.

O Monumento
O Monumento aos Mortos da Grande Guerra de Estremoz foi erigido graças à iniciativa da Subagência local da Liga dos Combatentes da Grande Guerra, com o objectivo de evocar os feitos gloriosos praticados em campanha pelos soldados portugueses, bem como homenagear os que na Guerra perderam a vida.
O grupo escultórico foi inspirado na “Defesa do reduto de Le Marais”, segundo descrição do tenente Horácio Assis Gonçalves. Representa um reduto constituído por sacos de terra e grades com arame farpado, semi-destruído pelas granadas inimigas e que se encontra guarnecido por três soldados: um morto, parcialmente enterrado pela parte destruída do reduto; outro de granada na espingarda e de sabre partido, no momento em que é mortalmente atingido; o terceiro manejando a metralhadora.
No Monumento estão patentes inscrições patrióticas em decassílabos, da autoria do poeta estremocense Silva Tavares: - A Pátria é duas vezes nossa mãe; / Dar a vida por ela é morrer bem! - Quem morre pela Pátria atinge a glória, / pois revive nas páginas da história! - A morte só aos fracos intimida; / temer a morte é não honrar a vida! - Não há honra MAIOR na validez, do que de ser soldado português!
O grande impulsionador da construção do Monumento foi o tenente Ernesto Júlio da Graça Gonçalves. A maqueta em barro e em tamanho natural, modelada pelo escultor José Maria da Sá Lemos, Director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, foi fundida em gesso por um fundidor do Porto, tendo posteriormente o grupo escultórico sido vertido em bronze, na Fundição Adelino Sá Lemos, de Vila Nova de Gaia. A cantaria do Monumento foi obra de Caetano José Godinho, de Estremoz.
A inauguração em si
O Monumento aos Mortos da Grande Guerra de Estremoz foi descerrado e inaugurado pelas 10 horas do dia 8 de Setembro de 1941, no Largo dos Combatentes da Grande Guerra, no decurso das Festas à Exaltação da Santa Cruz. Na cerimónia, o primeiro orador foi o tenente Graça Gonçalves, Presidente da Direcção da Subagência de Estremoz da Liga dos Combatentes. Referindo-se à sua intervenção, diz o jornal Brados do Alentejo de 14 de Setembro de 1941. “Terminou, pedindo ao Sr. Presidente da Câmara Municipal, que recebesse o Monumento que em honra dos nossos mortos, acaba de inaugurar, para que a Câmara o guarde e conserve, como símbolo honroso do sacrifício do Soldado Português”- Seguiram-se as intervenções do Presidente da edilidade, Eng.º Manuel Bicker de Castro Lobo Pimentel e do Governador Civil do Distrito de Évora, Dr. Hipólito Fernandes Alvarez.
Terminados os discursos teve lugar a assinatura do auto da Inauguração do Monumento, cujos primeiros subscritores foram o Governador Civil do Distrito e o Presidente do Município, seguindo-se as demais entidades militares, religiosas e civis presentes.
Cerimónias junto ao Monumento
As cerimónias militares promovidas junto ao Monumento, pelo Núcleo de Estremoz da Liga dos Combatentes, têm desde sempre, a estreita colaboração do RC3 e da Câmara Municipal de Estremoz e decorrem anualmente em datas específicas do calendário: - 9 DE ABRIL (DIA DO COMBATENTE), que coincide com o dia da Batalha de La Lys, ocorrida em 1918 na região da Flandres (Bélgica) e na qual os alemães infligiram uma tremenda derrota ao exército português, a maior depois da batalha de Alcácer-Quibir, em 4 de Agosto de 1578; - 16 DE OUTUBRO (DIA DA LIGA DOS COMBATENTES DA GRANDE GUERRA), data em que se assinala a constituição da primeira Direcção da Liga, em 16 de Outubro de 1923; - 11 DE NOVEMBRO (DIA DO ARMISTÍCIO), que comemora o fim simbólico da Primeira Guerra Mundial em 1918, na sequência do Armistício assinado entre os Aliados e o Império Alemão em Compiègne (França), o qual pôs fim às hostilidades na Frente Ocidental e teve efeito às 11 horas da manhã (a undécima hora do undécimo dia do undécimo mês).
O Monumento hoje
Actualmente há muitas pessoas que perderam o sentido do modo com se devem comportar em certos locais e do respeito que é devido aos Monumentos, por aquilo que representam e evocam, como é o caso do Monumento aos Combatentes da Grande Guerra. A culpa não será da Escola, nem tão pouco da Família, mas sim da Comunidade no seu todo, a qual inebriada pela Liberdade conquistada com o 25 de Abril, se demitiu de pôr travão a comportamentos que põem em causa a legitimidade de valores universais, que devem ser preservados e defendidos. Vem isto a propósito de nos últimos tempos, as vitórias da Selecção Nacional de Futebol ou duma equipa vitoriosa no Campeonato ou na Liga, se traduzir na invasão do Monumento e da respectiva placa ajardinada, ao mesmo tempo que um trânsito infernal dá voltas à rotunda. São criadas situações de risco em termos de circulação rodoviária, bem como no Monumento, para o qual alguns, duma forma libertina, pulam e se encavalitam, podendo dele vir a cair, além de que a sua passagem por ali, deixa marcas nos materiais, podendo mesmo originar o desprendimento de alguns dos componentes do Monumento.
Se eu fosse monárquico bradaria: 
- Aqui d’el rei!
Todavia sou republicano e é nessa qualidade que entendo que o Município, responsável pela guarda e conservação do Monumento, deverá tomar providências para que situações como as referidas, não se voltem a repetir. Basta cercar a placa ajardinada com grades móveis e pedir a colaboração da PSP para dissuadir os que entendem ter o direito de ir para ali “abanar o capacete”. O respeito pela Instituição Militar e a Memória dos tombados em combate, merecem isso e desde já agradecem. 

Hernâni Matos

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

António Guterres, Secretário-geral da ONU


António Guterres



Vencer na cena internacional é extremamente complexo, tal a junção de razões conjunturais e estruturais, ainda por cima num mundo mais imprevisível do que nunca. Mesmo para os melhores. Mas quando os melhores ganham é bom, é muito bom. Foi o que aconteceu neste caso.

António Guterres era e é, claramente, o melhor para o cargo. Pelas suas qualidades pessoais, pelo seu currículo na própria ONU, pela capacidade de visão e de equação dos principais problemas universais. Demonstrou-o ao longo de meses na sua candidatura. É certo que com o apoio de um esforço singular de unidade nacional, de uma solidariedade institucional absoluta, de uma diplomacia que teve no primeiro-ministro e, em especial, no ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros um papel estratégico crucial, de uma equipa notável e de um protagonista de exceção, que foi o representante de Portugal na ONU, embaixador Álvaro de Mendonça e Moura. E da voz prestigiada do presidente Jorge Sampaio.

Tudo isto é verdade. Mas António Guterres foi o melhor. Pelo facto muito simples de que é o melhor. De longe. Por isso, a vitória é, em primeira linha, sua. Ou, se quisermos ser justos e prospetivos, da comunidade internacional, que soube perceber o que estava em causa. E teve a coragem de escolher em conformidade.

Termino como comecei: que bom ter ganho o melhor! Quando esse melhor é português, que honra para o Presidente da República de Portugal poder testemunhar e celebrar esse momento histórico.


Hernâni Matos

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A origem, a continuidade e o fim aparente das coisas


A Paixão da Criação (1880),
Leonid Pasternak (1862-1945).


A origem
A água que brota das nascentes.
A lava que irrompe dos vulcões.
Os raios que faíscam dos céus.
As sementes que começam a germinarem.
O choro das crianças que nascem.

A continuidade
A chuva que tomba das nuvens.
Os rios que correm para o mar.
As ondas que rebentam nas praias.
O sol que brilha nos céus.
A luz que se reflecte nas águas.
A vegetação que cresce nos prados.
O ondular das searas nos campos.
As aves que cruzam os céus.
Os coelhos que saltitam nas matas.

O fim aparente
O sol que se põe no horizonte.
O vento que cessa de soprar.
A chuva que pára de cair.
A caruma que seca nos pinhais.
As casas que ruem de velhas.
O amor que seca nos corpos.
Os moribundos que se finam.
O sangue que gela nas veias.
O texto que chega ao fim.
Hernâni Matos

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

56 - Mário Lagartinho, bonequeiro de Estremoz


Pastor das migas.
Mário Lagartinho (1935-2016).
Colecção particular.

Mário Lagartinho (1935-2016) começou a modelar o barro aos 12 anos de idade, na Olaria Regional. A necessidade de aumentar os seus rendimentos, levou-o nos anos 70 do século passado, a confeccionar bonecos de Estremoz, o que fez por auto-aprendizagem a partir de exemplares que lhe foram emprestados, respeitando a manufactura ao modo de Estremoz. Nesta, como é sabido, o todo é criado a partir das partes, recorrendo a três geometrias distintas: a bola, o rolo e a placa, que com tamanhos variáveis são utilizados na gestação de cada boneco. Para tal são coladas umas às outras, recorrendo a barbutina e afeiçoadas pelas mãos mágicas dos artesãos, que lhes transmitem vida e significado.
Mestre Largatinho reproduziu os exemplares do núcleo base do figurado de Estremoz: os protagonistas das fainas agro-pastoris do Alentejo de outros tempos, o quotidiano das gentes, a vida íntima na comunidade, a instituição militar, os santos da Igreja Católica e a comemoração de festas cíclicas. O cromatismo garrido dos seus bonecos é um reflexo natural das claridades do sul. A sua marca de identidade de autor, gravada na base dos bonecos é manuscrita e distribui-se por 3 linhas: Mário / Lagartinho / data. De salientar que Mestre Lagartinho era bonequeiro, mas era sobretudo oleiro e era ele que cavava o barro dos barreiros e o preparava, até este estar capaz de ser afeiçoado pela suas mãos. Os bonecos eram também cozidos em forno de lenha, prática que foi abandonada. Sua esposa, Ana Pascoal Ourelo Lagartinho e Arlindo Ginja viriam a ser seus discípulos.
Esta secção do jornal regionalista Brados do Alentejo, pela qual sou responsável único, é uma trincheira e uma tribuna ao serviço da Candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade. Daí que seja importante referir aqui o papel inestimável de alguém, que foi um elo importante na cadeia de transmissão de saberes: Mestre Mário Lagartinho.

Hernâni Matos

Marca de autor de Mário Lagartinho, gravada na base dos boneco.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Venham mais cinco


Cena da Vida Rural. Alentejo, década de 40. Fotografia de Artur Pastor (1922-1999).

                                                                 À Francisca Matos
                                                                              Grande Senhora da Escrita e das Palavras

Venham mais cinco
  
Um texto é uma mudança de estado no atanor primordial, com o nada transmutado em matéria verbal.

Um texto é o eco continuado do som martelado na bigorna do pensamento. Nem sempre com prazer e por vezes com sofrimento.

Um texto é a reflexão gramatical do que nos vai no coração. Imagens vivas e palpitantes, repletas de emoção.

Um texto é o pretexto para libertar o que nos vai na alma. Umas vezes com raiva, outras vezes com calma.

Um texto é uma rajada de palavras num alvo de papel. Amargas como o piorno ou doces como o mel.
Hernâni Matos

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

MUSEU BERARDO ESTREMOZ: Dar um chouriço a quem lhe dá um porco


Palácio Tocha, em Estremoz.

Na sua reunião de 24 de Agosto, a Câmara Municipal de Estremoz (CME), deliberou por unanimidade, ratificar a assinatura do Protocolo de Cooperação, celebrado no dia 14 de Julho de 2016, entre o Município e a Associação de Colecções (ADC), que visa a realização de exposições de arte da "Colecção Berardo", no edifício propriedade da ADC, denominado "Palácio Tocha" e que passará a ser denominado "Museu Berardo Estremoz". Na assinatura do Protocolo, a CME esteve representada pelo Presidente Luís Mourinha e a ADC pelo Presidente do Conselho de Administração, o empresário José Berardo.
Nos termos dos respectivos pressupostos, o Protocolo visa colocar o concelho entre os destinos de lazer de maior sofisticação, capaz de aliciar um turismo de qualidade, que contribua para o seu crescimento económico. O Protocolo encontra-se ligado e só será válido e definitivo com a aprovação do projecto de candidatura ao abrigo dos apoios financeiros comunitários do Portugal 2020, no âmbito da reabilitação daquele Palácio, com vista à instalação do referido Museu. A validade do Protocolo é de 5 anos, com início na data de abertura do Museu e renovável automaticamente por iguais períodos, caso não seja denunciado por qualquer das Partes.

Obrigações da Associação de Colecções
A ADC obriga-se a: - Disponibilizar o Palácio para o funcionamento do Museu a título gratuito; - Assegurar a disponibilidade das obras integrantes das colecções que compõem a "Colecção Berardo" para serem expostas no Museu; - Ceder gratuitamente as obras de arte que vierem a compor as exposições; - Apoiar a gestão cultural do Museu através do acompanhamento da concepção, produção e montagem das exposições em articulação com a Direcção do mesmo; - Ceder todas as informações relativas às obras de arte, nomeadamente, fichas de inventário, fotografias e pareceres técnicos; - Prescindir de todas as receitas de visitas ao Museu; - Negociar com terceiros os serviços de exploração da loja, cafetaria, livraria e serviços similares, de acordo com a organização espacial do edifício; - Fixar as rendas dos estabelecimentos de apoio ao Museu, que venham a ser instalados no espaço físico do Palácio; - Implementar um circuito de vídeo vigilância digital, de monitorização e controlo via internet, mediante equipamento assegurado no âmbito do projecto de reabilitação; - Contratar e manter em seu nome um seguro de responsabilidade civil que cubra todos os riscos relativos ao Palácio; - Contratar e manter em seu nome e no da "Colecção Berardo" um seguro de responsabilidade civil que cubra, em cada momento, todos os riscos de perecimento, furto e roubo das obras de arte armazenadas no Palácio.

Obrigações da Câmara Municipal de Estremoz
A CME obriga-se a: - Pagar todos os custos de manutenção do Museu (Água, luz, aquecimento, ventilação, ar condicionado, telefone, internet, elevador, etc.); - Contratar e custear os vencimentos do pessoal afecto ao Museu [Director (1), Assessor do Director (1), Serviço Educativo (2), Assistentes de sala (2), Recepção e bengaleiro (2)]; - Pagar todas as despesas relativas a serviços que sejam realizados por empresas exteriores (Vigilância, Segurança, Contabilidade, Limpeza, Manutenção de elevadores, Manutenção geral do edifício, etc.); - Efectuar a gestão geral e cultural do Museu; - Conceptualizar, produzir e divulgar um plano de comunicação do Museu, que crie notoriedade e um posicionamento consistente, quer do produto museológico e expositivo, quer da zona de influência onde está enquadrado, explorando as suas potencialidades de Turismo Cultural; - Assegurar a colocação de sinalética direccional no concelho e se possível nos concelhos vizinhos; - Pagar a despesa total relativa à Produção das exposições (Embalagem e acondicionamento das obras de arte, transporte, seguros por período a determinar, desembalagem ou abertura de caixas, montagem da exposição, material museográfico, informativo e comunicativo, etc.); - Estabelecer relações com terceiros em nome do Museu; - Negociar com terceiros os serviços de dinamização do Museu (Organização de exposições temporárias, serviço educativo, seminários, colóquios, workshops, etc.); - Contratar e manter em seu nome e no da "Colecção Berardo" um seguro de responsabilidade civil que cubra, em cada momento, todos os riscos de perecimento, furto e roubo das obras de arte expostas no local; - Usar de toda a diligência para que a utilização, temporária ou permanente, do espaço envolvente do Palácio não perturbe, mas antes assegure, a dignidade do Museu.

Proveitos
Pertencerão à ADC todas as receitas provenientes das rendas dos estabelecimentos de apoio ao Museu, bem como as resultantes de eventuais concessões. Pertencerão à CME todas as receitas de visitas ao Museu, cujo preço será por ela fixado.

Comentários Finais
Estou convicto de que o Protocolo celebrado entre a CME e a ADC, é uma espécie de vaselina que procura facilitar a entrada dos apoios financeiros comunitários do Portugal 2020. Para além disso, gostaria de ter a certeza e não tenho, de a edilidade estremocense se ter dado ao trabalho de com métodos de modelização, procurar quantificar em termos prováveis, não só as receitas, como também as despesas. Daí que me sinta grandemente frustado com os pressupostos do Protocolo, já que me parece que o empresário José Berardo, se prepara para dar um chouriço, a quem lhe dá um porco.

Hernâni Matos

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Salvemos a olaria de Estremoz!


Mestre Mário Lagartinho (1935-2016).


Eu e a olaria de Estremoz  (17-04-2022)
Produção olárica de Estremoz comercializada como recordação de Évora (23-01-2022) 
Cafeteira falante de Estremoz (16-01-2022) 
Parabéns, Benfica! (10-10-2021)