segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

O Benfica na cerâmica de Redondo

 

Prato covo, falante, de médias dimensões (40 cm x 28,5 cm x 6,5 cm), em barro
vermelho, vidrado, de Redondo. Decoração com pintura que exalta o contributo de
dois bem conhecidos jogadores nas vitórias do SLB. Produzido entre 1985 e 1987.

Eu, benfiquista me confesso
Nasci numa família benfiquista e nunca tive razões para não o ser. Mesmo que o clube saia derrotado e não ganhe a taça em disputa, eu continuo benfiquista. Sou benfiquista de alma e coração. Vermelho por dentro e vermelho por fora. “Benfica até debaixo de água”, como proclama a “Marcha dos campeões”.
Respigador nato de tudo aquilo que me aquece a alma, encontrei à venda o prato que é objecto do presente texto. Foi tiro e queda. Quando o vi, disse para comigo:
- Este prato vai ser meu!
E foi. É desse prato que passo a falar.

Estudo do prato
Trata-se de um prato covo de médias dimensões (40 cm x 28,5 cm x 6,5 cm), em barro vermelho, vidrado, de Redondo. Não ostenta qualquer marca de oleiro no tardoz e a sua atribuição a Redondo, resultou da observação cuidada do barro, que me levou a concluir ter composição com as características bem conhecidas do barro da Vila de Redondo. Põe-se seguidamente a questão da datação do mesmo, a qual deixarei para mais tarde.
Trata-se de um prato falante, já que ostenta na parte superior da aba, a palavra “BENFICA” e na parte inferior da aba, as palavras “CARLOS / MANUEL” e “RAUL / AGUAS”, nomes de dois antigos jogadores do Benfica, representados no fundo do prato como duo de ataque, estando Raul Águas na posse da bola. A metade inferior do prato é verde, a cor do relvado. A metade superior é azul claro, a cor do céu. Num plano atrás dos jogadores, vêem-se desfraldadas ao vento, bandeiras supostamente de clubes que o Benfica derrotou na época em que foi produzido o prato, cujo bordo apresenta a cor natural do barro.

Datação do prato
Irei procurar datar o prato, recorrendo a dados futebolísticos.
Carlos Manuel (1958 - ) jogou como médio pelo SLB no período 1979-1987 e Rui Águas (1960 - ) jogou como avançado na mesma equipa, no período 1985-1988. Deste modo, os dois jogadores foram colegas de equipa nos anos de 1985, 1986 e 1987. Nesse período, O SLB venceu a “Primeira Liga” em 1986/1987, a “Taça de Portugal” em 1985/1986 e em 1986/1987 e, a “Supertaça Cândido dos Reis” em 1985. Sou levado a concluir que o prato que exalta o contributo daqueles dois jogadores nas vitórias do SLB, terá sido produzido em 1985, 1986 ou 1987.

domingo, 16 de janeiro de 2022

Cafeteira falante de Estremoz


Cafeteira falante com decoração polida, fitomórfica, com ramos e folhas de uma
planta não identificada. Ostenta no bojo, a inscrição em maiúsculas “CENTENÁRIO /
/ PINHAL – NOVO / 1874-1974”, riscada no barro. Comemorativa do 1º centenário
de conclusão das obras da Capela de São José naquela localidade. Fabrico de
olaria de Estremoz, não identificada.

Prólogo
O exemplar olárico que é objecto do presente texto, pompeia no bojo uma inscrição com duas datas, cuja presença importa descodificar.

Decifração da inscrição
1874 foi o ano da conclusão das obras da Capela de São José em terreno doado à população de Pinhal Novo para a construção de uma capela e para a realização de festejos. A doação foi efectuada em 18 de Julho de 1872 por José Maria dos Santos, lavrador, proprietário, deputado e Par do Reino, Vice-Presidente da Assistência Nacional aos Tuberculosos, membro da Direcção da Associação Central da Agricultura Portuguesa, o qual revolucionou a agricultura em Portugal e foi o responsável pela introdução de adubos químicos no país.
A data de 18 de Julho de 1872 corresponde ao primeiro acto público verdadeiramente importante para a vida da localidade. A história da formação da freguesia remonta ao ano de 1833, data em que já existiria o Círio da Carregueira, presumivelmente a mais antiga manifestação de organização em Pinhal Novo.
A Freguesia de Pinhal Novo foi criada em 7 de Fevereiro de 1928, pelo decreto nº 15004, tendo ascendido à categoria de Vila em 1988 pela Lei Nº45/88, de 19 de Abril de 1988.
A Paróquia foi criada em 22 de Novembro de 1964, por decreto do Cardeal Patriarca de Lisboa.
A freguesia de Pinhal Novo pertence ao concelho de Palmela, distrito de Setúbal. Ocupa uma área de 55,84 km² e de acordo com o censo de 2021 tem 27.010 habitantes, o que corresponde a uma densidade populacional de 483,7 hab./km2.

Epílogo
A cafeteira em barro de Estremoz, da qual venho falando, pertence a um conjunto encomendado não se sabe se pela Paróquia se pela Junta de Freguesia de Pinhal Novo, a uma das olarias de Estremoz existentes na época: a Alfacinha ou a Regional, não sendo possível apurar qual terá sido.
Trata-se de um exemplar de olaria falante cuja marca refere um topónimo (PINHAL NOVO), que não coincide com o local de fabrico (ESTREMOZ). Não é caso único. Pessoalmente conheço exemplares onde figuram os topónimos CASTELO DE BODE, ELVAS e ÉVORA e decerto haverá outros mais. Fui informado que tais inscrições ou eram de locais onde as olarias de Estremoz iam vender ou de onde recebiam encomendas que vinham a ser carregadas em Estremoz.

BIBLIOGRAFIA
PINHAL NOVO, Junta de Freguesia de. História de Pinhal Novo. [Em linha]. Disponível em
https://www.juntapinhalnovo.pt/territorio/historia . [Consultado em 16 de Janeiro de 2002].

domingo, 9 de janeiro de 2022

Aníbal Falcato Alves, ceramista



Fig. 1 - Alegoria à produção de vinho. Colecção do autor.

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É sabido que sou um recolector nato de tudo aquilo que me aquece a alma, o que me faz deambular entre o real e o virtual. Numa dessas caminhadas, tive o privilégio de interactuar com a jornalista Alexandra Tavares-Teles, que sem o saber, usufruía da felicidade de ter na sua posse dois pratos de louça de Redondo (Fig. 1 a Fig. 4), de grandes dimensões, os quais haviam chegado às suas mãos por oferecimento de mãos amigas. E digo privilégio, visto que aquela interacção me permitiu conhecer um aspecto, até então desconhecido do autor dos mesmos, um amigo cuja Memória me é muito grata: o Aníbal Falcato Alves (1921-1994), que me deu a prerrogativa de ser seu amigo, era eu um adolescente e ele já quarentão.
O Aníbal foi caixeiro, livreiro, jornalista, escritor, professor, arqueólogo, etnólogo, fotógrafo, artista plástico e não sei quantas coisas mais, a que há a acrescentar, o seu grande amor ao Povo e ao Alentejo que o viu nascer.
Dele tenho desenhos, linoleogravuras, xilogravuras, colagens, que ele entendeu por bem oferecer-me, já que das suas mãos mágicas não saía arte para vender, mas apenas para partilhar com os amigos.
Da interacção ocorrida com aquela jornalista, resultou que um dos pratos (Fig. 1 e Fig. 2) me foi oferecido por ter partilhado com a sua possuidora, a Memória até então para ela desconhecida, de quem era o Aníbal Falcato Alves.
Mas as coisas não ficaram por aqui. Passado algum tempo encontrei à venda no Mercado das Velharias em Estremoz, outro prato do Aníbal (Fig. 5 e Fig. 6), que integrava um recheio de casa adquirido por um comerciante de velharias. Naquele dia cheguei ao Mercado já o sol ia alto. Azar meu. É que o meu prato tinha um companheiro (Fig. 7 e Fig. 8), que fora adquirido por Cristina Carvalho, pouco depois do romper da aurora.
As conclusões óbvias disto tudo são que o Aníbal também foi ceramista e que graças ao mundo ser pequeno e às voltas que o mundo dá, eu tenho o grato prazer de ter na minha colecção, dois pratos do Aníbal, coisa que jamais me passou pela cabeça. Também não é descabido concluir que me devia passar a levantar mais cedo, para não ver fugir as coisas que me aquecem a alma.




Fig. 2 - Pormenor do prato da Fig. 1.


Fig. 3 - Cavador a fumar. Colecção Alexandra Tavares-Teles.


Fig. 4 - Pormenor do prato da Fig. 3.


Fig. 5 - Burro a perseguir pomba com ramo no bico (Possível alegoria). Colecção do autor.


Fig. 6 - Pormenor do prato da Fig. 5.


Fig. 7 - Ninho de Pombos. Colecção Cristina Carvalho.


Fig. 8 - Pormenor do prato da Fig. 7.

domingo, 2 de janeiro de 2022

Uma carta fora do baralho


FIg. 1 - Lote de bonecos de Estremoz adquiridos por Jorge da Conceição no OLX.


Prólogo
Pode parecer um pouco estranho, intitular um texto de barrística de Estremoz, com uma bem conhecida frase idiomática, que aplicada a alguma coisa lhe confere conotação pejorativa por a depreciar. Todavia, a leitura do presente texto, revela que pode não ser assim.

Bonecos comprados no OLX
O barrista Jorge da Conceição colecciona Bonecos de Estremoz, confeccionados pelo avô Mariano da Conceição, pela avó Liberdade da Conceição e pela mãe Maria Luísa da Conceição. Recentemente adquiriu um lote de 3 Bonecos no OLX (Fig. 1), minutos antes de eu dar por eles. Tratava-se das bem conhecidas figuras “Mulher a lavar a roupa” e “Mulher a dobar” da autoria de seu avô e ostentando na base, a bem conhecida marca ESTREMOZ/PORTUGAL, inclinada [i] (Fig. 2). A eles há a acrescentar um terceiro Boneco (Fig. 4), o qual me foi dispensado por aquele barrista, visto não ser do seu interesse. Dele falarei mais adiante.

Produção de Bonecos de Estremoz na Escola Industrial António Augusto Gonçalves
Os bonecos e as peças de olaria produzidos na Escola Industrial de António Augusto Gonçalves eram vendidos pela Escola, funcionando assim como receita da mesma. Os alunos da Escola recebiam por isso salário, de acordo com notícia do jornal Brados do Alentejo [ii], em 1935. Quando a Escola, designada Escola Industrial e Comercial de Estremoz desde 1948, transitou para o Castelo onde actualmente funciona a Pousada da Rainha Santa Isabel, os alunos continuaram a poder participar na manufactura de Bonecos de Estremoz para vender aos turistas. É o que nos diz o artigo “Primeiro passo: a estante” inserido no “Diário”19 da Escola Industrial e Comercial de Estremoz, Ano I, nº 57, 28 de Março de 1954 [iii] (2): “Dentro de horas, será inaugurada, ao cimo da escadaria principal da Escola, uma estante. E logo dentro dela surgirão Bonecos de Estremoz, moringues e pucarinhos para vender aos visitantes da torre, que todos os dias são numerosos.
Assim se inicia a grande campanha de angariação de fundos para a compra do que à Escola faz falta, para ser completa a acção cultural e pedagógica.
Dentro de dias, serão convidados alunos de maior mérito artístico a dar a sua colaboração, fornecendo a Escola os materiais e pagando ainda, embora com pouco dinheiro, a mão de obra.
Conseguiremos assim, antes das férias grandes, um enorme sortido de lembranças que, enquanto estivermos a descansar, irão creando dinheiro para, quando voltarmos, então poder-mos dar início às nossas compras.
Mas podem haver outras ideias. Elas que venham, pois muitas cabeças a pensar será concerteza melhor do que uma só.”

A marcação dos Bonecos da Escola
Os Bonecos comercializados pela Escola, ostentavam a marca do carimbo “ESTREMOZ / PORTUGAL” (2 cm x 0,8 cm) (Fig. 3). Trata-se do carimbo mais usado por Mariano da Conceição. O carimbo, foi de resto utilizado por sua mulher Liberdade da Conceição, sua filha Maria Luísa da Conceição e seu neto, Jorge da Conceição. Como estes quatro membros do clã alfacinha usaram todos esta marca, só a tipologia de modelação e/ou de decoração, permite identificar o autor de um determinado boneco com a referida marca.
Mariano não terá usado em exclusivo o carimbo de que venho falando, já que no Museu Municipal de Estremoz existem exemplares da aquisição feita à Escola Industrial António Augusto Gonçalves em 1941, que ostentam a marca do citado carimbo e não apresentam as características da modelação de Mariano. Trata-se de figuras afeiçoadas por alunos e que eram também comercializadas pela Escola.

Um boneco singular
O terceiro Boneco (Fig. 4) é um exemplar que não pertence aos chamados “Bonecos da Tradição”, conjunto de cerca de 100 figuras que através dos tempos, têm sido produzidas pela maioria dos barristas.
Trata-se de um pastor de chapéu aguadeiro na cabeça, com a perna esquerda ajoelhada e a perda direita dobrada e assente no solo. Usa safões que lhe protegem as pernas e samarra que lhe protege o peito, as costas e o traseiro. À sua direita tem o cajado assente no solo. À frente tem um tarro com comida. A mão direita empunha uma colher e a mão esquerda apoia-se na perna direita.
Trata-se de uma figura extraída da parte de um todo que é lhe anterior, figura essa conhecida por “Maioral e ajuda a comer” [iv] (Fig. 6). Na base figura a marca manuscrita “Estremos / Portugal”.
Uma vez que esta figura integrava o lote adquirido pelo barrista Jorge da Conceição, na qual existiam dua figuras do seu avô, Mestre Mariano da Conceição, sou levado a admitir que possam ter sido adquiridas na Escola e esta última tenha sido produzida por um aluno. Não há dúvida que se trata de uma figura singular, já que o autor produziu um Boneco que não se integra no chamado conjunto dos Bonecos da Tradição, além de que pompeia manuscrita, a marca “Estremoz / Portugal”, o que é invulgar. Daí lhe termos atribuído o epíteto “Uma carta fora do baralho”, recorrendo a uma bem conhecida frase idiomática, que integra a gíria popular portuguesa.

Epílogo
O presente texto ficaria incompleto, se não se atribuísse um nome à figura que está na sua origem. Ora, uma vez que ela é uma parte da bem conhecida figura composta “Maioral e ajuda a comer”, julgo não ser despropositado chamar-lhe “Maioral a comer”.





[i] A inclinação da marca deve-se ao facto de ela ser obtida pela percussão de um carimbo, constituído por duas filas de caracteres tipográficos verticais, ligados por um fio que ao dar de si, permitiu que as letras da marca ficassem inclinadas.
[ii] Escola Industrial António Augusto Gonçalves in Brados do Alentejo nº 239, 25/08/1935. Estremoz, 1935 (pág. 1).
[iii] O “Diário” era dactilografado a preto e com títulos a vermelho, Os cabeçalhos eram desenhados pelos alunos com mais jeito para desenho. Em todos os cabeçalhos figurava do lado esquerdo, um carimbo batido a preto, que funcionava como logótipo da Escola. Nele figuram um moringue e um púcaro, simbolizando o Curso de Olaria. Aparecem ainda um picão, uma maceta e um escopro, simbolizando o Curso de Cantaria. O conjunto é completado por um ramo de uma planta não identificada, sendo encimado pela legenda “ESCOLA IND. E COMERC. DE ESTREMOZ”, ao longo de um círculo. As datas de publicação do Diário foram as seguintes: Ano I - nº 1 - 9/2/1954, até nº 103 -23/6/1954; Ano II - nº 1 -1/10/1954, até nº 194 - 18/6/1955.
[iv] Na “Tabela de Preços dos Bonecos de Estremoz” da extinta olaria Alfacinha, existe uma figura composta, designada por “Pastores a merendar”. A meu ver, trata-se de uma designação inadequada, já que a representação de dois pastores a comer, não permite concluir se eles estão ou não a merendar. Para além disso, aquela designação não traduz a existência de uma hierarquia entre eles. Daí, que a meu ver, a designação mais adequada para a composição seja “Maioral e ajuda a comer”.

Fig. 2 - Marca de carimbo" ESTREMOZ / PORTUGAL", com as letras inclinadas.

Fig. 3 - Marca de carimbo" ESTREMOZ / PORTUGAL", com as letras na posição normal.


Fig. 4 - Maioral a comer.

Fig. 5 - Marca manuscrita "Estremos / Portugal".  


Fig. 6 - Maioral e ajuda a comer. Mariano da Conceição. Museu Rural de Estremoz.

domingo, 26 de dezembro de 2021

Cruz templária em alguidar de Redondo

 

Alguidar em barro vermelho vidrado, de Redondo.


Ao meu caro amigo Dr. Carmelo Aires,

que reúne em si duas qualidades ímpares:
a de ser o maior coleccionador de cerâmica de Redondo
e simultaneamente ser o maior especialista do tema:


Prólogo
Como é sabido, o alguidar é um recipiente de barro, madeira, metal ou plástico, cuja boca tem muito maior diâmetro que o fundo. Tem múltiplas funcionalidades: conter líquidos ou sólidos e servir para lavar, amassar, etc. Têm particular interesse para mim, os alguidares em barro vidrado de Redondo, que estiveram na origem do presente texto.
A sabedoria popular
Devido às suas múltiplas funcionalidades, a sabedoria popular reconhece a importância do alguidar, o que está consignado no provérbio recolhido pelo padre António Delicado (3): "A arma e o alguidar não se hão-de emprestar". Dele é conhecida a variante "A mulher e o alguidar não se hão-de emprestar" e esta outra, que sintetiza as duas formulações anteriores: "A arma, a mulher e o alguidar, não são coisas de emprestar".
O alguidar figura ainda em provérbios populares portugueses, tais como: “Por um dedal de vento não se perca um alguidar de tripas” e “Perda de marido, perda de alguidar; um quebrado, outro no seu lugar”.
Uma decoração singular
O alguidar que é objecto do presente escrito, tem uma decoração predominantemente constituída por escorridos cremes, mas apresenta também algumas pinceladas a verde.
Nos escorridos cremes é possível considerar duas partes distintas:
1 - A primeira é constituída pelos quatro braços de uma cruz que imaginariamente se intersectam no centro do fundo do alguidar. A cruz tem as pontas convexas mais amplas no seu perímetro do que no centro, configurando "patas", daí ser uma cruz pátea, mais precisamente uma cruz pátea arredondada;
2 - A segunda é constituída por arcos duplos, dispostos entre os braços da cruz.
A cruz pátea aqui referida, quando em vermelho, é a cruz da Ordem dos Templários em Portugal, cujo simbolismo traduz os votos de pobreza, castidade, devoção e obediência, a que estavam obrigados os membros da Ordem.
As pinceladas a verde povoam as pontas convexas da cruz, formando como que tufos.
Epílogo
No meu dia a dia, na interacção com o mundo circundante, falo com os outros, falo comigo próprio, escuto o que os outros me dizem e o que digo a mim próprio. Todavia, ouço também as estórias que as coisas têm para me contar. Esta é a estória que me foi contada por um alguidar que tem muito que contar, dada a sua idade, as múltiplas funcionalidades, o simbolismo da sua decoração e as coisas que ouviu da boca do povo.

BIBLIOGRAFIA
(1) - CHEVALIER; Jean; Alain Gheerbrant, Alain. Dicionário dos Símbolos. Editorial Teorema. Lisboa, 1994.
(2) - CIRLOT, Juan Eduard. Dicionário de Símbolos. Publicações Don Quixote. Lisboa, 2000.
(3) - DELICADO, António. Adagios portuguezes reduzidos a lugares communs / pello lecenciado Antonio Delicado, Prior da Parrochial Igreja de Nossa Senhora da charidade, termo da cidade de Euora. Officina de Domingos Lopes Rosa. Lisboa, 1651.
(4) - MACHADO, José Pedro. O Grande Livro dos Provérbios. Editorial Notícias. Lisboa, 1996.
(5) - MARQUES DA COSTA, José Ricardo. O Livro dos Provérbios Portugueses. Editorial Presença. Lisboa, 1999.


sábado, 25 de dezembro de 2021

Pomba de Paz

 

Pomba de Paz. Prato de Redondo. Autor desconhecido.

Ao inventariar a minha colecção de cerâmica de Redondo, encontrei um prato de pequenas dimensões, com aba enfeitada por arcos cheios numa tonalidade de azul e que emolduram tufos amarelos. No fundo, uma pomba em azul e com asas e bico em amarelo, transporta nas patas um ramo verde de folhas de oliveira.
A cor azul está associada à tranquilidade, serenidade, harmonia e paz, pelo que partilha alguma simbologia própria da cor branca, a qual também reflecte calma e paz. A pomba representada no prato constitui assim uma alegoria evidente à Paz, pelo que poderá ser considerada uma “Pomba de Paz”, tal como as da série de desenhos criados por Pablo Picasso para simbolizar a Paz no pós-Segunda Guerra Mundial.
Nas religiões judaica e cristã, uma pomba branca é uma alegoria da Paz. Trata-se de uma interpretação com origem no Antigo Testamento: Depois do Dilúvio, Noé terá solto uma pomba para que encontrasse terra. A pomba terá voltado, carregando um ramo de oliveira no bico, levando Noé a concluir que o nível das águas tinha baixado e novamente havia terra para o Homem. (Génesis 8:11).

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Um Presépio da boniqueira Joana



Presépio da boniqueira Joana Santos

boniqueira Joana Santos criou recentemente um Presépio que nos aquece a alma e quando o divulgou ainda em cru, prendou-nos com uma estória a que chamou “QUEM CONTA UM CONTO…”. Deliciei-me então com a leitura da estória e logo ali resolvi alinhavar palavras sobre aquilo que tinha visto e lido, o que aqui transcrevo:

A Joana é uma dupla contadora de estórias, já que indistintamente as escreve com barro e as modela com palavras. Todavia, não é uma contadora de estórias qualquer, nem as suas estórias são do género "Maria vai com as outras".
A Joana é uma extraordinária contadora de estórias que nos concede o privilégio de lhes acrescentar os pontos que muito bem entende por ditame da sua alma.
A Joana é uma criadora de primeiras águas e nós, os seus admiradores, estamos-lhe gratos por isso e ficamos felizes por toda a beleza que partilha connosco.
Obrigado Joana, por ser feita da massa que é.
Obrigado.
Obrigado, Joana.