domingo, 4 de abril de 2021

Hernâni, Homem de Cultura!


Renato Valadeiro. Funcionário autárquico.
 

Décimas dedicadas a Hernâni Matos
pelo poeta popular Renato Valadeiro


HERNÂNI, HOMEM DE CULTURA!

 
Faz anos que o conheci
Amigo que no tempo perdura
Por isso é que eu digo aqui
Hernâni, homem de cultura!
 
Soube que foi professor
A mim não me leccionou
De estudar não se cansou
O que faz é por amor.
Deixo-lhe assim o louvor
Porque eu nunca fingi
Enquanto assim eu cresci
Descobrindo coisas boas
Foi uma dessas pessoas
Faz anos que o conheci.
 
Sempre ele me convidava
Para os encontros de poetas
Queria atingir suas metas
Em tudo o que organizava.
Ninguém sequer o calava
Tinha até certa “bravura”
Quando alguma criatura
As voltas, lhe queria trocar
Vou então sempre afirmar
Amigo que no tempo perdura.
         
Também ele se dedica
À arte da Filatelia
E cada evento que cria
De coração cheio se fica.
Há mesmo quem o critica
Mas eu jamais percebi
Porque se o Sujeito segui
Sei que sabe muito de História
Não me sairá da memória
Por isso é que eu digo aqui.
 
E no blogue onde escreve
Pode-se provar ser verdade
Falar sobre esta cidade
Só como ele sabe e se atreve.
Que um dia destes se eleve
Para lembrança futura
Justa homenagem em escultura
Deste Ser mui sabedor
Dando-lhe o devido valor
Hernâni, Homem de Cultura!

Renato Valadeiro
Estremoz, 14 de Março de 2021

sexta-feira, 2 de abril de 2021

O jogo ainda não acabou!


José Gonçalez. Fadista. Radialista. Fotografia de Márcia Filipa Moura.

Falar do Prof. Hernâni Matos foi o desafio colocado. Talvez eu possa dizer que não é muito difícil falar do Prof. Hernâni, como possa dizer que não é muito fácil falar do Prof. Hernâni. Não porque a vida do Prof. se me afigure uma antítese ou algo que é alguma coisa e o seu contrário. Não. Vou tentar explicar. Não é fácil falar do Prof. Hernâni porque nunca foi meu professor, nunca tive com ele um relacionamento, estreito ou muito próximo e nunca desenvolvi com ele nenhuma actividade cultural ou social.

A nossa relação foi sempre a de duas pessoas que se conhecem, sabem quem são e se respeitam. Por isso, não me será difícil falar sobre o Prof. Mas, ao mesmo tempo, não me é fácil falar do Prof. Hernâni porque nem sei de quando o conheço. Conheço-o de sempre. Conheci muito bem o seu Pai, amigo do meu Pai e visita habitual da antiga Sociedade Columbófila de Estremoz. E lembro-me de o ver nos jogos do Hóquei também! Do Prof. sempre ouvi também falar do acidente que teve, de como Estremoz viveu esse acontecimento e como o Prof. recuperou.
Não será difícil conhecer o Prof. Hernâni porque o seu trabalho é publico e notório. Não falo da sua profissão e da sua dedicação à causa, seguramente. Não. Falo das questões políticas e culturais. Na política cruzei-me com o Prof. várias vezes, tive o enorme gosto e honra de o entrevistar na “minha Rádio Despertar” em várias ocasiões e de ter percebido a sua dimensão humana e intelectual. Creio que a nossa primeira conversa foi com o Dr. Dias Sena, quando este foi candidato à Câmara Municipal de Estremoz. Lembro-me de várias conversas, lanches até, recordo mesmo uma tarde com o Eng.º Vítor Silva, entre outros, no quiosque do Rossio Marquês de Pombal, dias depois de o Dr. José Dias Sena ter sido eleito Presidente e se preparar mais uma edição da FIAPE… Mas, como sempre vi o Prof. Hernâni, para lá do seu grave vocal, foi a de um homem sonhador, dedicado, estudioso, trabalhador, historiador. Envolvido e envolvente.
Leio atentamente o seu blogue “Do Tempo da Outra Senhora” e alegra-me muito que alguém se preocupe com o nosso passado colectivo, neste caso muito focado em Estremoz, nas suas gentes, nos seus hábitos, tradições e costumes. Está a fazer História, está a deixar História e está sobretudo a deixar ferramentas às gerações vindouras. Um trabalho importantíssimo e de grande mérito.
Lembro-me do Prof. igualmente pela sua paixão à Filatelia. Por culpa sua, ao ver uma exposição, comecei uma colecção de selos. Não tenho muitos, tenho alguns, mas o coleccionador ficou, há muito, pelo caminho. Mas mantive os selos.
Por fim, acompanhei e acompanho, o seu excelente trabalho desenvolvido à volta da barrística de Estremoz, aos “Bonecos”, do seu apoio, entrega e paixão a esta arte tão enraizada na Cidade de Estremoz, que lhe vale hoje a sua elevação a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Por tudo isto e por tanto mais com certeza, não se pode afigurar difícil falar sobre o Prof. Hernâni, a exposição pública das suas actividades, a sua acção pública e empenhada pela valorização e perpetuação, mesmo a um nível antropológico da História de Estremoz e das suas gentes, bem como a sua intervenção política. Tudo isto fez e faz, com que o Prof. Hernâni não seja mais um na bancada a assistir aos jogos. Sempre o vi em campo. Em vários campos e é assim que espero continuar a vê-lo por muitos mais anos. Assumindo as suas lutas, trabalhando e partilhando as suas obras.
Prof., o “jogo” ainda não acabou, meu caro. Não será um homem consensual, nem poderia ser. As pessoas que abraçam causas e dão a cara por crenças, nunca o serão. O meu abraço e da minha parte muito obrigado pelos seus excelentes trabalhos e dedicação!

José Gonçalez

Estoril, 10 de Março de 2021

quarta-feira, 31 de março de 2021

MANIFESTO PRÓ-HERNÂNI à maneira de Almada, com PIM e tudo!

 
Francisca de Matos. Professora. Foto de Luís Mariano Guimarães.

MANIFESTO PRÓ-HERNÂNI
à maneira de Almada, com PIM e tudo!
 
O Hernâni tem alma de azinheira que nos montes enfrenta a ventania de igual para igual!
O Hernâni é homem de paixões arrebatadas: pelo Alentejo, por Estremoz, pela cultura popular que coleciona com a voracidade de quem sabe que daquilo já não há quem faça mais!
O Hernâni é guardião de tesouros e preciosidades de antanho, das memórias de um tempo que já não existe, mas que é preciso não esquecer, tanto pelas boas como pelas más razões.
 
 Viv’ó Hernâni, Viva!
 
O Hernâni é incansável! Como Sísifo, move pedregulhos, escava este mundo e o outro com afinco, uma e outra vez, à procura das certezas que o seu instinto lhe diz que existem e que acaba por, mais cedo ou mais tarde, encontrar!
O Hernâni fez da escrita uma arma de pontaria certeira para lembrar que o passado define quem somos e que não o podemos descartar sob pena de perdermos a nossa identidade cultural e coletiva!
O Hernâni é uma instituição, a memória viva de Estremoz, das suas gentes e das suas tradições!
 
Viv’ó Hernâni, Viva!
 
O Hernâni faz pontaria aos dantas deste mundo de cabeça erguida e sem pedir licença por ser como é!
O Hernâni diz o que pensa e o que sente, sem subterfúgios, doa a quem doer, e ganhou o direito de o fazer porque tem feito muito pela sua terra. Só é pena que, como diz o rifão, “santos da casa não façam milagres”!...
 
Viv’ó Hernâni, Viva!
 
O Hernâni levou longe a sua paixão pela filatelia! Foi nesta fase que o conheci e testemunhei o seu empenho e iniciativa na realização de eventos que projetaram Estremoz a nível nacional e internacional!
O Hernâni dinamizou, durante anos, um espaço aberto a colecionadores e artistas, um espaço de diálogo, de encontro e de partilha que muito animou a cidade e que a cidade não deveria esquecer!
Na verdade, uma cidade que tem a força motriz de um Hernâni que não consegue estar quieto nem um segundo e que a todo a hora faz propostas e lança ideias cuja primeira intenção é valorizar e melhorar a terra em que nasceu deve, no mínimo, estar reconhecida pela sua existência!
 
Viv’ó Hernâni, Viva!
 
Mas o Hernâni tem um amor maior, um amor da idade madura, daqueles que nascem da certeza e do saber e, por isso, são à prova de bala. Amor alimentado pela experiência, pelo conhecimento e, sobretudo, pelas suas próprias raízes culturais: os bonecos de Estremoz!
Por este amor tem feito das tripas coração, tem até engolido sapos, o que só confirma a fortaleza e a grandeza dos seus sentimentos!
Por este amor, o Hernâni tem construído um sólido enquadramento teórico que ficará para a posteridade e que lhe permite, como a qualquer apaixonado, tomar a liberdade de ousar!
O Hernâni tem sido candeia que vai à frente: questiona ideias feitas, desafia convenções, desafia artesãos! E estes respondem-lhe à letra para gáudio e satisfação do seu coração - que nessas alturas é de menino! - que mais não poderia desejar! E respondem aos seus desafios por saberem que ele respeita e valoriza a sua arte como poucos!
 
Viv’ó Hernâni, Viva!
 
O Hernâni e eu fomos colegas de profissão e, nas voltas do tempo, aprendemos a conhecer-nos. Aprendi que o Hernâni, por detrás daquela força da natureza que o ajuda a levantar-se sempre que a vida lhe prega uma partida é um homem empenhado, ativo e de grande sensibilidade. Quase sem dar por isso, tornámo-nos amigos e assim nos temos mantido até hoje (o diabo seja cego, surdo e mudo!)! A amizade que nos une é genuína e merece sempre retribuição! Sim, porque amigos não há muitos e como o Hernâni, então, são muito raros!
 
Por isso
Viv’ó Hernâni, Viva!

PIM!

Francisca de Matos
Estremoz, 7 de Março de 2021

 Francisca de Matos no decurso da sua palestra Até amanhã, Manuel Tiago" ou o
 neo-realismo como projecto de resistência, proferida na Sala de Exposições do
Centro Cultural de Estremoz, em 13 de Maio de 2013.
Foto de Luís Mariano Guimarães.


Hernâni Matos

segunda-feira, 29 de março de 2021

Preservar memórias


Sónia Ferro. Jurista. Vereadora da Câmara Municipal de Estremoz.
 
O Professor Hernâni, por muitos motivos e mais alguns, é-me pessoalmente querido e por ele nutro a maior consideração.
Não posso deixar de me recordar de quando, ainda bem miúda, tive o privilégio de que me mostrasse a sua coleção de selos, ou provavelmente parte dela, pois já à data era bastante extensa e impressionante. Eu e o meu irmão Pedro, um pouco mais novo que eu, ficámos absolutamente fascinados! A tal ponto que iniciámos logo várias coleções, algumas das quais ainda hoje preservamos.
Também na Escola Secundária, apesar de nunca ter sido sua aluna, até porque ingressei pelo mundo das letras, fui marcada pela sua figura carismática. Foram muitos os meus amigos e colegas que, pela sua influência e pela forma cativante como lecionava, enveredaram pelas “físicas” e pelas “químicas”.
Hoje tenho-o como um homem de saber, perseverante e resiliente. Alguém cuja determinação e empenho tem contribuído, de forma singular, para a preservação e valorização do património cultural de Estremoz. O rigor com que leva a cabo os seus projetos e estudos, entre outros como investigador da Barrística Popular Estremocense, asseguram-nos a autenticidade, a preservação e o respeito pelas “nossas” memórias e tradições populares.
A sua capacidade de partilhar o saber e o seu conhecimento aprofundado e especializado é também de louvar. Por meio do seu Blogue, de publicações na imprensa e dos livros de que é autor ou organizando exposições temáticas e iconográficas, o Professor Hernâni abre-nos o livro da história da nossa comunidade.
Como filha da terra resta-me demonstrar-lhe a minha gratidão.
 
Sónia Ferro
Estremoz, 4 de março de 2021
 
 Hernâni Matos

domingo, 28 de março de 2021

O meu posto é aqui!

 

 


É forte o meu amor pelos Bonecos de Estremoz. É como se a Terra-Mãe de barro se tivesse fundido comigo num acto de paixão perene que me aquece e alegra a alma. Por outras palavras: tenho os Bonecos de Estremoz na massa do sangue. Eles são o meu amor de todas as horas e acompanham-me para onde quer que eu vá. Longe de ser um fardo, é uma missão que assumi de corpo inteiro. De tal modo que por vezes me vejo obrigado a puxar das divisas e a proclamar:
- O meu posto é aqui!
Esse o significado da presente fotografia de quem não nasceu para posar para fotografias, mas antes para rasgar horizontes, já que é para serem rasgados que os horizontes existem. Todavia, os horizontes fogem de mim e sempre que avanço na minha caminhada, os horizontes passam a ser outros, até eu passo a ser outro, porque, entretanto, cresci durante a caminhada.
Recolectar, observar, analisar, ver para além do óbvio, estudar, investigar, pulverizar os dogmas e as verdades de conveniência onde alguns gostam de se acoitar e acabam por se atolar, são alguns dos passos dessa caminhada.
Boniqueiro das palavras ou picareta escrevente tanto faz. O que interessa é o que escrevo e como escrevo, já que se escrevo e porque escrevo é espontaneamente da máxima importância, por ser tão vital como o respirar, o comer, o dormir e o procriar.  E a voz que é minha com a força e a legitimidade de provir igualmente da Terra-Mãe, tal como eu nunca se rende e mesmo em momentos difíceis proclama comigo e a uma só voz:
- O meu posto é aqui!

sexta-feira, 26 de março de 2021

Hernâni Matos: uma referência na vida estremocense

 
 Pedro Ramalho. Funcionário autárquico. Radialista.

 Traçar o perfil biográfico de quem quer que seja, não é tarefa fácil, muito menos do Professor Hernâni Matos. Limitar-me-ei a alguns tópicos resultantes da minha interação com ele.

Durante o seu percurso como docente na Escola Secundária Rainha Santa Isabel, não cheguei a ser seu aluno. Certamente, cruzávamo-nos nos corredores e o nosso relacionamento não passaria dum circunstancial “bom dia” ou “boa tarde”.
No ano de 1994, conheci pessoalmente o Professor Hernâni Matos como autarca na Assembleia Municipal de Estremoz, à qual eu prestava assistência como funcionário do Município. Aos sábados de manhã era vulgar encontrarmo-nos no Café Alentejano, onde em torno de uma bica, o tema de conversa eram os assuntos pertinentes da ocasião, abordando-se também a sua prestação no órgão autárquico e os projetos que desenvolvia na altura (Filatelia, Animação Cultural e Imprensa local). Muitas vezes coloquei à sua disposição os meus conhecimentos no arranjo e produção gráfica de trabalhos das diversas áreas em que tem intervindo.
A meu ver, o seu papel como autarca traduz-se até aos dias de hoje, numa das melhores prestações que o órgão conheceu. Foi ele que implementou a utilização de actas electrónicas na Assembleia Municipal. Era um homem que só precisava da coragem e da força de vontade para lutar por aquilo em que acreditava.
O Professor Hernâni, com o seu espírito persistente, gosta de aprender e ensinar. Desta forma, sabe como ninguém, pensar com serenidade e ponderação.
Há cerca de 50 anos que vem desenvolvendo intensa e diversificada atividade cultural a nível local. Como filatelista alcançou projeção internacional, tendo recebido inúmeros prémios e distinções. Há 12 anos que mantém um blogue dedicado à Cultura Portuguesa, muito em especial à Cultura Popular, com especial incidência no âmbito local e regional. Colaborador ativo da Imprensa local, publicou 4 livros com os conteúdos centralizados em Estremoz.
Pela sua postura cívica representa um exemplo a seguir por qualquer um que tenha a consciência do dever para com a sociedade a que pertence.
Bem-haja, Professor.

 Pedro Ramalho
Estremoz, 4 de Março de 2021

Hernâni Matos

quarta-feira, 24 de março de 2021

Poesia Portuguesa - 101




AS REVOLUÇÕES MINÚSCULAS
Firmino Mendes

Começam em casa, na cama, na mesa
no lugar mais ameno onde a sombra bate
Pode ser aqui, nesta cave ou porão, onde a palavra
flui silenciosamente, como um tema de Bach

Nada se repete, nem o pleno canto dos pássaros
nem o vento que agora amansou à tona do rio
Tudo se faz devagar, mesmo esta roda do tempo
em que a revolução demora mas é incerta certeza

Repara nestas oliveiras que atravessam os séculos
e que nada têm a ver com os olivais intensivos que agora
vão cobrindo o Alentejo com oliveirinhas imitando o plástico
e onde os pássaros se aninham para dormir e morrer

Pode ser que aqui, à sombra de uma árvore minúscula
bata um coração apressado que solte um punho ao ar
e traga ao coração da terra as raízes mais acordadas
aquelas que, milímetro a milímetro, levantarão o chão

Firmino Mendes
Lisboa, 23 de Março de 2021



Oliveira do Mouchão. Mouriscas, Abrantes. Idade: 3350 anos.
Altura de tronco até ás primeiras pernadas: 3,2 m. Perímetro do tronco: 6,5 m.

Olival intensivo.