quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Exposição “Resende – ALENTEJO” em Estremoz


2006. Alentejo. Desenho a carvão. 170 x 170 cm. 

Foi inaugurada no passado dia 29 de Julho pelas 18 horas, no Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, a exposição “Resende - ALENTEJO”, a qual ali estará patente ao público até ao próximo dia 28 de Outubro.
A exposição, fruto duma iniciativa do Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende em parceria com o Município de Estremoz, visa divulgar a obra de Júlio Resende em lugares relacionados com o seu itinerário biográfico e com o trabalho aí produzido, como é o caso do Alentejo. Foi o pintor que disse “…Desde os finais dos anos 40 o Alentejo entrara em mim de modo definitivo…”.
Na mostra estão patentes ao público, cinquenta e oito trabalhos que ilustram e testemunham a sua permanência no Alentejo, onde viveu e foi professor nos anos de 1949-50 na Escola de Cerâmica de Viana do Alentejo, criada em 1894. São trabalhos de múltiplos formatos e que recorrem às mais diversas técnicas: tinta-da-china, aguarela, tinta-da-china e aguarela, aguada e tinta-da-china, pastel, lápis, aguarela e lápis, lápis de cor, desenho a carvão e técnica mista. Cinquenta e três desses trabalhos pertencem ao acervo da Fundação, constituído por duas mil e quinhentas especímenes que o pintor reuniu ao longo da sua carreira e que permitem seguir o seu trajecto artístico desde os tempos de formação aos de consagração. Os restantes quatro trabalhos pertencem ao acervo da Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz, a quem foram doados através do pintor Armando Alves.  
De acordo com o Lugar do Desenho, “Rever Júlio Resende é rever uma obra que resume a arte do século XX. É urgente repensá-la e reenquadrá-la na história da arte moderna e contemporânea. O centenário do nascimento do pintor é o momento certo para esta acção.”
Com vista à exposição, os organizadores editaram um excelente catálogo de 56 páginas com Desenho Gráfico de Armando Alves, o qual reproduz e identifica cada um dos cinquenta e oito trabalhos expostos. O catálogo abre com o texto “EXPOSIÇÃO RESENDE ALENTEJO” subscrito pelo Presidente do Município de Estremoz, a que se segue um outro sob a epígrafe “Celebrar e Repensar Júlio Resende (1917-2011) no Centenário do seu Nascimento”, da responsabilidade do Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende. Para além da Biografia de Júlio Resende, o catálogo inclui ainda um conjunto de pensamentos do artista, reveladores da sua ligação ao Alentejo,
Seria injusto não enumerar aqui todas as instituições que duma forma ou de outra viabilizaram a presente Exposição. Temos: - ORGANIZAÇÃO: Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende e Município de Estremoz. - APOIO INSTITUCIONAL: Município de Gondomar e Gondomar Cultura. - MECENAS: Associação Comercial do Porto, BPI, Banco Finantia, Bial, Central Lobão, Frezite, Millenium BCP e Telles de Abreu - Advogados. - APOIO: Fundação Calouste Gulbenkian e Misericórdia do Porto. - SEGUROS: HISCOX – Seguros de Arte.

1948. Alentejo. Técnica mista. 16,5 x 23,2 cm.
1949. Alentejo. Tinta-da-china. 22,0 x 16,0 cm.
1949. Mulher Alentejana. Aguarela. 17,5 x 14,0 cm.
1949. Pastor Alentejano. Tinta-da-china. 16,0 x 17,0 cm.
1949. Alentejo. Tinta-da-china. 16,5 x 14,5 cm.
1949. Alentejo. Tinta-da-china. 16,0 x 15,0 cm.
1949. Alentejo. Aguarela. 17,5 x 23,0 cm.
1949. Alentejo. Aguarela. 17,0 x 20,0 cm.
1949. Alentejo. Aguarela. 17,0 x 20,0 cm.
1949. Alentejo. Tinta-da-china. 22,5 x 17,5 cm.
1949. Aguadeiro. Técnica Mista. 30,2 x 18,1 cm.
1949. Alentejo. Tinta-da-china e aguarela. 33,5 x 22,5 cm.
1949. Alentejo. Tinta-da-china e aguarela. 17,0 x 22,0 cm.
1949. Alentejo. Técnica mista. 16,0 x 22,0 cm.
1949. Alentejo. Pastel. 16,5 x 23,0 cm.
1949. Alentejo. Aguarela. 17,0 x 22,3 cm.
1949. Alentejo. Aguarela. 22,1 x 16,9 cm.
1949. Alentejo. Aguarela e tinta-da-china. 33,0 x 22,5 cm.
1949. Alentejo. Aguarela. 22,6 x 16,6 cm.
1949. Alentejana. Tinta-da-china. 15,5 x 10,3 cm.
1949. Conversa na fonte. Aguarela. 22,5 x 17,0 cm.
1949. Alentejo. Aguada e tinta-da-china. 16,5 x 22,6 cm.
1949. Dois homens. Técnica mista. 6,7 x 23,3 cm.
1949. Bica de água. Técnica mista. 16,8 x 22,5 cm.
1949. Alentejo. Aguarela. 16,3 x 20,0 cm.
1949. Homem e mula. Técnica mista. 16,5 x 21,5 cm.
1949. Alentejo. Tinta-da-china e aguarela 17,0 x 23,0 cm.
1949. Trabalho de barro. Técnica mista. 17,6 x 23,9 cm.
1949. Mulher na olaria. Técnica mista. 17,5 x 22,6 cm.
1949. Depois da apanha da azeitona. Técnica mista. 16,1 x 22,7 cm.
1949. Carro. Técnica mista. 15,6 x 23,7 cm.
1949. Alentejano. Tinta-da-china. 22,0 x 17,0 cm.
1949. Homem montado em mula. Técnica mista. 22,2 x 15,0 cm.
1949. Mulher das bilhas. Aguarela. 25,0 x 17,5 cm.
1949. À beira do tanque. Técnica mista. 21,3 x 17,5 cm.
1949. Momento de conversa. Aguarela e lápis. 17,2 x 23,1 cm.
1949. Alentejo. Tinta-da-china. 15,5 x 19,2 cm.
1949. Trade na Bica. Técnica mista. 22,4 x 16,7 cm.
1949. Recanto. Lápis de cor. 17,0 x 23,0 cm.
1949. Homem e touro. Aguarela. 16,7 x 23,0 cm.
1949. Homem e cavalo. Aguarela. 16,0 x 21,8 cm.
1949. Homem com bilha. Aguarela. 22,2 x 6,5 cm.
1949. Homem da manta. Aguarela. 16,0 x 23,0 cm.
1949. De volta a casa. Aguarela. 16,0 x 22,2 cm.
1949. Três mulheres. Aguarela. 17,0 x 22,5 cm.
1949. Homens e mulas. Tinta-da-china e aguarela. 16,5 x 22,0 cm.
1950. Pastor – Alentejo. Técnica mista. 16,0 x 22,0 cm.
1950. Na Fonte. Técnica mista. 17,5 x 21,5 cm.
1950. Alentejo. Lápis. 16,5 x 19,0 cm.
1949. Animal. Aguarela. 17,0 x 20,0 cm.
1949. Fonte da Praça. Aguarela. 15,0x 20,6 cm.
1949. Fim de tarde na fonte. Aguarela. 16,0 x 22,0 cm.
2006. Alentejo. Desenho a carvão. 170 x 170 cm.
1949. Viana do Alentejo. Desenho a carvão. 152,0 x 101,0 cm.
1950. Tema Alentejano III. Tinta-da-china e aguarela. 16,0 x 20,0 cm.
Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz.
1950. Tema Alentejano II. Carvão. 16,0 x 20,0 cm.
Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz.
1950. Tema Alentejano I. Tinta-da-china. 16,0 x 20,0 cm.
Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz.
1983. Figura alentejana com cavalo. Tinta-da-china. 65,0 x 50,0 cm.
Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz.
Júlio Resende, a sua mulher Maria da Conceição e a filha Marta,
 no decurso da sua estadia em Viana do Alentejo no biénio 1949-50.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Município de Estremoz adquiriu mais uma varredoura


Rebanho de ovelhas e cabras a pastar num passeio em Mendeiros.
Fotografia de Miguel Silva.    

Comunicado de Imprensa
No passado dia 11 de Julho, o Município de Estremoz emitiu um curto comunicado de imprensa, subordinado ao título supra e que reproduzo na íntegra.
“Para manter um concelho mais limpo, o Município de Estremoz adquiriu, recentemente, mais uma varredora mecânica.
Esta aquisição vai reforçar a limpeza não só da cidade, como de todo o concelho, continuando o Município de Estremoz a contar com a colaboração e consciencialização da população e visitantes, pois só assim será possível mantê-lo limpo e organizado.
“Um concelho limpo com a colaboração de todos”, é um direito seu e um dever da autarquia e da população!”
Naquela data, o comunicado de imprensa foi também editado no Facebook do Município.

Reacções no Facebook
As reacções no Facebook não se fizeram esperar e logo começaram a surgir comentários, os quais foram mesmo subindo de tom. Esses comentários têm todos um traço comum. Os seus autores consideram que a cidade nunca esteve tão suja como agora, com ervas a crescer por toda a parte, as sarjetas a precisarem de ser limpas e os contentores a cheirarem mal. Dizem que são situações incómodas para os moradores e que dão uma péssima imagem da cidade a quem nos visita.
Há quem considere inadequada a distribuição de contentores de lixo e de ecopontos, o que faz com que os moradores num caso depositem sacos de lixo ao lado dos contentores e noutros casos depositem nestes, o que devia ser vertido em ecopontos.
É convicção generalizada que a aquisição de mais uma varredoura mecânica não resolve o problema, pois há muitos locais onde a mesma não consegue aceder. Não limpa os passeios nem zonas comuns em urbanizações, nem descampados, nem espaços verdes. Só serve para limpar ruas alcatroadas ou calcetadas. Os comentadores crêem que seria preferível contratar pessoal (varredores e varredouras de carne e osso), que resolvessem o problema à maneira tradicional, o que além do mais permitiria criar alguns postos de trabalho, o que seria bastante positivo num concelho onde a oferta de emprego é escassa.
A aquisição da varredoura mecânica pelo Município é encarada ainda com desconfiança e vista como forma de promoção do actual executivo municipal, relativamente às eleições autárquicas de Outubro próximo. É que a visibilidade da varredoura mecânica é superior à dos varredores e varredoras e como anda todo o dia a passear é mais eficaz em termos de propaganda.
Fora do Facebook, as opiniões dos Zés e das Marias desta terra parece andar à volta do mesmo. As pessoas estão fartas de propaganda municipal a dizer que “Estremoz tem mais encanto” e querem é ver a cidade limpa como deve ser. Têm o direito de usufruir a cidade limpa, assim como o executivo municipal tem o dever de assegurar que assim seja. É não só caso para dizer: “Cada macaco no seu galho!”, como é legítimo concluir que ao marketing municipal lhe saiu o tiro pela culatra.


 Uma situação corrente nas Mártires.
Fotografia de Francisca de Matos
 Lixo depositado no chão, junto a um contentor em Mendeiros.
Fotografia de Filipe Araújo.
 A nova varredoura mecânica publicitada pela CME no passado dia 11 de Julho. 
Fotografia do Município de Estremoz.

O elogio das palavras - I


ESTUDO PARA O "VIRA" (1904). Alfredo Roque Gameiro (1864-1935). Aguarela sobre
papel (39 x 26,5 cm). Museu de Aguarela Roque Gameiro (Minde).

LER AINDA

As palavras são multifacetadas como as pedras preciosas. Podem ser encaradas sob vários ângulos. Podem significar uma coisa ou outra, ou mesmo quase coisa nenhuma.
As palavras têm o seu próprio visual. Há palavras elegantes e outras que não o são tanto. Há mesmo palavras deselegantes.
As palavras têm a sua própria sonoridade. Há palavras ruidosas, como as há graves ou melodiosas. Há palavras que fazem eco e outras que esbarram contra muros de silêncio.
As palavras têm cheiro. Há palavras que fedem a distância, tal como as há aromáticas, constituídas por agradáveis e subtis fragrâncias.
As palavras têm sabor. Há palavras doces, tal como as há azedas, amargas ou ácidas.
As palavras são tácteis. Há palavras macias e mesmo aveludadas, mas também há palavras ásperas, como as há peganhentas e mesmo viscosas.
Há palavras terrestres, como as há aéreas, subterrâneas e aquáticas.
As palavras são caminheiras que se deslocam entre as margens do papel.
As palavras são mariposas que cruzam os ares, entre bocas e ouvidos.
As palavras em movimento geram correntes, ondas e turbilhões.
As palavras geram movimentos de apoio e de solidariedade, mas também de repulsa.
As palavras permitem saltar obstáculos e mesmo mover montanhas.
As palavras têm a sua própria velocidade. Há palavras lentas, tal como as há velozes.
As palavras têm o seu tempo próprio, não devem ser ditas antes, nem depois dele.
As palavras têm uma aceleração própria. Há palavras cadenciadas, como as há acelerantes ou atrasadoras.
As palavras têm forma, umas são angulosas e outras são redondas, já que não tem ponta por onde se lhes pegue.
As palavras têm simetria ou não. Há palavras simétricas e palavras assimétricas.
As palavras têm cor. Umas são mais coloridas, outras mais cinzentas e mesmo negras. Há mesmo palavras para todas as cores do espectro do arco-íris.
As palavras têm tamanho. Umas são curtas como a polegada, outras são compridas como a légua da Póvoa.
As palavras têm volume. Umas são como senhoras anafadas, outras como modelos anorécticos.
As palavras têm peso. Umas são pesos leves e outras, pesos pesados, tal como no boxe.
As palavras não têm todas igual densidade. Há palavras maciças, como há palavras balofas e mesmo ocas. As mais compactas submergem no texto, enquanto que as de compactidade reduzida, flutuam à flor do texto.
As palavras têm força. Há palavras fortes e palavras fracas.
As palavras têm potência. Umas são potentes, outras nem tanto e outras são mesmo impotentes.
A eficácia das palavras é variável. Umas são eficazes, outras não.
As palavras não têm todas a mesma duração. Há palavras imortais, como as há duradouras e breves. Há mesmo palavras que já ultrapassaram o prazo de validade.
As palavras não têm todas a mesma temperatura. Há palavras escaldantes, mas também as há cálidas, mornas, frias e gélidas.
Jornal E nº 182 – 27-07-2017
Publicado inicialmente em 27 de Julho de 2017