LER AINDA
As
palavras acompanham-nos continuamente, mesmo em sonhos.
Há sempre o risco de esquecer algumas palavras,
pelo que nos podem faltar palavras.
É permitido revisitar palavras nossas e mesmo
inventar palavras. O que não se deve fazer, é reproduzir palavras dos outros,
como se fossem nossas. Tão pouco se devem deturpar palavras.
Por vezes há que poupar palavras, por uma questão
de tempo ou de espaço. Não se deve é balbuciar palavras, porque é indício de
insegurança.
É através de palavras que defendemos pontos de
vista e damos ênfase àquilo em que acreditamos e àquilo de que gostamos. Também
é através das palavras, que damos conta daquilo que rejeitamos e não nos
agrada.
As palavras são armas com as quais nos defendemos
de agressões verbais ou não. Mas são também armas de ataque com as quais
praticamos também agressões verbais.
A utilização das palavras, nem sempre é ética, já
que através delas é possível dissimular, confundir e mentir. O mesmo se passa
em relação à possibilidade de através das palavras, se atemorizar, aterrorizar,
intimidar e dominar.
Há palavras que encerram em si, o purismo da
língua. Coexistem com outras que são regionalismos ou integram a gíria popular
e o calão. Há ainda palavras que constituem neologismos, estrangeirismos ou
internetês.
As palavras são pilares que sustentam a língua,
como factor de identidade nacional.
As palavras são porto de abrigo. Nelas nos
refugiamos, na fuga de tempestades e na procura de bonanças.
As palavras constituem uma tábua de salvação. A
elas nos agarramos, quando tudo parece estar perdido.
As palavras sobrevivem à morte de quem as
pronuncia. Se não todas, pelo menos algumas, através do seu registo, tanto
escrito como falado.
As palavras têm alquimia. Com elas conseguimos
transmutar o nosso estado de espírito e o estado de espírito de quem nos ouve.
A nobreza das palavras é desigual. Algumas têm
nobreza como um touro Miura. E para aqui não é chamada a nobreza de sangue
azul, que pouco mais é que coisa nenhuma. A nobreza não é monárquica. É uma
atitude republicana.
As palavras têm carácter e têm que ser usadas com
carácter. Uma das maiores tragédias sociais, é a falta de carácter de alguns
que as usam, servindo-se de cargos para os quais erradamente foram designados.
As palavras exigem plena fidelidade à sua essência
e à mensagem que lhes está subjacente. Traí-las é trair o texto, o que pode
configurar uma atitude de rendição.
As palavras têm que ser frontais. Caso contrário,
quem as profere, não tem as partes no sítio.
Há palavras para o tudo e palavras para o nada.
Há palavras para acabar com as palavras:
– PIM! O TEXTO CHEGOU AO FIM!
Jornal
E nº 188 – 30-11-2017
Publicado inicialmente em 2 de Junho de 2018
Publicado inicialmente em 2 de Junho de 2018
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