VOLTA
DO MERCADO (1925) - Raquel Roque Gameiro
Ottolini (1889-1970).
Aguarela sobre papel (30x50 cm).
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Há palavras sólidas, como as há líquidas e até
voláteis.
As palavras têm estrutura. Podem ser cristalinas ou
amorfas.
As palavras são materiais com que moldamos,
forjamos ou carpintejamos textos.
As palavras têm transparência ou não, já que também
há palavras opacas.
As palavras têm brilho. Podem ser brilhantes ou
baças.
É necessário saber escolher as palavras.
As palavras permitem gerar códigos e cifras.
As palavras permitem-nos comunicar com os outros.
Através delas podemos transmitir emoções e sentimentos, bem como descrever
situações, eventos e fenómenos.
As palavras não têm todas a mesma dificuldade. Há
palavras mais fáceis e palavras mais difíceis.
Há palavras que são incontornáveis.
Há palavras sondas, com as quais formulamos
perguntas, para saber o que os outros pensam.
As palavras pertencem a uma de dez classes
gramaticais, reconhecidas pela maioria dos gramáticos: substantivo,
adjectivo, advérbio, verbo, conjunção, interjeição, preposição, artigo, numeral
e pronome.
As palavras têm género. Podem ser masculinas ou
femininas. Não há palavras gays, nem lésbicas.
Há palavras que designam agrupamentos, enquanto que
outras se referem apenas a um componente único.
A ortografia das palavras têm variado ao longo das
épocas e as mudanças nunca são pacíficas, como acontece no presente, com o país
partido em dois: os detractores e os defensores do novo acordo ortográfico.
As palavras podem ser características de uma época,
ainda que haja palavras intemporais.
Em certos locais e em certas épocas, algumas
palavras foram consideradas impróprias, constituindo tabu e sendo mesmo
proibidas.
Há palavras características de cada profissão, mas
há igualmente as que lhe são transversais.
Há palavras que são mais usadas num dado período da
vida que noutros.
Há palavras características de cada regime. Umas
são monárquicas, outras são republicanas.
A religiosidade das palavras é variável. Há
palavras laicas e há palavras religiosas que alguns podem considerar mesmo santas
ou sagradas. E há ainda a palavra de Deus, que repetidamente é invocada no
culto.
As palavras têm mãos que ao entrelaçarem-se com
outras, conferem consistência ao texto.
As palavras têm pés para encontrar e percorrer o
seu próprio caminho.
As palavras são peças que fazem funcionar o texto.
As palavras são bicicletas que pedalamos e que nos
permitem fazer caminho, à procura de um texto.
As palavras fazem-nos suar, porque nem sempre é
fácil parir palavras que traduzam exactamente o que nos vai na alma.
As palavras são arados. Com eles lavramos a
terra-mãe do pensamento.
As palavras são as mensageiras do pensamento.
As palavras são arautos, tanto de boas como de más
notícias.
As palavras são escadas que ligam os patamares do
texto.
As palavras servem de ponte, umas às outras.
As palavras são cerejas, que puxam umas pelas
outras.
Jornal
E nº 187 – 16-11-2017
Publicado inicialmente a 31 de Maio de 2018
Publicado inicialmente a 31 de Maio de 2018
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